Lucinda foi a primeira a expressar sua desaprovação.
"Mas prima!" Lucinda exclamou. "Você não vai fazer nada? Olhe para ele! Olhe para ela! As roupas deles já estão praticamente fora! Um segundo a mais e eles já estariam―"
Ela deu um passo à frente, mas com um olhar de advertência de Orion, Lucinda permaneceu enraizada no lugar. Suas palavras foram engolidas de volta à garganta, seus olhos arregalados com surpresa e confusão.
Orion Elsher nunca tinha olhado para ela com tanta ferocidade antes. Durante toda a sua vida, Lucinda só se lembrava de seu primo mais velho cedendo a todos os seus caprichos e pedidos. Ele a mimou durante grande parte de sua vida. Mesmo quando estava na frente de guerra, ele sempre voltava com presentes para ela. Ela era a irmã mais nova que ele nunca teve.
Mas agora... Agora ele a encarava como se fosse arrancar sua pele viva se ela dissesse mais uma palavra.
Lucinda não era a única. Todos os outros tinham expressões semelhantes de surpresa, incluindo Soleia. Quando Orion voltou o olhar para ela, ela deu um passo para trás, sua mão ainda estendida para se proteger de Orion da maneira que pudesse. Da mesma forma, ele avançou, a distância entre eles nem aumentando nem diminuindo.
"Bem?" Orion latiu. "Você precisa da minha ajuda ou não? Ou pretende deixar o Ralph sufocar na neve?"
Soleia engoliu. Ela se afastou, mantendo distância suficiente entre ela e Orion, observando atentamente enquanto ele se aproximava de Ralph.
A neve estalou sob sua bota enquanto ele se abaixava e ajudava seu amigo a se levantar. Com um dos braços de Ralph sobre seu ombro, Orion sustentou o peso do corpo dele, ajudando Ralph a se pôr de pé. Este último murmurava incoerentemente, seus olhos piscando abertos e fechados.
"Orion..."
A doce, melodiosa voz que pertencia a Elowyn parou Orion antes que ele pudesse ir mais longe. Ele voltou, seus olhos brilhantes escurecendo momentaneamente enquanto seu olhar a encontrava. Ela avançou, puxando o xale que usava mais apertado ao redor do corpo.
Era óbvio que eles já estavam se preparando para dormir. Elowyn estava vestida apenas com uma camisola fina, o xale jogado displicentemente sobre o corpo numa tentativa fraca de se aquecer. Ela estava tremendo, a imagem da fragilidade, suas bochechas e a ponta do nariz avermelhadas pelo frio.
"Venha aqui, querida," Elisa disse imediatamente, segurando Elowyn gentilmente. "Está frio. Não pise na neve. Temos que cuidar da sua saúde― se não por você, então pelo seu bebê."
Elowyn apenas se virou e sorriu para a mulher mais velha. "Está tudo bem, mãe," ela disse. "Há algo que eu preciso dizer ao Orion."
Os olhos de Soleia se estreitaram, examinando o tecido fino que Elowyn vestia.
Os raios prateados da lua os banhavam em uma luz azulada. No entanto, mesmo assim, Elowyn quase parecia brilhar de uma maneira sobrenatural. Sua pele pálida cintilava sob o luar, e o colarinho de seu vestido, baixo o suficiente para mostrar um pouco do seu decote se não fosse pelo xale, tinha um tom roxo.
"Minha mãe está certa," Orion disse, sua voz firme. "Espere por mim em nossos aposentos, Elowyn. Voltarei em breve. O que você tem a dizer, podemos discutir mais tarde."
"Eu vou com você―"
"Não."
Elowyn recuou, sua mão colocada contra o peito em estado de choque. Seus lábios estavam levemente abertos enquanto ela olhava para Orion como se ele tivesse se transformado em uma fera bem diante de seus olhos.
Percebendo que seu tom tinha sido um pouco áspero, Orion apertou os lábios e exalou.
"Não," ele repetiu, desta vez, mais gentil. "A noite está fria. Espere por mim onde está quente." Ele adicionou após uma pausa. "Estarei com você em breve, eu prometo."
Então, sem esperar por uma resposta de Elowyn, Orion se virou e saiu. Ralph soltou um gemido baixo, seu braço agitando-se para o lado, fazendo com que Elowyn cambaleasse para trás, sem dignidade. Soleia mordeu o lábio para evitar rir alto diante do olhar furioso nos olhos dela.
Foi mesquinho, mas Soleia nunca afirmou ser uma santa. Em vez disso, ela simplesmente reuniu suas saias e seguiu após eles, enquanto Lily seguia seus passos.
Em pouco tempo, Orion arrastou Ralph para seus próprios aposentos, jogando-o descerimoniosamente em sua cama. Ralph soltou um suspiro dolorido quando sua cabeça bateu no travesseiro com um baque surdo, seus membros espaçados abertos em sua cama.
"Cuidado com ele!" Soleia repreendeu. Este era seu melhor amigo, e Orion estava tratando-o como se fosse não melhor que um saco de batatas. Ela franziu a testa enquanto olhava mais de perto a condição de Ralph.
A neve deveria ter ajudado, mas ainda havia um rubor avermelhado em suas bochechas. Seus olhos estavam turvos e desfocados, e ele continuava a piscar confuso na direção de Orion, como se não entendesse para quem estava olhando.
Ela não ousou olhar abaixo do cinto dele. Orion não tinha tais escrúpulos; felizmente seu amigo parecia ter a parte inferior em ordem.
"Whuh? Onde estou?" Ralph perguntou, assoando fracamente.
"Você está em seus aposentos," Soleia respondeu preocupada, segurando a mão em sua testa. Ele ainda estava muito quente. "Você não reconhece?"
"...Não?" Ralph piscou lentamente enquanto um sorriso bobo cruzava seu rosto. "Mas me deixa feliz que uma mulher linda se preocupe tanto comigo―"
Ele tentou alcançar a mão de Soleia, mas Orion puxou o membro ofensivo para longe. Um frisson de clareza explodiu em suas veias, seguido pelo sabor amargo do ciúme. Este era seu melhor amigo. Como Soleia poderia tocá-lo tão casualmente? Ela era sua esposa―
"Não me toque," Soleia sibilou. Ela torceu a mão do aperto dele e se afastou dele de modo ameaçador.
Orion estava surpreso pelo veneno nos olhos dela, e pela nova marca roxa em seu rosto.
Nas profundezas de sua mente, ele lembrou de visões turvas e borradas de uma mão atingindo suas bochechas. Instintivamente, ele levantou a mão, apenas para Soleia estremecer.
"Orion, o que você está fazendo?" Ralph perguntou com um tom de advertência.
'Quem ousaria fazer algo assim com ela?' Orion se perguntava. Sua mãe? Sua prima?
"O que aconteceu com seu rosto?"