Chereads / O Herói Dos Esquecidos: [O Sopro da Aurora] / Chapter 7 - ○ Capítulo 6 ⭐️

Chapter 7 - ○ Capítulo 6 ⭐️

- O Esquecido -

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Samuel desperta abruptamente, a respiração acelerada e o coração pulsando em seu peito. Ele se dá conta de que não está mais no abrigo acolhedor da cabana; em vez disso, se encontra em Letárnia, um lugar envolto em uma escuridão opressora. Uma sensação estranha se espalha pelo seu corpo, como se uma força invisível estivesse tomando conta dele, paralisando seus pensamentos e ações. Seus olhos se esforçam para enxergar no breu, até que uma figura translúcida começa a se materializar diante dele.

- Seja bem-vindo, Samuel. Você parece assustado, mas não tenha medo, não vou te machucar. - diz a criatura, sua voz ressoando como um eco distante.

Samuel tenta falar, mas as palavras se perdem em sua garganta. Ele se sente preso dentro de sua própria mente, um espectador impotente, capaz apenas de ver e ouvir o que o ser diz.

- Está vendo este lugar, Samuel? Aqui é o esquecimento, o fim de tudo e o equilíbrio da vida. Eu me pergunto o que está passando pela sua cabeça, ou melhor, pelos seus sonhos e desejos. - continua a entidade, a presença dela quase sufocante.

A visão de Samuel fica pesada enquanto ele encara a entidade, a angústia apertando seu coração. Ele não tem forças nem para fechar os olhos, mas, de repente, a cena muda, e ele se vê rodeado por sua família e amigos, sorrisos e risadas preenchendo o ar. É uma lembrança vívida, uma lembrança que ele achou que havia perdido para sempre.

- Você consegue sentir isso, não é? Essa saudade que você sente deles. Este é o seu maior sonho, revê-los novamente. - diz a entidade, sua voz sedutora e ao mesmo tempo cruel.

- É uma pena que esse sonho seja tão impossível e distante. Por isso eu te escutei; você desejou, e eu vim para realizar esse desejo. Posso trazê-los de volta, trazer seu mundo e todos que você amou. Você não terá mais preocupações, apenas preciso de uma única coisa. - a criatura prossegue, a ganância transparecendo em suas palavras.

- Estenda sua mão para mim. - pede o ser, a voz agora mais insistente.

Samuel se perde em sua cabeça, em suas lembranças. Seus olhos, antes cheios de esperança, agora parecem vazios, como se algo estivesse os apagando. Suas mãos se movem involuntariamente até o peito, de onde uma luz começa a brilhar, pulsando como seu coração.

- Eu só preciso dessa luz, que foi perdida por mim. Somente assim poderei satisfazer o seu desejo e trazer sua família de volta, como antes. - a entidade insiste, estendendo a mão em direção a Samuel.

A luz começa a sair lentamente do peito de Samuel, uma força vital que ele mal consegue entender. Antes que pudesse oferecê-la às mãos do ser, ele interrompe o movimento, sua determinação renovada.

- Se você realmente quer essa luz, vem e pegue-a de mim, mas só se conseguir. - Samuel desafia, sua voz agora firme e ressoante.

Os olhos de Samuel, antes sem cor, recuperam a vida e o brilho, enquanto suas forças retornam. A confiança começa a crescer dentro dele, aquecendo seu ser.

- Se você achou que eu iria cair nessa conversa furada, está muito enganado. Meu sonho pode ser impossível para você, mas não vou sacrificar o meu bem e deixar outras pessoas sofrerem por causa da sua ganância. - Samuel afirma, sua voz ecoando na escuridão.

- Que pena... Se você quer sofrer por eles, que sofra. Mas essa luz, ela é minha. - diz a entidade, com um tom de desdém, enquanto enfia a mão dentro do peito de Samuel. Ele sente uma dor lancinante, um desespero que ameaça tomar conta de sua mente.

- Me larga! - Samuel grita, segurando a mão da criatura com força, uma determinação feroz queimando em seu coração. - Próxima vez que você citar a minha família na sua boca, eu acabo com você bem aqui.

- Que assim seja. - responde a entidade, sua voz cheia de desprezo.

As mãos de Samuel começam a brilhar, ele aperta o braço do ser que o atormenta, fazendo a criatura sentir uma dor insuportável. Ele pode ouvir os lamentos da entidade.

- O que é isso!? O que você fez!? Que dor absurda é essa!? Você vai pagar, vai pagar com sua vida pelo que fez. Esteja avisado, humano. Esta não será a última vez que nos veremos! - grita o ser, suas palavras preenchidas com raiva e dor.

Liberado, Samuel começa a cair em um vazio profundo, a escuridão o engolindo. Sua visão se embaça, e suas mãos e peito começam a brilhar novamente, como se a luz quisesse escapar dele. Quando está prestes a se perder naquele abismo, ele acorda, ofegante. Um suspiro de alívio escapa de seus lábios, e ele sente seu corpo leve como nunca antes. Olha para suas mãos, que ainda brilham levemente, mas logo a luz se apaga.

"O que foi aquilo? Aquela criatura... Será que foi mesmo um sonho? Eu feri aquela coisa. Então é isso que a luz queria me mostrar, o esquecimento. Escapei por pouco dessa vez. Por que ele queria tanto essa luz? Melhor levantar, já deve estar tarde."

Samuel se levanta da cama e pega sua mochila, o peso de sua jornada ainda presente em sua mente. "Já que vou ficar por aqui um tempo, é melhor arrumar minhas coisas e tomar um banho quente. Estou precisando." Ele organiza suas coisas, cada movimento carregando a sensação de um novo começo, e então vai em direção ao banheiro.

Alguns minutos depois, Samuel termina o banho e se veste com uma das roupas que encontrou na cabana. Elas são confortáveis e quentinhas, caindo bem em seu corpo cansado. Sentado perto da lareira, ele come algo para saciar a fome que o atormenta enquanto reflete sobre seu futuro.

"De que maneira eu posso salvar esse mundo do esquecimento? Ela não me explicou nada sobre isso, mas disse que eu estava no caminho certo. Será que tem algo a ver com essa guerra? Pode até ser." Enquanto esses pensamentos se agitam em sua mente, alguém bate à porta. Ele se levanta e abre calmamente.

- Boa noite, desculpe vir tão tarde, aquela reunião demorou mais do que eu esperava. - diz o Alfa, a voz dele trazendo um conforto inesperado.

- Sem problema. - responde Samuel.

- Vejo que você trocou de roupa; ela combina com você. Mas não vim aqui só para elogiar sua roupa. Vim para conversarmos, se você estiver livre. - diz o Alfa, seu olhar sério mas amigável.

- Estou livre sim, o que seria? - pergunta Samuel, sentindo uma onda de curiosidade.

- Bom, antes, venha aqui fora, está uma noite linda. - convida o Alfa, gesticulando para o céu estrelado.

Samuel sai da cabana e se junta ao Alfa do lado de fora, o ar fresco da noite preenchendo seus pulmões.

- Sabe, Samuel, de início, como eu falei, eu desconfiava das suas palavras. Não sabia se você dizia a verdade ou se era apenas um lunático. Mas, conhecendo você um pouco, percebi que não era mesmo daqui. Me pergunto sobre seu passado e como você conhece esse mundo tão bem. Pode me contar? - O Alfa pergunta, sua voz curiosa.

Samuel então se senta ao lado do Alfa, o peso de suas memórias pesando sobre ele, mas também aliviando o coração.

- Meu passado é bem complicado. Nos meus primeiros anos, vivi momentos felizes com pessoas que eu amava, estava tudo praticamente perfeito. Mas um dia, tudo isso mudou. Seres sanguinários destruíram e mataram todos que eu um dia amei. Fiz de tudo para tentar salvá-los, mas acabei ficando sozinho no fim. Mas está tudo bem. Aprendi a gostar do silêncio, e mesmo que às vezes sinta saudades, sei que eles estão em um lugar melhor.

- Falando sobre seu mundo, eu sonhava com este lugar. Sonhava vivendo aqui junto daqueles que perdi. Escrevia histórias no meu caderno sobre este mundo para esquecer o quão doloroso era o meu. Acabei me perdendo na minha imaginação, sem ter ninguém com quem compartilhá-los. - continua Samuel, a tristeza em sua voz misturada com uma pitada de esperança.

O Alfa olha para o céu, suas feições suavizadas pela luz das estrelas.

- Eu te entendo completamente, Samuel. Viver em um mundo sem aqueles que ama é doloroso, mas parece que você soube lidar muito bem com essa situação. Eles realmente estão em um lugar melhor e torcem pelo seu sucesso, pode acreditar.

- Obrigado por pensar dessa maneira, senhor. - responde Samuel.

- Não me agradeça, é a verdade. - o Alfa diz, seu olhar firme e sincero.

Samuel abaixa a cabeça por um momento.

- Espero que aproveite ao máximo sua estadia aqui. Você merece um pouco de descanso para relaxar - Diz o Alfa.

Samuel e o Alfa observam as estrelas e compartilhavam histórias um com o outro. Pela primeira vez em meses, Samuel se sente bem ao lado de alguém que ele pôde realmente chamar de amigo.

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