- Laços e Cicatrizes -
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Enquanto Samuel caminhava de volta à alcatéia ao lado do Alfa, os sons e as movimentações ao redor pareciam intensificados, refletindo a agitação que pairava no ar. Ele observou os outros lobos correndo de um lado para o outro, trocando olhares ansiosos, e não pôde conter sua curiosidade.
- Por que estão todos tão agitados? - perguntou Samuel.
O Alfa lançou-lhe um olhar sereno, antes de responder com um ar de reverência.
- Daqui a dois dias, será a Noite da Lua. É o dia em que celebramos o sacrifício da Deusa da Lua, a primeira loba sagrada. Ela é a razão pela qual mantemos nossa esperança. Sua luz nos guia, e sua memória nos fortalece.
Samuel assentiu, sentindo o peso das palavras do Alfa.
- Por enquanto, vamos à minha toca. Você ficará lá até estarmos prontos para partir rumo à nova alcatéia.
Após alguns minutos de caminhada, chegaram à caverna do Alfa. Samuel nota novamentea simplicidade e o silêncio do lugar, acolhedor e pacífico.
- Preciso ir a uma reunião agora. Vou discutir com os outros mentores sobre os novos aprendizes. Não se preocupe, logo estarei de volta - informou o Alfa, saindo rapidamente.
Sozinho, Samuel sentou-se no chão da caverna, perdido em pensamentos. Ele se questionava sobre seu papel entre os lobos, se realmente estava pronto para a responsabilidade que o Alfa depositava nele. Lembranças do ataque dos caçadores vinham à tona. A imagem dos lobos mortos o perturbava profundamente. Poderia ele proteger a alcatéia sem colocar os lobos em mais perigo?
Seus pensamentos foram interrompidos quando o Alfa retornou, com um sorriso amistoso.
- Estava tão pensativo... Em que estava refletindo?
Samuel hesitou.
- Apenas... pensando no que implica ser seu vice. É uma honra, mas também uma responsabilidade.
O Alfa assentiu, compreensivo.
- Eu sei que ser um humano entre nós não é fácil. Mas quero que saiba que confio em você, Samuel. Acredito que pode ser a mudança de que precisamos. Contudo, não esqueça que ser vice envolve mais do que liderança. Exige cuidado, proteção e lealdade para com a alcatéia.
Samuel escutou atentamente. Aquelas palavras fortaleceram sua decisão.
- Está certo, Alfa. Farei o meu melhor.
- Fico feliz em ouvir isso. Hoje à noite, terei de apresentá-lo ao conselho dos outros alfas e à nossa rainha. A presença deles será importante para oficializar sua posição - explicou o Alfa.
- Espero que essa decisão não lhe traga problemas - comentou Samuel, preocupado.
- Não se preocupe. Estou confiante de que eles reconhecerão seu valor, assim como eu reconheci.
Para solidificar ainda mais seu posto, o Alfa fez um colar de pedra lunar aparecer no pescoço de Samuel. Era um talismã, símbolo da confiança e autoridade dentro da alcatéia.
- Enquanto estou fora, se alguém duvidar de sua autoridade, mostre esse talismã. Isso deve ser o suficiente para que o respeitem como vice.
Samuel segurou o talismã com reverência, ciente do peso simbólico que carregava. Com isso, o Alfa se despediu, deixando Samuel a cargo da alcatéia até o seu retorno.
Enquanto estava sentado do lado de fora, observando os lobos em suas tarefas, um grupo de lobos se aproximou, questionando:
- Onde está o Alfa?
- Ele saiu, mas posso ajudar com algo?
- Esse é um assunto para o Alfa, não para você, humano - respondeu um dos lobos, com desdém.
Samuel, mantendo a calma, ergueu o talismã que pendia em seu pescoço. Os lobos, ao verem o símbolo, ficaram tensos, trocando olhares desconfiados.
- Parece que o Alfa confia mesmo em você... - comentou um deles, relutante.
Outro lobo explicou:
- Encontramos um caçador escondido nas árvores. Houve uma luta, e um dos nossos, Miniex, se feriu.
- Ele está bem?
- Sim, foi levado aos curandeiros. Quanto ao caçador, está amarrado perto do rio. Não quisemos trazê-lo para a alcatéia sem a ordem do Alfa.
Samuel assentiu, focado.
- Levem-me até ele.
Ao chegarem, Samuel reconheceu o homem amarrado. O caçador, mesmo amordaçado, olhou para ele com uma mistura de medo e ódio. Samuel se aproximou, arrancando a mordaça, e falou com voz firme:
- O que você fez com o filhote?
O caçador, com um sorriso cruel, cuspiu a resposta:
- Filhote? Que filhote? Deve estar morto, como todos vocês deveriam estar.
Samuel cerrou os punhos, a raiva crescendo.
- Não tem vergonha de caçar seres indefesos?
O caçador apenas sorriu, malicioso:
- É gratificante ver a vida se esvair dos olhos desses bichos... Se acha que isso me intimida, está enganado.
No limite de sua paciência, Samuel ergueu o caçador, encarando-o com intensidade.
O som de um disparo ecoou. O caçador caiu ao chão, sem vida. Os lobos ao redor ficaram em silêncio, observando Samuel, que desviou o olhar, firme.
- Isso é o que acontece com aqueles que ameaçam a alcatéia
Sem dizer mais, virou-se e começou a se afastar. O respeito dos lobos presentes era palpável, embora misturado com surpresa.
- Agora entendo por que o Alfa confia tanto nesse humano - comentou um deles.
Samuel seguiu em silêncio, focado em seu dever e em sua promessa de proteger a alcatéia a qualquer custo.
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