Chereads / O Herói Dos Esquecidos: [O Sopro da Aurora] / Chapter 4 - ○ Capítulo 4 ⭐️

Chapter 4 - ○ Capítulo 4 ⭐️

- Lembranças Antigas -

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O garoto saiu do portal e, ao fazê-lo, o portal desapareceu atrás dele. Lentamente, abriu os olhos, temeroso do que encontraria. Quando seus olhos se ajustaram, ele se viu em uma vasta floresta que lhe parecia estranhamente familiar.

"Isso é... familiar? Essas árvores, as flores, a natureza... magia?" Ele olhou ao redor, tentando entender onde estava, até que a memória lhe veio à tona.

"Eu me lembro... Não pode ser real. Esse lugar, esse mundo. Como isso é possível?" Ele esfregou novamente o rosto, tentando se convencer de que não estava sonhando.

Com dúvidas e reflexões permeando sua mente, o garoto começou a caminhar pela floresta, à procura de algo ou alguém.

Enquanto caminhava, as lembranças das histórias que criou nesse lugar começaram a fluir. Havia algo de estranho, mas não necessariamente ruim; era a sensação de uma presença naquele lugar.

"É estranho estar aqui. Eu sinto que já estive neste mundo antes. Um mundo que eu mesmo inventei no meu caderno..."

De repente, ele parou; a sensação ficou mais intensa. Ele sabia quem poderia ser responsável por aquela presença, mas antes que pudesse reagir, uma fileira de rochas se ergueu do chão e foi arremessada em sua direção. O garoto, por reflexo, desviou e caiu ao chão, evitando ser atingido por pouco. " É realmente ele. Preciso agir rápido antes que ele me ataque de novo. "

Ele se levantou e olhou ao redor, tentando identificar de onde veio o ataque.

- Caçador, você não é bem-vindo aqui. Desapareça, este é o último aviso. Da próxima vez, não errarei. Estou avisando! - uma voz profunda e ameaçadora ecoou pela floresta.

À distância, o garoto viu um lobo negro, seus olhos vermelhos brilhando com uma aura poderosa. O lobo olhou diretamente para ele, como se pudesse sentir seu coração palpitando.

- Eu avisei, caçador. Esse foi seu último aviso. Agora sofra as consequências! - disse o lobo, preparando-se para atacar novamente.

Antes que o lobo pudesse atacar, o garoto fez um gesto com as mãos e se curvou diante da criatura.

- Humano? Como você sabe fazer isso? Quem te ensinou? - perguntou o Lobo, surpreso.

- Você não parece um simples humano ou um caçador comum. Essas roupas, essa aparência... Quem é você e o que faz aqui?

O garoto se ergueu.

- Não sou daqui. Vim de um lugar bem distante. Você não acreditaria se eu te contasse. - respondeu o garoto, sua voz firme.

- De que você está falando, humano? Você não parece ser um deus ou uma entidade divina. Como posso acreditar na palavra de um mísero humano? - desafiou o Lobo.

- Primeiro, você precisa confiar em mim e no que estou dizendo, Alfa. - disse o garoto, com intensidade.

- Você sabe quem eu sou, chegou aqui dizendo que veio de outro mundo e quer que eu confie em você? - o Alfa perguntou, seu ceticismo pairando no ar como uma sombra.

- Fui enviado por algum motivo para seu mundo para salvá-lo, mas não sei como farei isso.

O Alfa suspirou, sua expressão se tornando mais ponderada.

- Se o que você diz é verdade, talvez eu possa confiar em você. Mas terá que me convencer e explicar tudo. Entendeu?

O garoto assentiu com a cabeça.

- Ótimo. Por enquanto, venha comigo, humano. Irei levá-lo à minha alcateia para que possamos entender melhor sua situação.

Os dois partiram juntos em direção à alcateia, a tensão no ar dissipando-se lentamente enquanto eles caminhavam lado a lado.

Após alguns minutos de caminhada, chegaram. A alcateia era impressionante, com diversos lobos, tocas decoradas e uma aura mágica permeando o ambiente. O Alfa levou o garoto até sua toca, onde se sentaram.

- Muito bem, humano. Já que você parece me conhecer bem, gostaria ao menos saber seu nome. - disse o Alfa.

- Meu nome é Samuel, mas pode me chamar do que quiser, se preferir. - respondeu Samuel.

- Samuel, é um prazer conhecê-lo. Agora que nos apresentamos, gostaria que me explicasse por que veio ao meu mundo. - pediu o Alfa, sua voz cheia de expectativa.

- É complicado - começou Samuel, hesitando.

- Complicado? Como assim? - questionou o Alfa, a curiosidade nos olhos.

- Eu tive um sonho estranho antes de vir para cá. Sonhei com uma luz. Ela disse que fui escolhido para salvar todos do que ela chamou de 'esquecimento'. Meu objetivo é salvar mundos que ainda não foram 'esquecidos'. Tentei fazer perguntas, mas ela disse que seriam respondidas com o tempo. - explicou Samuel.

- Então essa luz o escolheu e não disse o porquê? - questionou o Alfa, os olhos fixos em Samuel, buscando sinceridade.

- Basicamente isso. Mas deve haver um motivo. Vim de um lugar devastado, onde criaturas chamadas dominadores destruíram nosso mundo. Aprendi a sobreviver e a me proteger, mesmo sabendo que não poderia vencê-los. - continuou Samuel, a dor em seu coração ecoando em suas palavras.

- Entendo... Então veio ao meu mundo para salvá-lo do 'esquecimento'? - perguntou o Alfa, sua expressão se suavizando.

- Resumidamente, sim. - confirmou Samuel, sentindo um leve alívio por finalmente expor sua verdade.

- Entendo. Continuaremos essa conversa mais tarde. Você deve estar confuso e assustado para raciocinar com clareza. - disse o Alfa, notando a tensão nos ombros de Samuel.

- Não estou assustado. Só foi tudo tão repentino. - respondeu Samuel, se firmando.

Ele se levantou calmamente e foi em direção à entrada da toca.

- Nunca imaginei, nem nos meus sonhos, que um dia viria para cá. Sempre desejei ter nascido neste mundo e ter tido uma vida mais tranquila com minha família e amigos. - disse, olhando ao redor, admirado.

- Agora que estou aqui, me sinto tão leve e seguro. Parece um sonho, mas é real. - suspirou Samuel, um misto de nostalgia e esperança em sua voz.

O Alfa se aproximou.

- Eu sinto algo em você, garoto. Sinto algo que me faz acreditar em suas palavras. Se veio para salvar este mundo, então cumpra seu destino. Esse sentimento de segurança significa que você se sente em casa. Criou mesmo um laço especial aqui, não foi? - observou o Alfa, sua voz carregada de compreensão.

Samuel assentiu.

- Fique na minha alcateia esta noite. Amanhã, poderá seguir seu caminho. Alguns lobos podem julgar sua presença, mas não se preocupe, eles têm motivos. A guerra tem sido difícil, com ataques e perdas diárias. - disse o Alfa, a preocupação em sua voz refletindo o estado de seu povo.

- Lamento por isso. Lamento que a humanidade tenha causado sofrimento ao seu mundo. Nossa raça é egoísta e nunca deveria ter existido. - lamentou Samuel, a dor por sua espécie pesando em seu coração.

- Não fale assim dos humanos. Nem todos são iguais. Há humanos do nosso lado nesta guerra, boas pessoas. - disse o Alfa, defendendo os aliados humanos.

- Eu sei, mas... - Samuel começou, sendo interrompido por um lobo que chegou apressado.

- Alfa, precisamos da sua presença no vale. É urgente. - disse o lobo, a urgência em seu tom.

- Certo, estarei lá em breve. Samuel, fique aqui esta noite. É mais seguro e confortável. Voltarei logo. - disse o Alfa, se retirando com o outro lobo.

Seguindo o conselho do Alfa, Samuel decidiu esperar seu retorno, mas a inquietação o consumia.

Algumas horas se passaram, e o Alfa ainda não havia voltado.

"Deve ser algo importante para ele demorar tanto. Talvez eu devesse explorar um pouco a alcateia." - pensou Samuel.

Ele saiu para explorar, admirando o ambiente tranquilo. "Este lugar é tão pacífico. Nem parece que estão em guerra. Eu poderia ajudá-los com isso. Preciso entender meu propósito aqui." refletiu, sua mente fervilhando com possibilidades.

Enquanto explorava, Samuel notou os olhares desconfiados dos lobos ao redor. Alguns murmuravam entre si, claramente desconfiados de sua presença.

Eventualmente, ele chegou a um pequeno lago e parou para admirá-lo. "Este lugar é perfeito. Fui um tolo por ter feito este mundo sofrer por causa da ganância humana. Mas agora sei como posso ajudar. Vou lutar ao lado deles e acabar com essa guerra" - decidiu Samuel, sem perceber que quatro lobos se aproximavam.

Um deles lançou uma pedra em sua direção, mas Samuel a pegou facilmente.

- Parece que esse caçador não é tão inútil afinal. - zombou um dos lobos.

Samuel os ignorou e tentou se afastar, mas uma mão de água surgiu do lago e o agarrou.

- Para onde pensa que vai? Sem seus amigos caçadores, você não é nada. Está na hora de aprender a não mexer com lobos. - disse um dos lobos, rindo.

Samuel, já farto das ofensas, se soltou da mão de água e se aproximou calmamente deles. O lobo que zombava desmaiou instantaneamente com um golpe certeiro na cabeça.

- Não sou qualquer um que vocês possam zombar facilmente. - afirmou Samuel com firmeza.

Furiosos, os outros três lobos atacaram ao mesmo tempo, mas Samuel desviou de cada um com agilidade impressionante, seus movimentos fluindo com uma graça feroz, como se o próprio instinto o guiasse.

- Você vai pagar por machucar nosso amigo! - gritou um dos lobos furiosos, avançando com a boca aberta e as garras prontas para dilacerar.

Mas Samuel, com um movimento ágil, se esquivou e, em um único golpe, fez o lobo cair inconsciente no chão.

Os outros dois lobos, vendo o que acontecera, não hesitaram em lançar um ataque combinado. Um deles conjurou uma onda de energia que quase atingiu Samuel, mas ele já estava se preparando para desviar. Porém, antes que pudesse reagir, o segundo lobo usou magia para lançar uma poderosa rajada de vento. Samuel foi atingido de frente, seu corpo sendo arremessado para trás com força. O impacto foi brutal, e ele sentiu a dor em cada centímetro do seu corpo. Sangue escorria por sua testa e pelo lado de seu corpo, mas ele não recuou.

Com uma respiração pesada, ele se ergueu, mãos brilhando com uma aura dourada, como se sua dor fosse alimentando sua determinação. O brilho das mãos desapareceu tão rapidamente quanto surgira, mas havia algo em sua postura que dizia que ele não estava mais disposto a recuar.

- Por que você não morre logo?! - gritou um dos últimos lobos, enquanto ele e o outro restante conjuravam outra magia poderosa, criando uma tempestade de pedras afiadas que foram lançadas contra Samuel.

Mesmo após receber o impacto direto, Samuel permaneceu em pé, seu corpo manchado de sangue, mas sua expressão não demonstrava dor, apenas uma determinação inabalável. Ele olhou para os lobos com fúria.

Antes que os lobos pudessem lançar um novo ataque, o Alfa apareceu em cena, seu rugido cortando o ar.

- O que estão fazendo? Brigando em nossa alcateia? Não sabem que estamos em guerra e não podemos nos dividir assim? - perguntou o Alfa, sua presença imponente fazendo os lobos hesitarem.

- Foi ele que começou, senhor! Ele nos feriu, você não está vendo? - respondeu um dos lobos, indignado, apontando para Samuel.

O Alfa olhou para os lobos e depois fixou seu olhar em Samuel. Ele sabia que a situação era tensa, mas sua experiência como líder falava mais alto.

- Eu estava longe, mas sei o que aconteceu. Só porque ele é humano não significa que ele é mau como os outros caçadores. Vocês precisam entender que não podemos brigar com nossos aliados. Ele também é um dos nossos. Se isso acontecer de novo, haverá punições. Agora, retirem-se e levem os outros com vocês. Espero que isso não se repita. - disse o Alfa, com firmeza em sua voz, seus olhos fulgurando.

- Sim, senhor Alfa... - responderam os lobos, envergonhados, e rapidamente se afastaram, levando os outros com eles.

O Alfa suspirou profundamente, sentindo o peso da responsabilidade sobre seus ombros. Ele se virou para Samuel, com uma expressão mais suave.

- Que recepção, não é? Peço desculpas por isso. Como eu disse, eles têm um rancor dos caçadores. Garanto que não haverá uma segunda vez. - disse o Alfa, com um tom de pesar.

- Não é nada demais. Já passei por coisas piores. - respondeu Samuel, limpando o sangue de seu corte com a manga da camisa. Ele sabia que, no fundo, esse confronto não era apenas sobre ele, mas sobre os preconceitos e traumas que os lobos carregavam.

- Se você diz. Agora vamos, está quase anoitecendo e é perigoso andar sozinho à noite. - sugeriu o Alfa, observando os ferimentos de Samuel com um olhar preocupado.

Os dois começaram a caminhar de volta para a toca do Alfa, enquanto os outros lobos os observavam em silêncio. O ambiente estava carregado de tensão, mas aos poucos, com a chegada do Alfa e a autoridade que ele exalava, a quietude começou a se restabelecer.

Ao chegarem à toca, o Alfa se virou para Samuel.

- Para um humano, você até que luta bem. Tem potencial. Seria uma boa ideia ter um humano como você ao nosso lado. Por que não fica? - disse o Alfa, com um leve sorriso, tentando aliviar a atmosfera tensa.

- Pode ser uma boa ideia, mas você tem certeza de que os outros lobos aceitarão isso? Acho que alguns poderiam se opor. - ponderou Samuel, ciente da animosidade que ainda existia entre ele e muitos dos lobos.

- Pelo que você fez hoje, acho que eles entenderam com quem estavam lidando. - disse o Alfa, com confiança.

- Então vou ficar e farei o melhor que eu puder. - decidiu Samuel, sentindo um novo propósito tomando forma dentro de si.

- Ótimo. Agora, é melhor você descansar. Deve estar com fome; não comeu nada desde que chegou, certo? - perguntou o Alfa.

- Nem precisava, eu me viraria, mas obrigado mesmo assim. - disse Samuel.

- . Não há de quê. Coma algumas frutas e vá descansar. Amanhã será um dia longo. - disse o Alfa. - Vou tratar de algumas pendências agora à noite. Fique aqui e não saia sozinho. Você tem tudo que precisa aqui.

- Tudo bem, não se preocupe. Agradeço a preocupação. - respondeu Samuel, começando a se acomodar.

O Alfa deu um aceno e se retirou, deixando Samuel sozinho na toca. Samuel se sentou por um momento, refletindo sobre os eventos do dia. Sua cabeça estava cheia de pensamentos. Nunca havia se imaginado em um lugar assim, lutando ao lado de lobos e sendo aceito, mesmo com tanta resistência. Ele se perguntava o que mais o esperava e qual seria seu verdadeiro propósito neste mundo.

Ele comeu um pouco das frutas que o Alfa havia deixado e logo se deitou, seu corpo exausto, mas com a mente agitada.

"Que dia. Nunca fui tão bem tratado assim. Ele me lembra um pouco do meu pai. Sinto saudades dele e da minha família. Queria que estivessem aqui comigo, vivendo uma vida melhor e sem complicações. A saudade é grande..."

Com esses pensamentos, Samuel fechou os olhos, e o silêncio da noite o envolveu. Ele sentia uma paz que nunca havia experimentado, mas a guerra e o peso de seu destino ainda estavam à espreita, esperando para ser enfrentados.

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