Aura encarava Siryus com olhos faiscando de raiva, mas sua postura permanecia firme e focada. A Guardiã do Caos, no entanto, parecia estar se divertindo com a tensão, um sorriso perverso curvando seus lábios antes que sua voz cortasse o ar novamente.
— Ah, como foi divertido te quebrar da última vez — disse Siryus, um tom de zombaria preenchendo cada palavra. — Você era um brinquedo tão fascinante... Mas agora? — A kitsune inclinou levemente a cabeça, seus olhos brilhando com desprezo. — Um filhote daquela Deusa Dragão. Nada mais que isso. Francamente, você não passa de uma diversão medíocre, servindo apenas para esfregar o chão com o seu corpo. Se é o que deseja, eu posso realizar esse desejo novamente.
As palavras de Siryus foram como uma chama atirada em um barril de pólvora. O ódio que já queimava em Aura explodiu dentro dela. Sua respiração se tornou pesada e o ar ao seu redor pareceu estremecer com sua energia crescente. Os cabelos negros de Aura começaram a clarear, assumindo um branco reluzente, e dois chifres pontiagudos despontaram de sua testa. Seu corpo cresceu, irradiando uma força sobrenatural e esmagadora.
— Como ousa — rosnou Aura, sua voz carregada de ira e desprezo. — Como se atreve a mencionar minha família com essa boca podre?
Antes que Siryus pudesse responder, Aura avançou em uma velocidade impressionante, sua katana cortando o ar em direção ao pescoço da kitsune em um ataque letal. A intenção de Aura era clara: silenciá-la para sempre.
No entanto, Siryus se moveu como uma sombra, desviando para o lado com uma elegância quase provocativa. Em um movimento fluido, desferiu um golpe direto contra a barriga de Aura. O impacto foi brutal. Um pulso de ar emanou do golpe, empurrando Aura para trás com força.
Aura cambaleou, sentindo o gosto metálico de sangue encher sua boca antes de cuspir um filete que manchou o mármore carmesim do saguão. Ela recuou alguns passos, os joelhos dobrando contra sua vontade, forçando-a a se apoiar em sua katana para não desabar por completo. Apesar de não sentir dor física, o impacto da força de Siryus era inegável.
— Continua com o mesmo fogo de antes, Oni — zombou Siryus, os olhos brilhando com uma satisfação cruel. — Mas, no fim, uma besta daquela Deusa Dragão não é nada além de algo inferior, destinado a rastejar pelo chão.
O sorriso sínico de Siryus acompanhava seus insultos como uma lâmina invisível, cortando mais fundo do que o golpe físico. Aura, mesmo ajoelhada, não deixou seus olhos vacilarem. Sua respiração estava pesada, mas sua determinação permanecia intacta. O fogo dentro dela não tinha se apagado. Se Siryus queria ver a Rainha dos Demônios em ação, ela estava prestes a presenciar algo que jamais esqueceria.
Aura lutava para se levantar, cada músculo de seu corpo exigindo um esforço sobre-humano para se mover. Por dentro, uma voz insistente ecoava, desesperada e determinada. "Levante-se. Não se ajoelhe diante dela. Você é a Rainha dos Demônios."
Com um grunhido de esforço, Aura se ergueu, apoiando-se na katana que ainda tremia em suas mãos. Finalmente, com a postura firme, ela apontou a lâmina diretamente para Siryus, seus olhos ardendo com uma mistura de raiva e determinação.
Siryus observou a cena com desdém, soltando uma risada suave que ecoou pelas paredes do saguão.
— Oh, como isso é adorável. Parece que sua convivência com aquele Guardião Negro... como é mesmo? Renier Kanemoto, certo? — Siryus pronunciou o nome como se saboreasse cada sílaba, sua voz carregada de malícia. — Parece que ele acendeu em você uma chama de convicção. Que patético.
Aura estreitou os olhos, o desprezo escorrendo em sua voz quando respondeu:
— E você fala como se o conhecesse, Siryus.
A kitsune sorriu, cruzando as pernas no trono enquanto apoiava o queixo na mão, claramente apreciando a provocação.
— Oh, isso não vem ao caso agora, querida. — Siryus balançou a mão como se estivesse dispensando o assunto. — O que importa é que, por mais que tente, você não passa de uma marionete quebrada tentando se erguer. E mesmo que consiga, continuará a cair.
Aura apertou os punhos ao redor da katana, o ódio queimando mais forte dentro dela, mas antes que pudesse responder, Siryus continuou:
— Ah, mas não se preocupe, minha cara. Não vou matá-la... ainda. — O sorriso de Siryus se alargou, os olhos vermelhos brilhando com um prazer sádico. — Você ainda tem um propósito. Sem você, como o Guardião Negro encontrará sua motivação para vir até aqui? Não seria uma pena perder essa diversão?
Aura permaneceu em silêncio, seus olhos fixos em Siryus, mas a tensão em seu corpo denunciava a fúria crescente.
— Então, vou apenas brincar mais um pouco com você. — Siryus levantou-se lentamente do trono, suas nove caudas negras ondulando como sombras vivas atrás dela. — Depois disso, a besta vinda de Tiamat pode voltar para o canil de onde saiu.
As palavras finais de Siryus foram acompanhadas de um sorriso cruel e um brilho predatório em seus olhos. Aura, no entanto, não recuou. Mesmo diante da força esmagadora da Guardiã do Caos, o fogo dentro dela continuava a arder, mais feroz do que nunca. A luta ainda estava longe de terminar, e Aura sabia que cada golpe desferido seria um passo em direção ao trono que ela jurou recuperar.
Aura estava em chamas de raiva. A energia emanava de seu corpo enquanto ela canalizava mana para sua lâmina, a espada brilhando com a força da magia que percorria sua lâmina. Com um movimento impetuoso, ela cortou o ar, fazendo o Palácio estremecer. A enorme onda de magia cortou as paredes do saguão, rasgando o mármore com fúria. O som do impacto reverberou como um trovão, ecoando pela vastidão da estrutura.
Por um momento, a poeira pairou no ar, como uma cortina obscurecendo a cena. Quando a névoa se dissipou, os olhos vermelhos de Siryus surgiram, ainda inalterados, enquanto ela permanecia imóvel no mesmo ponto.
— Hmm, você evoluiu bem pouco, considerando o tempo que passou desde a última vez. — A voz de Siryus soou desinteressada, quase entediada, como se aquilo fosse um jogo repetido e monótono. — Isso vai ser bem chato, mas... eu me divirto fácil.
Aura sentiu um arrepio de frustração, mas antes que pudesse reagir, a kitsune já estava em frente a ela. A velocidade era quase indescritível. Siryus sussurrou com um sorriso sádico.
— Esta... é a definição de ser uma mortal e uma divindade, minha cara.
Aura mal teve tempo de reagir, o impacto do soco no seu estômago a fez cuspir sangue. A dor foi intensa, mas ainda mais profunda foi a sensação de impotência que tomou conta dela. Antes que o chão pudesse recebê-la, Siryus a agarrou pelo pescoço, levantando-a do chão com facilidade.
— Como você pensou que isso terminaria, hm? Achou que poderia entrar por aquela porta, toda cheia de coragem, e vencer só porque se apaixonou pelo Guardião Negro? — Siryus riu com uma satisfação cruel, suas palavras cortando mais fundo do que qualquer lâmina.
Aura sentiu a pressão aumentando em sua garganta. Sua força era imensa, mas as palavras de Siryus afundavam mais do que qualquer golpe. O veneno da zombaria de sua inimiga era mais mortal que qualquer ferimento físico.
Com raiva contida e os olhos flamejando, Aura fez o que lhe restava. Com um esforço tremendo, ela cravou a lâmina da espada no peito de Siryus, sentindo o metal rasgar sua carne.
A kitsune não reagiu, olhando para a espada cravada com um sorriso ainda mais arrogante. O sangue que escorria de sua ferida era de um vermelho escuro, como se fosse algo corrompido e distorcido pela própria essência de Siryus.
— Parabéns, você acertou um golpe pela primeira vez. — Siryus zombou, sua voz afiada e cheia de desdém.
A kitsune então, com um movimento brutal, lançou Aura para o alto, sua força sendo tanta que o corpo da Oni foi arremessado como uma marionete. Aura foi projetada pelo saguão, seu corpo atravessando o ar antes de se chocar com as pilastras. O impacto foi tão forte que as pedras estilhaçaram ao redor dela, até que, finalmente, seu corpo caiu pesadamente no chão, inconsistente, espalhando-se no piso rachado.
Siryus, em contraste, voltou calmamente ao seu trono. Seu comportamento era quase desdenhoso, como se não houvesse nada mais entediante do que aquilo. Ela se acomodou na cadeira com um sorriso presunçoso, como se estivesse apenas esperando por algo que já sabia que aconteceria.
— Então... quando o Guardião Negro irá dar um fim àquela Sombra asquerosa? — Siryus falou com um tom de total indiferença, os olhos vermelhos brilhando na penumbra.
O saguão estava silencioso, exceto pelo som do canto suave e sarcástico de Siryus. Aura permanecia caída no chão, derrotada. No entanto, havia algo em seu olhar — uma fagulha de determinação que ainda se recusava a morrer, mesmo quando seu corpo estava à mercê de sua inimiga.
E enquanto Siryus continuava seu cantarolar, a espera pela chegada de Renier se tornava mais palpável, uma tensão crescente que pairava no ar, como uma tempestade prestes a explodir.
Continua…