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Chapter 45 - Capítulo 44: Juntos.

A Sombra havia se aproximado o bastante de Renier, mas ele estava preso em sua própria mente, um turbilhão de pensamentos girando sem controle. As revelações o haviam abalado profundamente. Como processar tudo aquilo?

Morrer na Terra já não havia sido suficiente, pensava ele amargamente. Encontrar a mãe que tanto desejara conhecer, apenas para perdê-la logo em seguida, era cruel demais. E agora, Kyouka...

— Kyouka… era uma Sombra… — murmurou Renier, incapaz de aceitar o que estava diante de si. As peças estavam lá o tempo todo, mas ele se recusara a vê-las.

Os olhos roxos de Kyouka, sempre frios, vazios de emoção... Aquele olhar que nem mesmo os Olhos das Revelações puderam decifrar. A mulher que ele amou e confiou, que o transformara... era uma mentira. Uma criação do Vazio.

— Coitadinho... — a Sombra murmurou com suavidade, sua mão gelada tocando o rosto de Renier, forçando-o a encará-la. Seus olhos brilhantes e profundos pareciam refletir algo mais, algo que ele não podia compreender.

— Ela o amou, mas quando não conseguiu compreendê-lo, ela o descartou, não foi? — A voz dela era doce, quase maternal, mas carregava um peso venenoso que penetrava na mente de Renier. — É doloroso, não é? Sentir-se vazio por dentro. Esse vazio consome você, tenta preenchê-lo, mas nunca consegue. Eu sei como é... eu entendo como você se sente.

A expressão serena da Sombra o desarmava, e Renier sentiu sua raiva hesitar, dando lugar a uma confusão desesperadora. Seus olhos, os Olhos das Revelações, eram inúteis contra ela, assim como haviam sido contra Kyouka.

"Ela me entende?", Renier se perguntava, buscando desesperadamente uma resposta. A dúvida e a esperança se misturavam, criando uma fissura em sua determinação.

A Sombra sorriu, inclinando a cabeça levemente enquanto continuava:

— Nós sabemos como é, Renier. Ser incompreendido. Ser algo único, isolado. Esse vazio... ele nos consome. E no fim, tudo o que podemos fazer é consumir e destruir, porque é isso que nos define.

Sua voz tinha um tom hipnotizante, um mel venenoso que se infiltrava na mente de Renier, enfraquecendo suas defesas.

— Você, porém... é diferente. Você é tão cheio, tão infinito. A própria existência repousa em você. Mas o que vemos... é alguém vazio e solitário.

Renier fechou os punhos, tentando se agarrar ao fio de razão que lhe restava.

— Nós não desejamos sua queda, Renier. — A Sombra deu um passo à frente, seu sorriso enigmático se ampliando. — Queremos uma união.

— União? — Renier perguntou, sua voz rouca, um misto de compreensão e incredulidade.

— O Vazio ama você, Renier. Nós o amamos, porque você nos preenche. Você é o elo perdido que nunca tivemos. Mas há uma barreira... — O sorriso dela se suavizou, e seus lábios estavam agora perigosamente próximos dos dele. — Você precisa nos deixar entrar. Se fizer isso, nunca mais estará sozinho. Nunca mais será incompreendido. Nós estaremos com você... para sempre.

A proximidade dela era sufocante, uma dança perigosa entre sedução e ameaça que fazia o coração de Renier acelerar descontroladamente. As palavras da Sombra continuavam a ecoar em sua mente, envolventes como uma melodia hipnótica, prometendo algo que ele sempre desejou: nunca mais estar sozinho. Uma promessa tão doce quanto letal.

Mas não podia acontecer. Não deveria acontecer.

Renier sentia sua vontade vacilar, como uma muralha que começava a ruir. A Sombra, astuta, explorava cada rachadura emocional, tocando nas feridas mais profundas que ele carregava. Era como se ela estivesse desmontando, peça por peça, a última linha de defesa que separava o Guardião Negro do Vazio.

A aproximação entre eles era quase palpável, um encontro de forças opostas que nunca deveriam coexistir. Algo incomum estava acontecendo: os Olhos das Revelações, sempre fiéis, começaram a falhar. O azul profundo que simbolizava sua clareza e discernimento oscilava, mesclando-se com um tom púrpura, o mesmo roxo que brilhava nos olhos de Kyouka e agora na Sombra.

A luz nos olhos de Renier pulsava instável, alternando entre azul e roxo, como uma batalha interna travada em seu próprio espírito. Sua resistência era inconsistente, desmoronando aos poucos, enquanto a influência do Guardião em si parecia trabalhar contra ele.

Renier era o Guardião Negro, um ser que existia para equilibrar forças, mas naquele momento, seu papel como elo entre as dimensões tornava-o perigosamente vulnerável. A própria essência que fazia dele quem era agora o colocava à beira de um abismo que ele não sabia se poderia evitar.

Renier parecia à beira do abismo, como se estivesse sendo consumido pela presença da Sombra. A sensação de vazio dentro de si, um abismo emocional que ele sempre tentou preencher, agora o engolia. Ele desejava estar completo, desejava companhia, mas isso estava se distorcendo, tornando-se algo monstruoso, algo que ele não podia controlar. Cada palavra da Sombra, cada aproximação dela, fazia seu corpo e mente vacilarem, como se ele estivesse prestes a ceder ao desejo de união que ela lhe oferecia, mas que, em sua essência, significava sua destruição. 

Porém, em meio àquela escuridão, algo inesperado aconteceu. Quando a Sombra se aproximou, sua presença ameaçadora prestes a tomar o último vestígio de resistência de Renier, um toque firme o interrompeu. 

Aura, que até então parecia estar à beira de cair completamente, reuniu o que restava de sua força, tanto física quanto mental. Ela estava lutando contra o medo que a paralisava, contra a sensação de impotência diante da Sombra. Sua voz falhou, mas sua declaração foi clara, ainda que fraca: 

— Eu estou… com você… — foi tudo o que Aura conseguiu dizer antes de cair novamente no chão, esgotada, mas com a força de sua presença ainda ecoando nas palavras. 

A Sombra, com seu sorriso zombeteiro, descreveu a ação de Aura como "fútil". Mas, antes que pudesse zombar mais, ela foi abruptamente jogada para trás, surpresa por um ataque repentino. A foice de Renier cortou o ar e atingiu a Sombra com precisão, a lâmina deixando um rastro de força e energia, mesmo que a ferida não sangrasse. A Sombra tocou seu peito, sua expressão se contorcendo de raiva. 

O grito que ela soltou foi cheio de fúria, uma explosão de raiva contida, e ela olhou para Renier, o acusando em um tom de desprezo: 

— O que você fez? 

Renier, ainda lutando contra a neblina mental em que estava imerso, colocou a mão na cabeça, tentando se focar. Sua situação era grave, ele sabia disso, mas o que a Sombra não contava era que ele não estava completamente perdido. 

Ele riu, de maneira debochada, como se se lembrasse de algo que tivesse sido perdido por um tempo. Sua voz, carregada de ironia, se erguia para a Sombra: 

— Obrigado por me lembrar do porquê sou tão fraco… — disse ele, a risada ressoando com amargura. 

Mas então, seus olhos azuis se acenderam novamente, mais intensos e furiosos do que antes. Eles brilhavam como chamas que haviam sido reavivadas em um incêndio que ele mesmo havia quase apagado. 

Ele se levantou, a foice pronta em sua mão, a expressão de determinação tomando seu rosto. 

— Mas mesmo assim… ainda lutarei pela minha vida. Mesmo que para isso eu tenha que esmagar todos os meus sentimentos, tudo o que você tenta me fazer sentir. Eu vou proteger aqueles que querem viver. — Renier falou com uma convicção renovada, o peso de suas palavras pesado como uma promessa, e a luz nos seus olhos refletia a intensidade dessa promessa, de um Guardião que se recusava a sucumbir.

Continua…