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Chapter 48 - Capítulo 47: O Limite das Restrições.

Aura reabriu os olhos lentamente, sua respiração pesada enquanto tentava recompor os pensamentos. Apesar de não estar fisicamente ferida, a batalha mental para auxiliar Renier havia drenado suas forças. Sua mente estava exausta, mas como filha direta de Shuten Douji, desistir jamais seria uma opção. A exaustão era apenas um obstáculo, algo que ela aprendera a superar desde que tomou consciência de sua linhagem.

Com um esforço determinado, Aura se ergueu, o corpo ainda resistindo, mas sua força de vontade implacável. Seus olhos percorreram o campo agora vazio. Renier e a Sombra já não estavam ali. No entanto, a presença deles era quase palpável do outro lado da montanha. A luta continuava, o confronto reverberando como um trovão distante que parecia ecoar até sua alma.

Por um momento, Aura hesitou. Uma parte dela queria correr até Renier, ajudar, lutar ao seu lado, como já fizera antes. Mas ela sabia a verdade. Renier estava enfrentando algo muito além de suas capacidades. Se ela se envolvesse, apenas se tornaria um fardo, alguém que ele precisaria proteger em vez de focar na batalha. Esse pensamento a encheu de frustração. Odiava sentir-se impotente dessa forma, odiava a realidade cruel de ser uma Oni que compreendia completamente os poderes que tinha, mas se via imponente contra seres como aquela Sombra.

Ela fechou os punhos com força, suas unhas cravando-se na pele, enquanto olhava para o horizonte. As nuvens negras, que antes ameaçavam engolir tudo, estavam começando a dissipar-se, indicando que a Sombra agora estava completamente focada em Renier. Mas foi algo além das nuvens que chamou sua atenção. Um palácio gigantesco, imponente e cruel, tingido em carmesim, destacava-se na paisagem. O antigo domínio dela, agora usurpado pela Guardiã Negra.

Aura sentiu o peso daquele lugar. O símbolo de sua queda, de sua humilhação, estava bem diante de seus olhos. Por um instante, sua sede de vingança voltou à tona, aquele desejo ardente de reclamar o que era seu por direito. Mas ao mesmo tempo, outra coisa pulsou dentro dela: o peso que Renier carregava. Ele já estava lidando com mais do que qualquer um poderia suportar.

"Ele não precisa de mais uma preocupação," pensou Aura, sua expressão endurecendo.

Ela respirou fundo, segurando o cabo de sua katana, sentindo o metal frio e familiar. A lâmina reluziu levemente enquanto era puxada de sua bainha, a promessa silenciosa de que ela enfrentaria seus próprios demônios, por mais impossível que parecesse.

— Isso não é por mim... — murmurou ela, os olhos fixos no palácio distante, como se pudesse ver a Guardiã Negra através das paredes de pedra e ferro. — É por ele.

Com passos firmes, Aura começou a caminhar rumo ao palácio. Cada passo parecia mais pesado, não pelo cansaço, mas pela resolução em seu coração. Se ela não podia enfrentar a Sombra, ao menos enfrentaria o peso de seu próprio passado. Não como uma fugitiva, mas como uma Oni que se recusava a ser uma carga para quem lhe confiou tanto.

O vento soprou contra seu rosto, trazendo consigo o eco distante da batalha de Renier. Aura não olhou para trás. Seu destino a aguardava, e desta vez, ela lutaria por algo maior do que sua própria vingança: ela lutaria para aliviar o fardo daquele que, mesmo sem admitir, se tornou mais importante do que qualquer trono perdido.

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Do outro lado da montanha, a situação ainda era crítica… Renier após ficar inconsistente, por um breve momento se levantava.

Entre o espaço dos dedos, pingos de água começaram a cair.

— Sério que até o clima ela controla agora… — murmurou Renier, ficando de pé com sua arma em mãos novamente.

A chuva densa e negra caía sobre a cidade abandonada, um lugar consumido pela ruína que a Sombra Verdadeira havia deixado como um sombrio lembrete de sua passagem. Nenhuma vida persistia nos prédios que gemiam sob o peso da ferrugem e desmoronaram lentamente. O som das gotas d'água reverbera de forma oca ao atingir as latas de lixo e escombros espalhados pelas ruas desertas.

— Uma cidade de ferro? — indagou Renier, confuso era parecido com as cidades da Terra.

Carros abandonados nas calçadas estavam cobertos por uma espessa camada de ferrugem, como cadáveres metálicos devorados pelo tempo. Em menos de um mês, tudo havia se imobilizado, como se a própria cidade tivesse parado no tempo. E no meio dessa paisagem desolada, apenas duas figuras permaneciam, solitárias no asfalto da avenida principal.

Renier piscou brevemente, vendo que estava perdendo a atenção para essa cidade, então balançou a cabeça para se concentrar.

— Depois eu tiro o tempo para observar isso, — reafirmou ele tentando focar na luta.

Renier arrancou o que restava de sua jaqueta, queimada e rasgada pela energia corrosiva da chibatada de Sombra. Ele a jogou no chão sem hesitar, revelando a camisa escura manchada pelo combate. As feridas que outrora cortavam sua pele já haviam cicatrizado, fechadas por sua própria energia regenerativa.

— Como sempre, difícil de se quebrar fisicamente, não é? — comentou a Sombra, com um sorriso provocador, enquanto enrolava o chicote de energia ao redor do antebraço. — Eu atravessei seu corpo por uma montanha, sabia? E mesmo assim só consegui deixar você inconsistente por alguns minutos…

A Sombra se encontrava no alto de um pequeno prédio, o observando com interesse e um sorriso sádico.

— Heh, se for para servir de consolo, pelo menos a dor foi o suficiente para ganhar a minha atenção — afirmou Renier, em tom de deboche.

O golpe de fato foi doloroso, mais do uma dor física normal, se ele recebesse ataques novamente com ela energia, seria fatal. Mas ele não iria mostrar e dizer isso para ela.

"Isso é... perigoso...", pensou Renier, os olhos avaliando cada movimento da adversária. Ele precisava de uma contramedida, algo que lhe concedesse a resistência necessária para suportar as próximas investidas. Então, uma ideia sombria emergiu em sua mente. Era arriscado, mas necessário.

Renier agora estava longe da Aura, e de qualquer intervenção com qualquer ser vivo, então ele poderia se soltar sem se preocupar com nada…

— Você queria ver um pouco do poder do Guardião Negro, não queria? — indagou Renier. — Mas não me culpe se acabar se dando mal, pela sua curiosidade.

Renier não poderia usar o poder da Yggdrasil de forma exposta, sabia que iria dar brechas para a corrosão da Sombra infectar sua essência.

Uma aura vermelha-sangue começou a se formar ao seu redor, espessa e opressora, pulsando com uma energia tão maligna que o próprio ar ao seu redor pareceu se distorcer. Era como se as sombras da própria cidade se erguessem para envolvê-lo. Essa presença cruel e impiedosa vinha de sua herança demoníaca se misturando com a energia cósmica, um poder que ele raramente se permitia usar não dessa forma. Seus olhos, antes de um azul cósmico, brilharam intensamente ao serem cortados por um X carmesim, fazendo suas íris se tornarem de vermelho profundo, como brasas incandescentes.

"Se é resistência que preciso… então vou usar tudo o que sou." disse Renier, com um sorriso firme, em seu próprio poder.

Escamas negras começaram a brotar de seu antebraço, cobrindo sua pele como uma armadura viva, cada placa refletindo a escuridão do cosmos. Garras afiadas emergiram de suas mãos, e uma cauda sinuosa, coberta com as mesmas escamas resistentes, despeito de suas costas. Seus pés se alargaram e endureceram, transformando-se em membros poderosos que podiam esmagar aço com facilidade. Ele estava forjando uma nova forma, misturando sua essência de dragão cósmico com o poder infernal de seu lado demoníaco. A fusão das duas naturezas fez sua energia se expandir violentamente, tão densa e ameaçadora que o chão sob seus pés começou a rachar.

A Sombra assobiou de admiração, os olhos dela brilhando com uma curiosa fascinação e um traço de desejo. A mudança repentina e brutal em Renier havia capturado sua atenção. Aquele poder, tão intenso e sedutor, tornava impossível desviar o olhar.

— Ora, ora… assim você está se tornando muito mais interessante do que eu esperava — murmurou, com um sorriso provocante nos lábios. Ela envolveu o chicote de energia em torno dos dedos como se preparasse para atacá-lo novamente, mas agora havia uma hesitação ali, um reconhecimento do predador à altura.

Renier apenas a encarou, seus olhos carmesins faiscando. Pouco importava os efeitos colaterais dessa transformação. A situação exigia isso, e ele não pretendia parar até esmagá-la.

— Vamos ver o que você tem a oferecer, Guardião… — disse a Sombra como um convite para ele contra-atacar. O vento parou por um momento, como se a própria cidade estivesse prendendo a respiração antes da devastação que viria a seguir.

Renier avançou, desaparecendo em um borrão vermelho com azul enquanto brandia sua foice com uma precisão brutal. A lâmina cortava o ar, as vibrações de energia cósmica rasgando o espaço ao seu redor com um brilho opalescente. Mas a Sombra estava pronta. Com um sorriso, ela fez sua espada de energia púrpura se transformar num chicote novamente, o metal etéreo estalando como um raio crepitante.

Os dois colidiram no meio das ruínas. O impacto gerou uma onda de choque tão intensa que o solo tremeu e os prédios mais próximos explodiram em fragmentos. Renier lançou uma série de cortes rápidos, sua foice girando em um arco mortal, enquanto Kyouka se esquivava graciosamente, seu corpo serpenteando entre os ataques como se fosse feita de pura névoa.

Quando a foice passou a um fio de cortar seu pescoço, a Sombra sorriu com malícia. Com um giro ágil, ela recuou e então estendeu o braço, a espada se desfazendo e se recompondo em um chicote longo e flexível, que ela fez açoitar o chão com uma força aterradora. O concreto estalou, as rachaduras se espalhando como teias de aranha, e a energia púrpura corroeu tudo em seu caminho. Renier saltou para trás, mas não rápido o suficiente para evitar o impacto quando Kyouka girou o chicote para cima.

O golpe rasgou o solo abaixo dele, explodindo em uma chuva de destroços que varreu os céus. Kyouka aproveitou a abertura, puxando o chicote de volta e o lançando novamente, cada movimento um borrão de luz púrpura que se torcia e se contorcia ao seu comando. Renier desviou, a foice dançando à sua frente, defendendo e refletindo os ataques com precisão inumana, mas o chicote parecia ter vida própria, um predador faminto que o caçava de todas as direções.

Um estalo cortante reverberou quando Kyouka moveu o braço, o chicote dividindo o ar e se desdobrando em múltiplas pontas afiadas que convergiram em Renier. Ele ergueu a foice, girando-a ao redor para criar uma barreira giratória de energia azulada. As pontas do chicote se chocaram contra a defesa dele, cada colisão gerando uma explosão de faíscas que iluminou a cena.

Mas a Sombra não recuou. Em vez disso, ela sorriu, o chicote se fundindo e se reformando em um instante, estendendo-se por trás de Renier como uma serpente que o cercava. Antes que ele pudesse reagir, a arma se enroscou em um prédio desmoronado próximo e, com um puxão selvagem, a Sombra arremessou a estrutura inteira em sua direção.

Renier se virou no último segundo, a foice piscando em um corte horizontal que partiu o prédio ao meio. Os escombros passaram por ele, explodindo em pedaços ao redor, mas a Sombra já estava sobre ele, o chicote vindo de cima com uma força que reverberou no solo. A lâmina do chicote cortou o ar, um silvo mortal que Renier mal conseguiu bloquear com a lâmina de sua foice. A energia roxa pulsou pelo impacto, lançando faíscas de energia maligna para todas as direções.

A Sombra riu enquanto se afastava, o chicote agora girando em espiral ao redor de seu corpo, como uma cobra pronta para dar o bote. Seus olhos brilhavam com uma excitação selvagem.

— Vamos, Renier! — gritou ela, a voz carregada de provocação. — Mostre-me mais!

Essa luta parecia uma brincadeira, mesmo com a extensão da destruição que estava sendo causada, a Sombra estava explorando e se divertindo com esse lado novo de Renier, alguém sem restrições.

Continua…