Um Brilho de Esperança
Katsuo e Kira atravessaram a porta, ainda ofegantes e se recuperando da fuga desesperada pelo labirinto. Quando abriram os olhos, encontraram-se em uma floresta densa, iluminada pela luz das estrelas, que cintilavam entre as copas das árvores. O ar era fresco, carregado com o aroma de pinho e terra úmida.
À frente deles, a poucos metros, uma mulher os aguardava com um sorriso tranquilo. Ela vestia um robe azul escuro com escritas rúnicas brilhando suavemente nas bordas, e segurava um cajado mágico adornado com uma esfera brilhante.
"Finalmente!" disse ela, aliviada. "Achei que não iam conseguir passar pelo golem."
Kira apresentando sua amiga. "Katsuo, essa é a Kira Mágica. Ela é uma das Kiras que confio... e uma velha amiga."
"Amiga né?" brincou Kira Mágica. "Prazer em conhecê-lo, Katsuo."
Katsuo fez um gesto de cumprimento. "O prazer é meu." Ele olhou em volta. "Mas como você sabia que estávamos vindo?"
Kira Mágica ergueu o cajado e apontou ao redor. "É o meu mundo. Eu sinto quando alguém se aproxima da porta." Ela abaixou o cajado e sorriu. "E vocês chegaram na hora certa. Venham, vamos para a cabana. Prometo que estarão seguros aqui."
Katsuo hesitou, olhando ao redor da floresta escura. A desconfiança ainda estava estampada em seu rosto. Kira, percebendo, deu-lhe um leve empurrão com o cotovelo. "Relaxa, Katsuo. Ela sabe o que está fazendo."
"É, relaxa," disse Kira Mágica, dando uma risadinha. "Se algo tentasse atacá-los aqui, eu já teria lidado com isso."
Apesar da hesitação, Katsuo seguiu as duas. O caminho pela floresta era iluminado por pequenas luzes flutuantes, como vaga-lumes mágicos, que pareciam seguir o movimento do cajado de Kira Mágica.
"Então," começou Kira, enquanto caminhavam, "o que você tem feito por aqui? Ainda criando coisas impressionantes?"
"Mais ou menos," respondeu Kira Mágica com um sorriso travesso. "Vocês vão ver assim que chegarmos."
Após alguns minutos, chegaram a uma clareira encantadora. No centro, uma cabana rústica, mas aconchegante, destacava-se, com luz dourada escapando pelas janelas. "Bem-vindos à minha humilde morada," disse Kira Mágica, abrindo a porta e gesticulando para que entrassem.
O interior era mágico. O teto era revestido com cristais que brilhavam suavemente, banhando o ambiente em uma luz calorosa. Uma lareira ardia suavemente em um canto, e o ar estava cheio do perfume de ervas penduradas nas vigas.
"Podem se sentar," disse Kira Mágica, apontando para um sofá macio em frente à lareira. Ela se virou para Kira, estendendo a mão. "O Cristal do Tempo, por favor."
Kira retirou o cristal da bolsa e entregou-o para ela. Kira Mágica segurou o item com cuidado, seus olhos brilhando enquanto o examinava. "Ainda funcionando bem, pelo visto," comentou, satisfeita. Segurando o cristal com as duas mãos, ela murmurou algo em um tom baixo e melódico. A luz do cristal intensificou-se antes de retornar à normalidade. "Pronto," disse ela, devolvendo o item.
Katsuo, fascinado com o que acabara de presenciar, olhou para a Pulseira de Energia em seu pulso. "Será que você pode recarregar isso também?"
Kira Mágica pegou a pulseira, analisando-a com curiosidade. "Hm... não, isso aqui não é mágico. Parece mais... tecnológico. Então, sinto muito, mas não consigo ajudar com isso."
Ela então foi até um pequeno baú em um canto da sala e começou a mexer nos itens lá dentro. "Vamos ver... onde coloquei aquele..." Antes que pudesse terminar a frase, Kira viu algo que chamou sua atenção: um colar delicado com uma etiqueta que dizia "Colar da Invisibilidade".
"Posso experimentar?" perguntou Kira, já colocando o colar em volta do pescoço.
"Kira, espera!" exclamou Katsuo, olhando para ela. Ele rapidamente ficou vermelho como um tomate e desviou o olhar. "Eu... eu não vi nada!"
Kira franziu a testa, confusa, mas quando olhou para baixo, percebeu que suas roupas haviam desaparecido. Ela soltou um grito, cobrindo-se com as mãos.
Kira Mágica riu nervosamente e retirou o colar. "Desculpa! Ainda está em fase de testes. Preciso ajustar algumas coisas."
Um silêncio constrangedor tomou conta do ambiente, mas Kira Mágica logo quebrou o clima ao retirar outro item do baú. "Ah, aqui está!"
Kira Mágica segurava uma Runa do Retorno, um objeto pequeno e circular, com inscrições que brilhavam suavemente. "Essa runa pode levar você de volta ao seu próprio mundo," explicou ela, entregando o item a Katsuo.
"Eu... vou poder voltar pra casa?" perguntou Katsuo, com os olhos brilhando de esperança.
Ao ouvir isso, o semblante de Kira mudou ligeiramente. Por um breve momento, sua expressão alegre deu lugar a uma sombra de tristeza. Ela desviou o olhar, tentando disfarçar. "É claro," disse, em um tom leve, embora um pouco forçado.
Katsuo, perdido em seus próprios pensamentos, não percebeu a mudança em Kira, mas Kira Mágica pareceu notar, lançando-lhe um olhar rápido antes de decidir não comentar.
"É só segurar com as duas mãos e pensar no lugar para onde quer voltar," continuou Kira Mágica, entregando a runa a Katsuo.
Katsuo segurou a runa com cuidado, fechou os olhos e se concentrou. A runa começou a brilhar intensamente, e por um momento, todos pensaram que funcionaria. Mas então, o brilho se apagou, deixando apenas o silêncio.
"Por que não funcionou?" perguntou Katsuo, frustrado.
Kira Mágica suspirou, pensativa. "Talvez... o seu mundo esteja fora do alcance da runa. Não é algo que eu possa controlar."
Katsuo baixou a cabeça, claramente abalado. Kira o observou, seu coração apertado. "Vamos encontrar outra forma," disse ela, tentando animá-lo.
O que antes parecia ser uma solução definitiva agora se transformava em mais perguntas e incertezas.
A Floresta em Movimento
Após a tentativa frustrada de usar a Runa do Retorno, Kira Mágica tentou aliviar o clima. "Já está tarde," disse ela, enquanto caminhava até um outro cômodo. Com um leve movimento do cajado, duas camas macias apareceram no canto da sala. "Podem descansar. Amanhã, vamos pensar em uma forma de resolver isso."
Ela apontou para o lado oposto. "O banheiro fica logo ali, se precisarem."
Katsuo, ainda abatido com o fracasso da runa, deitou-se sem dizer nada. Kira olhou para ele com preocupação, mas preferiu guardar seus pensamentos. Logo, todos estavam em silêncio, com o ambiente envolto pela luz suave das paredes mágicas.
Durante a madrugada, um estrondo violento ecoou pela cabana, acordando os três.
"Katsuo! Kira!" chamou Kira Mágica, já na sala, com o cajado em mãos. "Que barulho foi esse?"
"Eu também não sei," respondeu Kira, preocupada, enquanto ajudava Katsuo a se levantar.
Kira Mágica caminhou até a janela, empurrando as cortinas de lado. Seu rosto ficou sério. "Isso não é bom."
Lá fora, várias árvores arrancavam suas raízes do solo e avançavam em direção à cabana, movendo-se de forma incomum e assustadora. O chão tremia a cada passo, enquanto uma sensação de ameaça pairava no ar.
"Eu vou resolver isso," declarou Kira Mágica, abrindo a janela e levantando o cajado. Uma luz brilhante emanou da esfera no topo, e ela lançou uma magia poderosa contra as árvores mais próximas. No entanto, a magia dissipou-se no ar, como se fosse absorvida.
"Não pode ser..." sussurrou Kira Mágica, surpresa.
Sem desistir, ela segurou o cajado com as duas mãos e concentrou-se, liberando uma magia ainda mais forte. O clarão iluminou toda a floresta, mas, novamente, a magia não teve efeito. As árvores continuaram avançando, impassíveis.
"Isso é impossível!" exclamou Kira Mágica, o suor escorrendo por sua testa.
As árvores já estavam cercando a cabana, golpeando as paredes com suas raízes e galhos gigantescos. Com esforço, Kira Mágica criou um escudo mágico em forma de domo ao redor da casa. O som dos impactos reverberava pelo interior da cabana, e era evidente que ela estava sentindo cada golpe.
"Não vai segurar por muito tempo," disse ela, ofegante.
Kira Mágica correu até um canto da sala, onde um tapete cobria o chão. Ela o puxou para revelar um alçapão. "Rápido, desçam por aqui!"
Antes de abrir o alçapão, pegou uma sacola de itens mágicos na estante e entregou-a a Kira. "Vocês vão precisar disso," disse ela, séria. "Sigam o caminho. Ele os levará a uma porta. É um atalho para sair deste mundo."
Kira olhou para ela, alarmada. "E você? Não vem com a gente?"
"Eu vou ficar bem," respondeu Kira Mágica, tentando manter a voz firme. "Mas vocês precisam se apressar. Cada segundo conta!"
Kira hesitou, a preocupação evidente em seu rosto. Mas ao ouvir outro estrondo, ela pegou a sacola e puxou Katsuo pelo braço. "Vamos!"
Os dois desceram pelo alçapão, deixando Kira Mágica para trás. O caminho abaixo era iluminado por runas brilhantes gravadas nas paredes, emitindo uma luz tênue que mostrava a direção.
Enquanto corriam pelo túnel, os estrondos acima continuavam, acompanhados por tremores no chão. Katsuo olhou para Kira. "Você acha que ela vai ficar bem?"
Kira não respondeu imediatamente. Finalmente, avistaram uma porta à frente, marcada por runas familiares.
"É a saída," disse Kira, com a voz tensa.
Antes que pudesse abrir a porta, um tremor mais forte sacudiu o túnel, seguido por um estrondo ensurdecedor. Kira fechou os olhos, respirando fundo. Sua expressão mudou, uma mistura de raiva e tristeza dominando seu rosto.
Segurando firme a maçaneta, ela murmurou com uma voz baixa, mas cheia de determinação: "A Kira Maligna vai pagar por isso."
A maçaneta brilhou sob sua mão, e ela abriu a porta. Ao atravessá-la, Kira, com os punhos cerrados, imaginava o que poderia ter acontecido com sua amiga. Katsuo, ainda processando o que havia acontecido, apenas a seguiu em silêncio.