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Chapter 8 - Reflexões e Despedidas

Chá e Risos

O apartamento de Kira estava, como sempre, acolhedor e aquecido, uma mudança bem-vinda depois da aventura gelada no corredor. Lira, cheia de energia, parecia ainda mais animada agora que seus poderes estavam restaurados.

"Você se saiu muito bem com os elefantes," disse Katsuo, sorrindo para Lira. "Foi incrível como você controlou tudo."

Lira abriu um sorriso brilhante, claramente adorando o elogio. "Obrigada! Acho que encontrei um novo talento. Quem diria que a tuba seria tão eficaz?"

Kira observava os dois de longe, com um sorriso genuíno no rosto, feliz por estarem seguros. Mas, lá no fundo, uma pequena pontada de ciúme tocou seu coração. Ela tentou ignorar o sentimento, focando no momento de descontração.

"Sim, sim, muito talentosa," disse Kira, com uma voz animada, mas carregada de um leve tom brincalhão. "Mas agora que estamos aqui, alguém quer chá quente?"

"Chá!" exclamou Lira, já levantando a mão. "E depois um banho!"

"Chá parece ótimo," respondeu Katsuo, já se dirigindo para a cozinha. "Eu preparo."

Kira sorriu, aproveitando o entusiasmo dos dois. "Vou tomar um banho rápido, então. Não façam muita bagunça enquanto isso."

Ela foi para o banheiro, enquanto Katsuo começava a organizar as coisas na cozinha. Lira, por outro lado, parecia mais interessada em explorar o ambiente.

Durante o banho, Kira refletia sobre seus sentimentos. A água quente não conseguiu acalmar sua mente inquieta. "Por que eu me sinto assim? Lira é minha amiga... mas ver ela rindo com ele e tão próxima me deixa tão... incomodada." Enquanto se enxugava, ouviu risadas ao fundo. Ela se vestiu rapidamente, guiada pela curiosidade e por um toque de ciúme que tentava ignorar. Com passos leves, quase como se estivesse se escondendo, ela caminhou até a cozinha. O som das risadas parecia mais alto agora, e ela não pôde evitar se perguntar o que poderia ser tão engraçado.

"Será que eles estão falando de mim? Não, não seja boba, Kira." pensou ela, aproximando-se da porta.

Mas, antes que pudesse ouvir direito, Katsuo abriu a porta de repente. Kira deu um pulo, com o coração disparando.

"Eu... eu estava só... indo pegar o chá," gaguejou, tentando disfarçar o susto.

Katsuo segurava duas xícaras, uma em cada mão, e sorriu de forma tranquilizadora. "Eu trouxe para você. Parece que chegou na hora certa."

Ele ofereceu uma das xícaras, e o vapor quente subiu, trazendo um aroma relaxante.

Lira apareceu logo atrás dele, ainda rindo. "Estávamos falando sobre como seria engraçado se um dos elefantes musicais aparecesse aqui na cozinha de repente. Imagine a bagunça!"

Kira riu, um pouco aliviada por não ter sido pega escutando. "Isso seria realmente um caos. Mas acho que já tivemos emoção suficiente por hoje."

Ela pegou a xícara de chá, sentindo o calor reconfortante nas mãos e, ao mesmo tempo, um leve constrangimento por ter ficado curiosa demais – ou talvez ciumenta.

Depois de um momento agradável e tranquilo, cada um foi se preparar para dormir. Katsuo ficou no sofá, enquanto Kira e Lira foram para o quarto.

Kira apagou as luzes do quarto, e o silêncio tomou conta do ambiente. "Boa noite, Lira," disse ela, sua voz calma no escuro.

"Boa noite, Kira," respondeu Lira.

Mas, logo depois, Lira quebrou o silêncio com uma pergunta inesperada: "Kira, você ama o Katsuo?"

A pergunta, direta como uma flecha, acertou Kira em cheio. Por alguns segundos, ela ficou completamente em silêncio, o coração disparado. Um turbilhão de pensamentos passou por sua cabeça, mas nenhum parecia a resposta certa.

Depois de respirar fundo e se acalmar um pouco, Kira respondeu, tentando disfarçar o nervosismo: "Por que você está me perguntando isso?"

Lira hesitou, mas sua voz manteve a suavidade. "É que... desde que recuperei meu poder, sinto algo diferente quando vocês estão perto um do outro. Uma aura, algo que não sei explicar bem. É como se houvesse... uma conexão especial."

Kira apertou os dedos contra o cobertor, refletindo sobre o que Lira disse. "Eu... acho que você está imaginando coisas, Lira. É só o cansaço do dia."

Lira riu baixinho. "Talvez. Mas eu acho que tem algo mais."

Kira não respondeu, virando-se para o outro lado. No silêncio, ela ouviu Lira suspirar suavemente antes de se ajeitar na cama.

Mas as palavras de Lira continuaram ecoando na mente de Kira. "Eu amo Katsuo?" pensou ela, enquanto o sono parecia cada vez mais distante.

Labirinto Digital

De volta à oficina, o ambiente metálico estava iluminado por luzes frias e constantes sons mecânicos. Kira, Lira e Katsuo estavam de pé próximos à máquina de transporte. Antes de entrar na máquina, Katsuo removeu a Pulseira de Energia e entregou a Kira.

"Quero que fique com isso," disse ele, tentando manter a voz firme. "Uma lembrança das nossas aventuras."

Kira segurou a pulseira, sentindo o peso do momento, mas sem conseguir encontrar palavras.

Ao seu lado, Lira cutucou Kira com o ombro e sussurrou com um sorriso encorajador: "Fala logo. Diga o que sente."

Kira, por um momento, inclinou-se levemente, abrindo a boca como se fosse dizer algo, mas hesitou. Baixou a cabeça e permaneceu em silêncio. Depois, fixou os olhos em Katsuo enquanto ele se preparava para partir.

Kira Robô ajustava os últimos parâmetros no painel, suas mãos metálicas movendo-se com precisão. Com um toque final, a máquina foi ativada, e luzes giratórias envolveram Katsuo. Em um instante, ele desapareceu.

Lira suspirou, despedindo-se com um leve aceno antes de voltar ao seu próprio mundo. Kira, por outro lado, retornou ao apartamento com o coração pesado.

De volta ao apartamento, Kira deixou a Pulseira de Energia sobre a mesa e caiu no sofá, sentindo-se vazia. Enquanto o silêncio do apartamento a envolvia, o peso da ausência de Katsuo parecia esmagador. Eventualmente, ela adormeceu, mas o descanso foi perturbado por um pesadelo.

No sonho, ela via Katsuo flutuando em um vazio escuro, sua expressão desesperada enquanto gritava por ajuda. "Kira... socorro!"

Kira acordou ofegante, o coração disparado. Sentando-se no sofá, ela olhou para a mesa e percebeu que a Pulseira de Energia estava piscando uma luz vermelha. Curiosa e preocupada, ela pegou o dispositivo e apertou um botão, fazendo um display holográfico surgir: "Localização do usuário indeterminada."

"Será que isso é porque ele voltou para o mundo dele?" pensou Kira, mas o incômodo persistia. O sonho e a luz vermelha deixaram-na inquieta.

Determinada a descobrir o que estava acontecendo, ela decidiu voltar à oficina.

Ao chegar à porta de metal da oficina, Kira encontrou Lira já esperando ali, envolta em seu típico entusiasmo misturado com inquietação.

"Lira? O que está fazendo aqui?" perguntou Kira, surpresa.

"Eu... estava tocando, tentando relaxar, mas de repente senti algo estranho, como se o mundo tivesse parado por um instante. Tive um pressentimento ruim sobre o Katsuo," respondeu Lira, sua expressão mais séria do que o normal.

Quando ouviu Lira dizer isso, Kira sentiu um frio na barriga. Ela sabia que Lira não era do tipo de se preocupar à toa. Com os olhos arregalados e um arrepio percorrendo sua espinha, ela afirmou: "Katsuo está em perigo!"

Antes que pudessem dizer mais, o painel ao lado da porta se acendeu, e a voz metálica de Kira Robô ecoou. "O que estão fazendo aqui? Eu estou ocupada."

Kira deu um passo à frente. "Precisamos falar com você! Algo aconteceu com o Katsuo!"

A voz hesitou por alguns segundos antes de responder: "Eu já sei disso. Estou tentando resolver o problema."

"Resolver como?" Kira insistiu.

A pausa seguinte pareceu interminável. Finalmente, a voz de Kira Robô voltou. "Muito bem. Entrem. Vou tentar abrir a porta."

"Tentar?" repetiu Kira, trocando um olhar preocupado com Lira.

A porta começou a se abrir lentamente, com chiados e estalos mecânicos. Assim que conseguiram passar, ela se fechou atrás delas com rapidez.

Dentro da oficina, Kira Robô estava cercada por painéis holográficos e digitais. Todos exibiam mensagens de alerta e erros críticos. Luzes vermelhas piscavam, criando uma atmosfera de tensão.

"O que está acontecendo?" perguntou Lira, com a voz ansiosa.

Kira Robô continuou manipulando os painéis enquanto explicava: "Alguns minutos após o transporte de Katsuo, detectei que uma energia incomum havia emanado dele. Essa energia desencadeou uma série de erros no sistema da oficina, resultando em uma pane geral. Ele ficou preso no sistema de transporte quântico."

Kira ficou boquiaberta. "Preso? Como isso é possível?"

"Não sei ao certo," admitiu Kira Robô. "Mas estou mantendo o sistema funcionando manualmente. Se ele cair, Katsuo ficará preso para sempre."

Kira sentiu o coração apertar. "E como podemos tirá-lo de lá?"

Kira Robô apontou para uma máquina menor no canto da oficina. "Aquela máquina pode transportá-las para dentro do sistema. Lá, vocês poderão localizá-lo e trazê-lo de volta. Mas..." Ela fez uma pausa, olhando diretamente para Lira. "Não use magia lá dentro. Não sei como o ambiente virtual pode reagir a isso."

Lira fez um leve gesto de concordância, embora sua expressão ainda mostrasse um toque de inquietação.

Kira Robô caminhou até Kira e entregou uma luva prateada com pequenos sensores brilhantes nas pontas dos dedos. "Use isso. Assim que encontrar Katsuo, toque nele com esta luva. A conexão será feita instantaneamente, e todos serão transportados de volta."

Kira examinou a luva, sentindo o peso da responsabilidade. "Entendido," respondeu ela, deslizando a luva sobre a mão.

Lira observou com curiosidade e perguntou: "E se algo der errado?"

"Não vai dar errado," respondeu Kira Robô com seu tom firme. "Mas cada microssegundo conta. Sigam o marcador no sistema e sejam rápidas."

Kira e Lira trocaram olhares antes de entrarem na máquina, os corações batendo acelerados com a tensão do momento. "Estamos prontas," disse Kira, com determinação.

Kira Robô apertou um botão no painel, e a máquina começou a vibrar. Luzes azuis e verdes as envolveram, enquanto a oficina desaparecia gradualmente ao redor delas.