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Chapter 9 - O Resgate Digital

Mergulho no Virtual

Kira e Lira abriram os olhos e se viram em um ambiente completamente novo e desorientador. A sala em que estavam tinha paredes cobertas por padrões de linhas luminosas que pulsavam como se tivessem vida própria, brilhando em tons de neon. O chão, translúcido e brilhante, refletia os feixes de luz das paredes, criando uma sensação de infinitude.

Kira se aproximou de uma das paredes e deu algumas batidas com a mão. "É sólida... mas parece tão... irreal," comentou, franzindo a testa.

A voz metálica de Kira Robô ecoou pelo espaço: "No mundo virtual, para vocês, as regras do mundo real ainda se aplicam. Solidez, gravidade e até as sensações físicas foram mantidas para garantir sua adaptação. Não há tempo para hesitações. Sigam a passagem à sua frente, mas tenham cuidado. As defesas do sistema estão ativadas."

Uma porta luminosa surgiu na parede, se abrindo lentamente. Kira e Lira trocaram um olhar de determinação e atravessaram.

Elas começaram a correr pela passagem, seus passos ecoando levemente pelo corredor digital. De repente, a voz de Kira Robô soou novamente: "Parem!"

Kira e Lira imediatamente se esconderam atrás de pilares luminosos enquanto uma patrulha de drones, com luzes vermelhas piscando, flutuava pela área, escaneando cada canto. As luzes das máquinas varriam o local, e ambas se mantiveram imóveis, prendendo a respiração até que a patrulha passasse.

"Isso foi por pouco," sussurrou Lira, tentando manter a calma.

"Continuem," instruiu Kira Robô.

Elas seguiram até chegarem a um rio de informações que fluía como uma corrente de água luminosa. Os dados corriam em faixas de cores vibrantes, como se carregassem toda a essência daquele mundo digital.

"Isso é... lindo," disse Lira, maravilhada, seus olhos brilhando com as cores pulsantes.

"Não temos tempo para admirar," alertou Kira, já correndo em direção a uma ponte que se estendia sobre o rio. "Vamos logo!"

Memórias Perdidas

Do outro lado da ponte, elas se depararam com a entrada de um túnel digital, mas, ao se aproximarem, a entrada desmoronou, bloqueando o caminho.

"E agora?" perguntou Kira, frustrada.

Kira Robô respondeu: "Identifiquei uma rota alternativa. Abrirei uma passagem pelo banco de memórias. Mas lembrem-se, não toquem em nada."

Uma porta luminosa apareceu ao lado delas. Sem hesitar, ambas entraram.

O interior do banco de memórias era ainda mais fascinante. Painéis flutuavam ao redor delas, exibindo imagens aleatórias de diversas Kiras em momentos distintos. Algumas cenas eram triviais, como uma Kira cozinhando, enquanto outras eram cheias de mistério e poder.

Lira andava maravilhada pelo lugar, observando cada painel com curiosidade. "É como um museu... de nós mesmas."

Mas Kira parou de repente ao ver uma memória que parecia familiar, algo que ela nunca conseguiu lembrar. Era ela, ainda criança, brincando em um campo iluminado por uma luz dourada. Seu coração apertou ao ver a cena.

Lira, distraída, não percebeu que Kira havia parado e acabou trombando nela. Ambas quase caíram, mas, no processo, Kira acidentalmente encostou em um dos painéis.

No mesmo instante, todos os painéis exibiram a mesma cena: Kira em pé, vestindo um traje impressionante e com o semblante sério, segurando uma espada cuja lâmina brilhava como um universo estrelado. Logo em seguida, os painéis ficaram vermelhos, exibindo mensagens de erro.

Lira viu a amiga com o olhar vazio e segurou sua mão, puxando-a suavemente. "Vamos, Kira. Temos que continuar."

Kira piscou, voltando a si. "Sim... vamos."

Elas finalmente chegaram ao fim do banco de memórias, onde uma nova porta luminosa se abriu diante delas. Ao saírem, o ambiente mudou para um vasto espaço aberto com padrões luminosos que pulsavam em tons mais suaves. Não muito longe, avistaram Katsuo, flutuando inconsciente sobre um pedestal de luz, preso em uma espécie de casulo digital.

"Katsuo!" exclamou Kira, começando a correr em direção a ele.

"Apressem-se," alertou Kira Robô. "O sistema pode cair a qualquer momento!"

Mas, de repente, um terremoto sacudiu o ambiente virtual, e o chão se abriu, criando um grande abismo entre elas e Katsuo. Kira caiu de joelhos, olhando para ele com desespero. "O que vamos fazer agora?"

Lira, vendo a situação, começou a pensar olhando ao redor. Seus olhos se fixaram em um painel caído no chão próximo a ela. "Não tem outro jeito," disse ela. Pegando o painel, que começou a brilhar em suas mãos e, magicamente, transformou-se em um keytar, um teclado eletrônico portátil com alça, cujas teclas e detalhes em neon brilhavam.

Ela segurou o instrumento, surpresa. "Ok, acho que isso vai servir."

Segurando como uma guitarra, Lira pressionava as teclas que se iluminavam a cada toque. As notas sintéticas e eletrônicas saíam do instrumento como feixes de luz, que dançavam pelo ar avançando em direção à borda do abismo. Lentamente, esses feixes formaram uma ponte de luz sólida, conectando os dois lados.

Vendo isso, Kira se levantou e tentou atravessar, mas a ponte balançava perigosamente. "Está instável!" gritou ela.

Lira fechou os olhos e se concentrou, canalizando a magia única de seu mundo musical. Painéis próximos começaram a soltar faíscas e estouros, como se estivessem sobrecarregados. As teclas do keytar brilharam intensamente, emitindo feixes de luz vibrantes, e a ponte de luz se firmou, sólida e segura.

"Agora vai!" disse Lira, seus dedos dançando pelas teclas com maestria, cada nota com precisão reforçando a ponte de luz.

Kira correu pela ponte em direção a Katsuo. Quando chegou perto, deu um salto e tocou nele com a luva de sensores que Kira Robô havia dado.

No instante em que fez contato, tudo ao redor delas desapareceu em um clarão branco.

Quando abriram os olhos novamente, estavam de volta à oficina. Os alertas e mensagens de erro nos painéis começaram a desaparecer, indicando que o sistema estava se estabilizando.

Kira olhou para o lado e viu Katsuo, ainda atordoado. Sem conseguir conter a emoção, ela o abraçou com força, lágrimas escorrendo por seu rosto.

"Você está bem," sussurrou ela, aliviada.

"Obrigado Kira," disse Katsuo, retribuindo o abraço.

Lira, já recuperada, levantou-se e sorriu. "Que bom que deu tudo certo."

Mas Kira Robô cruza os braços e fixa seus olhos em Lira, fazendo-a se sentir desconfortável.

"Por que está me olhando assim?" perguntou Lira sentindo um calafrio.

"Eu avisei para não usar magia," respondeu Kira Robô. "Boa parte dos circuitos da oficina foram danificados."

Lira, visivelmente embaraçada, "Desculpa... mas não havia outra forma."

Kira Robô soltou um suspiro metálico. "Entendo. Mas as consequências não se limitaram à minha oficina. O seu mundo também foi afetado. Está exaurido pelo esforço que a magia fez para atravessar o mundo virtual."

Lira fechou os olhos, sentindo uma onda de calor familiar. Era como se pudesse ouvir o som distante de suas melodias, enfraquecidas, mas ainda vivas. Sua respiração acelerou por um momento antes de ela abrir os olhos novamente, agora cheios de determinação. "Meu mundo está se reconstruindo... mas vai levar algum tempo," disse, sua voz carregada de tristeza e alívio misturados.

Kira, ainda ao lado de Katsuo, levantou-se e colocou a mão no ombro de Lira. "Então, você fica conosco até ele se recuperar."

Lira sorriu, seu otimismo habitual voltando. "Obrigada. Acho que vou precisar de um tempo fora mesmo."