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Chapter 5 - Colapso do Vazio

O Corredor Infinito

Kira e Katsuo atravessaram a porta, entrando em um corredor que parecia se estender infinitamente. As paredes de mármore, adornadas com colunas e relevos no estilo grego, brilhavam sob a luz de tochas mágicas que pareciam flutuar no alto do teto arqueado.

Enquanto caminhavam, Katsuo quebrou o silêncio. "Esses mundos... qual é a origem deles? Por que eles existem? E por que todas as versões de você estão aqui? E mais ninguém? Quer dizer, além de mim..."

Kira hesitou, a expressão antes leve tornando-se séria. "Eu... não sei," respondeu, com um tom melancólico. "Já tentei lembrar da minha infância, mas tudo que consigo é um sentimento de nostalgia. Como se algo estivesse ali... mas não consigo alcançar."

Katsuo ficou em silêncio, respeitando o momento de Kira. Eles continuaram caminhando, o eco de seus passos reverberando pelo corredor vazio.

"Esse corredor parece que nunca vai acabar," murmurou Kira, tentando aliviar a tensão. Depois de um tempo, ela olhou para Katsuo, tentando parecer despreocupada. "E você? Como é o seu mundo? O que você faz?"

Katsuo deu um leve sorriso. "É um mundo normal. Muitas pessoas, muita correria. Eu estudo arquitetura."

"Arquitetura?" Kira pareceu fascinada, seus olhos brilhando. "Isso parece tão... divertido. Projetar coisas, criar lugares... Deve ser incrível."

"É interessante," respondeu Katsuo.

Kira hesitou por um momento, a expressão mudando para algo mais tímido. Ficou levemente corada, mas disfarçou, perguntando: "E... você tem namorada?"

Katsuo desviou o olhar, seu tom ficando mais sério. "Mesmo com tantas pessoas no meu mundo... às vezes, me sinto sozinho."

Kira ficou reflexiva. As palavras de Katsuo ressoaram de um jeito que ela não esperava. Ela sentiu vontade de perguntar mais, mas temeu invadir um território emocional delicado. Eles continuaram em silêncio, ambos imersos em seus próprios pensamentos.

Enquanto caminhavam pelo longo corredor de mármore, Kira começou a observar os adornos nas paredes. "Esses detalhes gregos são incríveis. Talvez sejam de algum mundo onde tudo é inspirado nessa época."

Katsuo olhou para cima, tentando acompanhar o raciocínio dela. "Talvez... Ou quem sabe quem projetou esse corredor só estava com tempo demais nas mãos."

Kira riu. "E você, como futuro arquiteto, o que acha?"

Katsuo fez uma cara pensativa e colocou a mão no queixo. "Bom... É muito elegante, mas eu colocaria algo mais funcional aqui. Tipo colunas reforçadas com um design moderno ou quem sabe claraboias no teto para aproveitar mais luz natural."

"Claraboias?" Kira levantou uma sobrancelha, divertindo-se. "Você quer colocar luz natural num corredor que flutua no meio do multiverso?"

"Claro! Toda boa arquitetura precisa de funcionalidade. Não é porque é grego que precisa ser escuro e claustrofóbico."

Kira riu novamente, mas logo tropeçou em um pequeno desnível no chão que ela não havia notado. Por reflexo, Katsuo a segurou antes que ela caísse.

"Ei, cuidado! Já pensou em olhar para frente em vez de analisar os detalhes da arquitetura?" brincou ele, ajudando-a a se equilibrar.

"Eu estava tentando entender esse corredor infinito!" disse Kira, cruzando os braços com indignação fingida. "Além disso, quem é o arquiteto aqui? Você deveria ter me alertado sobre o desnível."

"Ah, claro," respondeu Katsuo, rindo. "Vou anotar para o próximo relatório de inspeção: 'Corrigir desníveis perigosos em corredores gregos infinitos'."

Eles continuaram andando, agora rindo da situação, e o clima ficou mais leve por um momento.

Depois de algum tempo, finalmente avistaram uma porta ao longe. Uma sensação de alívio tomou conta dos dois, e eles trocaram olhares de felicidade.

"Finalmente," disse Kira, com um sorriso.

Mas, ao se aproximarem, perceberam que algo estava errado. A porta estava entreaberta, e uma escuridão absoluta preenchia o espaço além dela.

"Isso... isso não é bom," murmurou Kira, a apreensão evidente em sua voz.

Katsuo olhou para ela. "Tem algo na sacola que possa ajudar?"

Kira começou a vasculhar rapidamente a sacola de itens mágicos. Finalmente, encontrou uma pequena varinha. "Kira Mágica disse... Iluminus," lembrou ela. Assim que pronunciou as palavras, a varinha começou a brilhar, lançando uma luz que dissipou parte da escuridão.

Eles entraram devagar, iluminando o ambiente à frente. Era um laboratório, mas estava completamente destruído. Mesas viradas, estantes caídas, e o chão coberto de papéis. Um cenário de caos absoluto.

O Inimaginável

Assim que Katsuo deu o primeiro passo para dentro, a Pulseira de Energia ativou um display holográfico. O rosto da Kira Robô apareceu, e sua voz metálica ecoou pela sala.

"Habitante inexistente. Colapso do mundo iminente. Estimativa de 10 minutos até o colapso completo."

Kira colocou as mãos na boca, seu rosto transbordando de desespero. "Não pode ser..."

Como num ato de desespero, ela tirou da sacola a Bússola do Ser. Mas, para sua aflição, o ponteiro da bússola girava descontroladamente, sem apontar para nada.

"O que aconteceu?" perguntou Katsuo, preocupado. "Por que não há ninguém aqui? Será que a Kira Inteligente foi para outro mundo?"

Kira fechou os olhos, lágrimas escorrendo por seu rosto. Com a voz trêmula, respondeu: "Não. Ela... ela deixou de existir."

Katsuo sentiu o peso das palavras e, mais como um pensamento em voz alta do que como uma pergunta, murmurou: "Como? Deve haver algo que possamos fazer. Eu vou descobrir."

Ele começou a vasculhar o laboratório em busca de respostas. Debaixo de uma pilha de livros, encontrou uma caixa estranha que chamou sua atenção. Quando pegou a caixa, a Pulseira de Energia brilhou novamente, escaneando o objeto.

"Nexum," anunciou a pulseira.

"Encontramos!" exclamou Katsuo, segurando a caixa com entusiasmo.

Mas o chão começou a tremer, e rachaduras se espalharam rapidamente pelas paredes e pelo teto. Kira, que estava perdida em seus pensamentos, voltou à realidade com o estrondo.

"Precisamos sair daqui agora!" gritou ela.

Eles correram em direção à porta, mas o chão em frente a ela desmoronou, revelando um vazio cósmico e profundo.

"E agora?" perguntou Katsuo, olhando em volta desesperado.

Kira, como um lampejo, lembrou-se de um item. Ela puxou a Runa do Retorno da sacola.

"Segure minha mão!" disse ela para Katsuo, que obedeceu imediatamente.

Kira fechou os olhos e se concentrou. A runa começou a brilhar intensamente, até que, no momento em que o mundo inteiro colapsava, eles desapareceram.

Quando abriram os olhos novamente, estavam na sala de Kira. Katsuo olhou ao redor, segurando a caixa de Nexum com alívio e empolgação.

"Conseguimos!" comemorou ele, mas logo parou ao ver Kira com a cabeça baixa.

"Sim, conseguimos," disse ela, com a voz pesada e sem emoção.

Sem olhar para Katsuo, ela pediu desculpas. "Eu... preciso ficar sozinha."

Kira entrou no quarto e fechou a porta. Katsuo suspirou, sentando-se no sofá. O silêncio da sala parecia ainda mais pesado com a ausência de Kira. Alguns minutos se passaram, enquanto ele observava o brilho das estrelas do vácuo entrando pela janela.

Reflexos da Jornada

A porta do quarto se abriu devagar, e Kira apareceu. Seus olhos estavam levemente vermelhos, mas sua expressão parecia mais calma. Katsuo, que ainda estava sentado, levantou-se ao vê-la.

"Desculpa te deixar esperando," disse ela, forçando um pequeno sorriso.

"Tá tudo bem," respondeu Katsuo, balançando a cabeça. Ele hesitou por um momento antes de continuar. "Você quer conversar?"

Kira soltou um suspiro, mexendo distraidamente na sacola que estava sobre a mesa. "Acho que... preciso de outra coisa agora. Vou tomar um banho e depois preparar algo pra gente comer, pode ser?"

"Claro," respondeu Katsuo, com um sorriso encorajador.

Ela foi para o banheiro, deixando Katsuo sozinho na sala por alguns minutos. Mas, em vez de ficar parado, ele decidiu procurar algo na cozinha. Abriu alguns armários, analisando os poucos ingredientes que havia ali.

Quando Kira saiu do banho, a sensação de frescor parecia refletir em sua expressão mais leve. Ao entrar na cozinha, encontrou Katsuo olhando confuso para uma panela e alguns itens espalhados no balcão.

"Você tá tentando cozinhar?" perguntou ela, surpresa, mas com um tom divertido.

"É... meio que sim," admitiu ele, rindo sem graça. "Mas eu não faço ideia de onde você guarda as coisas."

Kira se aproximou e começou a abrir os armários, mostrando onde estavam os utensílios e os ingredientes. "Deixa que eu te ajudo. Não quero que a gente envenene ninguém."

"Olha, que confiança," brincou Katsuo.

Enquanto eles trabalhavam juntos, Katsuo se pegou observando o apartamento de Kira. Era tão estranho quanto fascinante: um lar perdido no vazio estelar. Tudo parecia funcional e organizado, mas carregava uma sensação de isolamento, como se aquele espaço refletisse a solidão que ela sentia. Ele não conseguia imaginar como era viver em um lugar assim, sem vizinhos, sem pessoas, sem... humanidade.

Mas então ele olhou para Kira, que mexia em um tempero e franzia o nariz ao provar o molho. Ela parecia tão natural naquele momento que, por um instante, Katsuo sentiu que aquele vazio não importava. O sorriso dela tornava aquele espaço... acolhedor.

"Não ficou nada mal," disse Katsuo, enquanto colocava os pratos na mesa.

"É, até que foi divertido," admitiu Kira, sorrindo.

Depois do jantar, Katsuo se levantou. "Vou tomar um banho agora. Obrigado por me deixar participar do jantar, chef Kira."

"Sem problemas, aprendiz Katsuo," respondeu ela, rindo.

Enquanto ele estava no banho, Kira começou a arrumar o sofá para ele dormir, ajeitando as almofadas e buscando um cobertor. Quando Katsuo voltou, com o cabelo ainda úmido, encontrou Kira sentada na ponta do sofá, olhando para o vazio com uma expressão pensativa.

"Tá tudo bem?" perguntou ele, sentando-se ao lado dela.

Ela demorou alguns segundos para responder. "Eu só fico pensando... E se eu falhar de novo?"

Katsuo inclinou-se ligeiramente para ela, a voz firme, mas cheia de empatia. "Se tem uma coisa que aprendi com você," começou ele, "é que você nunca para. Mesmo quando está com medo, você segue em frente. Isso é o que realmente importa."

Kira o olhou, surpresa com as palavras, e por um momento os dois ficaram em silêncio. Estavam tão próximos que seus rostos pareciam se aproximar ainda mais.

Mas antes que algo acontecesse, um som mecânico interrompeu o momento. A Pulseira de Energia ativou-se com uma notificação.

"Portal quântico pronto. Por favor, tragam o Nexum."

Kira imediatamente recuou, o rosto corando visivelmente. Ela desviou o olhar, mexendo nas mãos de forma nervosa. "É... Vamos dormir. Temos um longo caminho amanhã."

"Boa noite, Katsuo," disse ela apressada, levantando-se e indo em direção ao quarto.

"Boa noite, Kira," respondeu Katsuo, igualmente sem jeito, enquanto a observava fechar a porta com rapidez.

Do outro lado da porta, Kira se jogou na cama, o coração ainda palpitando. Com o rosto enterrado no travesseiro, seus pensamentos a consumiam.

"Por que eu sinto isso? Ele pertence a outro mundo, tem uma vida lá... e eu nem sei o que sou. Mas... por que a ideia de ele ir embora parece tão insuportável?"

Enquanto isso, Katsuo deitou-se no sofá, olhando para o teto da sala iluminado pelo brilho suave das estrelas do vácuo. Um leve sorriso surgiu em seus lábios enquanto pensava em Kira.

"Ela carrega tanto peso nos ombros, mas ainda encontra força para continuar. Como alguém assim pode achar que vai falhar? Ela não percebe o quanto é incrível."