A noite envolvia Beira em um véu tranquilo, enquanto a cidade começava a se silenciar. A lua cheia lançava seu brilho prateado sobre a varanda onde Keyon e Cleo estavam sentados, ambos ainda assimilando a conversa intensa que haviam tido. O vampiro imortal sabia que agora era o momento de revelar a Cleo a verdadeira extensão da realidade em que ela vivia – um mundo repleto de segredos, poder e perigo.
Keyon se ajeitou em sua cadeira, olhando para Cleo com um misto de seriedade e ternura. Ele sabia que o que estava prestes a contar poderia abalar sua visão de mundo. Ainda assim, ele confiava em sua força e curiosidade.
"Você é muito mais corajosa do que eu esperava, Cleo," começou ele, sua voz suave, mas firme. "Aceitar que eu sou um vampiro já é algo extraordinário, mas há muito mais que você precisa saber. O mundo que você conhece, o mundo normal e cotidiano, é apenas uma fração da realidade. Existe um universo paralelo escondido sob a superfície – um universo sobrenatural que poucos humanos têm permissão de conhecer."
Cleo inclinou-se levemente para frente, seus olhos fixos nos de Keyon. "O que você quer dizer? Que tipo de universo é esse?"
Keyon respirou fundo, escolhendo suas palavras com cuidado. "Existem vampiros como eu, claro, mas também existem outras raças. Bruxas, orcs, elfos, licantropos, demônios, e até mesmo híbridos entre essas espécies. Eles habitam este mundo desde tempos imemoriais, mas vivem nas sombras. A maior parte da humanidade não faz ideia de que eles existem."
Ele fez uma pausa, permitindo que Cleo absorvesse o que ouvira, antes de continuar. "No entanto, este mundo não é anárquico. Há uma ordem, um equilíbrio mantido por organizações que monitoram e regulam as atividades sobrenaturais. Essas organizações garantem que os humanos comuns não descubram o que realmente acontece ao seu redor. Uma das mais importantes é a Lion King Organization, que atua principalmente no Japão, mas tem influência global. Eles treinam guerreiros chamados 'Espadas Xamânicas' para combater ameaças sobrenaturais."
Cleo cruzou os braços, pensativa. "E como essas organizações funcionam? Elas estão tentando proteger os humanos ou controlar essas criaturas?"
"Ambos," respondeu Keyon. "Eles dizem que trabalham pelo bem da humanidade, mas na prática, muitas vezes é uma questão de controle. Eles têm medo do poder das raças sobrenaturais, especialmente dos Progenitores como eu. Para eles, somos ameaças que podem destruir o equilíbrio do mundo com um único movimento. E, sinceramente, eles não estão completamente errados. Os outros quatro Progenitores, por exemplo, governam vastos impérios."
Cleo arqueou uma sobrancelha. "Progenitores? Você mencionou antes. Quem são eles exatamente?"
Keyon assentiu, cruzando os braços enquanto se recostava na cadeira. "Os Progenitores são vampiros imortais que estão no topo da hierarquia sobrenatural. Cada um de nós possui poderes inimagináveis, capazes de invocar Bestas Vassalas – criaturas lendárias que são como extensões de nosso poder. Eu sou o Quinto Progenitor, recém-reconhecido, mas os outros quatro estão neste mundo há séculos. Eles governam impérios inteiros."
Ele começou a enumerar. "O Primeiro Progenitor é o mais poderoso de todos. Ele controla 72 Bestas Vassalas e lidera o maior império vampírico. Seu território abrange várias regiões da Europa e do Oriente Médio. O Segundo Progenitor controla 19 Bestas Vassalas e domina o norte da África. Ele é frio, calculista, e seus subordinados são extremamente leais. O Terceiro Progenitor é mais instável, mas não menos perigoso, com 27 Bestas sob seu comando e uma força militar poderosa na Ásia Central. E, finalmente, o Quarto Progenitor, que é mais recente em comparação aos outros, controla 12 Bestas e governa a Ilha de Itogami, no Japão."
Cleo ficou em silêncio por alguns segundos, tentando assimilar a escala do que ele descrevia. "Essa Ilha de Itogami... o que a torna tão importante?"
"É uma cidade artificial construída sobre o mar, projetada especificamente para abrigar raças sobrenaturais e conduzir pesquisas mágicas e científicas. A ilha é um ponto central de poder e influência no mundo sobrenatural, mas também é extremamente perigosa. É lá que muitas bruxas, magos e vampiros vivem em relativa liberdade, sob supervisão das autoridades. O Quarto Progenitor é considerado o protetor da ilha."
Cleo franziu a testa. "E o que tudo isso tem a ver com você? Você é um Progenitor, mas parece que acabou de começar a explorar seus poderes. Você pretende governar como os outros?"
Keyon olhou para ela, seus olhos vermelhos brilhando com determinação. "Ainda não sei exatamente qual será meu papel neste mundo, Cleo. Mas eu não quero governar apenas por governar. Quero construir algo diferente, algo que una os sobrenaturais e os humanos, em vez de separá-los. Eu reencarnei com um propósito, mesmo que ainda esteja descobrindo qual é."
Enquanto a conversa continuava, Keyon começou a explicar mais sobre os detalhes do mundo sobrenatural. Ele falou sobre as bruxas – seres humanos que se dedicavam ao estudo das artes mágicas, muitas vezes formando contratos com demônios ou espíritos. Explicou que os Adapters eram indivíduos humanos capazes de manipular magia ou energia sobrenatural de forma única, geralmente devido a anomalias genéticas ou experiências traumáticas.
"Os Adapters são raros, mas extremamente poderosos," disse ele. "Muitos deles trabalham para organizações como a Lion King ou para famílias ricas e influentes. Alguns preferem agir por conta própria, mas isso é perigoso. Sem proteção, eles se tornam alvos de vampiros, bruxas ou outras raças que querem explorá-los."
Cleo inclinou-se para frente, interessada. "E você, Keyon? Você pode usar magia?"
Ele assentiu. "Posso. Os Progenitores têm afinidade natural com magia, mas meu poder vai além disso. Eu sou capaz de invocar subordinados diretamente – guerreiros leais que compartilham parte do meu poder. No entanto, há uma limitação imposta pela entidade que me trouxe para este mundo. Só posso invocar três subordinados por ano. É um processo lento, mas cada um deles será extremamente poderoso."
Ela o estudou por um momento, sua expressão misturando fascínio e preocupação. "Keyon, tudo isso é incrível, mas também parece perigoso. Se você for tão poderoso quanto está me dizendo, as outras organizações e os outros Progenitores não vão tentar te destruir antes que você cresça?"
Keyon deu um sorriso amargo. "Sem dúvida. Já posso sentir que há olhos me observando, tentando entender quem eu sou e o que quero. Mas isso não me preocupa tanto. O que me importa agora é proteger você e criar uma base sólida para o que eu pretendo construir. Com o tempo, eles vão perceber que eu não sou uma ameaça – a menos que tentem me atacar."
Cleo ficou em silêncio por um longo momento, processando tudo o que havia ouvido. Finalmente, ela estendeu a mão e tocou a de Keyon. "Eu não sei como você pode ter tanta certeza de que vai conseguir equilibrar tudo isso, mas eu confio em você. Quero estar ao seu lado, mesmo que o mundo desmorone."
Os olhos de Keyon suavizaram, e ele segurou sua mão com delicadeza. "Você já é uma parte importante do meu mundo, Cleo. E juntos, vamos enfrentar o que vier."
Enquanto a lua brilhava acima deles, Keyon sentiu uma renovação de propósito. Ele sabia que a jornada seria longa e cheia de desafios, mas com Cleo ao seu lado, ele estava pronto para enfrentar o mundo – e moldá-lo em algo novo.