A noite emitiu seu manto negro sobre o céu quando Arlen retornou à propriedade, sua expressão mais séria do que nunca. Ele entrou no salão principal, onde Keyon e Cleo o aguardavam, discutindo os próximos passos na expansão de sua influência.
"Algo aconteceu?" perguntou Keyon, ao perceber o semblante grave de Arlen.
Arlen assentiu, colocando um pequeno envelope lacrado sobre a mesa. "Fui abordado por um membro de uma organização chamada Black Mamba. Eles me entregaram isto."
Cleo, que até então estava tranquila, arregalou os olhos ao ouvir o nome. "Black Mamba? Essa organização existe há anos. Sempre se apresentaram como uma força humanitária. Trabalham em zonas de conflito, ajudam com desastres naturais e erradicam pragas. Nunca imaginei que pudessem estar envolvidos no mundo sobrenatural."
Keyon pegou o envelope e, com um leve movimento de seus dedos, quebrou o lacre. No interior, havia um convite formal escrito em caligrafia impecável:
"Convidamos o Sr. Arlen para um encontro com os líderes da Black Mamba. Desejamos discutir os eventos recentes e entender melhor suas intenções. Encontre-se conosco na base regional localizada ao sul, próxima à fronteira. Um escolta será enviado para guiá-lo até o local."
Keyon leu em silêncio, ponderando por um momento. "Eles acham que Arlen é o chefe de tudo."
Arlen cruzou os braços, claramente desconfortável com a ideia. "Sim, e o tom da abordagem parecia mais como uma ordem educada do que um convite. Eles querem respostas, e rápido."
Cleo ainda estava processando a revelação. "Eu não sabia que a Black Mamba estava envolvida com eventos sobrenaturais. Sempre achei que fossem... normais."
Keyon deu um sorriso discreto. "Parece que eles mantêm uma fachada bem construída. Mas agora sabemos a verdade. Eles regulam o mundo sobrenatural em África, provavelmente atuando como uma força de equilíbrio. Precisamos entender o que eles sabem e qual é a extensão de sua influência."
"Você quer que eu vá?" perguntou Arlen.
Keyon balançou a cabeça. "Não, isso é grande demais para ser deixado apenas com você. Cleo e eu vamos com você. Eles acham que estão lidando com o líder, então é melhor conhecerem o verdadeiro responsável."
Cleo inclinou a cabeça, intrigada. "Tem certeza? Eles podem não reagir bem à verdade."
Keyon sorriu. "Se eles quiserem confrontar o poder de um progenitor, que seja. Mas não faremos isso de forma agressiva. Vamos ouvir, observar e entender o que estamos enfrentando. Se for necessário, agiremos."
No dia seguinte, um agente da Black Mamba foi enviado para escoltar Arlen. O homem, vestindo um uniforme negro discreto, parecia atento, mas mantinha uma postura profissional. Keyon e Cleo acompanharam Arlen, e o agente, ao perceber sua presença, hesitou por um momento antes de continuar.
"Esses dois vão com você?" perguntou o agente, olhando para Arlen.
"Sim," respondeu Arlen com firmeza. "Eles são conselheiros de confiança. Se os líderes da sua organização querem entender melhor nossas intenções, será melhor que eles também estejam presentes."
O agente parecia ponderar, mas não contestou. Ele conduziu o grupo até um veículo preto blindado, que os levou por um trajeto sinuoso em direção ao sul. A paisagem mudou gradualmente, de áreas urbanas movimentadas para regiões mais remotas e isoladas.
Durante o trajeto, Cleo observava tudo com atenção. Ela tinha dificuldade em associar a imagem humanitária que conhecia da Black Mamba com uma organização tão envolvida em eventos sobrenaturais.
"Se eles têm lidado com o mundo sobrenatural há tanto tempo, como é que nunca revelaram sua verdadeira face ao público?" perguntou ela em voz baixa para Keyon.
"Porque o segredo é sua maior arma," respondeu Keyon calmamente. "Se as pessoas comuns soubessem que existem vampiros, bruxas e outras criaturas, o caos seria inevitável. Eles mantêm o equilíbrio às sombras, assim como nós agora."
O veículo parou diante de um complexo cercado por altos muros de concreto e torres de vigilância. A entrada era protegida por um portão reforçado, vigiado por guardas armados. No entanto, Keyon notou algo mais: uma leve presença de magia.
"Interessante," murmurou ele. "Eles têm proteções mágicas aqui."
Cleo parecia igualmente impressionada. "Essas barreiras são sofisticadas. Alguém muito poderoso as criou."
O grupo foi escoltado para dentro do complexo. A arquitetura era funcional e minimalista, mas eficiente. Corredores longos e bem iluminados levavam a diferentes áreas do prédio, enquanto pessoas em uniformes negros passavam apressadas, cada uma parecendo imersa em sua própria tarefa.
Finalmente, foram levados a uma sala de espera luxuosa, com paredes revestidas de madeira escura e um grande painel de vidro que oferecia vista para um pátio interno.
"O líder estará aqui em breve," informou o agente antes de sair.
Keyon se sentou em uma das poltronas de couro, seus olhos analisando cada detalhe da sala. Cleo estava ao seu lado, parecendo tensa. Arlen permaneceu em pé, olhando para a porta com cautela.
"Quero que mantenham a calma," disse Keyon. "Não sabemos quais são as intenções deles, mas vamos ouvir antes de tomar qualquer atitude. Cleo, sua experiência com a fachada humanitária deles pode ser útil."
Ela assentiu, ainda tentando processar o quanto aquela organização era mais do que aparentava.
Depois de alguns minutos, a porta se abriu. Três figuras entraram, cada uma com uma presença marcante.
A primeira era uma mulher alta de pele escura, com cabelos trançados e olhos penetrantes que pareciam enxergar através das almas. Sua postura exalava autoridade.
O segundo era um homem de meia-idade, com barba bem aparada e um olhar calculista. Ele carregava uma prancheta, como se fosse o estrategista do grupo.
O terceiro era um jovem de aparência tranquila, mas com uma energia palpável ao seu redor. Ele parecia ser o mais reservado, mas Keyon podia sentir que ele não era menos perigoso.
Os três se posicionaram diante de Keyon, Cleo e Arlen. A mulher foi a primeira a falar.
"Bem-vindos à base da Black Mamba," disse ela, sua voz firme. "Eu sou Amara, uma das líderes desta organização. Estes são meus colegas, Idris e Khalil. Estamos curiosos para entender quem vocês realmente são e por que suas ações recentes têm causado tanto impacto no equilíbrio sobrenatural deste continente."
Keyon sorriu levemente, mantendo a postura relaxada. "Uma introdução direta. Eu gosto disso."
Amara o encarou, intrigada. "E você é...?"
Ele se levantou, seus olhos brilhando por um breve momento, indicando que havia algo muito além do que parecia ser.
"Eu sou Keyon, o quinto Progenitor de Sangue" disse ele calmamente. "E sou quem vocês realmente estavam procurando."
A tensão na sala aumentou. Amara e os outros trocaram olhares. Eles sabiam que estavam lidando com alguém muito além do esperado.
O silêncio pairou no ar, preparando o terreno para o que estava prestes a acontecer.