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Danvaren

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Synopsis

Prólogo

Sons distantes preenchem o vazio: algo queima ao longe, uma explosão abafada ecoa, e gritos se arrastam como fantasmas na escuridão. O silêncio retorna, pesado, quando uma voz emerge. Baixa, calma, como o sussurro de um segredo que nunca deveria ser contado.

"Esperança. Era isso que eles chamavam. Uma chama débil que iluminava olhos famintos, que aquecia corações já mortos. Para eles, esperança era um deus; para mim, uma mentira.

Olhe ao redor. Este é o mundo que a esperança criou. Escombros que mal seguram o peso de si mesmos. O chão manchado com o sangue de quem acreditou que podia lutar. Não há redenção aqui, apenas o eco de escolhas que nunca deveriam ter sido feitas.

A voz hesita por um momento, mas o tom permanece frio, quase clínico.

Houve um tempo em que eu também acreditava. Talvez eu acreditasse mais do que qualquer um. Mas o que resta de uma crença quando o que você ama apodrece diante de seus olhos? Quando sua própria carne e sangue se tornam um fardo que você precisa carregar… ou cortar?

Um som distante. Um corpo cai. A terra recebe o impacto com um ruído surdo. A voz continua, sem emoção.

Este mundo? Ele foi feito de escolhas. Minhas escolhas. Cada rachadura no concreto, cada chama que dança no horizonte, cada grito sufocado sob os escombros… tudo isso sou eu. Eu sou o reflexo do que restou.

Ao longe, ouvia-se o som de passos lentos e deliberados, acompanhado pelo ruído de algo metálico arrastando-se no chão. A voz abaixou, como se falasse apenas para si mesma agora

Eles me chamariam de monstro. Mas monstros não existem, certo? Apenas pessoas. Pessoas que amam, que traem, que matam. Pessoas que carregam o peso de seus pecados até que se quebrem.

O som de passos cessa. O silêncio volta, espesso, como a escuridão. Depois, a voz diz sua última frase, carregada de uma melancolia cortante.

No final, só restará poeira e cinzas. E talvez… um fio solto. Algo que reluz no escuro como uma lembrança indesejada."

Bem-vindo ao fim. O fim de tudo que você acreditou, o fim de tudo que você amou. Bem-vindo ao meu mundo. Ao nosso mundo."

O som de tecido agitando-se ao vento ecoou. Por um instante, a silhueta de uma figura surgiu ao longe. Uma mecha azul-escura brilhou por um segundo, antes de desaparecer na escuridão. Silêncio.

O sol caiu sobre a terra e o mundo respirou suas últimas cinzas.

Um irmão na aurora. Um cadáver ao entardecer.

Ele era o peso e a balança.

A lâmina e a carne.

A semente foi plantada no ventre da traição.

Cem homens morreram antes que ela brotasse.

Cem mais quando o fruto despencou do ramo.

O irmão. O inimigo. O reflexo no espelho do deserto.

No fim, o sangue que se derrama é o mesmo que sustenta.

E o amor que cria é o mesmo que destrói.

Pergunte a si mesmo, viajante:

Pode a ruína ser algo além do que você já carregava consigo?"