O sol infiltrava-se timidamente pelas frestas da humilde madeira que compunha o estabelecimento onde Ichiro havia passado a noite. Pequenos feixes de luz dançavam pelo ambiente, criando um contraste suave com a penumbra que ainda reinava no lugar.
Ichiro, com passos firmes e silenciosos, dirigiu-se até o balcão. Atrás dele estava uma senhora de idade avançada, cuja presença era marcada por sua postura altiva e vestes impecáveis, como se fizesse questão de manter uma aparência inabalável, apesar da simplicidade do local.
Com um semblante pensativo, Ichiro abriu o pequeno saco de moedas, remexendo-o em busca de trocados enquanto formulava sua pergunta:
– Quanto custou a noite, senhora?
A mulher ergueu o olhar, examinando-o dos pés à cabeça com um misto de deboche e curiosidade. Após uma breve pausa, respondeu em um tom ligeiramente carregado de superioridade:
– São 10 Frag, jovem.
Ichiro, com expressão serena, abriu novamente o pequeno saco de moedas. Seus dedos encontraram algo incomum: um pequeno bilhete dobrado, ao lado de algumas moedas que somavam 30 Frag. Ele parou por um momento, observando a escrita no bilhete. As palavras eram simples, mas carregadas de um significado profundo:
"–De um velho para um perdido."
Um suspiro escapou de seus lábios, misturando-se ao alívio que preenchia seu peito. A bondade inesperada aquiesceu-lhe a alma, como um raio de sol rompendo as nuvens de um dia cinzento. Com um leve sorriso, entregou as moedas à senhora, que arqueou uma sobrancelha, talvez surpresa com o valor exato.
– Aqui estão os 10 Frag, senhora – disse ele com educação, inclinando levemente a cabeça em respeito.
Ela pegou o pagamento sem dizer nada, mas o olhar curioso que lançou a Ichiro enquanto ele se afastava sugeria que, mesmo em sua idade, ainda havia espaço para a surpresa.
Ao sair do estabelecimento, Ichiro sentiu o vento fresco da manhã acariciar-lhe o rosto. O ar parecia carregado de propósito, como se o mundo estivesse o guiando a algo maior. Ele ajustou a alça da sacola em seu ombro e seguiu pela estrada, rumo ao templo de Nerathos, localizado no alto da colina.
Conforme avançava, a visão da colina tornou-se mais clara. Os pilares negros que ladeavam a longa escadaria chamaram sua atenção imediatamente. Altos e imponentes, possuíam bases retangulares que se erguiam até um topo triangular, como setas apontando para os céus. Eles pareciam antigos, marcados pelo tempo e pelas intempéries, mas mantinham uma aura de grandiosidade. Musgo cobria suas superfícies em alguns pontos, como se a própria natureza quisesse adorná-los.
Ichiro parou ao pé da escadaria. Sua mão tocou um dos pilares, sentindo a aspereza da pedra sob os dedos. Ele olhou para o alto, onde os degraus pareciam se estender infinitamente, desaparecendo no horizonte. Lá em cima, ele sabia, estava o templo de Nerathos, um lugar onde esperança e fé se entrelaçavam.
Respirando fundo, começou a subir os degraus. A cada passo, sentia como se estivesse deixando para trás um pedaço de sua antiga vida. O som de seus pés contra a pedra ecoava, solitário, mas constante. O vento ficava mais forte conforme subia, carregando consigo o aroma de flores e terra úmida.
Finalmente, ao chegar ao topo, Ichiro viu o templo em toda a sua glória. O santuário estava cercado por árvores altas e vigorosas, com folhagem negra, como se a natureza o protegesse de olhos curiosos,
Ele parou diante da entrada, sentindo o peso do que o aguardará. Fechou os olhos por um momento, permitindo que a brisa tocasse seu rosto.
A sensação de apreensão ainda aquecia seu peito, mas agora ela dividia espaço com algo mais profundo: determinação.
O templo, visto de perto, exalava uma aura ainda mais intimidadora. Sua coloração era um contraste entre o negro profundo e o cinza frio, como se a própria pedra tivesse sido forjada a partir das trevas e da tempestade. Os detalhes dourados, embora ainda presentes, pareciam menos uma ornamentação e mais como cicatrizes deixadas pelo tempo e pela vontade de algo superior.
As paredes eram ásperas, irregulares, e pareciam absorver a luz ao invés de refletir, criando uma sensação de opressão. O brilho dourado que ocasionalmente surgia nas runas gravadas nas colunas era como estrelas perdidas num céu de escuridão infinita. Os pilares gigantescos que sustentavam a estrutura tinham um acabamento áspero, como se houvessem sido moldados pela própria força da terra, e subiam até alturas impossíveis, onde o teto quase desaparecia no negrume.
A arquitetura do templo era imponente, autoritária. Cada pedra parecia carregar o peso de uma verdade inabalável, de algo eterno e imutável. Quem ousasse entrar ali sentia-se pequeno, irrelevante diante da grandiosidade que o cercava. O templo não apenas parecia eterno – ele era eterno, e nada, nem mesmo os deuses, parecia capaz de alterá-lo. Era como se, dentro de suas paredes, ele fosse a única autoridade verdadeira.
Ichiro, com a respiração pesada, atravessou a entrada e sentiu o frio interno do templo abraçá-lo. Lá dentro, a escuridão predominava, pontuada apenas por um brilho ocasional vindo das mesmas runas embranquecidas que revestiam as paredes e colunas, uma aura pesada o cobrirá como se envolvesse toda o salão. Ichiro conseguia ouvir pequenos sussurros ao seu arredor. A luz do lado de fora parecia incapaz de penetrar o ambiente, deixando-o envolto em sombras que pareciam ter vontade própria.
Enquanto seus olhos se ajustavam à penumbra, ele deu mais alguns passos para o interior. O eco de seus passos soava alto, ressoando de forma quase ameaçadora nas vastas dimensões do salão principal. O silêncio do lugar não era vazio – era um silêncio pesado, carregado de expectativa, como se algo estivesse esperando.
De repente, uma voz feminina rompeu o silêncio, mas não como um som comum. Era uma voz antiga, rouca e carregada de malícia, que não ecoava pelo salão, mas surgia diretamente dentro da mente de Ichiro.
– Revele-se, estrangeiro – disse a voz, cada palavra carregada de uma força sinistra que parecia penetrar sua alma.
Ichiro parou imediatamente, seu coração batendo forte. Olhou ao redor, mas o salão permanecia vazio, sombrio, inabalável em sua quietude. Ainda assim, ele sentia a presença. Algo – ou alguém – estava ali, observando-o de perto, invisível, mas inegável.
A sensação de apreensão voltou a crescer em seu peito, mas ele a conteve com um esforço consciente. Apertou o punho, respirou fundo e manteve-se firme.
– Quem fala comigo? – perguntou, sua voz ecoando pela sala enquanto seus olhos varriam o ambiente, tentando identificar a origem daquela presença.
A resposta não veio de imediato, mas o ar ao seu redor parecia pesar ainda mais, e ele sentiu que a voz não apenas o desafiava, mas também testava sua coragem.
– Eu que vos pergunto, estrangeiro? – respondeu a voz, agora com um tom autoritário que reverberava como um trovão abafado dentro da mente de Ichiro.
Ele abaixou ligeiramente a cabeça, evitando confrontar a presença com o olhar, e respondeu, com a voz vacilante:
– Vim... para fazer o teste.
A voz permaneceu em silêncio por um breve momento, como se o avaliasse com um olhar invisível. Então, respondeu novamente, agora com uma mistura de sarcasmo e desdém:
– Ah... a linhação. Suponho que sejas de algum pequeno vilarejo, perdido nas sombras deste mundo.
Ichiro apertou os punhos involuntariamente, tentando conter a inquietação que crescia dentro de si.
– S-sim... isso mesmo – confirmou, a voz trêmula.
O ambiente pareceu suspender-se no tempo por um instante, mergulhado em uma quietude opressiva. Então, das profundezas da grande sala, em um corredor escuro e mal iluminado, surgiu uma figura. Ichiro sentiu o ar pesar em seus pulmões ao vê-la.
Era uma mulher alta – mais alta do que qualquer ser humano que ele já havia encontrado. Encapuzada, Suas vestes leves e cinzentas caíam pesadas, como um manto de sombras que a conectava ao chão. Seu rosto estava oculto por um pano marcado por um símbolo estranho e indecifrável feito de bronze, que parecia pulsar com uma energia própria, viva, e que fazia o estômago de Ichiro revirar de inquietação.
Mas o que mais chamou sua atenção foi a coroa que ela portava sobre a cabeça. Negra como a noite mais profunda, a coroa era composta por quatro espinhos metálicos grossos e rústicos que apontavam diretamente para baixo, como se ameaçassem perfurar o próprio crânio da mulher. Era uma visão perturbadora, que parecia carregar um simbolismo cruel e autoritário.
A mulher avançava com passos firmes e calculados, e o som ecoava pela sala, como martelos pesando sobre pedra. Ela parou ao centro do salão, ao lado de uma mesa triangular. A mesa era desconcertante, uma peça que parecia ter sido concebida para perturbar. Seu formato irregular quase desafiava a lógica, e símbolos gravados em sua superfície brilhavam fracamente, uma decoração que parecia não ser criada ao acaso. Ao redor dela, duas cadeiras circulares estavam posicionadas, um contraste quase absurdo com o design da mesa, como se tudo ali tivesse sido projetado para provocar desconforto.
A mulher levantou as mãos, saindo de dentro das mangas largas de sua veste, revelando dedos longos e magros, com unhas negras e afiadas, parecendo garras. Sua voz, ao mesmo tempo autoritária e sinistra, cortou o silêncio:
– Sente-se. E erga suas mãos até as minhas.
Ichiro hesitou. Seus olhos estavam fixos nela, no pano que escondia seu rosto e na coroa de espinhos que parecia está prestes a mergulhar em sua cabeça. Ele engoliu em seco, sentindo o coração acelerar, mas sabia que recuar não era uma opção.
Ele caminhou até a mesa e sentou-se na cadeira circular, que parecia instável e desconfortável, como se resistisse ao peso de seu corpo. Olhando para a mulher, ele lentamente ergueu as mãos na direção dela, seu coração batendo como tambores frenéticos em seu peito.
A mulher deu um passo à frente, inclinando-se levemente sobre a mesa triangular. A energia que emanava dela parecia envolver o ambiente, preenchendo-o com algo pesado e inominável. O pano que cobria seu rosto moveu-se levemente, como se algo vivo estivesse por trás dele.
A voz da mulher, pela primeira vez, fez-se ouvir. O som escapou de sua boca, grave e arrastado, e então ela falou, enquanto segurava as mãos de Ichiro, analisando-as com olhos atentos.
— Ichiro, é esse o seu nome — murmurou, passando os dedos entre as linhas das palmas do jovem. — Hum... vitalidade enraizada, mente longínqua, abundante. Conflitos... mão duplicada.
No instante em que as palavras se formavam, Ichiro sentiu um calafrio. Uma sensação inquietante tomou conta de si, como se pudesse ouvir sussurros vindos de algum lugar distante, palavras desconexas, incompreensíveis. Em meio a esse turbilhão, fragmentos de imagens começaram a invadir sua mente. Lapsos de sua própria vida e de um destino incerto surgiam e desapareciam como lampejos, desconexos e rápidos demais para que pudesse compreendê-los. Cada visão trazia consigo uma pontada de dor, primeiro nas palmas de suas mãos e, em seguida, irradiando por todo o corpo, como se algo estivesse tentando se enraizar em sua carne.
Ichiro, tomado pelo desespero, tentou puxar suas mãos, mas a mulher, com um gesto firme, apertou-as com força. Seus olhos, antes apenas atentos, agora brilhavam intensamente, dominando-o com uma autoridade que parecia transcendental.
— Quieto — ordenou ela, com uma voz que soou como um trovão abafado. Ichiro, embora ainda lutasse, sentiu seu corpo ceder, incapaz de desobedecer.
Então, enquanto ele observava, horrorizado, as marcas das linhas em suas mãos começaram a queimar. A chama não era comum — não consumia, mas deixava um rastro ardente que seguia o desenho das linhas, da ponta dos dedos até o final de suas palmas. A dor era lancinante, e ele viu, como se as próprias chamas estivessem gravando em sua pele, que os traços formavam um padrão estranho e incompreensível.
A mulher apenas observava em silêncio, imóvel, enquanto o corpo de Ichiro tremia. A dor, o calor e as visões fragmentadas se fundiam em uma experiência avassaladora, deixando-o à beira do colapso.
Então, a mulher cessou a análise e recolheu suas mãos lentamente.
Foi nesse momento que, das sombras do fundo da sala, duas figuras se materializaram. Surgiram atrás da velha senhora, emergindo como espectros: femininas em aparência, vestidas de negro, portando máscaras de madeira escura e pequenas coroas de espinhos que se projetavam para o alto, como uma ameaça silenciosa.
As duas figuras avançaram em direção à mulher, movendo-se rapidamente, agachadas, em perfeita sincronia. Cada uma segurou uma de suas mãos da senhora — a da esquerda e a da direita. Assim que o fizeram, começaram a murmurar em um tom gutural e medonho, repetindo incessantemente a mesma frase.:
—
Enquanto o som dos sussurros ecoava pelo ambiente, a mulher ergueu o olhar na direção de Ichiro. Seu semblante parecia imóvel, mas sua voz não precisou sair de sua boca para atingi-lo. Ressoou diretamente em sua mente, atravessando corpo e alma, como uma tempestade que ninguém poderia conter
— Criança marcada nas ruínas... Segredos se revelam apenas a olhos ocultos. Maus olhos não enxergam o que não podem tocar. Tua força nasce em ti, mas é também tua ruína. De ti ele surge, e por ti ele cairá. Vigia teus passos, pois o mundo te cobrará em dor o que a sorte ousar te oferecer. O sábio sobrevive atento; o tolo cai por confiar na fortuna. Marcado Thral eres.
Ichiro sentiu seu corpo estremecer ao ouvir as últimas palavras. "Marcado Thral eres." As palavras ecoavam na mente como um trovão distante, reverberando em sua alma, ainda que não as compreendesse completamente. Algo dentro dele parecia despertar, um peso ancestral, como se as sombras daquela sala tivessem se enraizado em sua própria essência.
—Thral...? — murmurou para si, confuso, mas a mulher nada respondeu.
As duas figuras mascaradas, ainda segurando as mãos da velha, inclinaram-se levemente, como se reverenciassem algo invisível. O som dos sussurros cessou abruptamente, e o silêncio na sala tornou-se opressor. A mulher finalmente soltou um longo suspiro, como se exaurida por forças além de sua compreensão. Ela afastou as mãos das figuras e levantou-se com dificuldade, o peso de seus anos refletido em cada movimento.
— Você foi marcado como Thral, uma ordem tão temida quanto respeitada. Esta linhagem carrega o legado de guerreiros e sobreviventes, mas também o peso de uma condenação. Sua magia não flui como a dos Uhran; ela cobra sangue, alma e dor. Cada batalha será um teste, não apenas de sua força, mas da sua determinação em viver como você é – ou como o mundo exige que seja.
Antes que ele pudesse responder, as duas figuras mascaradas moveram-se rapidamente de onde vieram, suas vestes negras flutuando como vapor, sem som algum, desaparecendo nas sombras da sala. Era como se nunca tivessem estado ali.
A mulher olhou para ele uma última vez, seu semblante sério e enigmático.
— Vá, criança. A resposta para seus fardos não se encontra aqui, mas no que você carrega consigo.
Ela fez um gesto em direção à porta, que rangeu lentamente ao abrir-se sozinha. A luz do lado de fora era ofuscante, um contraste absoluto com o ambiente sombrio em que estavam. Ichiro hesitou por um momento, mas sabia que não havia outra escolha. Ele se curvou levemente, em respeito, e saiu, atravessando o limiar para o desconhecido.
Do lado de fora, caminhando até a porta seus olhos ainda se acostumando como tanta luz, o ar parecia menos pesado que no templo. As palavras da mulher ainda rodopiavam em sua mente. "De ti ele surge, e por ti ele cairá." Quem era ele? O que significava ser um Thral?
Ichiro, ainda imerso na confusão de seus próprios pensamentos, pelo menos já sabia quem era — ou melhor, o que era. Um guerreiro. Não um guerreiro formado, mas um que ainda precisava trilhar o caminho de sua formação e descobrir seu verdadeiro lugar neste vasto e desconhecido mundo.
Caminhando em direção à escadaria de pedra gasta pelo tempo, seus olhos se fixaram em uma figura imponente que parecia dominar o espaço ao redor. Um homem alto, barbudo, de expressão severa, vestindo uma armadura negra robusta que reluzia de maneira discreta sob a luz do sol. A armadura cobria-o dos pés ao peito, impecável, refletindo a disciplina de quem a vestia. Ele estava ereto como um verdadeiro soldado, a cabeça erguida e os olhos penetrantes fixos no jovem Ichiro, como se estivesse medindo cada centímetro de sua existência.
Ao se aproximar do homem, Ichiro sentiu o peso daquela presença, como se o ar ao redor se tornasse mais denso. O homem, ainda imóvel, ergueu a mão direita até o peito, os dedos apontados para cima em um gesto rígido, mas carregado de significado. Sua voz soou firme, neutra e carregada de autoridade:
— Me chamo Rauven Karoth,
Rauven pausou, observando atentamente Ichiro, que agora sentia as mãos começarem a tremer. A ansiedade tentou se apoderar dele, mas o jovem rapidamente forçou-se a controlar o nervosismo. Respirou fundo, endireitou a postura e, com um misto de determinação e cautela, respondeu:
— Me chamo Ichiro, marcado como Thral.
Ao pronunciar essas palavras, sua voz carregava o peso de incertezas, mas também o fio de coragem que ele começava a descobrir dentro de si. Rauven inclinou a cabeça ligeiramente, como se analisasse aquela resposta. Ichiro não sabia o que significava ser "marcado como Thral", mas percebeu pela expressão impenetrável do Dauthrin que aquela resposta estava longe de ser comum.
Rauven fixou seus olhos em Ichiro, analisando-o meticulosamente. Seu olhar parecia atravessar o jovem, examinando-o da cabeça aos pés como se procurasse algum defeito ou confirmasse algo que apenas ele sabia. A expressão no rosto do Dauthrin permanecia inalterada, uma máscara de autoridade inabalável que parecia ser esculpida em pedra.
Depois de um momento de silêncio, Rauven respondeu com uma voz firme e direta:
— Thral, certo? Está bem, garoto. Me acompanhe.
Sem esperar por uma confirmação ou reação de Ichiro, o soldado deu meia-volta, seus passos ecoando pelas pedras da escadaria. Ichiro hesitou por um instante, sentindo o peso do comando e da situação incomum em que se encontrava. Sua mente, ainda repleta de dúvidas, resistia à ideia de seguir cegamente aquele homem intimidador, mas algo no tom de Rauven deixava claro que não havia espaço para discussões.
Com um suspiro breve, Ichiro começou a caminhar atrás do soldado, sentindo-se pequeno perto da figura robusta e disciplinada que o guiava. Após alguns passos em silêncio, o jovem finalmente cedeu à curiosidade que o atormentava. Mesmo com o receio de soar desrespeitoso — como se perguntar algo ao soldado fosse um crime imperdoável —, ele arriscou:
— Aonde estamos indo?
Rauven não desacelerou, nem sequer virou a cabeça para olhar para ele. Por um instante, Ichiro pensou que sua pergunta seria ignorada, mas o soldado finalmente respondeu, com um tom seco que deixava pouca margem para divagações:
— Veremos se você realmente é digno do que carrega, garoto.
A resposta, enigmática e cortante, não trouxe nenhum alívio para a mente inquieta de Ichiro. Pelo contrário, apenas aumentou o mistério que cercava sua situação. Digno do quê? Ele não tinha ideia do que Rauven estava falando, mas sentia que descobriria em breve.
Ichiro descia os degraus de pedra do templo de Nerathos, ainda mergulhado no caos de seus próprios pensamentos. Não tinha notado, até aquele momento, a verdadeira altura da colina. Agora, com a cidade de Arkanfhon se estendendo diante de seus olhos, ele parou por um instante, permitindo que o vento fresco carregasse consigo um fragmento de sua confusão.
A cidade era vasta, com casas de pedra e madeira espalhadas de forma quase caótica, ligadas por ruas estreitas que serpenteavam até desaparecerem nos limites dos altos muros que a cercavam. Ele observou a vida que pulsava abaixo: mercadores acenando de seus balcões, crianças correndo entre as vielas, homens carregando cargas pesadas, enquanto o eco de martelos preenchia o ar.
Mas, mesmo diante daquela energia, Ichiro sentiu um peso. Havia algo na maneira como os moradores caminhavam, nas breves trocas de olhares, que sugeria distância. Era como se os habitantes de Arkanfhon vivessem isolados, não apenas fisicamente, mas em espírito. Ele não sabia explicar, mas tinha a nítida impressão de que não gostavam de estrangeiros. Não o encaravam diretamente, nem com curiosidade ou hostilidade; apenas com aquela ausência que se sente quando alguém é ignorado de propósito.
Com um suspiro, Ichiro desviou o olhar e retomou sua descida. A melancolia da cidade parecia se misturar à sua, como um lembrete de que ele ainda era um estranho — não apenas em Arkanfhon, mas talvez no mundo inteiro.
Finalmente chegando ao fim da escadaria, Ichiro avistou uma carruagem estacionada ao lado de um caminho de terra batida. Era feita de madeira escura, com rodas metálicas reforçadas que brilhavam sob a luz do dia. A estrutura parecia robusta e ligeiramente alongada, provavelmente projetada para transportar grupos maiores. Ao observá-la, não pôde evitar o pensamento que lhe atravessou a mente: "Será que tudo neste lugar tem a cor de um corvo?"
Mas não foi só a carruagem que chamou sua atenção. Ele só notou depois, quase como um detalhe secundário, os dois cavalos que a puxariam. Eram enormes, com corpos musculosos cobertos por um pelo negro e brilhante, quase como se fossem feras saídas de uma lenda. Ichiro nunca tinha visto criaturas como aquelas em sua vida e, por um momento, ficou imóvel, admirando-os em silêncio.
Enquanto ele ainda assimilava a cena, Rauven se aproximou, apontando para a carruagem. "Esta será sua condução. Ela o levará até a fortaleza de Valthorian," disse, a voz firme, mas com um tom que parecia quase impaciente. "Lá começará o seu treinamento."
Sem hesitar e sem sequer pensar em perguntar algo, Ichiro apenas assentiu e entrou na carruagem. Lá dentro, o espaço era apertado e simples, com bancos de madeira que rangiam sob o peso dos passageiros. Ele logo notou que não estava sozinho. Havia três outras pessoas ali — Dois garotos e uma moça. Todos pareciam ter idades próximas à de Ichiro, e, por um instante, seus olhares se cruzaram.
Ninguém disse nada. O silêncio era denso, mas não desconfortável. Era o tipo de silêncio carregado de incerteza, onde cada um tentava decifrar o outro. Ichiro desviou o olhar e acomodou-se no banco, sentindo que aquele seria apenas o começo de algo muito maior do que ele podia imaginar.
Um dos três garotos que Ichiro havia observado antes parecia inquieto. Tinha cabelos curtos e um rosto comum, sem características que o tornassem particularmente marcante, exceto por sua expressão animada. O rosto, um pouco alongado, sugeria uma idade próxima à de Ichiro, mas o tamanho de suas pernas, esticadas no pequeno espaço da carruagem, indicava que era alto para alguém de sua geração.
Depois de algum tempo em silêncio, ele decidiu quebrar o gelo. Inclinando-se levemente para frente, olhou para Ichiro com curiosidade.
— Então, também está a caminho da fortaleza? — começou, com um tom quase vibrante. — Mal consigo acreditar que consegui ser escolhido. É uma bênção para a minha família. Isso pode mudar tudo para eles... Trazer honra ao nosso nome.
Ichiro, ainda perdido em seus próprios pensamentos, ergueu os olhos para o garoto, estudando-o brevemente. Havia algo na empolgação dele que parecia sincero, mas ao mesmo tempo distante do que Ichiro sentia. Mesmo assim, ele não queria ser grosseiro. Inspirou profundamente, buscando as palavras certas, e respondeu com a calma que lhe era habitual:
— Fico feliz por sua conquista — disse, sua voz baixa e controlada. Então fez uma pausa, deixando que suas palavras ecoassem por um instante antes de continuar. — Mas... quem sabe? O desafio só começou agora.
O garoto ficou em silêncio por um momento, como se processasse aquelas palavras. Sua expressão mudou brevemente, um misto de surpresa e respeito. Então, abriu um sorriso discreto e assentiu.
Ichiro desviou o olhar para a janela da carruagem, permitindo-se observar a paisagem que começava a mudar. Ele sabia que o otimismo daquele estranho não era algo que ele compartilhava tão facilmente.
O silêncio foi quebrado novamente pelo garoto animado, que parecia incapaz de manter os pensamentos para si por muito tempo. Ele se inclinou para frente, o corpo ainda cheio de energia reprimida, e falou com um tom que misturava curiosidade e um resquício de nervosismo.
— Ah, antes que esqueça — disse, um pouco hesitante, mas ainda assim com um sorriso no rosto. — Meu nome é Aldric. Aldric Vehlor. — Ele fez uma pausa, olhando para os demais. — E vocês? Como chegaram até aqui? Quero dizer... como foi a seleção de vocês?
Os olhos dele passaram de um rosto ao outro, esperando respostas. Ichiro percebeu que, apesar de sua animação, havia algo nas perguntas de Aldric que parecia mais profundo, como se ele também procurasse compreender algo que o incomodava.
O rapaz de olhos profundos foi o primeiro a responder, com um tom seco, mas direto.
— Rhenan Kael. — Ele cruzou os braços, encostando-se no banco com aparente desconforto. — Minha família me inscreveu sem me avisar. Fui chamado para essa tal "linhação" e, depois disso, disseram que eu tinha passado. Não houve explicações, apenas um nome. — Seus olhos se estreitaram, e ele desviou o olhar para a janela. — Tudo foi... estranho. Como se estivessem escondendo algo.
Aldric assentiu, franzindo a testa. Sua expressão mudou, perdendo um pouco da empolgação inicial.
— Comigo também foi meio esquisito. — Ele coçou a nuca, pensativo. — Me chamaram do nada, um homem de preto apareceu na nossa aldeia e falou que eu tinha sido "escolhido". Minha família ficou feliz, mas... não sei. Eles nem fizeram perguntas. Parecia que já esperavam por isso. Foi... — Ele hesitou por um momento, procurando as palavras. — Medonho. Quase como se fosse um presságio.
Ichiro ouviu em silêncio, suas mãos descansando sobre as coxas enquanto a carruagem balançava. Ele sentia o peso das palavras de Aldric e Rhenan, pois algo semelhante havia acontecido consigo. Inspirou fundo, levantando o olhar para os outros.
— Sou Ichiro. — Sua voz era firme, mas havia um toque de distância nela. — E, sim, também foi estranho para mim. Eles chegaram na minha vila, disseram que eu tinha sido convocado que eu deveria vir quando completasse doze anos, mas não disseram por quê. Não houve teste, não houve escolha. Apenas uma ordem.
O grupo ficou em silêncio novamente por um instante, como se processasse a natureza incomum de suas jornadas até ali.
Finalmente, foi a garota, que até então se mantivera calada, quem falou. Sua voz era baixa, quase um sussurro, mas tinha um tom afiado que cortava o ar como vidro.
— Parece que não fomos escolhidos. Fomos tomados. — Ela levantou o rosto, revelando olhos cinzentos e penetrantes. — Meu nome é Selene Veyra. Meu clã foi ameaçado. Ou eu vinha, ou eles sofreriam as consequências.
O impacto das palavras dela caiu como uma pedra no silêncio já denso da carruagem. Ichiro sentiu um calafrio percorrer sua espinha. A verdade era clara para todos: nada daquilo era tão simples quanto parecia.
Ichiro olhou para suas mãos por um instante antes de quebrar o silêncio, sua voz firme, mas carregada de introspecção.
— Bom... aparentemente, se estamos aqui, é por algum motivo. E acho que esse motivo está dentro de nós. Algo que ainda não entendemos completamente.
Os outros levantaram os olhos para ele, atentos. A carruagem balançava suavemente, os estalos da madeira ecoando no espaço apertado, enquanto ele continuava:
— Durante a linhação, a mulher encapuzada falou de algo chamado "categoria". Não entendi direito, mas... ela disse que sou um Thral. — Ele fez uma pausa, deixando que a palavra ecoasse no ar carregado. — E vocês?
Rhenan franziu a testa, mas não hesitou em responder. Seu tom era prático, quase desafiador. — Também sou um Thral. — Ele descruzou os braços, apoiando os cotovelos nos joelhos. — Me disseram que somos guerreiros. Que cobraria sangue, alma e dor. Cada batalha será um teste.
Aldric, que até então parecia nervoso, ergueu uma sobrancelha e inclinou-se ligeiramente para frente. A luz fraca do lampião pendurado na carruagem dançava em seus olhos. — Hm, interessante... eu sou diferente de vocês, então. Minha linhação me colocou como um Uhran. — Ele cruzou os braços, tentando parecer mais confiante. — Poder. Algo mais versátil, mais... vasto, foi o que disseram.
Selene, que estava encostada na parede da carruagem, observando a conversa com olhos semicerrados, finalmente falou, sua voz baixa, quase um sussurro. A forma como ela traçava padrões com os dedos no tecido do banco dava a impressão de que tentava organizar pensamentos desordenados. — Eu também sou uma Uhran. — Sua voz era hesitante, mas havia algo afiado em suas palavras. — Não me disseram muito, mas deu para entender que somos ligados à magia ou Rhyva como eles chamam, como Aldric disse. Só não sei se isso é uma bênção ou uma maldição.
Aldric soltou uma risada curta e tensa. — Pode ser os dois. — Ele olhou para Ichiro e Rhenan, inclinando a cabeça ligeiramente como se ponderasse. — Então, Thral's e Uhrans. Parece que temos uma boa mistura aqui.
Ichiro inclinou-se para trás no banco, cruzando os braços enquanto olhava para os outros. O peso de suas palavras parecia dobrar o silêncio entre eles. — Seja o que for, parece que somos parte de algo muito maior. A mulher que fez minha linhação deixou isso bem claro. Ela falou de força e ruína, de algo que nasce em mim e que pode me destruir. — Ele fez uma pausa, encarando Aldric e Selene. — Vocês ouviram algo parecido?
Selene franziu a testa, pensativa. Ela parecia buscar no fundo de sua memória algo que pudesse traduzir em palavras. — Mais ou menos. No meu caso, foi sobre controle. Algo sobre a magia que me consome se eu não a dominar. Parecia mais uma ameaça do que uma explicação.
Aldric coçou o queixo, sua expressão introspectiva contrastando com o tom confiante de antes. — Não disseram isso exatamente para mim, mas... quando a linhação terminou, me senti estranho. Como se algo tivesse sido acordado dentro de mim. Algo que não sei se quero descobrir completamente.
Rhenan balançou a cabeça, soltando um suspiro pesado que parecia carregar o peso de suas próprias reflexões. — E assim começa. Fomos marcados, cada um de nós, com algo que mal compreendemos. E agora nos mandam para essa fortaleza sem nem nos dizer por quê.
O silêncio caiu na carruagem, denso e carregado. Apenas o ranger das rodas e o farfalhar da lona ao vento preenchiam o espaço. Ichiro desviou o olhar para a janela, observando a paisagem que passava. As montanhas estavam mais próximas agora, seus cumes cobertos por uma névoa cinzenta e espessa que parecia engolir tudo à sua volta.
Finalmente, Ichiro falou, sua voz baixa, mas firme. — Seja o que for, vamos descobrir juntos. Não sei se é força, magia ou outra coisa, mas... algo me diz que vamos precisar uns dos outros para sobreviver.
Os outros não responderam de imediato, mas seus olhares carregavam um entendimento mútuo. A jornada estava apenas começando, mas já era claro que a travessia não seria feita sozinha.
Após algumas horas, o sol já se pondo, a carruagem começou a diminuir o ritmo, finalmente chegando a Valtherion. Todos dentro dela se inclinaram em direção às janelas, ansiosos por vislumbrar a fortaleza. À primeira vista, parecia ter uma aparência "simples", mas bastava um olhar mais atento para perceber que de simples ela não tinha nada. Imensa e imponente, Valtherion parecia dominar a paisagem, forçando até o mais distraído a se demorar em sua presença.
Seu formato era predominantemente quadricular, mas as extremidades se curvavam de forma arredondada, criando um contraste curioso entre austeridade e fluidez. Suas paredes lisas refletiam uma luz opaca ao amanhecer, conferindo-lhe uma aura quase sagrada. Colunas largas e robustas projetavam sombras profundas sobre o solo, enquanto fendas estreitas na estrutura sugeriam entradas ou aberturas ocultas, como se a fortaleza estivesse cheia de segredos. O topo da construção era irregular, com saliências que lembravam dentes quebrados ou pilares inacabados, dando a impressão de algo intencionalmente inacabado, ou de uma obra que desafiava o próprio tempo.
Quatro torres pontiagudas se erguiam nos cantos da fortaleza, como lanças gigantes feitas de aço escuro, atravessando o teto em direção ao céu. Essas torres refletiam a luz de maneira sutil, reforçando a impressão de que Valtherion não era apenas uma fortaleza, mas uma entidade em si, carregando nas pedras uma história de força e mistério.
A construção repousava no alto de uma colina ampla, cercada por campos amarelos que se estendiam como um manto dourado ao seu redor. Pequenos vilarejos pontilhavam a paisagem, com casas simples de madeira e pedra, suas chaminés soltando colunas de fumaça fina que dançavam ao vento. Estradas de terra serpenteavam pelo terreno, conectando os vilarejos e convergindo para os portões maciços de Valtherion, feitos de um metal opaco e reforçado, que pareciam intransponíveis.
Era impossível não sentir a atmosfera que rodeava a construção. Seus muros sólidos, marcados pelo tempo, emanavam uma sensação de vigilância e gravidade. Para muitos, Valtherion era mais do que uma fortaleza; era uma presença viva, quase divina, uma guardiã das colinas e dos vilarejos ao seu redor, que observava silenciosamente, sem nunca descansar.
A carruagem finalmente parou, e o som das rodas cessou com um último ranger metálico. Os cavalos soltaram um respiro pesado, como se agradecessem pela pausa, enquanto o silêncio da nova paisagem preenchia o ar.
Lá dentro, os quatro iniciados se entreolharam com expectativa. Aldric foi o primeiro a se inclinar para a janela, tentando espiar o exterior.
— Será que é isso? A fortaleza? — murmurou, os olhos brilhando com curiosidade.
Ichiro, ainda sentado, ajustou o peso no banco de madeira enquanto observava o movimento do lado de fora. Ele podia ver uma sombra imponente além da moldura da janela, uma estrutura vasta e irregular que parecia feita para intimidar.
Antes que pudessem discutir mais, a porta da carruagem foi aberta com um estalo. Um soldado trajando uma armadura negra ornamentada com detalhes prateados fez sinal para que descessem, sua voz autoritária, mas sem ser hostil:
— Saíam. Chegamos.
Os quatro obedeceram sem hesitar, descendo um a um. Assim que pisaram o solo duro e úmido, olharam ao redor com atenção. A fortaleza erguia-se diante deles como um gigante adormecido. Era um edifício fortificado, com paredes grossas e uma coloração cinza-escura que parecia absorver a luz do ambiente. Torres altas, encimadas por símbolos antigos gravados em Rhyva — um mineral que parecia brilhar fracamente, como se contivesse uma energia pulsante —, pontuavam a estrutura.
Os portões da fortaleza eram enormes, adornados com runas complexas que Ichiro reconheceu como similares às que vira durante sua linhação. Havia algo inquietante no lugar, mas também uma sensação de grandiosidade que prendia os olhos de todos.
Rauven surgiu de algum ponto próximo, aproximando-se com passos firmes. Sua presença era inconfundível: uma mistura de autoridade e energia que parecia dobrar o ambiente à sua vontade. Ele parou diante do grupo, ajustando o manto negro que envolvia seus ombros.
— Bem-vindos à Fortaleza de Valthorian — anunciou, a voz firme cortando o silêncio. Ele gesticulou para a estrutura atrás de si. — Este é o coração de nosso poder. É aqui que o potencial de cada um de vocês será revelado e, mais importante, testado.
Rauven deu uma breve pausa, observando cada um dos iniciados como se pudesse ler seus pensamentos.
— Cada pedra desta fortaleza foi construída com Umbraita, um mineral que canaliza e amplifica a energia mágica. Seu treinamento aqui não será apenas físico ou teórico. Será prático. Intenso. E potencialmente perigoso. — Ele estreitou os olhos. — Aqueles que sobreviverem a este treinamento sairão mais fortes. Mas isso depende de vocês.
Aldric engoliu em seco, desviando o olhar para as torres, enquanto Selene mantinha o queixo erguido, tentando esconder qualquer traço de insegurança. Ichiro permaneceu imóvel, atento às palavras de Rauven.
O homem continuou, com um tom que não permitia contestação:
— Vocês serão divididos de acordo com suas categorias. Thrals para o pátio de treino. Uhrans para as câmaras internas. Seus instrutores os aguardarão para começarem imediatamente.
Ele fez uma pausa, cruzando os braços.
— Estão de acordo?
Os quatro trocaram olhares rápidos. Rhenan foi o primeiro a falar, seu tom curto e direto:
— Estamos.
Aldric hesitou por um momento, mas assentiu.
— Sim.
Ichiro e Selene limitaram-se a fazer o mesmo, assentindo sem palavras.
Rauven observou-os por mais alguns segundos, então virou-se de costas, caminhando na direção dos portões. Ele fez um sinal para os guardas, que começaram a abri-los com um ranger profundo e poderoso.
— Então sigam-me — ordenou ele, sem olhar para trás.
Os quatro caminharam atrás dele, cruzando o limiar para o que parecia ser o início de uma nova vida — ou o fim da antiga. O interior da fortaleza aguardava, cheio de mistérios, desafios e um destino ainda desconhecido.