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Chapter 17 - Capítulo 17: Ecos da Tempestade

A madrugada estava alta quando Kenshiro retornou à base, o silêncio da cidade quebrado apenas pelo som abafado de seus passos contra o concreto frio. A base dos Narradores Eternos era um espaço modesto, mas funcional, localizado em um antigo armazém que havia sido reformado para abrigar o crescente grupo. As luzes ainda estavam acesas, projetando sombras suaves nas paredes enquanto Kenshiro cruzava o portal principal.

Dentro, Kaoru estava debruçado sobre uma mesa cheia de papéis e mapas. Suas mãos ágeis manuseavam uma pilha de documentos enquanto seus olhos passavam rapidamente por eles. Aika estava sentada em um canto, afiando uma adaga com movimentos precisos, e Hajime estava próximo à janela, observando a cidade com um olhar distante. A atmosfera estava carregada, como o ar antes de uma tempestade.

"Você demorou", disse Aika sem desviar os olhos da lâmina, o som metálico da pedra de afiar cortando o silêncio.

Kenshiro não respondeu imediatamente. Ele caminhou até o centro da sala e deixou sua jaqueta sobre uma cadeira antes de olhar para os três. "Tive um encontro com Mori Ougai... ou, pelo menos, com sua sombra."

Isso chamou a atenção de todos. Kaoru largou os papéis, Aika parou o movimento da adaga, e até Hajime se virou para encará-lo. Kenshiro percebeu o peso de suas palavras na expressão de cada um deles. Ele sabia que todos compreendiam a gravidade de lidar com alguém como Mori Ougai, o líder da máfia do porto, um homem conhecido por sua inteligência fria e estratégias implacáveis.

"Ele sabe quem somos e o que estamos fazendo. E mais do que isso, ele está interessado em nós." Kenshiro fez uma pausa, observando a reação de seus companheiros antes de continuar. "Mas não se enganem. Isso não é um convite. É uma ameaça. Mori quer testar nossos limites."

Kaoru foi o primeiro a quebrar o silêncio. "E o que você disse a ele?"

"Eu disse que não somos peões no jogo de ninguém." Kenshiro cruzou os braços, seu olhar fixo em Kaoru. "Mas isso significa que precisamos estar preparados. Mori não vai esperar que nos acomodemos. Ele vai agir, e precisamos estar à frente dele."

Aika soltou um suspiro pesado e inclinou-se na cadeira, cruzando as pernas. "Então, o que você sugere? Continuamos as missões e fingimos que ele não está nos observando? Ou vamos direto para a ofensiva?"

Kenshiro balançou a cabeça. "Não podemos ignorá-lo, mas também não podemos agir precipitadamente. Ele quer que joguemos o jogo dele, que nos revelemos completamente. Não vamos dar isso a ele. Precisamos de tempo para entender suas jogadas e identificar suas fraquezas. Mas, para isso, precisamos de mais informações sobre suas operações."

Hajime, que até então estava em silêncio, finalmente se pronunciou. "Você quer dizer... espionagem?"

"Exatamente." Kenshiro assentiu. "Mori controla grande parte do porto, mas ele não faz isso sozinho. Existem subchefes, informantes e aliados estratégicos. Se conseguirmos mapear sua rede, poderemos identificar pontos vulneráveis. E talvez, com sorte, até mesmo virar algumas peças contra ele."

Kaoru parecia pensativo. "Isso vai exigir tempo e recursos. E, honestamente, isso nos coloca em risco de sermos descobertos. Você tem certeza de que vale a pena?"

"Se não fizermos nada, seremos esmagados. Mori é como um predador. Ele já está circulando, esperando por qualquer sinal de fraqueza." Kenshiro olhou para cada um deles, sua voz carregada de determinação. "Se quisermos sobreviver, precisamos ser os primeiros a atacar. Mas, para isso, precisamos conhecer o campo de batalha."

Nas semanas que se seguiram, os Narradores Eternos começaram a trabalhar discretamente. Divididos em equipes, eles coletaram informações sobre as operações de Mori, observando os movimentos de seus homens, os carregamentos que chegavam ao porto e os aliados que ele parecia cultivar. Kaoru liderou a análise dos dados, cruzando informações para criar um mapa detalhado das operações da máfia.

Aika e Hajime foram encarregados de infiltrar-se em alguns dos territórios controlados pela máfia. Com seus talentos únicos, os dois conseguiram se misturar aos trabalhadores do porto, coletando informações preciosas sem levantar suspeitas. Aika, com sua habilidade de leitura corporal, foi capaz de identificar figuras importantes nas fileiras de Mori apenas observando a interação delas com os subordinados. Hajime, por outro lado, usou seu carisma para extrair informações de funcionários descontentes.

Enquanto isso, Kenshiro permaneceu na base, coordenando as operações e usando sua habilidade para criar distorções temporais que permitiam que seus companheiros escapassem de situações perigosas. Ele sabia que sua presença no campo chamaria atenção demais, então optou por agir nas sombras, sendo a força invisível que sustentava o grupo.

Certa noite, enquanto os Narradores Eternos estavam reunidos na base revisando as informações coletadas, Kaoru apresentou um relatório que chamou a atenção de todos.

"Encontramos algo interessante", disse ele, colocando um mapa sobre a mesa. "Um dos depósitos controlados por Mori parece ser mais do que apenas um local de armazenamento. Há movimentação constante de pessoas entrando e saindo, mas não são trabalhadores comuns. Pelos relatos, parecem ser mercenários."

"Mercenários?", perguntou Aika, inclinando-se para olhar mais de perto. "Para quê?"

"Isso é o que precisamos descobrir", respondeu Kaoru. "Mas tenho uma teoria. Mori pode estar contratando reforços para uma operação maior. Algo que vai além do controle do porto."

Kenshiro franziu a testa, seu olhar fixo no mapa. "Se ele está trazendo mercenários, significa que está se preparando para algo grande. Isso pode ser nossa chance de descobrir seus planos."

"Você está sugerindo que invadamos o depósito?", perguntou Hajime, arqueando uma sobrancelha.

"Sim. Mas precisamos ser cautelosos." Kenshiro levantou-se e começou a traçar um plano. "Vamos nos infiltrar no local, coletar o máximo de informações possível e sair antes que eles percebam o que aconteceu. Não estamos aqui para enfrentar um exército. Estamos aqui para desvendá-lo."

Aika sorriu, um brilho perigoso nos olhos. "Parece o tipo de coisa que nós fazemos bem."

Hajime apenas assentiu, sua expressão séria. "Se isso nos der vantagem contra Mori, vale o risco."

Na noite da operação, os Narradores Eternos se dividiram em duas equipes. Aika e Hajime lideraram a infiltração, enquanto Kaoru permaneceu na base, monitorando a missão por meio de dispositivos de comunicação e vigilância. Kenshiro ficou próximo ao local, pronto para intervir caso algo desse errado.

O depósito estava fortemente guardado, mas Aika e Hajime conseguiram se aproximar sem serem detectados. Usando suas habilidades, eles desativaram discretamente os guardas nas entradas e se infiltraram no interior do prédio.

O que encontraram lá dentro os deixou surpresos. O depósito não era apenas um ponto de encontro para mercenários. Era uma instalação altamente equipada, com armas avançadas, mapas detalhados da cidade e até mesmo documentos que indicavam alianças com outras organizações criminosas.

"Isso é maior do que pensávamos", sussurrou Aika, enquanto examinava os documentos. "Mori não está apenas defendendo o porto. Ele está planejando algo que pode mudar o equilíbrio de poder em Yokohama."

Hajime concordou, mas antes que pudessem continuar, ouviram passos se aproximando. Rapidamente, eles se esconderam nas sombras, observando enquanto um grupo de homens entrava no depósito. Entre eles, estava Iori, o braço direito de Mori.

"Vocês têm tudo pronto?", perguntou Iori, sua voz carregada de autoridade.

"Sim, senhor. As tropas estão preparadas e os carregamentos serão distribuídos em breve", respondeu um dos homens.

Aika e Hajime trocaram olhares. Era evidente que Mori estava prestes a agir, e eles precisavam avisar Kenshiro imediatamente.

Quando os dois retornaram à base, Kenshiro já estava esperando por eles. Após ouvir o relato, ele fechou os punhos, sua expressão sombria.

"Mori está jogando em um nível que nem imaginávamos", disse ele. "Mas agora sabemos o que está por vir. Ele acha que está no controle, mas vamos virar o jogo contra ele."

Os Narradores Eternos estavam prontos. A guerra contra Mori Ougai havia começado, e Kenshiro sabia que, para vencer, precisaria usar cada truque, cada aliado e cada fragmento de informação que possuía.

A tempestade estava prestes a atingir Yokohama. E Kenshiro, com seus companheiros, estava no olho do furacão.