A noite em Yokohama nunca era realmente silenciosa. O brilho dos letreiros de néon refletia nas ruas molhadas pela fina garoa, enquanto os becos escondiam segredos e conspirações em cada canto. Dentro do armazém que servia de base para os Narradores Eternos, o ar estava carregado com a tensão de um plano que poderia mudar o destino de todos eles.
Kenshiro estava sentado à mesa central, os olhos fixos no mapa aberto à sua frente. Aika e Hajime estavam ao lado, ambos ainda sentindo a adrenalina da infiltração bem-sucedida no depósito de Mori. Kaoru, por sua vez, digitava freneticamente no laptop, cruzando informações coletadas. Cada detalhe importava. Cada pista era um fio que poderia ser puxado para desmontar a teia de Mori Ougai.
"O que descobrimos até agora?", perguntou Kenshiro, sem desviar o olhar do mapa.
Kaoru ajustou os óculos e passou a mão pelos cabelos bagunçados. "Com base no que Aika e Hajime viram no depósito, Mori não está apenas consolidando seu controle sobre o porto. Ele está preparando um ataque coordenado. Não sabemos contra quem ainda, mas ele está reunindo mercenários de alto nível, distribuindo armas e acumulando recursos. Isso não é apenas uma guerra de território. Ele está planejando um golpe grande."
Aika cruzou os braços e encostou-se na parede. "Se for um golpe, ele tem um alvo. Quem seria poderoso o suficiente para justificar esse tipo de preparação?"
Hajime respondeu, seu tom sério. "A Agência de Detetives Armados, talvez? Eles são uma das poucas forças capazes de enfrentar Mori de igual para igual."
Kenshiro franziu a testa, refletindo. "Possível. Mas pode ser algo ainda maior. Se Mori estiver mirando a Agência, isso significa que ele já encontrou um jeito de contornar os poderes de Fukuzawa e seus agentes. Ele não faria isso sem ter absoluta certeza de sua vitória."
Kaoru virou o laptop para mostrar uma série de anotações. "Seja quem for o alvo, precisamos descobrir antes que seja tarde demais. Mori tem muitos aliados, mas também tem inimigos. Podemos explorar essas fissuras e jogar contra ele."
Kenshiro assentiu lentamente. "Precisamos de mais informações. E acho que sei onde podemos conseguir."
Todos o olharam com expectativa.
"O Mercado Negro de Yokohama."
O nome caiu no ar como uma lâmina afiada. O Mercado Negro era um dos locais mais perigosos da cidade. Operando nas sombras, era o ponto de encontro para transações ilegais, venda de informações e negócios entre mercenários. Nenhuma aliança era verdadeira ali. O dinheiro e o poder eram a única moeda que importava.
"Se Mori está contratando mercenários e adquirindo armas, então o Mercado Negro deve ter registros disso. Talvez possamos encontrar alguém disposto a vender informações para nós", continuou Kenshiro.
Aika sorriu, ajeitando a lâmina que carregava no cinto. "Isso significa que vamos precisar de um disfarce, certo?"
Hajime cruzou os braços e olhou para Kenshiro. "E você acha que alguém ali vai simplesmente nos entregar informações? Isso pode ser uma armadilha."
Kenshiro sorriu de lado. "Por isso não vamos entrar como forasteiros. Vamos entrar como potenciais compradores. E mais do que isso... vamos fazer barulho suficiente para que Mori perceba que não somos peças fáceis de derrubar."
O Mercado Negro ficava escondido nos subterrâneos de um antigo edifício abandonado. O acesso era restrito a poucos privilegiados e aqueles corajosos (ou insanos) o suficiente para se arriscarem. Kenshiro, Aika e Hajime vestiram roupas mais discretas, capas longas que escondiam suas armas e trajes escuros para não chamarem atenção desnecessária.
Quando chegaram à entrada, foram recebidos por dois guardas imponentes, ambos armados com rifles de assalto.
"Convite?", perguntou um dos guardas, com uma voz rouca e desinteressada.
Kenshiro sorriu e puxou um pequeno envelope do bolso, entregue por um dos contatos de Kaoru. O guarda abriu, examinou brevemente e assentiu.
"Entrem. Sem brigas lá dentro. Se causarem problemas, vocês saem em pedaços."
Eles passaram pelo corredor estreito e desceram uma longa escadaria de metal. O cheiro do lugar era uma mistura de cigarro, ferrugem e dinheiro sujo. Quando finalmente alcançaram o salão principal, foram recebidos por uma visão caótica: dezenas de pessoas reunidas em pequenos grupos, negociando bens ilegais, armas sendo exibidas como se fossem brinquedos, e até mesmo algumas jaulas contendo criaturas exóticas capturadas em partes desconhecidas do mundo.
"Ache alguém que tenha informações sobre Mori", sussurrou Kenshiro para Hajime e Aika. "Mas façam isso sem chamar atenção."
Aika acenou com a cabeça e desapareceu entre a multidão. Hajime foi na direção oposta, sua abordagem mais casual, misturando-se aos grupos de apostadores.
Kenshiro, por sua vez, dirigiu-se a um pequeno balcão onde um homem idoso, de expressão astuta e olhos afiados, organizava uma pilha de documentos.
"Interessado em informações?", perguntou o homem sem levantar os olhos.
Kenshiro pousou uma pequena pilha de dinheiro sobre o balcão. "Quero saber sobre os últimos carregamentos de Mori Ougai."
O velho parou por um momento, então sorriu de forma quase imperceptível. "Mori Ougai não é um homem que gosta de ter seus negócios investigados."
Kenshiro inclinou-se ligeiramente para frente. "E eu não sou um homem que faz perguntas sem propósito. Quanto?"
O velho pegou o dinheiro, contando as notas antes de guardá-las. Então puxou um pequeno caderno e rabiscou algo. "Mori tem um carregamento chegando amanhã à noite. Porto Sul, Armazém 17. Mas você não ouviu isso de mim."
Antes que Kenshiro pudesse agradecer, um estrondo ecoou pelo Mercado. Ele se virou rapidamente, os sentidos aguçados. No centro do salão, um grupo de homens armados avançava, os olhos varrendo o ambiente como predadores em busca de uma presa.
"Ora, ora..." A voz de um dos homens soou alta o suficiente para silenciar parte da multidão. "Parece que temos visitantes inesperados hoje."
Kenshiro estreitou os olhos. Ele reconhecia aquele rosto. Iori, o braço direito de Mori, estava ali.
"Eu sabia que vocês estavam metendo o nariz onde não deviam", continuou Iori, cruzando os braços. "E agora, temos um problema."
Kenshiro trocou um olhar com Aika e Hajime, ambos já preparados para agir. Aika discretamente deslizou a mão até a lâmina oculta em sua capa, enquanto Hajime avaliava as saídas do local.
"O que sugere, então?", perguntou Kenshiro, mantendo a calma.
Iori sorriu, um brilho perigoso nos olhos. "Eu sugiro que venham comigo sem resistência. Ou então, teremos que fazer isso do jeito difícil."
O salão inteiro ficou tenso. Algumas pessoas se afastaram, temendo o que poderia acontecer a seguir. Outras, no entanto, pareciam interessadas em ver até onde isso iria.
Kenshiro respirou fundo, sentindo a energia ao seu redor. Ele sabia que não poderia ser capturado. E mais do que isso... sabia que, a partir daquele momento, não havia mais volta.
"Bem..." Kenshiro sorriu de volta. "Eu sempre gostei de desafios."
Aika e Hajime se prepararam.
A luta estava prestes a começar.