O ar no Mercado Negro de Yokohama ficou pesado, carregado com a tensão que precede o caos iminente. Os olhos de todos estavam fixos em Kenshiro, Aika e Hajime, que agora eram o centro das atenções. O olhar de Iori era frio e predatório, suas mãos pairando perto da lâmina presa à cintura, pronto para atacar ao menor movimento. Seus homens cercavam os três como hienas famintas, esperando apenas um comando para avançar.
Mas Kenshiro não demonstrava medo.
Com um movimento lento e calculado, ele deslizou os dedos pela borda de sua capa, revelando um livro de capa negra, decorado com padrões dourados que pareciam pulsar com uma energia própria. O Livro do Infinito.
O tempo pareceu se esticar no momento em que ele o abriu. As páginas brancas começaram a brilhar fracamente, como se a própria realidade estivesse esperando suas palavras para tomar forma. Kenshiro passou os olhos pelas linhas escritas anteriormente, e então, com um leve sorriso nos lábios, pegou a caneta presa à lombada do livro.
O Mercado Negro era um lugar de violência e traição, mas, mais do que isso, era um palco perfeito para o inesperado. E Kenshiro era o narrador daquele espetáculo.
Ele começou a escrever.
"No instante em que Iori e seus homens avançaram, sombras emergiram do chão, moldando-se em guerreiros imortais, cuja única missão era proteger Kenshiro e seus aliados. Suas armaduras eram negras como a noite, e suas lâminas brilhavam com uma luz espectral. Cada um deles possuía a habilidade de enfrentar múltiplos inimigos ao mesmo tempo, impedindo qualquer tentativa de captura ou ataque. Enquanto a batalha se desenrolava, Kenshiro, Aika e Hajime caminhavam pelo Mercado como se fossem apenas espectadores, intocados pelo conflito ao seu redor."
Assim que a caneta tocou a última letra da sentença, a realidade se dobrou para acomodar as palavras de Kenshiro.
Do chão, sombras líquidas começaram a se erguer, tomando forma diante dos olhos atônitos de todos. Guerreiros espectrais emergiram, armados com lâminas feitas de energia pura. Suas presenças emanavam uma aura de poder absoluto. Seus olhos brilhavam com uma intensidade sobrenatural, e seus movimentos eram fluidos como a própria escuridão.
Iori arregalou os olhos por um breve segundo, mas sua expressão logo se transformou em fúria. "O que diabos é isso?"
Antes que pudesse receber uma resposta, um dos guerreiros sombrios avançou sobre ele com uma velocidade aterradora. Iori ergueu sua lâmina para bloquear, mas foi lançado para trás pelo impacto da força descomunal do golpe. Seus homens tentaram reagir, mas os guerreiros invocados eram rápidos e implacáveis, movendo-se como sombras vivas, cortando o espaço com precisão absoluta.
Aika olhou para Kenshiro com um misto de surpresa e admiração. "Isso é... inacreditável."
Hajime, que já havia testemunhado os poderes de Kenshiro antes, apenas sorriu. "Ele está reescrevendo não só a batalha mas também os movimentos dos adversários antes mesmo que aconteça. Nenhum deles tem chance."
Enquanto os mercenários tentavam resistir, Kenshiro fechou seu livro e começou a caminhar calmamente pelo Mercado, como se nada estivesse acontecendo. Aika e Hajime o seguiram, seus passos ecoando suavemente no chão de concreto.
Ao redor deles, a batalha se intensificava. Gritos de desespero ecoavam pelo salão enquanto os guerreiros sombrios dançavam entre os inimigos, seus golpes certeiros e impiedosos. Sangue manchava o chão, mas nada disso importava para os três que seguiam intocados pelo caos.
A multidão, antes curiosa, agora estava paralisada pelo terror. Ninguém ousava interferir, temendo que aqueles guerreiros invocados voltassem sua atenção para eles.
Iori, mesmo sendo um dos homens mais letais sob o comando de Mori Ougai, não conseguia acompanhar os movimentos de seus oponentes. Ele tentava contra-atacar, mas cada golpe seu era aparado com precisão assustadora. Seu coração martelava no peito enquanto percebia que, pouco a pouco, a batalha estava perdida.
Finalmente, um dos guerreiros espectrais deslizou para perto de Iori e encostou a lâmina em sua garganta. Um silêncio absoluto tomou conta do salão.
Kenshiro parou na saída do Mercado e olhou por cima do ombro. Seus olhos se encontraram com os de Iori, que arfava pesadamente, suando frio.
"Isso foi apenas um aviso", disse Kenshiro, sua voz baixa, mas carregada de autoridade. "Da próxima vez que tentar me capturar, eu não deixarei ninguém vivo."
Iori cerrou os dentes, mas não disse nada. Ele sabia que não tinha escolha a não ser aceitar aquela humilhação.
Com um último olhar para seus inimigos caídos, Kenshiro, Aika e Hajime saíram do Mercado Negro como se nada tivesse acontecido.
Do lado de fora, a chuva caía suavemente sobre a cidade.
Kenshiro inspirou profundamente, sentindo o cheiro de terra molhada e fumaça no ar. Ele fechou o Livro do Infinito e guardou-o sob sua capa. O poder que carregava consigo era grande, mas ele sabia que deveria usá-lo com cautela. Alterar a realidade não era algo que se fazia sem consequências.
Aika ajeitou o capuz e olhou para Kenshiro com um sorriso. "Acho que conseguimos o que queríamos e um pouco mais."
Hajime riu suavemente. "Sim, agora somos oficialmente alvos da máfia do porto. Parabéns, Kenshiro."
Ele apenas sorriu de canto. "Eles já estavam atrás de nós. Isso só acelera as coisas."
Kaoru, que os esperava em um carro estacionado próximo, ergueu uma sobrancelha ao vê-los se aproximando. "Vocês estão inteiros, pelo visto. Algum problema?"
"Não", respondeu Kenshiro, abrindo a porta do carro. "Apenas mudamos a história um pouco."
Kaoru franziu a testa, mas não questionou. Apenas ligou o motor e acelerou pela estrada molhada, desaparecendo na escuridão da noite.
Mas uma coisa era certa.
Mori Ougai sabia que eles estavam interferindo.
E agora, a verdadeira guerra estava prestes a começar.