O sol surgia no horizonte, banhando a vasta paisagem de Myriath com uma luz dourada. Arthur seguiu Elara por uma trilha sinuosa que cortava os campos verdes, ainda impressionado com a vivacidade daquele mundo. O ar parecia mais puro, cada folha reluzia como se estivesse coberta de joias líquidas, e o céu possuía tons de azul que ele nunca havia visto. Ainda assim, o peso do que acabara de aceitar o pressionava como uma armadura invisível.
"Você está bem, Arthur?" perguntou Elara, sem virar-se.
"Bem é uma palavra forte," respondeu ele, chutando uma pedra no caminho. "Ontem eu estava no meu apartamento, e hoje estou em um mundo que parece saído de um conto de fadas. Isso é um sonho, não é?"
Elara parou, olhando para ele com seus olhos brilhantes e sérios. "Não é um sonho, Arthur. E Myriath precisa de você. Mas entendo que isso é muito para absorver. Talvez você se sinta mais preparado após conhecer alguns de nossos aliados."
Arthur arqueou uma sobrancelha. "Aliados? Que tipo de gente decide seguir um cara que não sabe nem segurar uma espada direito?"
Elara apenas sorriu antes de continuar andando.
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A primeira parada foi em uma vila chamada Andurion, localizada no sopé de uma cadeia de montanhas cobertas de neve. A vila era um pequeno aglomerado de casas de pedra, com telhados de palha e chaminés que soltavam fumaça. O som de martelos ecoava da ferraria, e crianças corriam pelas ruas de terra, rindo e brincando.
Ao entrarem na vila, Arthur notou os olhares curiosos. Algumas pessoas cochichavam, outras sorriam e acenavam para Elara. Mas os olhares que ele recebia eram cautelosos, desconfiados.
"O povo de Andurion é simples, mas são leais," explicou Elara. "Eles têm sofrido ataques constantes das criaturas do Rei Demônio, mas nunca abandonaram seu lar."
Arthur viu as marcas dessa resistência: paredes reforçadas com madeira e metal, torres de vigia improvisadas, e soldados armados patrulhando as ruas. Mesmo assim, havia um clima de esperança, como se a simples presença de Elara trouxesse um pouco de alívio.
"Venha," disse Elara, guiando-o até uma estalagem no centro da vila.
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Dentro da estalagem, o cheiro de pão fresco e carne assada invadiu os sentidos de Arthur. Sentados ao redor de uma mesa estavam duas figuras que chamaram sua atenção.
O primeiro era um homem alto, com cabelos negros amarrados em um rabo de cavalo e um manto cinzento que mal escondia uma espada longa em sua cintura. Seus olhos eram afiados, como se analisassem cada detalhe da sala.
A segunda era uma jovem, talvez da mesma idade de Arthur, com cabelos ruivos curtos e olhos dourados que brilhavam como chamas. Ela usava um traje leve, adornado com runas que brilhavam fracamente, e segurava um cajado de madeira negra.
"Elara," disse o homem, levantando-se. Sua voz era profunda e firme. "Você voltou."
"E trouxe o Escolhido," respondeu Elara, gesticulando para Arthur.
Arthur sentiu todos os olhos se voltarem para ele, e o peso da expectativa o atingiu. Ele deu um sorriso sem graça e acenou. "Oi."
O homem cruzou os braços. "Você é o Herói? Não parece ser grande coisa."
"É, obrigado pela recepção calorosa," respondeu Arthur, cruzando os braços também.
Elara interveio. "Arthur, este é Kael, um espadachim e estrategista. Ele é desconfiado, mas já salvou muitas vidas. E esta é Lyra, uma maga especialista em encantamentos."
Lyra sorriu, levantando-se. "Prazer em conhecê-lo, Arthur. Não se preocupe, Kael age como um urso mal-humorado, mas no fundo ele é uma boa pessoa."
Kael bufou, mas não respondeu.
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Após a introdução, o grupo se reuniu para discutir o plano. Elara explicou que o próximo passo era viajar até o reino de Eldoria, onde poderiam buscar o apoio do Rei Eldrin para formar uma resistência contra Zarathor. Mas o caminho até lá era perigoso, com florestas infestadas de monstros e patrulhas das forças do Rei Demônio.
"Se vamos viajar juntos, quero saber o que você pode fazer," disse Kael, olhando para Arthur.
Arthur deu de ombros. "Bom, ontem eu matei um monstro com uma espada mágica. Isso conta?"
Kael revirou os olhos. "Você precisa mais do que sorte para sobreviver aqui. Vamos treinar."
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No campo fora da vila, Kael desafiou Arthur a um duelo de prática. Ele entregou uma espada de treino e assumiu posição com a sua própria. Arthur segurou a espada com mãos trêmulas, tentando lembrar-se do que fizera na noite anterior.
"Vamos ver do que você é feito," disse Kael, avançando.
Os golpes de Kael eram rápidos e precisos, e Arthur mal conseguia bloquear. Em pouco tempo, ele estava no chão, ofegante, enquanto Kael permanecia ileso.
"Você é lento e previsível," disse Kael. "Se continuar assim, será morto na primeira batalha real."
Arthur sentiu o sangue ferver. "Eu não pedi para estar aqui, tá bom? Estou fazendo o melhor que posso!"
Kael arqueou uma sobrancelha, mas antes que pudesse responder, Lyra interveio.
"Kael, talvez você deva dar um tempo. Ele acabou de chegar aqui."
Kael suspirou, guardando a espada. "Talvez, mas este mundo não perdoa fraquezas. Espero que ele aprenda isso rápido."
Arthur ficou em silêncio, olhando para o céu enquanto o grupo voltava para a vila. Ele sabia que Kael estava certo, mas as palavras do espadachim ainda doíam. Se quisesse sobreviver – e salvar Myriath – precisaria ser muito mais do que era agora.
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Naquela noite, enquanto todos dormiam, Arthur saiu para a floresta. Levava a espada de treino consigo, determinado a melhorar. Ele começou a praticar os movimentos que havia visto Kael fazer, errando mais do que acertando, mas recusando-se a desistir.
Foi quando sentiu algo estranho. O ar ao redor parecia vibrar, e ele ouviu um sussurro, como uma voz chamando seu nome. Ele seguiu o som, chegando a uma clareira onde uma pedra brilhava com símbolos dourados.
Ao tocá-la, uma onda de energia percorreu seu corpo, e visões invadiram sua mente: batalhas antigas, guerreiros lendários, e um poder adormecido dentro dele, esperando para ser despertado.
Quando voltou à vila, havia algo diferente em seus olhos. Um brilho de determinação que não estava lá antes.
E assim, Arthur deu o próximo passo em sua transformação, embora mal soubesse que cada avanço o aproximava de desafios ainda maiores.