Chereads / A pequena aventura de um Brasileiro em outro mundo. / Chapter 4 - Capítulo 4: O Sussurro do Destino

Chapter 4 - Capítulo 4: O Sussurro do Destino

A manhã seguinte trouxe um céu encoberto, com nuvens cinzentas espalhando uma luz pálida sobre as Terras Cinzentas. O grupo continuava sua jornada rumo a Eldoria, mas os acontecimentos da arena ainda pairavam na mente de Arthur. Ele agora carregava uma nova convicção, mas também uma crescente inquietação. Havia algo naquela experiência que parecia maior do que ele podia compreender.

Elara caminhava ao seu lado, sua postura firme contrastando com a serenidade de sua expressão. Arthur hesitou antes de falar.

"Elara, aquelas coisas que enfrentei no labirinto... eram reais ou eram apenas ilusões?"

"Ambos," respondeu ela, sem desviar os olhos do caminho. "O labirinto desperta os medos mais profundos de quem o atravessa. Eles não têm substância fora da arena, mas o impacto que deixam em você é muito real."

Arthur assentiu, mas a resposta não o satisfazia. Ele podia jurar que havia algo mais nas sombras que enfrentara, algo que o observava... e esperava.

---

A Floresta de Eldwyn

A estrada levava o grupo até a Floresta de Eldwyn, uma vasta extensão de árvores antigas que pareciam tocar o céu. A luz do sol mal conseguia atravessar o dossel de folhas, e o som de pássaros e pequenos animais ecoava ao longe.

"Cuidado," avisou Kael, colocando a mão no cabo de sua espada. "Esta floresta é traiçoeira. Criaturas que servem ao Rei Demônio espreitam por aqui."

Arthur olhou ao redor, sentindo os pelos de sua nuca se arrepiarem. Cada sombra parecia esconder algo, e o silêncio que às vezes caía sobre o grupo era quase ensurdecedor.

Enquanto caminhavam, Elara começou a contar a história de Eldwyn.

"Esta floresta já foi um lugar de paz, onde dríades e outras criaturas mágicas viviam em harmonia com os humanos. Mas, quando Zarathor ascendeu ao poder, ele corrompeu muitos dos seres daqui, transformando-os em servos de sua vontade sombria."

"E não há como desfazer isso?" perguntou Arthur.

"Elara acredita que sim," interveio Lyra, ajustando seu cajado. "Mas ninguém sabe ao certo. A corrupção de Zarathor é profunda, como uma praga que se espalha por tudo que toca."

Arthur sentiu o peso dessas palavras. Cada passo que dava em Myriath parecia aproximá-lo de um inimigo que era mais do que apenas uma figura de poder – era uma força que contaminava tudo.

---

O Encontro com o Guardião

No coração da floresta, o grupo chegou a uma clareira onde uma antiga árvore erguia-se majestosamente. Suas raízes se espalhavam como rios petrificados, e sua copa parecia um manto verde esmeralda. No centro, um espírito brilhava com uma luz dourada.

Elara ajoelhou-se, inclinando a cabeça em respeito. "Guardião de Eldwyn, viemos buscar sua sabedoria e auxílio em nossa missão contra Zarathor."

O espírito materializou-se em uma forma humanoide, com feições serenas e olhos que brilhavam como estrelas. Sua voz ecoou como o vento entre as árvores.

"Elara, escolhida da luz. Vejo que você trouxe o Herói. Ele carrega um grande potencial... e um grande fardo."

Arthur deu um passo à frente, nervoso. "Você sabe quem eu sou?"

"O Destino o trouxe aqui, jovem guerreiro. Mas ainda está incerto se você será a salvação de Myriath... ou sua ruína."

As palavras do Guardião caíram como um trovão, e Arthur sentiu um frio percorrer sua espinha. "O que isso significa?"

"Seu coração é forte, mas há dúvidas e medos que podem ser usados contra você. Zarathor é mestre em manipular fraquezas. Você deve encontrar sua verdadeira força antes de enfrentá-lo."

---

A Provação do Guardião

Antes que pudessem continuar, o Guardião declarou que Arthur deveria passar por uma provação. Ele seria levado a uma dimensão criada a partir de suas memórias e emoções mais profundas, onde enfrentaria algo essencial para seu crescimento.

Arthur hesitou, mas sabia que não havia como recuar. Ele fechou os olhos, e uma luz envolveu seu corpo.

Quando os abriu novamente, estava em um campo vasto, semelhante ao que conhecia do Brasil, mas distorcido de maneira surreal. As cores eram vibrantes demais, e o vento carregava sussurros indistintos.

No centro do campo estava uma figura que ele reconheceu imediatamente: era ele mesmo. Ou melhor, uma versão distorcida, com olhos vermelhos brilhantes e um sorriso cruel.

"Então, aqui estamos," disse a figura, sua voz gotejando sarcasmo. "O grande Herói de Myriath. Parece mais um garoto perdido."

Arthur sacou sua espada, tentando ignorar o tremor em suas mãos. "Quem é você?"

"Eu sou você," respondeu o reflexo. "Ou melhor, a parte de você que não quer admitir que está aterrorizado. Que sente falta de casa. Que acha que nunca será bom o suficiente para salvar este mundo."

O reflexo avançou, sua espada encontrando a de Arthur com força. A luta foi intensa, cada golpe carregado com o peso das palavras da figura. Arthur percebeu que não era apenas uma batalha física, mas também uma batalha contra suas próprias dúvidas.

Enquanto lutava, lembrou-se das palavras de Elara, Lyra e até mesmo Kael. Eles acreditavam nele, mesmo que ele não acreditasse em si mesmo.

"Eu posso ser fraco," gritou Arthur, bloqueando um golpe e contra-atacando. "Mas não estou sozinho. E isso é mais do que suficiente para continuar lutando!"

Com um golpe final, o reflexo dissipou-se em uma onda de energia.

---

O Retorno

Arthur voltou à clareira, ajoelhado e ofegante. O Guardião observava-o com uma expressão de aprovação.

"Você deu um passo importante, jovem Herói. Mas lembre-se: sua jornada está apenas começando."

Elara ajudou Arthur a se levantar. "Você está bem?"

"Mais ou menos," respondeu ele, com um sorriso cansado. "Mas acho que finalmente entendi o que você quis dizer sobre força verdadeira."

O Guardião entregou a Arthur uma pequena pedra azul brilhante, dizendo que ela continha a bênção da floresta e o ajudaria em sua jornada.

Com isso, o grupo seguiu em frente, deixando a Floresta de Eldwyn para trás. Arthur sentia-se mais preparado, mas sabia que as provações à sua frente seriam ainda mais difíceis.

E, no fundo, uma pergunta ainda o atormentava: ele realmente estava destinado a salvar Myriath, ou seria consumido pelo mesmo poder que deveria derrotar?