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ForuthForPeace
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Synopsis
Em um mundo marcado pela queda dos deuses e pela ascensão da escuridão, Kaelos, um deus banido, busca vingança contra aqueles que o traíram. Após uma batalha brutal contra Iskren, um dos últimos deuses, Kaelos se vê marcado por um destino incerto e sua própria essência dilacerada. Com o corpo desmoronando e sua alma em conflito, ele enfrenta a luz da jovem Elys, cujo poder está entrelaçado com o de Kaelos, e cujo destino está selado com o dele. Enquanto as forças do caos e da luz se enfrentam, Kaelos se vê forçado a tomar decisões cruéis e radicais para sobreviver. Entre traições, sacrifícios e batalhas insanas, Kaelos precisa reconstruir o que foi perdido e confrontar seu próprio passado.
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Chapter 1 - Despertar da escuridão

Os passos de ferro enferrujados rangiam na areia cinza, um som metálico que se espalhava como ecos de um lamento perdido. Crrrreeeekk, clank, clank. Cada movimento ressoava com a dor de um passado distante, com a reverberação de uma esperança há muito extinta. A areia, mais do que simples grãos, era composta das cinzas de sonhos quebrados, esquecidos na eternidade do desespero.

Kaelos caminhava nesse vazio de fúria e abandono, sua armadura fusionada à carne, como uma prisão de metal, corroída não apenas pelo tempo, mas pela dor de uma existência sem sentido. Ele era a armadura, e, tal como ela, sua alma se tornara um fragmento enferrujado, distorcido, irreconhecível. Seu corpo era uma colcha de retalhos de ferro e carne, esquelético, desconectado da humanidade, condenado à apatia. O tato? Desaparecera, roubado pelo ferro que o aprisionava. Não mais sentia o calor do sol, nem o frio da noite. Sentia apenas o peso de sua existência, como uma âncora submersa nas águas turvas da indiferença.

A magia que o selava em seu corpo também o amarrava a um destino inevitável, uma morte que se arrastava como a ferrugem sobre suas entranhas. Estúpido, inútil, torturado, pensava. E, ainda assim, caminhava. Não havia escolha. Não havia escape. Seus passos se afundavam na areia, a cada um, uma nova camada de desesperança enterrada sob os pés de um ser já perdido para o mundo.

O destino, porém, o conduzia à Cidade de Nyvern. Nyvern, a morada da destruição, onde o metal e a carne humana se fundiam em uma grotesca simbiose, como se a terra, em sua decadência, tivesse engolido os próprios habitantes. Governada por Iskren, o Deus da Desesperança, uma entidade cujo corpo nunca fora visto, escondido por um véu negro, etéreo, como uma fumaça que se desfez no vento. Um ser cujos olhos nunca existiram, mas que, paradoxalmente, dominava a cidade com um poder absoluto, feito de ferro e carne humana entrelaçados. Metal, sangue, ruína, tudo se fundia sob sua égide.

As construções de Nyvern, uma distorção grotesca da vida e da morte, erguiam-se como cadáveres de aço, humanos misturados com ferro, um pesadelo materializado. Em cada parede, em cada esquina, se podia ver o reflexo de um ser moldado pelo sofrimento, um monumento à crueldade de um deus que encontrava prazer no controle, no esmagamento da alma humana.

Kaelos, em sua caminhada sem fim, sabia que seu destino estava entrelaçado a esse lugar. Um destino que era mais uma sentença do que uma escolha. A esperança que o guiava? Talvez ela já fosse também uma ilusão, dissolvida no ar daquelas areias cinzas.

Quando Kaelos chegou à aldeia, o ar estava impregnado com o cheiro nauseante de sangue e desespero. Os gritos ecoavam, urrando como feras famintas, uma mistura de raiva e dor que preenchia cada canto do lugar. O ódio estava no ar, espesso e denso, como se o próprio ambiente fosse um reflexo do rancor que os aldeões sentiam por ele. Um deus banido, um deus caído, carregando consigo o fardo de um mundo que ele mesmo destruíra. Clang, clang, os passos de ferro sobre a areia cinza se tornaram mais pesados à medida que Kaelos avançava.

A presença de Kaelos era uma sombra que se estendia sobre a aldeia, mas havia uma figura que se destacava à distância: Elys. Ela era pequena, uma jovem loira com cabelos como raios de sol, mas havia algo em sua postura, algo que dizia que ela não permitiria que Kaelos fosse mais do que um eco distante, um deus caído, insignificante para seus olhos.

Mas Kaelos não podia se importar com ela. Seus olhos se fixaram em uma cena grotesca, distante, mas nitidamente clara à medida que a escuridão tomava forma diante de seus olhos. Um bando de carniçais, monstros feitos de carne putrefata e ossos expostos, devoravam o corpo de um mercador. Não eram mais humanos, mas criaturas deformadas, uma tortuosa mistura de podridão e desespero.

As bocas dos carniçais, abertas em ângulos impossíveis, chupavam o cadáver como se fosse uma refeição divina. O som era horrível, chomp, chomp, glub, cada mordida ecoando no ar como um feixe de dor. Seus corpos, distorcidos, eram cobertos por peles pálidas e esticadas, a carne sobre os ossos pendendo como trapos envelhecidos, com os dedos afiados e retorcidos se enterrando nas entranhas do mercador, rasgando e mastigando com uma violência animalesca. A carne deles, um espetáculo de podridão e deformação, pulsava de dentro para fora, como se a própria natureza tentasse engolir aquilo de volta. Suas peles eram uma tapeçaria grotesca de marcas, feridas e cicatrizes que se arrastavam em linhas sinuosas, como se fossem cicatrizes do próprio inferno. Splat, a carne se rasgava, o sangue escorrendo como um rio sujo que não se cansava de fluir.

Mas havia algo mais ali, algo que Kaelos percebeu com um arrepio frio na espinha: do corpo do mercador, uma fina linha de escuridão se erguia, quase como um fio, algo invisível aos olhos comuns, mas não aos dele. Era o que restava da alma do mercador, um vestígio, uma sombra de vida que ainda tentava escapar da carne destroçada.

Com um movimento fluido, Kaelos se aproximou, seus passos pesados como a própria morte. A escuridão se esticava, retorcendo-se como uma serpente faminta. Ele estendeu a mão, e o fio de escuridão entrou em sua palma com um sibilo quase inaudível. Era um toque gelado, uma sensação de frio que não se via no mundo físico, mas que congelava a alma. O fio se contorcia, como se estivesse vivo, e Kaelos sentiu um arrepio de poder percorrendo seu corpo, sentindo a agonia de uma vida sendo arrastada de volta à escuridão, para onde ela nunca deveria ter ido.

Ele puxou, e a escuridão se desenrolou como uma corda de desespero, uma força que o puxava para dentro da carne do mercador. Cada puxão era um pedaço da vida dele sendo arrancado, uma tortura invisível e cruel que fazia o próprio ar vibrar com a dor. Fffshhhhhhhhhh. A alma, como um resto que ainda tentava se agarrar à luz, foi consumida por Kaelos, sua essência se esvaindo nas profundezas do abismo. O fio de escuridão, agora grosso e pulsante como um tentáculo envenenado, se apertou em suas mãos, e ele sentiu a última centelha de vida desaparecer, se tornando nada mais que um eco distante.

Kaelos soltou a alma absorvida, e com um olhar sombrio, contemplou o bando de carniçais que agora o encaravam. Seus olhos eram buracos vazios, como cavernas, mas Kaelos não teve tempo de processar aquilo. Em um movimento impiedoso, ele os esmagou, um a um, com a força de um deus desolado. O som de ossos quebrando e carne sendo esmagada ecoou pela aldeia como um trovão, crack, squish, pop. Ele não se importava com a morte de cada um deles. Eles eram apenas relíquias de um tempo esquecido.

E no fim, Kaelos ficou ali, rodeado pelo cheiro de carne podre e ruína, segurando o último vestígio de escuridão, agora entre suas mãos como um pedaço de maldição e finalmente a absorvendo.

Kaelos seguiu sem pressa, seu corpo de ferro rangendo, a cada passo um clank que ressoavam pela terra cinza. Ele não sentia, mas o peso da jornada ainda o puxava, como um fardo invisível. Seu corpo, ainda mais pesado com o poder recém-adquirido, havia se tornado um reflexo da sua própria decadência. Mas mesmo com tudo isso, ele caminhou. O som dos passos ecoava em sua mente, vazio, mas com uma ironia amarga que ele não queria confrontar. Ele estava chegando em Nyvern.

A cidade se erguia diante dele como um pesadelo materializado. As portas se abriram misteriosamente, creeeek, como se a cidade soubesse que ele estava ali, que ele não precisava ser convidado. Um convite não seria necessário para um deus caído. A cidade o recebeu com um silêncio gélido, os habitantes, deformados, com órgãos expostos e carne corroída pelo ferro, olhavam-no com uma apatia mórbida. O ar parecia pesado, saturado de um poder negro, uma energia que o envolvia e lhe fazia lembrar que estava sendo observado. Clink. O som do metal contra metal, uma sinfonia de destruição.

Kaelos não se importava. Nada mais importava. Ele caminhou pelas ruas, alheio ao grotesco espetáculo à sua volta, até que, em meio à cidade, surgiu Azegoth. Ele não precisava olhar para saber quem era, o peso da presença era claro. Azegoth, o mendigo, aquele que um dia servira como leal soldado, agora estava de pé, olhando para Kaelos com uma expressão distorcida de superioridade. Sua voz, uma mistura de ferrugem e vento, foi o primeiro som que Kaelos ouviu, mas não se importou com o que ele disse: "Saia daqui, merdinha, você não é digno de pisar..."

Mas antes que Azegoth pudesse concluir sua sentença, Kaelos atacou. Ele saltou em direção ao antigo aliado, sua espada brilhando com uma fúria sem fim, cortando o ar como um grito de angústia. Shhh Rip. O metal da espada encontrou a pele de Azegoth, mas foi interrompido, um som metálico e abafado, como se a lâmina tivesse batido contra ferro. O corpo de Azegoth tremeu, e ele riu, um riso estranho, distorcido, vindo de uma boca cheia de dentes afiados. Grnnnkkk. Ele moveu um braço gordo, flácido e mole, e, com um movimento brusco, lançou Kaelos contra uma parede, os ossos de Kaelos rangendo como se estivessem quebrando, mas ele não sentiu.

Azegoth abriu sua boca, revelando dentes do tamanho de braços humanos, e arrancou um de seus próprios dentes, jogando-o contra Kaelos. O dente voou com velocidade, cortando o ar como um projétil de desespero. Kaelos tentou esquivar-se, mas foi atingido no ombro, um golpe brutal. Mas Kaelos não sentiu. Ele não sentia mais nada. Ele viu a mulher grávida, desamparada, perto deles. Kaelos, em um impulso selvagem, a pegou e a lançou na frente dos dentes de Azegoth, empurrando-a em direção ao monstro. A mulher foi engolida com um único movimento de Azegoth, o som de seus dentes se fechando ecoando como uma sentença final.

O cenário se tornava cada vez mais grotesco, mas algo dentro de Kaelos despertou. Ele não podia mais esperar. O ódio o consumia, a necessidade de destruir, de acabar com Azegoth de uma vez por todas. Ele avançou, alternando entre ataques rápidos e pesados, cada golpe era uma tentativa de espremer o próprio veneno que ele sentia dentro de si. Ele saltou para o rosto de Azegoth, como um animal selvagem, fingindo desespero, gritando com a boca aberta. Azegoth abriu a sua boca monstruosa, preparado para engolir Kaelos.

Mas foi ali, dentro daquela boca pútrida, que Kaelos encontrou sua chance. O feto da mulher grávida estava sob seus pés, esmagado, mas isso não o impediu. Ele pisou sobre a pequena vida e, sem se importar com a cena horrível, rasgou o corpo de Azegoth de dentro para fora. O metal que compunha Azegoth tentou se defender, mas foi inútil. Kaelos estava em um frenesi suicida, cada lâmina de dor que cortava sua pele parecia alimentá-lo, fortalecê-lo. Ele não sentia dor. A espada rasgava tudo à sua frente.

A carne se rasgava, os metais se retorciam, até que Kaelos alcançou o que restava da cabeça de Azegoth. Com um grito de pura raiva, ele cravou sua espada nos olhos de Azegoth, atravessando o crânio. O metal e carne se partiram com um som horrível de crack. A espada penetrou profundamente, e, como uma esponja, começou a absorver a escuridão de Azegoth, uma escuridão que Kaelos não compreendia totalmente, mas sentia como uma força a se expandir dentro dele. A escuridão era poder, uma energia primitiva que os deuses usavam, e Kaelos, como uma criança faminta, devorava. O poder o invadiu, e ele sentiu uma nova força crescendo dentro de seu corpo. Mas ele não tinha controle total. Apenas fragmentos.

Ele sentiu o poder do metal invadir seus ossos, sua espada agora pulsando com a capacidade de controlar a matéria. Ele sabia que era limitado, mas isso não o impediu de sentir uma parte do poder de Azegoth correndo através de suas veias de ferro.

Kaelos olhou para o corpo mutilado de Azegoth e, pela primeira vez em muito tempo, sentiu uma pontada de satisfação.

Do corpo mutilado de Azegoth, uma fenda surgiu. O portal se abriu com um ripple suave, como uma água negra rompendo a superfície de um lago imenso. A primeira coisa que Kaelos viu foi o brilho âmbar de dentes afiados, amarelos como os ossos de um cadáver antigo, tentando rasgar as suas pernas. Eles se aproximavam com a rapidez de um predador faminto, estalando com uma violência grotesca. Clink. Mas Kaelos foi rápido, desviando sem nem ao menos olhar para o ataque, com a graça de um espectro.

Então, uma mão gigantesca, formada por um véu negro que parecia destilar a própria escuridão, emergiu do portal com um som de whhhhhhh. Era a mão de Iskren, monstruosa e com dedos tão longos que pareciam garras de ferro, arranhando o ar com a mesma fúria de uma tempestade. A palma da mão parecia engolir o próprio espaço, como se o vazio tivesse se materializado ali. 

E então, a voz de Iskren ressoou por toda a cidade, uma risada profunda que reverberava até os ossos de Kaelos, hahaha... um som que parecia sair do próprio abismo. "Haha, quer mesmo tentar?" Sua voz distorcida fez o ar tremer, como se o próprio mundo estivesse se curvando ao poder dele.

Kaelos não hesitou. Seu corpo de ferro se moveu com um clank abafado, avançando contra a gigantesca mão de Iskren. Ele tentou cortar, a lâmina da sua espada brilhando com o reflexo da luz moribunda que ainda restava em Nyvern, mas nada aconteceu. A espada ricocheteou contra o véu negro, shilling, o som do metal raspando sobre algo impenetrável. O véu de Iskren parecia engolir sua lâmina, como se o próprio tecido estivesse absorvendo o golpe.

E então, Kaelos viu. O que se revelou diante dele não era apenas uma sombra ou uma silhueta. Era Iskren em sua forma completa, uma entidade que se estendia mais alto que qualquer torre de Nyvern, sua presença eclipsando tudo ao redor. Ele parecia feito de vapor e escuridão, seu corpo quase indistinguível do próprio véu que o envolvia, como se fosse uma manifestação de uma noite sem fim. Seus olhos, ou melhor, os espaços onde seus olhos deveriam estar, eram dois buracos profundos de puro vazio, tudo ao redor deles distorcido pela imensidão de sua presença.

E então veio o ataque. A velocidade com que Iskren se moveu foi algo que Kaelos não conseguiu processar, um raio de escuridão que atravessou o ar com a rapidez de um pensamento. Whhhhoosh — o som do ataque era quase impossível de capturar, uma distorção no espaço, um corte no tempo. Kaelos mal teve tempo de reagir antes de ser atingido, o impacto esmagador o acertando com uma força brutal, como se o próprio conceito de velocidade tivesse se tornado uma arma. 

O golpe o atingiu com tal intensidade que Kaelos mal conseguiu entender o que aconteceu. O impacto foi como o som de uma tempestade quebrando o silêncio, crack, boom, o peso de um mundo desabando sobre ele. O ferro de sua armadura estremeceu, seus ossos, embora resistentes, cederam por um momento, e ele sentiu algo se partir dentro de si. O sangue jorrou em um fluxo macabro, como tinta vermelha saindo de uma pintura amaldiçoada. Seu corpo foi lançado, atirado para fora da cidade com a força de um deus enfurecido, arrastando a terra e destruindo tudo em seu caminho. Boom, boom, boom — o som de seu corpo destruindo tudo ao redor, até finalmente pousar no chão, como uma rocha quebrada.

Kaelos estava arruinado. Ele podia sentir a morte rastejando ao seu redor, uma presença fria e inescapável, com a areia manchada de sangue e metal caindo sobre seu corpo. Drip, drip, o som da sua carne e da sua armadura se dilacerando. O sangue formava poças no chão, tingindo tudo ao seu redor de um vermelho sombrio. A dor, algo que ele já não sentia há muito tempo, estava agora presente, em cada pedaço do seu ser, uma sensação nova e insuportável, como um milhão de facas perfurando sua carne.

Mas, então, uma voz interrompeu a escuridão. Suave, feminina, como um sussurro que rasgava a espessa cortina de dor que o envolvia. "Não vou deixar você morrer, relaxe..." Era uma voz jovem, doce, mas com uma firmeza inegável. Ela cortou através do caos e da destruição como uma lâmina afiada, como se a própria vida estivesse tentando resgatar Kaelos da morte iminente. Ele não soube de onde vinha, mas a sua presença era como um feixe de luz atravessando a escuridão mais densa.