Anna ajustava cuidadosamente o ventre falso em frente ao espelho, inclinando a cabeça para verificar cada detalhe. O tecido esticado do vestido destacava a barriga de maneira convincente, e o reflexo que ela via era de perfeição calculada.
Cada linha de expressão, cada gesto, estava ensaiado até o último detalhe.
Ela sabia que não havia espaço para erros. Anna havia passado anos aperfeiçoando a arte da manipulação, mas sabia que Thomas não era um alvo fácil. Ele desconfiava de cada gesto dela, e isso tornava o jogo mais perigoso.
— Thomas sempre foi desconfiado... — murmurou, alisando os cabelos impecavelmente penteados. — Mas todo mundo tem um ponto fraco. Ele também terá.
— Eu só preciso que ele acredite... pelo menos por um tempo — murmurou, respirando fundo antes de sair.
Um suspiro longo escapou de seus lábios. Anna sentiu o peso da situação, mas a ambição dentro dela era maior do que qualquer dúvida. Desde que começara a planejar essa farsa, não deixara nada ao acaso. Seus passos eram meticulosamente calculados, e o risco fazia parte do jogo.
No hospital, Anna caminhava pelos corredores com a postura ereta e a confiança de quem sabia moldar a narrativa ao seu favor. Quando chegou à sala de reuniões onde sabia que Thomas estaria, hesitou por um breve instante. Então, respirou fundo, ajeitou o vestido e empurrou a porta.
Thomas estava curvado sobre uma pilha de relatórios. Ele levantou o olhar quando a porta se abriu. Seus traços, sempre sérios, endureceram ainda mais ao vê-la entrar.
— Anna... — disse secamente, sem sequer esconder a exasperação. — O que você quer agora?
Anna fechou a porta atrás de si com um sorriso calculado. Sentia a tensão no ar, mas também a adrenalina que vinha com a possibilidade de manipular a situação.
— Não quero incomodar, Thomas, mas precisamos conversar. É importante.
Sua voz soou firme, mas o tom escolhido sugeria uma vulnerabilidade cuidadosamente construída. Ela pousou uma das mãos no ventre falso, como se precisasse proteger algo precioso.
— Eu estou grávida... e o filho é seu.
O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Thomas permaneceu imóvel por alguns instantes, mas seu olhar crítico varria cada detalhe dela. Ele estreitou os olhos e apoiou-se na mesa, analisando-a como se tentasse enxergar além das palavras.
— Isso é impossível — afirmou com frieza, a voz como uma lâmina.
Anna respirou fundo, deixando que seus olhos brilhassem com lágrimas falsas. Deu um passo à frente, como se estivesse machucada pela descrença dele.
— Eu sabia que você duvidaria... não esperava outra reação. Mas aconteceu naquela noite, depois da cerimônia.
Ela fez uma pausa, deixando que o silêncio desse peso às suas palavras, antes de continuar:
— Eu sei que você me odeia, Thomas. E não o culpo por isso. Mas mentir sobre algo assim? Eu não faria isso. Achei que devia contar a verdade antes que soubesse por outra pessoa.
Thomas esfregou as têmporas, tentando manter a calma.
— Anna, vamos cortar o teatro. Se você está realmente grávida de um filho meu, um exame de DNA resolverá tudo. Até lá, não tenho mais nada a dizer.
— Se você acha que isso vai mudar algo entre nós, está enganada. Eu não confio em você. Não vou acreditar sem provas.
Anna percebeu que Thomas não cederia facilmente, mas sabia que não podia demonstrar fraqueza. Afastou o olhar por um momento, respirando fundo para recuperar o controle. Quando falou novamente, sua voz estava mais suave, mas ainda carregava um tom de mágoa ensaiada.
Thomas permaneceu impassível, o rosto inabalável.
Anna tocou o ventre falso, como se estivesse protegendo algo precioso.
— Eu só queria ser sincera com você. Não estou pedindo nada... apenas pensei que deveria saber antes que alguém te dissesse. Podemos enfrentar isso juntos. Talvez... talvez essa seja a chance de reescrever nossa história.
— Anna, você já sabe minha posição. Nós não somos um casal, nunca fomos, nem nunca seremos. Se esse bebê for realmente meu, faremos um exame quando nascer. Até lá, guarde sua energia para outra coisa.
Ela tentou suavizar o tom, mudando de estratégia.
— Tudo bem, Thomas, eu entendo. — respondeu com um aceno lento. — Você quer provas? Está no seu direito.
Seu sorriso era fraco, mas havia um brilho perigoso em seus olhos. — Eu só achei que devia contar a verdade. Achei justo que você soubesse.
Thomas voltou a atenção para os relatórios sobre a mesa.
— Espere os resultados, Anna. É isso.
O rosto dela endureceu por um breve instante. O sangue ferveu em suas veias. Ela contava com hesitação ou até um vislumbre de dúvida, mas Thomas permaneceu inflexível.
Quando deixou a sala, o desespero escondido por trás de sua máscara de serenidade começou a borbulhar. Sabia que convencer Thomas seria mais difícil do que imaginava, mas isso apenas alimentava sua determinação. Ele era a chave para o futuro luxuoso que ela sempre almejou.
Embora seus pais ainda enviassem uma mesada generosa, Anna queria mais. E, na verdade, a quantia era destinada às duas irmãs, mas ela jamais dividiu o dinheiro com Sarah. Primeiro porque não sabia onde Sarah estava, e agora, sabendo, não tinha a menor intenção de compartilhar.
— Na verdade... quero me livrar dela de uma vez por todas — murmurou.
Anna sabia que o bebê de Sarah era sua chance de ouro. Mas o desafio seria garantir que ninguém, nem mesmo Thomas, soubesse da verdade.