Nos primeiros dias, Sarah vagou pela casa de campo como uma sombra, explorando cada canto em busca de algo que lhe devolvesse a sensação de controle. As paredes em tons claros e a decoração elegante eram incapazes de mascarar o peso sufocante do confinamento.
Ela passava longos minutos diante das janelas gradeadas, observando o mundo lá fora. Sonhava com o vento acariciando seu rosto e com a sensação de liberdade que agora parecia um sonho distante.
— Eu costumava amar jardins — murmurou, passando a mão na barriga com delicadeza. — Um dia, nós dois vamos correr juntos por um...
Com o passar dos dias, a solidão deu lugar a lembranças que ardiam como feridas abertas. As risadas compartilhadas com Anna quando na infância agora eram apenas ecos distantes de um tempo que parecia pertencer a outra vida.
Sarah se lembrou de quando Anna era sua heroína, sua protetora contra os pesadelos e os temores infantis, antes de se transformar nessa figura fria e calculista.
O silêncio opressivo da casa fazia suas memórias ressoarem ainda mais alto, como uma sinfonia dolorosa que ela não conseguia silenciar.
— Fui tola por acreditar que ela poderia ter mudado — pensou Sarah, sentindo uma pontada aguda de arrependimento e tristeza.
Para manter a sanidade, Sarah criou uma rotina: fazia exercícios leves para fortalecer o corpo debilitado e conversava com o bebê, como se ele pudesse escutar cada palavra.
— Você e eu, juntos, vamos sair daqui — dizia em voz alta, como uma promessa.
Mesmo sem apetite, forçava-se a comer as refeições deixadas por Anna. Precisava ser forte, não apenas por si mesma, mas pelo bebê que carregava.
Em uma de suas caminhadas solitárias pela sala, seus olhos se detiveram em uma estante abarrotada de livros antigos. Apesar da poeira que cobria algumas lombadas, os exemplares pareciam ter sido bem preservados.
Entre romances clássicos e enciclopédias empoeiradas, suas mãos pousaram sobre um livro de biologia humana.
Ao abrir o livro, sentiu uma faísca de algo há muito adormecido: esperança.
— Eu ainda posso voltar aos estudos — sussurrou para si mesma, como uma promessa.
Todas as tardes, ela folheava o livro, memorizando detalhes e criando anotações mentais como se estivesse em uma sala de aula imaginária.
Com o passar dos dias, Sarah percebeu que Anna não lhe dava liberdade alguma. Todas as portas estavam trancadas, e as chaves sumiam sempre que Anna saía. O que inicialmente parecia cuidado, agora era claramente um confinamento.
Determinada a fugir, Sarah tentou abrir janelas, forçou fechaduras e vasculhou gavetas em busca de algo que pudesse usar como ferramenta. Cada tentativa fracassada era uma nova cicatriz em sua esperança, mas também um lembrete de que ela não desistiria.
Com um fogo renovado em seu peito, ela repetia em pensamento: — Anna acha que sou fraca... Mas ela não sabe do que sou capaz.
Durante uma das visitas, Anna deixou sobre a mesa uma revista médica. Sarah a pegou com cautela e, ao folheá-la, seus olhos captaram uma coluna com notícias sobre o Hospital Lewantys.
Uma foto de Arthur sorrindo ao lado de novos residentes chamou sua atenção imediatamente.
— Será que Arthur estranhou minha ausência? Ele deve ter se perguntado por que não voltei para acompanhar a gravidez... — refletiu Sarah, sentindo o peito apertar.
A cada pensamento de desistência, Sarah reagia com uma determinação crescente: — Eu vou sobreviver. Vou encontrar um caminho. E Anna nunca mais terá poder sobre mim.
Assim, mesmo dentro da prisão elegante que era a casa de campo, Sarah começou a construir um plano. Não importava quanto tempo levasse. Não importava o quanto precisaria lutar.
Com o passar das semanas, Sarah percebeu que o silêncio, antes seu maior inimigo, também podia ser uma oportunidade. A ausência de vozes externas obrigava-a a mergulhar mais fundo em seus pensamentos e a enfrentar seus medos mais sombrios. No início, essa introspecção parecia insuportável, mas, aos poucos, ela encontrou um inesperado alívio na solidão.
Sentada em frente à janela, começou a listar mentalmente tudo o que havia perdido, mas também o que ainda tinha. O bebê era sua âncora, o lembrete constante de que não estava completamente sozinha. E, acima de tudo, ela ainda tinha a si mesma.
Um dia, enquanto observava da janela a luz do sol refletida em uma poça d'água no jardim, sentiu uma clareza que não tinha experimentado há muito tempo. A prisão física não podia controlar sua mente. Ali, em sua consciência, ela era livre.
Sarah decidiu usar o tempo a seu favor. Criou um diário com folhas que arrancou de um livro antigo e uma caneta que encontrou esquecida em uma gaveta. Ali, escreveu sobre seus sonhos, suas dores e suas esperanças. Mas, acima de tudo, começou a registrar o que chamava de "Manual da Liberdade". Cada detalhe da casa era anotado: horários das visitas de Anna, o barulho que indicava a chegada de um carro, a posição das trancas nas portas.
— Eu serei paciente. Quando chegar a hora, estarei pronta — disse, enquanto escondia o diário entre as tábuas soltas do piso.
O que antes parecia um cativeiro opressor tornou-se um campo de batalha interno, onde Sarah forjava sua força. Ela passou a treinar sua mente como uma guerreira, preparando-se para o momento de agir. E, ao contrário de antes, quando apenas sonhava com a liberdade, agora ela a via como algo tangível, uma meta ao alcance de suas mãos.