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Chapter 2 - Capítulo 2: O Peso da Realidade

O céu de Nova York começava a se tingir de tons laranja e cinza enquanto Lorena voltava para casa. As luzes das ruas brilhavam no asfalto molhado pela neve derretida, mas ela mal percebia o movimento ao seu redor. Seu rosto estava úmido de lágrimas, e o coração parecia apertado a cada passo que dava.

Chegando ao prédio antigo onde morava, subiu as escadas devagar, quase tropeçando no último degrau. Quando abriu a porta do apartamento, encontrou Ana segurando Beatriz no colo.

Ana: (preocupada) Lorena! O que aconteceu? Você está pálida!

Lorena largou a bolsa no chão, fechando a porta com força. As palavras ficaram presas na garganta por alguns segundos até que ela finalmente desabou, cobrindo o rosto com as mãos.

Lorena: (chorando) Ana... eu não sei o que fazer. Eles... eles acham que é câncer.

Ana arregalou os olhos, aproximando-se rapidamente para segurar os ombros da amiga.

Ana: (incrédula) O quê? Câncer? Mas... como assim?

Lorena: (com a voz embargada) Eles encontraram um tumor nos pulmões. Preciso de mais exames, tratamentos... Mas, Ana, como eu vou pagar por isso? Como vou cuidar da Beatriz?

Ela olhou para a filha, que estava brincando inocentemente nos braços de Ana, completamente alheia ao turbilhão que a mãe enfrentava.

Ana: (tentando ser positiva) Calma, Lorena. Vamos pensar em uma solução. Você não está sozinha.

Lorena: (desesperada) Não está vendo? Estou, sim, Ana. Sempre estive. Desde que o pai dela me abandonou, tudo depende de mim. E agora... agora isso.

Ana sentou-se no sofá, ainda segurando Beatriz, enquanto Lorena se deixava cair ao lado, com as mãos trêmulas.

Ana: (gentil) Conta para mim, amiga. Você nunca falou muito sobre ele. Talvez isso ajude.

Lorena respirou fundo, tentando organizar os pensamentos. Os olhos vagaram pela pequena sala enquanto as lembranças de David invadiam sua mente.

Lorena: (com a voz baixa) David e eu nos conhecemos no trabalho. Ele era tão charmoso, tão... perfeito. Passamos anos nos relacionando, e eu achava que ele era o homem da minha vida.

Ela fez uma pausa, sentindo o coração apertar ao reviver o momento mais doloroso.

Lorena: Quando descobri que estava grávida, fiquei tão feliz. Achei que seria o começo de uma família... Mas quando contei para ele, o mundo desabou.

Os olhos dela se encheram de lágrimas novamente, mas ela continuou.

Lorena: Ele disse que era casado, Ana. Casado! Por anos, ele mentiu para mim. Disse que não podia assumir, que tinha outra vida.

Ana ficou em silêncio, apertando levemente o braço da amiga em um gesto de apoio.

Ana: (indignada) Que desgraçado...

Lorena: (amarga) E foi aí que tudo mudou. Eu larguei o emprego, saí de Nova York e voltei para a minha cidade natal. Precisava recomeçar, longe de tudo aquilo. Desde então, nunca mais ouvi falar dele.

Lorena passou a mão no rosto, tentando secar as lágrimas.

Lorena: Desde que Beatriz nasceu, tudo o que faço é por ela. Trabalho como auxiliar administrativa em home office. Não é muito, mas dá para sustentar a gente. Agora, com esses tratamentos caros...

Ela engasgou com as palavras, sentindo o peso da situação cair sobre seus ombros.

Ana: (determinada) Lorena, você é a pessoa mais forte que conheço. Sei que agora parece impossível, mas a gente vai dar um jeito.

Lorena olhou para Ana, buscando algum conforto nas palavras da amiga, mas a preocupação ainda estava estampada em seu rosto.

Lorena: (sussurrando) Eu só queria que ela tivesse uma vida melhor. Que não precisasse passar por nada disso.

Beatriz soltou uma risada alta enquanto brincava com os cabelos de Ana, alheia à tensão no ar. Lorena sorriu fracamente ao olhar para a filha, lembrando-se de que, apesar de tudo, ela era sua maior força.

Ana: (confiante) Escuta, você vai lutar. Vai fazer os exames, vai passar por isso e, se precisar de ajuda, estou aqui. Sempre.

Lorena: (balançando a cabeça) Obrigada, Ana. Não sei o que faria sem você.

O apartamento caiu em um silêncio pesado por alguns segundos, interrompido apenas pelo som da respiração de Beatriz. Lorena fechou os olhos por um momento, tentando se agarrar à coragem que sabia que precisaria ter dali para frente.

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Mais tarde, naquela noite, após Ana sair, Lorena ficou sozinha com Beatriz. Deitada na cama, com a filha dormindo ao seu lado, ela encarava o teto escuro, perdida em pensamentos.

Lorena: (pensando) E se eu não conseguir? E se ela crescer sem mim?

As dúvidas eram esmagadoras, mas ao olhar para Beatriz, sentiu um pequeno fio de esperança. Ela sabia que precisava lutar. Não importava o quão difícil fosse, sua filha merecia ter uma mãe presente, lutando até o fim.

Lorena: (sussurrando para Beatriz) Você é tudo para mim, minha pequena. E eu vou fazer de tudo para ficar com você.

As lágrimas escorreram silenciosamente enquanto ela acariciava o rostinho delicado da filha, prometendo a si mesma que, de alguma forma, encontraria uma maneira de enfrentar o que estava por vir.