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Chapter 6 - Capítulo 6 - Ponto de Vista

Helena

Meu nome é Helena Vasconcellos. Tenho 37 anos e nasci em uma família que sempre acreditou que dinheiro era a resposta para todos os problemas. Cresci cercada de luxo, de conforto, de poder. Era a princesa de um império que meus pais construíram com trabalho árduo e conexões certas. Sempre tive tudo o que quis, desde brinquedos exclusivos quando criança até joias que apenas pessoas da alta sociedade podiam usar. Sempre pensei que minha vida fosse perfeita, imune a tragédias. Mas há um ano, o destino provou o contrário.

Foi em uma manhã ensolarada. Eu estava a caminho de um evento que eu mesma havia organizado. Era uma conferência beneficente, e eu tinha escolhido a dedo cada detalhe, do cardápio à decoração. Afinal, minha imagem era essencial para manter a influência social que eu e David cultivávamos. Dirigir por Nova York nunca foi uma tarefa fácil, mas naquela manhã, o trânsito estava especialmente caótico.

Lembro-me de acelerar para não me atrasar. Estava distraída, conferindo mensagens no celular, ajustando o itinerário do dia na minha cabeça. Foi quando tudo aconteceu. Uma curva inesperada. Um deslize. O som ensurdecedor do impacto e, então, escuridão.

Quando abri os olhos, estava em um quarto de hospital. A luz forte do teto quase me cegava, mas a dor no meu corpo logo chamou minha atenção. Era como se eu tivesse sido esmagada por toneladas de concreto. Olhei ao redor, confusa, e encontrei David sentado ao meu lado. Ele segurava minha mão com força, mas o olhar dele era pesado, sombrio.

Helena: "O que... aconteceu?"

Minha voz saiu fraca, quase um sussurro. Ele respirou fundo, como se estivesse procurando as palavras certas, mas eu já sabia que algo estava errado.

David: "Você sofreu um acidente. Os médicos fizeram tudo o que podiam, mas... houve complicações."

Complicações. Eu sabia que essa palavra carregava mais do que ele estava disposto a dizer. Apertei a mão dele, implorando pela verdade.

Helena: "Complicações como?"

Ele desviou o olhar por um instante, antes de finalmente dizer:

David: "Você... perdeu o útero, Helena. Não foi possível salvar."

Minha mente congelou. Perdi o útero? Como assim? Tudo ao meu redor começou a girar. O quarto, os sons das máquinas, o toque de David, tudo parecia distante. Ser mãe era o meu maior sonho. Desde criança, eu fantasiava sobre isso, sobre segurar um bebê nos braços, dar a ele tudo o que eu nunca tive emocionalmente.

Nos dias que se seguiram, afundei em uma depressão profunda. Minha rotina foi tomada por consultas, fisioterapia e um vazio que parecia nunca acabar. David, sempre tão envolvido em seus negócios, estava presente, mas de forma distante. Eu sabia que ele se sentia culpado, mas isso não era suficiente para preencher o buraco que o acidente deixou.

Até que, meses depois, ele entrou no meu quarto com um olhar que eu não via há muito tempo. Parecia nervoso, mas também determinado. Ele se sentou na beira da cama e começou a falar sobre algo que nunca tinha mencionado antes: Lorena.

Lorena. O nome dela era tão simples, tão comum, que me irritou imediatamente. Ele contou sobre o caso que tiveram, sobre como eles se envolveram por três anos. Por três anos, meu marido viveu uma vida dupla, mentindo para mim enquanto eu mantinha nossa casa e nossa imagem intactas. Mas o pior foi ouvir que ela havia engravidado e que ele simplesmente desapareceu.

Minha reação foi imediata.

Helena: "Você me traiu por anos, David? E agora você acha que pode simplesmente me dizer isso como se fosse um detalhe insignificante?"

Ele tentou se justificar, falando sobre o que sentia por mim, sobre como não sabia o que fazer na época. Mas nada disso importava. Eu estava furiosa, humilhada. Como ele pôde fazer isso comigo?

Mas então, algo mudou. Ele mencionou a possibilidade de a criança ainda existir, de Lorena ter seguido com a gravidez. Foi como se uma luz se acendesse no fim do túnel. Pela primeira vez em meses, eu senti esperança.

Helena: "Você tem certeza de que ela teve a criança?"

David balançou a cabeça.

David: "Não tenho certeza, mas se ela teve, Helena, essa criança é minha."

Aquelas palavras ecoaram na minha mente. Se Lorena teve a filha dele, então aquela criança também era minha. Ela seria a solução para tudo o que eu havia perdido.

Helena: (pensando) "Eu sempre quis ser mãe. Sempre. E se essa é a única chance que tenho, não vou deixar passar."

Foi assim que comecei a ver Lorena como um obstáculo. Não me importava se ela havia criado a menina sozinha até agora. Não me importava se ela tinha sentimentos ou se estava lutando para sobreviver. O que importava era que a filha dela — ou melhor, a filha de David — deveria ser minha.

David tentou me convencer a esperar, a ter paciência, mas eu não tinha tempo para isso. Entrei em contato com meu advogado e começamos a traçar um plano. Ele me explicou que, legalmente, eu precisaria reunir provas de que Lorena não tinha condições de criar a criança.

Helena: "Ela é uma mulher solteira, sem dinheiro. Não será difícil provar isso."

O primeiro passo foi localizar Lorena. Descobrimos o perfil dela nas redes sociais, mas estava bloqueado. Então, encontramos uma amiga dela, Ana. David teve a ideia de usar os negócios para se aproximar de Ana, fingindo interesse em um contrato importante.

No fundo, eu sabia que estava manipulando a situação. Mas, para mim, o fim justificava os meios.

Naquela noite, enquanto David finalizava os detalhes, olhei para o espelho do meu quarto e vi a mesma mulher que sempre fui: determinada, implacável, capaz de tudo para alcançar o que queria.

Helena: (pensando) "Essa criança será minha. Eu vou fazer o que for necessário para isso."

David hesitou, mas eu não. Ele pode ter dúvidas, mas eu sei o que quero. Não vou deixar Lorena ficar no meu caminho.