Chereads / BATMAN: CIDADE DO MEDO | Por: Pedro Tobias / Chapter 3 - Capítulo 3 - Entre Luz e Sombra

Chapter 3 - Capítulo 3 - Entre Luz e Sombra

O noticiário da GCNN exibe uma cobertura especial, com a imagem das docas de Gotham coberta pela escuridão e pelas luzes vermelhas e azuis das viaturas da polícia. A repórter, com o semblante sério, segura o microfone enquanto a câmera foca nela, destacando a urgência da notícia.

- Uma tragédia chocou Gotham na noite passada, quando o corpo brutalmente mutilado de Armand Krol, ex-vereador da cidade, foi encontrado nas docas - começa a repórter, com uma voz firme e grave. - O Departamento de Polícia de Gotham confirmou a identidade da vítima após horas de investigação. Segundo fontes policiais, Krol foi encontrado com o rosto desfigurado e um saco plástico amarrado ao redor do pescoço, em uma cena que os investigadores descreveram como "perturbadora e desumana."

A câmera se move brevemente para mostrar o local da cena do crime, agora cercado por fitas amarelas. Uma imagem dos detetives investigando surge rapidamente na tela, seguida por um oficial do Departamento de Polícia de Gotham, que dá uma breve declaração.

- Esse foi um ato extremamente violento, diferente de qualquer coisa que tenhamos visto nos últimos meses - diz o oficial, sua expressão de cansaço refletindo o peso da situação. - Não temos muitas informações sobre a motivação do crime, mas sabemos que foi algo planejado e cruel. Estamos buscando todas as pistas possíveis para chegar aos responsáveis.

A câmera volta para a repórter, que prossegue com a cobertura.

- A brutalidade desse assassinato traz questões para a cidade de Gotham em um momento em que a criminalidade continua a crescer, mesmo com os esforços do Departamento de Polícia e da prefeitura para aumentar a segurança pública.

Nesse momento, a imagem na tela muda, focando no atual prefeito de Gotham, Hamilton Hill, que aparece em um púlpito, cercado por microfones. Hill está visivelmente perturbado, mas sua expressão é controlada e política.

- A morte de Armand Krol é uma perda imensa para Gotham - declara Hill, lançando olhares calculados para a multidão de repórteres à sua frente. - Ele foi um servidor dedicado e uma figura importante para nossa cidade. Eu garanto que a Prefeitura está comprometida em trabalhar junto ao Departamento de Polícia para trazer os responsáveis à justiça. Este crime não ficará impune. Prometo a todos os cidadãos de Gotham que nossa administração tomará as medidas necessárias para garantir que nossa cidade esteja segura novamente.

O discurso de Hill é interrompido brevemente por uma estática na transmissão. A imagem falha, surgindo e desaparecendo em rápidos flashes. Um ruído de respiração baixa invade o áudio, criando um tom inquietante. A imagem volta por um instante, com a repórter confusa, e depois novamente uma interferência, até que as palavras surgem em uma tela preta:

NÃO HÁ VERDADE

A respiração lenta e sinistra continua por alguns segundos, deixando um silêncio perturbador na transmissão, até que, subitamente, o noticiário volta ao normal, com a repórter agora visivelmente tensa, tentando retomar a transmissão.

- Parece que tivemos uma... uma interferência, senhoras e senhores. Continuando com nossa cobertura...

Na manhã seguinte, a luz suave do sol atravessa as janelas da Mansão Wayne, banhando a sala de estar com uma claridade rara para Gotham. Alfred está sentado à mesa, com um laptop aberto e vários documentos espalhados ao seu redor. Sua expressão é concentrada, o olhar alternando entre os papéis e a tela.

Bruce entra na sala, ainda ajustando os punhos da camisa. Ele ergue uma sobrancelha ao ver Alfred, que parece absorvido em um trabalho detalhado.

- O que você está fazendo, Alfred? - pergunta ele, aproximando-se com uma leve curiosidade.

Alfred levanta os olhos, um leve sorriso brincando em seus lábios.

- Tentando entender melhor os pontos de venda de drogas na cidade, senhor. Criei um mapeamento de áreas de alto risco com base nos relatórios da polícia e... digamos, algumas fontes não convencionais - ele dá um leve aceno de cabeça, indicando que esses dados talvez venham de contatos e registros informais, algo que ele sabe que Bruce entenderia.

Bruce observa o mapa na tela, notando os pontos marcados em áreas estratégicas, quase como uma rede de distribuição organizada. Ele balança a cabeça, pensativo, absorvendo as informações.

- Parece que as gangues estão se reorganizando - comenta ele, a voz baixa e calculada. - A violência nas ruas é uma coisa, mas o tráfico está se espalhando rápido demais, como uma infestação controlada.

Alfred fecha o laptop e começa a reunir os papéis.

- Isso talvez explique a presença de novas substâncias nas ruas - responde Alfred. - Infelizmente, não tenho o luxo de sujar as luvas nas ruas como o senhor, mas... é o melhor que posso fazer daqui.

Bruce sorri de canto, reconhecendo o apoio incansável de Alfred, quando o mordomo lembra-se de um convite recente.

- Ah, antes que me esqueça, Mestre Bruce, você foi convidado para uma coletiva de imprensa de Harvey Dent. Parece que nosso promotor e candidato a prefeito está se esforçando para reforçar a imagem de herói da cidade.

Bruce fica em silêncio por um momento, o olhar perdido. Ele voltou à vida pública há poucos meses, um retorno discreto que havia decidido fazer por um senso de dever. Apesar de relutante, ele sabe que Gotham precisa de Bruce Wayne tanto quanto precisa do Batman; ele reconhece que sua filantropia pode trazer uma mudança real e duradoura para a cidade, algo que talvez nem o Batman consiga sozinho.

Ele suspira, tomando a decisão de comparecer à coletiva de Harvey Dent. Então, ele se levanta e se dirige às escadas, subindo até seu quarto. Lá, abre o guarda-roupa e escolhe um terno azul elegante, de corte refinado e sob medida. Enquanto ajusta o colarinho e os punhos da camisa, vê seu reflexo no espelho: um homem decidido, mas dividido entre dois mundos.

Momentos depois, Bruce desce as escadas e acena brevemente para Alfred, que o observa com uma expressão de aprovação discreta, mas claramente satisfeito em ver seu patrão assumindo um papel mais público.

- Boa sorte, senhor. Creio que Harvey Dent ficará encantado em tê-lo ao seu lado, pelo menos por hoje - diz Alfred, com um sorriso leve.

Bruce apenas assente, agradecido, mas sem perder a expressão pensativa. Ele caminha até a garagem da mansão, onde sua Ferrari preta o espera, um símbolo de seu status como o empresário bilionário de Gotham, que ele utiliza como uma das máscaras de sua vida dupla.

Bruce dirige pela cidade com uma expressão séria, contemplando as ruas movimentadas de Gotham, que passam como um borrão através das janelas da Ferrari. Ele observa os edifícios antigos misturados com construções modernas, os becos sombrios escondendo segredos que somente o Batman conhece. Ao se aproximar do centro, vê as primeiras indicações da coletiva de Harvey Dent: cones de segurança, câmeras e repórteres reunidos em um espaço delimitado em frente ao prédio da prefeitura.

Bruce estaciona a Ferrari em um local reservado e sai do carro com a elegância casual que só ele consegue exibir. Logo ao sair, ele quase esbarra em um garoto que o observava com olhos arregalados, o rosto uma mistura de admiração e timidez ao se dar conta de quem estava na sua frente.

- Oh, desculpe, senhor Wayne... Eu... - gagueja o garoto, visivelmente envergonhado.

Bruce se inclina um pouco, olhando-o com uma expressão calorosa. 

- Tudo bem, garoto. Está tudo certo? - pergunta ele com um tom gentil, mantendo o contato visual, o que parece deixar o menino ainda mais constrangido.

- Sim, senhor... só fiquei surpreso em ver você aqui - responde o garoto, agora sorrindo nervosamente.

Bruce sorri de volta, colocando uma mão no ombro do menino antes de se afastar.

- Bom, tome cuidado, certo? Aproveite o evento - diz ele, acenando antes de seguir em direção ao local da coletiva.

Enquanto Bruce se afasta, o garoto fica parado, observando o bilionário caminhar com a postura impecável de alguém que tem o mundo em suas mãos. Ele tenta absorver a experiência inesperada, um pequeno vislumbre do que ele acredita ser a vida dos grandes homens de Gotham.

Desde que Bruce Wayne voltou a aparecer publicamente, há três anos, a figura enigmática do bilionário se tornou símbolo de reclusão estratégica, mesclando a renovada dedicação às suas empresas com gestos ocasionais de beneficência pública. Ao se aproximar da coletiva, sua presença imediatamente atrai os olhares dos repórteres e até de alguns paparazzi que não perdem a oportunidade de capturar imagens de um dos homens mais cobiçados e misteriosos da cidade. Mas Bruce levanta uma mão, em um gesto de modéstia.

- Por favor, pessoal, toda a atenção hoje deve estar em Harvey Dent - diz ele, a voz firme, mas amistosa, deixando claro que não quer roubar o foco.

Conforme Bruce entra, os flashes e perguntas aos poucos se voltam novamente para o centro do palco, onde Harvey Dent já está em meio a seu discurso. Dent fala com paixão, a voz clara e firme ecoando pelo espaço.

Ele responde a algumas perguntas de repórteres, respondendo com precisão e intensidade, até que uma voz familiar se destaca entre os jornalistas.

- Sr. Dent! Vicki Vale, do Gotham Gazette. Dado o aumento da criminalidade e os desafios da corrupção na cidade, o que podemos esperar da sua gestão, caso seja eleito prefeito? - pergunta Vicki, com o olhar atento e um microfone erguido.

Dent sorri de canto, claramente preparado para a pergunta.

- Excelente pergunta, senhorita Vale - começa ele, ajustando levemente a gravata. - Gotham é uma cidade que sempre viveu à sombra de sua própria escuridão. Sabemos que o crime e a corrupção corroem as bases do que somos, e eu acredito que isso não pode mais continuar. Como promotor, luto para que cada criminoso veja a justiça de forma clara e direta, mas minha luta não acaba aí. Como prefeito, meu compromisso será criar uma cidade em que ninguém tenha medo de sair de casa à noite, onde nossas crianças possam brincar nas ruas, onde o comércio e a vida floresçam em cada esquina.

Ele faz uma pausa, a voz ficando mais grave e séria.

- Mas, para isso, Gotham precisa de uma limpeza profunda, de uma reforma que enfrente os problemas na raiz, e isso não se faz sem coragem. Vou combater não apenas os bandidos nas ruas, mas também os poderosos que, protegidos por altos muros, lucram com o caos que assola nossas ruas. Gotham merece algo melhor, algo maior do que a situação em que está, e eu acredito - todos nós devemos acreditar - que é possível!

A multidão murmura em aprovação, e os flashes das câmeras se intensificam. Dent, com um olhar determinado, percorre a plateia com os olhos, deixando claro que ele vê cada pessoa ali como um pilar do futuro que deseja construir. Bruce, entre os repórteres, assente discretamente, respeitando a paixão do promotor. A presença de Dent é impressionante, sua crença no potencial de Gotham é algo raro. O discurso, permeado de convicção, reforça a visão de que ele pode ser o líder que traga a mudança que Bruce e tantos outros tanto desejam.

Dent ergue uma mão, agradecendo os aplausos e aproveitando o momento de atenção.

- Então, povo de Gotham: estamos prontos para acreditar em um novo começo? Estamos prontos para erguer nossa cidade, juntos? Porque eu estou - e não vou descansar até ver isso acontecer.

As palmas ecoam, e Bruce observa o entusiasmo nas pessoas ao redor, percebendo o quão sedento o povo de Gotham está por esperança.

A coletiva entra em uma breve pausa, dando tempo para que os repórteres ajustem seus equipamentos e a multidão murmure, discutindo o discurso inspirador de Dent. De longe, Harvey percebe Bruce entre as pessoas e ergue a mão, chamando-o com um sorriso.

- Bruce! - chama Dent, caminhando em sua direção, claramente animado. - Fico feliz que tenha vindo.

Bruce se aproxima, apertando a mão do promotor com um sorriso respeitoso.

- Discurso excelente, Harvey. É exatamente o tipo de coisa que a cidade precisa ouvir - diz ele, genuinamente impressionado. - Você está no caminho certo.

- Obrigado, Bruce. Ouvir isso de você significa muito. E é justamente por isso que eu queria conversar sobre algo mais - responde Dent, com um brilho determinado no olhar. Ele lança um olhar ao redor, certificando-se de que ninguém está escutando, e abaixa um pouco o tom da voz. - Sei que você tem uma influência que poucos têm nesta cidade.

Bruce ergue uma sobrancelha, intrigado, e Dent continua.

- Estou trabalhando em um projeto que considero essencial para Gotham. O Asilo Arkham... aquele lugar precisa ser demolido e reconstruído do zero. Quero reconstruí-lo, não como um asilo, mas como um hospital psiquiátrico de verdade, uma instituição de saúde que funcione, que ofereça tratamento de verdade. Um lugar onde eles possam ter uma chance de recuperação. Mas para isso, Bruce... preciso de ajuda.

Bruce observa o promotor, seu olhar penetrante avaliando a seriedade nas palavras de Dent. Ele sabe o quão decadente Arkham se tornou, o quanto o lugar representa o fracasso de Gotham em lidar com a própria insanidade. A ideia de reconstruir o asilo é audaciosa, mas também arriscada.

- Esse é um projeto ambicioso, Harvey. Vai exigir uma quantia significativa e muito apoio político. Arkham sempre foi um tema... sensível em Gotham - comenta Bruce, ponderando as implicações.

Dent balança a cabeça em concordância, mas seus olhos brilham com determinação.

- Eu sei, Bruce, mas isso precisa ser feito. Arkham não pode continuar como está. As pessoas estão presas lá sem chances reais de melhora, e isso perpetua o ciclo de violência e sofrimento em Gotham. Imagine uma cidade onde os mais vulneráveis tenham, finalmente, o tratamento adequado. Um novo Arkham seria um marco de recomeço para a nossa cidade.

Bruce permanece em silêncio por um momento, a mente ponderando os riscos e benefícios. Ele sabe que Dent está certo; Gotham precisa de uma mudança radical, e talvez essa seja uma das maneiras de plantá-la.

- Vou pensar sobre isso, Harvey - responde Bruce, finalmente, com uma expressão séria, mas que deixa claro seu interesse. - E se eu puder fazer algo para ajudar, você sabe onde me encontrar.

Dent sorri, satisfeito, e coloca uma mão no ombro de Bruce.

- Eu sabia que podia contar com você, Bruce.

A pausa termina, e Harvey Dent volta ao palco, atraindo novamente a atenção da multidão. Ele se posiciona em frente ao microfone, preparando-se para responder mais perguntas dos repórteres. Bruce, por sua vez, retoma seu lugar na parte de trás da coletiva, mas seu olhar logo é desviado para uma figura estranha na plateia.

O sujeito, vestido de maneira comum, não parece um repórter ou paparazzi. Ele se destaca pela maneira como observa Harvey, como se estivesse analisando cada movimento do promotor com um interesse quase obsessivo. Bruce franze a testa, sentindo uma pontada de desconforto. A atmosfera de esperança e entusiasmo ao redor da coletiva contrasta com a sensação de alerta que ele começa a sentir.

Neste momento, seu celular vibra. Ele saca o dispositivo e vê que é uma ligação de Alfred. Bruce rapidamente atende.

- Mestre Bruce, sou eu - diz Alfred, a voz do fiel mordomo soando preocupada. - Encontrei informações sobre três pontos de venda de drogas em Gotham que parecem estar ligadas aos Falconi. Um deles fica no centro, perto de um antigo armazém. Os outros dois estão em bairros mais problemáticos. Precisamos agir rápido.

Bruce olha para Dent, que agora está respondendo a outra pergunta da multidão, enquanto tenta processar as informações de Alfred.

- Entendido, Alfred. Você tem mais detalhes sobre como posso me envolver? - pergunta Bruce, mantendo o tom de voz baixo para que ninguém o ouça.

- Sim, Mestre Bruce. Os pontos que identifiquei são estratégicos e têm uma ligação clara com as operações do crime organizado. Eu recomendaria que o senhor os investigasse antes de se comprometer publicamente com a campanha de Dent. Precisamos garantir que a segurança de Gotham não seja comprometida por essas atividades - responde Alfred, sua voz firmando-se em determinação.

- Concordo, Alfred. Vou me reunir com você assim que sair daqui.

A coletiva chega ao fim sem mais incidentes, mas a figura misteriosa permanece na mente de Bruce. Ao retornar à Mansão Wayne, ele encontra Alfred esperando com um mapa aberto sobre a mesa do escritório, as três localizações marcadas com precisão.

— Como solicitado, Mestre Bruce — diz Alfred, apontando para os pontos. — Temos aqui os três locais associados aos Falconi. O primeiro no Distrito Industrial, o segundo em South Gotham e o último em Old Gotham. Todas regiões notoriamente instáveis.

Bruce observa os detalhes em silêncio, os olhos fixos nas áreas estratégicas dos Falconi. Cada ponto representa uma oportunidade de coletar informações e desmantelar, pelo menos em parte, a rede de distribuição que vem se espalhando pela cidade.

— Bom trabalho, Alfred — responde ele, entregando o tablet de volta ao fiel mordomo. — Vou verificar esses locais esta noite.

Com um último olhar para Alfred, Bruce desce para a Batcaverna, sentindo a adrenalina crescente. Ele se aproxima do traje do Batman, e com uma precisão quase ritualística, veste cada peça, sentindo o peso e o propósito do uniforme. Os olhos se transformam em um olhar de pura determinação.

Ao terminar, ele caminha em direção ao Batmóvel, que está estrategicamente estacionado no centro da caverna. Ele observa o veículo, uma fusão perfeita de potência e agilidade, pronto para mais uma noite de caçada.

— Vou manter a comunicação aberta, Mestre Bruce.

Bruce assente em silêncio, a figura sombria do Batman finalmente completa. Ele desliza para dentro do Batmóvel e ajusta o painel, ativando todos os sistemas. Em um instante, o motor ruge, preenchendo a caverna com um som grave e potente.

Sem mais hesitação, ele acelera para fora da Batcaverna, as luzes da cidade de Gotham se aproximando rapidamente à sua frente.