Chereads / BATMAN: CIDADE DO MEDO | Por: Pedro Tobias / Chapter 6 - Capítulo 6 - Quando o Medo Fala

Chapter 6 - Capítulo 6 - Quando o Medo Fala

A tela do GNN exibia em letras grandes e chamativas: "Debate Ao Vivo: Candidatos a Prefeito - Hamilton Hill e Harvey Dent". O estúdio era impecavelmente organizado, com os candidatos posicionados em púlpitos opostos, cercados por uma plateia que observava atentamente cada movimento. Luzes focavam sobre eles, realçando a tensão no ar.

Hamilton Hill, com postura confiante e um leve sorriso no rosto, iniciou seu discurso, apontando para as falhas estruturais de Gotham e a necessidade de mudanças profundas. Ele falava com uma paixão genuína, procurando tocar as emoções do público.

— Gotham está presa a um sistema que serve apenas a alguns poucos privilegiados — Hill disse, seu tom de voz caloroso, mas incisivo. — Precisamos de uma cidade onde todos tenham acesso a uma vida digna, onde a segurança e a justiça não estejam à venda! Quero escolas melhores, oportunidades de emprego reais, e uma administração que priorize a população. Precisamos acabar com as forças que usam o medo e a força para manipular a cidade. Abaixo a corrupção e os jogos de poder!

Ele prosseguiu, defendendo uma reforma na polícia e um sistema de saúde universal para Gotham, arrancando aplausos de algumas áreas da plateia.

Em seguida, Harvey Dent tomou a palavra. Ele se ajeitou no púlpito e falou com uma intensidade controlada, cada palavra carregando convicção.

— Gotham precisa de ordem, mas também de pragmatismo — disse Dent, sua voz firme e seus olhos intensos. — Não é hora de discursos bonitos ou promessas vagas. Precisamos de uma reforma, sim, mas focada na eficiência, no controle do crime e na justiça real. Fortalecer a aplicação da lei, mas também limpar nossas instituições de dentro para fora. Temos que erradicar o crime em Gotham e restaurar a confiança da nossa cidade. Eu acredito em progresso com responsabilidade, não em uma transformação caótica que põe em risco a segurança de todos.

Dent continuou, detalhando seus planos de reforçar o financiamento da polícia, mas também exigindo total transparência e responsabilidade na gestão pública. Ele apresentou sua visão de uma Gotham mais forte, mas que respeitasse a liberdade dos cidadãos de forma controlada.

O moderador se virou para Hill:

— Senhor Hill, como responde às preocupações do promotor Dent sobre o crime? Ele diz que as reformas podem trazer caos...

Hill respondeu com um sorriso controlado:

— O caos que temos hoje é o produto de décadas de políticas que priorizaram a elite de Gotham e ignoraram os problemas reais. O que estou propondo é uma cidade justa para todos, não apenas para os poderosos. Não precisamos de um Estado que sobrecarregue a polícia para controlar o medo, mas sim de políticas que diminuam a necessidade do uso de força.

Dent, sem perder tempo, replicou:

— E eu concordo, mas as ameaças que Gotham enfrenta exigem uma mão firme e estratégias claras. Nossa cidade está em risco não apenas pela corrupção, mas pelo crime desenfreado que deve ser enfrentado com determinação e responsabilidade.

O debate continuou no estúdio, com Dent e Hill trocando respostas incisivas. Harvey reforçava a importância da ordem e segurança enquanto Hill sublinhava a necessidade de reformar o sistema para todos, não apenas para os poderosos. Os dois candidatos não cediam, cada palavra adicionando intensidade ao embate. A plateia assistia ao confronto, alguns rostos se alternando entre admiração e desaprovação conforme os candidatos defendiam suas visões para o futuro de Gotham.

Finalmente, o debate terminou com um misto de aplausos e murmúrios, cada lado atraindo seu próprio grupo de apoiadores. A transmissão logo mudou para uma análise dos principais momentos, e o relógio avançou, marcando o fim de uma noite que deixava Gotham em tensão.

Horas depois, Harvey Dent estava em seu apartamento, o ambiente simples, mas elegante, com uma estante de livros e janelas grandes que permitiam a visão da cidade escura e caótica lá fora. Ele preparava uma travessa de macarrão com queijo, misturando os ingredientes com atenção, o som da colher de metal ecoando pela cozinha enquanto ele mantinha um olho na tela da televisão, que agora exibia uma cobertura noturna de notícias locais.

Ele se recostou na bancada, provando uma garfada e ajustando o volume da TV, até que a programação foi subitamente interrompida por um boletim de última hora. O âncora parecia tenso, a gravidade das palavras perceptível na sua expressão.

— Temos uma notícia de última hora que acabamos de receber. Em uma descoberta chocante, dois assassinatos foram confirmados esta noite em diferentes pontos de Gotham. Elliot Price, ex-prefeito da cidade, foi encontrado morto em sua casa em Old Gotham. Junto ao seu corpo, a mensagem "SE ENCONTRAM NAS SOMBRAS" foi deixada em letras garrafais, um eco sombrio dos recentes assassinatos que assolaram nossa cidade. E, em um segundo ataque, o corpo da vereadora Evelyn Kane, líder da Comissão de Reforma Urbana, foi encontrado em sua residência no bairro de Windsor, com a mensagem "AS PALAVRAS SEM ESSÊNCIA" escrita ao lado.

Harvey arregalou os olhos, seu garfo parando no ar enquanto ouvia o boletim, absorvendo cada palavra com um misto de horror e fascínio. As imagens na tela mostravam a cena do crime de ambos os locais, cercados pela polícia e iluminados por luzes azuis e vermelhas.

— Ambos os assassinatos exibem sinais claros de serem obra do mesmo indivíduo que tem aterrorizado Gotham e que ficou conhecido pelo apelido de "Espantalho" — continuou o repórter, sua voz soando pesada. — As autoridades ainda estão investigando as circunstâncias, mas até agora, os ataques parecem seguir um padrão de mensagens deixadas para a cidade. A identidade e o paradeiro do assassino continuam um grande mistério.

Na manhã seguinte, as ruas de Gotham fervilhavam com uma energia inquieta e perigosa. Manifestantes marchavam em multidões, empunhando placas e gritando palavras de ordem. "CHEGA DE MENTIRAS!", "QUEREMOS VER A VERDADE!", e "SAIAM DAS SOMBRAS!" estavam escritas em cartazes improvisados e faixas que se erguiam como um mar agitado. As expressões dos manifestantes variavam entre revolta e fervor; muitos tinham sacos de papel ou máscaras escuras na cabeça, simbolizando seu apoio ao vigilante sombrio que agora chamavam de "Espantalho". A cidade, dividida entre medo e revolta, começava a dar sinais de algo mais grave que apenas indignação.

Jim Gordon estava nas ruas, atento e endurecido pela situação que se desenrolava. Ao lado dele, policiais do DPGC formavam barreiras, tentando conter a multidão sem provocar violência, mas o ambiente era tenso, e as coisas pareciam prontas para explodir a qualquer instante. Algumas vozes se erguiam acima das outras, inflamando ainda mais a multidão.

— NÓS ESTAMOS CANSADOS DE MENTIRAS! — gritava um dos manifestantes, um homem mais velho com uma máscara de pano que cobria seu rosto. — ESTAMOS FARTOS DESSA CORRUPÇÃO QUE DOMINA A CIDADE!

Os policiais tentavam dialogar, mas a multidão estava resistente e irredutível. De repente, alguém lançou uma garrafa de vidro que explodiu perto das barricadas, espalhando cacos e intensificando ainda mais a revolta. Gordon suspirou profundamente, seus olhos fixos nos manifestantes à frente, ciente de que cada segundo contava.

— Atenção, atenção! — ele ordenou a seus oficiais através do rádio. — Mantenham a calma e recuem apenas o suficiente. Se alguém avançar, façam o possível para não escalarem a violência. Precisamos manter a situação sob controle.

Porém, a situação já começava a fugir do controle. Alguns manifestantes invadiram áreas bloqueadas, empurrando barricadas e avançando em direção aos policiais, gritos ecoando por toda a rua. Gordon avançou para um ponto de observação, a mão firme no cinto, com a outra segurando o rádio, tentando coordenar as unidades dispersas.

— Olhem ao redor, homens! Eles estão armados com pedras e garrafas, e se não formos cuidadosos, essa situação vai escalar para algo ainda pior — ele disse, sem esconder a preocupação em sua voz.

Entre os manifestantes, alguns indivíduos encapuzados incentivavam a multidão com palavras inflamadas, suas vozes ecoando sobre os gritos e chamando a cidade para "despertar". Cada palavra lançava um combustível invisível na multidão, e o clima entre os cidadãos de Gotham oscilava entre um desejo ardente de mudança e uma fúria cega contra tudo e todos que representassem o status quo.

Enquanto Alfred dirigia, Bruce observava a multidão crescente nas ruas, cada cartaz e máscara sendo um lembrete da crescente divisão em Gotham. Manifestantes gritavam palavras de ordem, aplaudiam o Espantalho e erguiam cartazes com frases contra a corrupção. A tensão no ar era quase palpável, e Bruce sentia o peso da agitação em cada esquina.

No entanto, ao dobrar uma das ruas centrais, o carro foi forçado a desacelerar; a passagem estava bloqueada por uma multidão que tomava conta do cruzamento. Alfred franziu a testa, notando que algumas pessoas já apontavam para o carro.

— Mestre Bruce, acho que estamos atraindo atenção indesejada — murmurou Alfred, cauteloso.

Antes que pudesse manobrar para uma rua alternativa, alguns manifestantes se aproximaram do veículo, e em um instante, a tensão explodiu. Um dos homens bateu no capô do carro com força.

— Olha só quem apareceu! Bruce Wayne! Mais um dos malditos ricos de Gotham! — gritou ele, atraindo a atenção de mais pessoas.

Outros manifestantes começaram a se aproximar, e em questão de segundos, o carro estava cercado. Vozes se ergueram em tom de acusação:

— Você faz parte do problema, Wayne! Onde está sua ajuda para a cidade? Com tanto dinheiro, só nos afunda na merda!

— Vocês, bilionários, são todos iguais! Só querem mais poder enquanto nós sofremos!

— Chega de mentiras, Wayne! — gritou uma mulher, socando o vidro lateral.

Bruce manteve a compostura, observando cada rosto furioso enquanto Alfred tentava calmamente passar pela multidão. Mas a pressão aumentava, e alguns manifestantes começaram a bater nas janelas do carro, usando punhos fechados e placas improvisadas.

— Calma, Alfred. Vamos sair disso — disse Bruce, a voz baixa e controlada, mas com olhos atentos a cada movimento ao redor.

Enquanto Bruce e Alfred avançavam pela multidão, o clima era tenso. Os gritos dos manifestantes se misturavam ao som de sirenes e à voz firme dos policiais tentando restaurar a ordem. Alguns ainda vaiavam e apontavam para Bruce, chamando-o de traidor e cúmplice da corrupção. Ele manteve a cabeça erguida, evitando contato visual, mas as palavras afiadas penetravam como facas.

— Olha quem está aqui, o herdeiro dos Falconi! — gritou um manifestante, fazendo o grupo se agitar em apoio.

Alfred, por outro lado, mantinha a calma enquanto conduzia Bruce pelo tumulto, tentando afastá-lo da agitação. Os policiais, em pé em linha, tentavam acalmar os ânimos, mas a raiva da multidão era palpável.

Finalmente, eles chegaram a uma pequena cafeteria localizada em uma esquina movimentada, longe do tumulto. Alfred parou o carro, e Bruce abriu a porta, pronto para sair.

— Vou deixar você aqui, senhor — disse Alfred, enquanto Bruce se preparava para descer. — Lembre-se de que seu discurso deve ser claro e convincente. A cidade precisa de líderes que inspirem confiança, não medo.

— Eu sei, Alfred. Obrigado — respondeu Bruce, antes de se virar e sair do veículo. Ele respirou fundo, tentando se preparar para o encontro com Harvey.

Enquanto Bruce se afastava em direção à entrada da cafeteria, Alfred o chamou de volta.

— Ah, e só para avisá-lo, não ficarei aqui por muito tempo. Tenho algumas questões para resolver nas Empresas Wayne. A situação não está muito boa, e preciso garantir que as operações sigam adiante.

Bruce virou-se para Alfred, notando a seriedade em seu olhar.

— Está bem, Alfred. Cuide-se.

— Sempre, senhor — respondeu Alfred com um leve sorriso, antes de dirigir-se de volta ao carro.

Bruce observou Alfred partir, a expressão no rosto refletindo a carga emocional que ambos estavam carregando. Ele então virou-se para a entrada da cafeteria, sentindo a expectativa e a pressão de sua próxima reunião. O cheiro do café fresco invadia o ar, um convite à normalidade em meio ao caos que havia se instaurado nas ruas de Gotham.

Ao entrar na cafeteria, Bruce avistou Harvey Dent sentado em uma mesa próxima à janela, já com uma xícara de café em mãos. Ele sorriu ao ver Bruce, a expressão dele aliviada por não ter que esperar muito.

— Olha só quem apareceu! — Harvey exclamou, uma risada brincalhona nos lábios. — Que foi, o Uber atrasou a corrida?

Bruce riu, aliviado por encontrar um pouco de leveza em meio ao caos.

— Algo assim. Alfred estava preocupado com os manifestantes lá fora. Ele fez algumas manobras para me tirar de lá sem arrumar briga.

— Bem, pelo jeito ele conseguiu. — Harvey gesticulou para a janela, onde a multidão ainda se aglomerava. — Esse novo assassino está realmente trazendo um clima diferente para Gotham. O Espantalho... vejo ele como um mensageiro político, um tipo de protestante. Como se seus crimes fossem um manifesto. As pessoas estão prestando atenção, e isso é o que mais me preocupa.

Bruce concordou, sua mente repleta de imagens do que havia ocorrido. Ele tinha suas próprias teorias, mas decidiu ouvir Harvey primeiro.

— O que mais você pensa sobre isso? — Bruce perguntou, inclinando-se para frente, interessado nas ideias de Harvey.

Harvey respirou fundo, refletindo por um momento.

— A mensagem dele é clara, Bruce. Ele está expondo a hipocrisia da nossa política, mostrando que, por trás das cortinas, tudo é uma grande farsa. O que estamos enfrentando é uma crise de confiança, e, em vez de se unirem, os cidadãos estão se dividindo, tomando lados.

— É isso que eu quero mudar — continuou Harvey, olhando diretamente nos olhos de Bruce. — Nós precisamos restaurar a confiança da população, e isso começa com ações concretas. Juntos, podemos fazer Gotham ser muito mais do que é agora. Acredito que um novo hospital psiquiátrico em vez do Asilo Arkham poderia ser o primeiro passo.

Bruce franziu a testa ao ouvir isso, um sentimento misto se formando em seu peito. O Asilo Arkham sempre foi um ponto sensível para ele, especialmente porque sua mãe, Martha Wayne, tinha sido uma das pessoas que ajudaram a construí-lo. A ideia de demolir uma instituição que tinha raízes tão profundas na história de sua família era, no mínimo, complicada.

— Harvey, você sabe que isso é... — Bruce hesitou, procurando as palavras certas. — O Arkham é parte da história da cidade, e parte da história da minha família.

Harvey percebeu a hesitação de Bruce e fez uma pausa, inclinando-se para frente, sua expressão tornando-se mais séria.

— Eu entendo, Bruce. Mas pense bem: o que realmente representa o Asilo Arkham hoje? É um lugar que falhou em sua missão. Uma instituição que não consegue cuidar de seus pacientes e que se tornou uma fachada para o crime e o desespero. Com esse novo hospital, nós podemos honrar seus pais de uma maneira diferente, algo que realmente representa o que eles queriam para Gotham. Um espaço que realmente cuide das pessoas, que trate a saúde mental com respeito e dignidade.

Bruce ponderou sobre isso, sua mente girando entre as memórias de seus pais e o desejo de um futuro melhor para Gotham. Ele sabia que Harvey estava certo em muitos aspectos. O Asilo, que um dia teve boas intenções, agora era um símbolo de fracasso.

— Estou com você, Harvey. Se isso pode ajudar a mudar Gotham, então faremos isso — Bruce finalmente disse, sua determinação crescendo.

— Ótimo! — Harvey exclamou, um sorriso de satisfação cruzando seu rosto. — Vamos trabalhar juntos para trazer de volta a confiança da população. E lembre-se, não deixaremos que eventos como o que aconteceu no beco se repitam. Essa cidade merece algo melhor.

O clima na cafeteria mudou instantaneamente. Harvey parou de falar, seu olhar fixo na tela da televisão enquanto a âncora do GNN apresentava uma nova e preocupante atualização.

— Temos uma notícia de última hora — anunciou a repórter, sua voz tensa. — O chefe da polícia, Ronald "Ron" McCallister, foi baleado nesta manhã durante os protestos que tomaram conta das ruas de Gotham. Ele se encontra em estado grave no Hospital Gotham City.

As palavras dela pairaram no ar como um peso. Bruce sentiu um nó se formar em seu estômago. O caos que se desenrolava na cidade parecia não ter fim, e a violência estava agora atingindo figuras que deveriam ser símbolos de ordem.

A repórter continuou, mas suas palavras se tornaram secundárias quando a transmissão foi abruptamente interrompida. A tela ficou escura por um breve momento, antes que uma imagem distorcida surgisse: uma figura envolta em sombras, com um saco na cabeça, respirando pesadamente.

DEIXE O MEDO QUEIMAR, E A VERDADE SE REVELARÁ EM CINZAS — a voz ecoou, sombria e penetrante.

A figura então se aproximou da câmera, e a imagem do Espantalho encheu a tela. Seu tom era enigmático e ameaçador.

Eu estou quase lá, e quando eu acabar, não haverá mais escapatória para nenhum de vocês. Gotham será purificada em algumas horas.

Bruce sentiu um frio na espinha. As palavras do Espantalho eram como um presságio, e ele sabia que a cidade estava prestes a ser tomada por uma onda de terror.

Quando a transmissão voltou ao repórter, sua expressão era uma mistura de surpresa e preocupação.

— Pedimos desculpas pela interrupção — disse a âncora, tentando recuperar a compostura. — O Departamento de Polícia de Gotham ainda está analisando essa ameaça, e pedimos a todos que permaneçam em casa e evitem sair até que mais informações sejam divulgadas.

Harvey estava em silêncio, seus olhos fixos na tela enquanto tentava processar o que acabara de ouvir. Bruce podia ver que o peso da responsabilidade estava crescendo sobre os ombros de Harvey.

— Esse maluco está se tornando um verdadeiro problema — Harvey disse finalmente, sua voz baixa.

Harvey, eu confio em você. Você tem a visão e a determinação para mudar Gotham. Apenas lembre-se de que você não está sozinho nessa. Se precisar de mim, de qualquer forma, você sabe onde me encontrar — Bruce disse, sua voz firme.

Harvey fez uma pausa, e sua expressão se suavizou um pouco.

— Obrigado, Bruce. Isso significa muito. Eu só espero que eu consiga fazer o que tenho em mente — ele respondeu, o peso da responsabilidade claramente à vista.

Bruce se levantou, e um silêncio momentâneo se instalou entre eles, como se ambos estivessem cientes do que estava por vir.

— Eu preciso ir — Bruce disse, olhando para a porta da cafeteria. — Vou me certificar de que o Espantalho não tenha uma chance de colocar suas ameaças em prática.

Harvey balançou a cabeça, preocupação evidente em seu olhar.

— Cuide-se, Bruce. Vai saber se algum maluco decide fazer algo contra você.

Do lado de fora, a agitação dos protestos ainda se fazia sentir, mas Bruce se manteve focado. Ele sabia que a cidade estava em um ponto crítico e que precisava estar preparado para tudo. O Espantalho estava em liberdade, e suas ameaças estavam se concretizando a cada minuto que passava.

 noite caiu sobre Gotham como um manto de trevas, e os protestos continuavam a agitar as ruas. As vozes dos manifestantes ecoavam, unidas em um clamor por justiça, mas a tensão no ar era palpável. Batman, posicionado em um telhado alto, observava tudo com atenção, seus sentidos aguçados. Ele precisava de uma pista, algo que o levasse até o Espantalho.

Com um movimento ágil, ele lançou um batarang de controle remoto para o meio da multidão. A pequena câmera na ponta do dispositivo começou a transmitir imagens, capturando os rostos dos protestantes e a agitação que cercava o local. O coração de Batman acelerou quando sua tela revelou uma figura encapuzada, agindo de forma suspeita ao lado de um corpo.

Quem é você? — seus pensamentos se agitaram enquanto ele manobrava o batarang, tentando se aproximar.

A figura parecia estar fazendo algo com o corpo, e a silhueta lembrou Batman da maneira como o Espantalho deixava suas vítimas. Achei.

Rapidamente, ele ativou seu grappler, disparando o gancho e se lançando para o outro lado da rua. Ele se moveu com agilidade entre os prédios, sua mente focada na figura sombria. Cada impulso o levava mais perto, mas, conforme se aproximava da cena, um sentimento de urgência e frustração o dominou.

Finalmente, ele pousou silenciosamente em um beco escuro, e a cena se desdobrou diante de seus olhos. No entanto, ao chegar, ele se deu conta de que havia chegado tarde demais. A figura encapuzada havia desaparecido, e o corpo jazia ali, em um estado grotesco.

Batman se aproximou do corpo, seu olhar treinado examinando cada detalhe. A cena estava marcada pela brutalidade, e uma sensação de desgosto subiu em seu peito. Ele se agachou, analisando a vítima.

Com um olhar atento, ele reconheceu o rosto do homem: Malcolm Devereaux, o vice-prefeito de Gotham City. O corpo estava marcado pela mesma assinatura macabra que o Espantalho costumava deixar — um saco plástico envolto ao redor da cabeça, e uma mensagem cravada ao seu lado, mas, desta vez, não havia uma palavra escrita. Apenas um símbolo, uma silhueta que lembrava um espantalho.

Com cuidado, Batman começou a investigar a cena, em busca de qualquer pista que pudesse ter sido deixada para trás. Ele usou seus equipamentos, iluminando o local com uma luz ultravioleta, escaneando os arredores em busca de impressões digitais ou qualquer vestígio que pudesse indicar a presença do assassino.

Enquanto examinava, a voz do Espantalho ecoou em sua mente: DEIXE O MEDO QUEIMAR, E A VERDADE SE REVELARÁ EM CINZAS.

O que você está planejando, Espantalho? O que mais você tem em mente?

Batman estava absorto em suas reflexões quando seus olhos se fixaram em uma mensagem escrita em um papel próximo ao corpo. As palavras enviaram um calafrio pela sua espinha:

"Dentes vão cair, e os gritos ecoarão pela escuridão, como uma sinfonia de desespero."

Isso não pode ser um mero aviso. É uma promessa, ele pensou, sua mente começando a formular uma hipótese aterradora. Harvey Dent pode ser o próximo alvo.

Ele se virou para o corpo novamente, examinando os detalhes. O que poderia ter acontecido aqui? O que o Espantalho queria de Malcolm Devereaux? Uma mensagem política? Uma declaração de guerra?

Preciso entender para onde ele pode ter ido. Se ele está realmente atrás de Harvey, preciso avisá-lo.

Enquanto tentava organizar seus pensamentos, algo chamou sua atenção: uma pequena estatueta ao lado do corpo, com uma forma peculiar. Ele se aproximou cautelosamente, o instinto lhe dizendo que era um objeto importante.

Mas antes que pudesse alcançá-la, um jato de gás foi ejetado da estatueta, atingindo seu rosto. Batman instintivamente deu um passo para trás, mas já era tarde demais. Ele começou a tossir violentamente, seu corpo reagindo ao gás.

A escuridão começou a se fechar ao seu redor, e, em um instante, o apartamento de Malcolm Devereaux desapareceu. E lentamente, Batman se viu diante de uma cena familiar, mas devastadoramente distante.

Ele estava em um beco, mas não qualquer beco; este era o Beco do Crime. A atmosfera era viva e vibrante, quase como se o tempo tivesse retrocedido. O cheiro de pipoca e algodão doce pairava no ar, reminiscente da noite em que sua vida mudou para sempre.

Ali estavam eles: Thomas e Martha Wayne, ao lado de seu jovem filho, Bruce. O sorriso iluminava o rosto do menino enquanto comentava entusiasticamente sobre o filme do Zorro que acabaram de assistir.

— Eu amei aquele golpe final! — Bruce exclamou, a excitação evidente em sua voz. — O Zorro é tão rápido, pai! Ele é como um verdadeiro herói!

Thomas olhou para seu filho com orgulho, seu sorriso refletindo a felicidade de Bruce.

— Você sabe, Bruce, ser um herói não é só sobre ser rápido. É sobre fazer o que é certo, mesmo quando é difícil — ele respondeu, passando a mão pelo cabelo do garoto.

Martha, com um brilho nos olhos, acrescentou:

— E é importante sempre lutar por aqueles que precisam, meu amor. O Zorro faz isso de uma maneira incrível!

A felicidade da cena contrastava dramaticamente com o que estava por vir. Os risos e a alegria rapidamente se transformaram em um frio desconforto quando uma sombra se projetou sobre a família. Um delinquente apareceu, emergindo das sombras com um olhar ameaçador e uma arma na mão.

— Passa a grana! — ele gritou, a arma apontada para eles. A tensão instantânea congelou o tempo.

A cena à frente se torceu em uma espiral de pânico. Bruce, o menino inocente, olhou para os pais, os olhos cheios de confusão e medo. Thomas e Martha Wayne se entreolharam, e o terror começou a tomar conta de seus rostos.

— Passa a porra da grana, caralho! — o delinquente exigiu, seu olhar fixo na família. Thomas, com seu instinto protetor, tentou se colocar à frente de Martha e Bruce.

— Amigo, espera! — ele disse, tentando apaziguar a situação.

Mas o homem estava além de qualquer razão. O medo e a fúria tomaram conta de Bruce enquanto ele assistia impotente, preso neste ciclo interminável de dor. Ele queria gritar, queria correr para salvá-los, mas estava preso neste lugar onde o tempo e a lógica não existiam.

Então, o golpe fatal aconteceu. O disparo ecoou pela noite, a vida de seus pais foi levada em um instante. O rosto de Bruce se contorceu em horror e desespero, um grito preso na garganta.

A cena escureceu, e Batman se viu de volta na névoa, a dor de sua infância pulsando em sua mente. O gás do Espantalho estava moldando seus medos mais profundos em uma realidade horrenda.

Tudo ao redor de Batman começou a se distorcer, como se a própria lembrança fosse corroída por uma força insidiosa. Os sons abafados dos passos de um jovem Bruce ecoaram no beco, seguidos do tilintar das pérolas de Martha caindo ao chão, como em um loop infindável de agonia. Batman observava, paralisado, tentando lutar contra o terror da cena, mas os eventos se repetiam, sempre terminando com o eco de tiros e a dor ardente da perda, um ciclo sem fim.

Batman estendeu a mão, tentando, pela enésima vez, alcançar o jovem Bruce, querendo gritar que ele estava ali, que tudo ficaria bem, mas suas mãos apenas atravessavam o vazio. A dor e o desamparo tomaram conta dele, o peso de sua própria história e as escolhas que o moldaram sendo recriados para atormentá-lo.

De repente, a cena começou a distorcer ainda mais, os ecos dos gritos tornando-se distantes, como se fossem tragados para as profundezas. E então, no meio da confusão mental, uma voz sombria e poderosa reverberou pela escuridão:

— O fim chegou, cavaleiro das trevas. Você não precisa mais ter medo.

Batman sentiu a frase pesar em sua mente, como se o próprio Espantalho estivesse manipulando cada fragmento de sua consciência. Ele lutava para sair daquele pesadelo, mas a voz persistia, cercando-o em todas as direções, sussurrando que era inútil resistir. Você não precisa mais ter medo...

Mas no âmago do seu ser, algo ressoou. Ele se lembrou de seu treinamento, da disciplina que construíra para enfrentar o medo, e da promessa que fizera naquele mesmo beco anos atrás. Ele não era apenas o menino aterrorizado. Ele era o Batman.

Respirou fundo, concentrando-se, lutando contra as ilusões, contra o terror implantado pelo Espantalho. Lentamente, a escuridão ao seu redor começou a dissipar-se. As imagens do beco e dos ecos de sua infância se diluíram, e Batman se viu de volta ao apartamento.

E lá, parado diante dele, estava o Espantalho, o rosto escondido por uma máscara aterrorizante, mas os olhos revelando uma centelha de satisfação ao ver Batman lutando contra sua toxina.

Por um instante, o Espantalho pareceu imerso em sua própria admiração, mas logo ele percebeu que algo mudara no Cavaleiro das Trevas. Com o reflexo rápido de quem sente o perigo iminente, o Espantalho agarrou uma cadeira próxima e a arremessou em Batman, tentando manter a distância.

Mas Batman, em um movimento instintivo, desviou da cadeira com um giro ágil, avançando rapidamente. Com um soco certeiro, ele nocauteou o Espantalho, que desabou ao chão com um baque surdo.

Batman se aproximou do vilão caído, mantendo a vigilância. Seus pensamentos ainda estavam em alerta, mesmo após a breve vitória. Ele ativou seu comunicador e, em poucos segundos, enviou a localização para a polícia. Espantalho fora neutralizado, mas algo ainda o inquietava.

"Isso não termina aqui."