Capítulo 6:Entre o Passado e o Futuro
O dia de Laura começou cedo. A campainha tocou logo pela manhã, e ela foi até a porta. Isabela estava ali, acompanhada por três funcionários da transportadora especializada, que haviam chegado para levar o piano para revisão antes da turnê. Laura abriu a porta, sentindo o peso do dia que estava por vir, e sorriu ao ver a amiga.
— Oi, Isa! — Laura disse animada
— Oi, amiga! Trouxe os rapazes da transportadora para levar o piano pra revisão. Eles vão dar uma revisão completa nele. A ideia é deixá-lo em perfeito estado para quando a turnê começar.
Laura acenou com a cabeça, aliviada ao ver que a amiga estava ali para ajudar. Isabela, como sempre, parecia saber exatamente o que Laura precisava. Os três funcionários começaram a preparar o piano para o transporte, enquanto as duas conversavam.
— Eu realmente não sei como você consegue dar conta de tudo isso, Laura. — Isabela observou, com um sorriso preocupado. — Está parecendo exausta.
— Eu estou. Acordei cedo para começar os preparativos. Já acertei minhas férias na escola de música para não deixar meus alunos sem aulas e conversei com o maestro sobre a minha ausência. Ele entendeu, mas pediu para que eu deixasse tudo bem organizado. Agora, só faltam os últimos detalhes para a turnê, como acertar as partituras e preparar o piano para a viagem.
Isabela sorriu com um olhar compreensivo.
— Uau, você realmente está se entregando de corpo e alma a essa turnê. Acho que você está pronta para brilhar. Mas não se esqueça de cuidar de si mesma, hein?
Laura sorriu de volta, embora a tensão em seu corpo ainda estivesse evidente. Ela sabia que a oportunidade era importante, mas também sentia um peso crescente.
— Vou tentar, Isa. Eu só... — Ela fez uma pausa, tentando juntar as palavras. — Sinto que algo está por trás dessa turnê, algo que não consigo entender direito.
Isabela a olhou atentamente, não sabendo bem o que Laura queria dizer.
— Como assim?
— Não sei, é uma sensação estranha. Algo dentro de mim diz que essa turnê vai trazer desafios que eu não estou prevendo.
Isabela ficou em silêncio por um momento, refletindo sobre o que Laura disse.
— Eu sei que você pode lidar com isso, Laura. Você é muito mais forte do que imagina. E você vai tirar o melhor dessa oportunidade. Mas lembre-se de confiar no seu instinto.
Laura respirou fundo, sentindo-se um pouco mais tranquila. Quando a transportadora começou a carregar o piano para a turnê, ela se despediu de Isabela e foi cuidar dos outros detalhes.
Mais tarde, na escola de música
Após a visita da transportadora e os preparativos para a turnê, Laura foi até a escola de música. Já havia acertado suas férias com o maestro e estava pronta para conversar sobre outro assunto importante: sua substituição durante o período de ausência.
Ao entrar no escritório do maestro, ela foi recebida com um sorriso acolhedor.
— Laura, como você está? Preparada para a turnê?
— Estou sim, maestro. As férias já estão acertadas e a escola vai ficar em boas mãos durante o meu tempo fora. Agora, quero falar sobre a parte da preparação das partituras. Você pode me ajudar a garantir que tudo esteja bem organizado para os meus alunos durante a minha ausência?
O maestro assentiu, pegando algumas partituras na mesa.
— Claro, Laura. Eu já organizei o cronograma para os seus alunos. Deixe-me apenas revisar as últimas atualizações e as lições que você deixou. Quando você voltar, estará tudo pronto para continuar.
Laura sorriu, aliviada por saber que os alunos estariam bem cuidados.
— Obrigada, maestro. Isso me deixa mais tranquila. Agora posso me concentrar completamente na turnê.
— Fique tranquila, tudo estará em ordem. Aproveite esse tempo para seguir seu caminho artístico, Laura. Estou confiante de que você vai fazer um excelente trabalho.
À noite, o telefonema de Pedro
O final da tarde chegou, e Laura, cansada de tanto correr contra o tempo, finalmente se sentou para descansar um pouco. Mas então, o telefone tocou, interrompendo sua tentativa de relaxar. Ela olhou para o visor e viu o nome de Pedro, o gerente da turnê. Respirou fundo e atendeu.
— Alô, Pedro? — perguntou, tentando esconder o cansaço da voz.
— Oi, Laura! Como estão os preparativos? Tudo certo para a turnê?
— Sim, estou ajustando os últimos detalhes. As férias na escola estão acertadas, o piano foi revisado e agora está sendo transportado para os hotéis. Agora, só falta um pouco mais de organização.
— Ótimo! Então, tenho uma novidade para você. O Ethan pediu para eu te avisar que ele quer te mostrar alguns dos hotéis pessoalmente. Ele acredita que seria importante você conhecer os espaços onde vai se apresentar.
Laura congelou por um momento. A ideia de passar mais tempo com Ethan, de vê-lo fora do ambiente de trabalho, lhe causava um desconforto que ela não conseguia explicar.
— Pessoalmente? — perguntou, tentando manter a voz calma, apesar do frio na espinha que sentiu.
— Sim. Ele sugeriu que você visitasse o hotel principal primeiro. Ele quer ter certeza de que você se sinta confortável com o espaço e os pianos.
Laura tentou não demonstrar a inquietação que sentia.
— Quando ele quer que eu vá?
— Amanhã à tarde. Ele está esperando por você para começar a visita.
Ela respirou fundo, tentando acalmar seus pensamentos.
— Está bem, Pedro. Pode avisar ao Ethan que estarei lá.
— Perfeito, Laura. Até amanhã então!
Ela desligou o telefone e se recostou na cadeira, o coração ainda acelerado. A ideia de encontrar Ethan em um ambiente mais privado, sem o distanciamento profissional das apresentações, a deixava com um sentimento desconfortável. Algo dentro dela dizia que havia mais por trás daquela visita. Mas o que exatamente?
Ela levantou-se e olhou pela janela. O céu estava escuro, e a cidade começava a se acender com as luzes da noite. Laura sabia que, no dia seguinte, teria que enfrentar mais um desafio, mas também se sentia preparada para lidar com isso, pelo menos por enquanto.
Porém, conforme o silêncio da noite se instalava em seu apartamento, seus pensamentos começaram a se voltar para outra pessoa, alguém muito mais distante. Daniel. Ela se perguntava onde ele estaria agora, se ainda estava por aí, vivendo a vida dele, ou se algo havia mudado desde o acidente. A imagem de Daniel ainda estava viva em sua mente, mas as lembranças eram vagas, como uma névoa espessa que ela não conseguia dissipar. Ela queria entender, queria saber o que aconteceu com ele, mas ao mesmo tempo, não sabia se estava preparada para enfrentar essa verdade.
"Será que ele ainda pensa em mim?", pensou, com um aperto no peito. Ela fechou os olhos por um momento, tentando se lembrar de algo mais, de algum detalhe que a conectasse a ele, mas nada vinha. A sensação de vazio era profunda. Onde quer que Daniel estivesse agora, Laura desejava que, de alguma forma, ela pudesse encontrar as respostas que tanto procurava.
Ela puxou a cortina para o lado e olhou para o horizonte. A noite estava quieta, mas seus pensamentos estavam em constante movimento. Ela tinha uma turnê pela frente, mas seu coração estava dividido, entre a música e o passado. Ela não sabia o que o futuro lhe reservava, mas esperava que, em algum momento, as peças se encaixassem.
Com um suspiro profundo, Laura se levantou da janela e se dirigiu para a cama. Ainda com a mente agitada, ela se deitou e fechou os olhos, tentando relaxar. Mas, mesmo com o cansaço físico, o sono não veio fácil. A mente de Laura estava cheia de dúvidas, de perguntas sem respostas. Só então, depois de muito pensar, ela finalmente cedeu ao cansaço, e em um momento de quietude, caiu no sono.