LUA
Não importava quanto tempo Daemon NorthSteed ficasse do lado de fora da câmara de seu pai, esperando pela aprovação de um encontro com ele que seria o último, o Rei Alfa recusava-lhe a audiência.
Na verdade, em um ataque de fúria que se espalhou para o exterior, Daemon ouviu o rosnado inconfundível de seu pai gritando e professando seu ódio por Daemon em uma voz que havia se tornado crescentemente fraca. Então, uma hora depois de Daemon estar do lado de fora, um Epsilon trouxe o comando oficial do Rei.
Daemon ajoelhou-se para receber o comando que vomitava palavras horríveis. Mas nem mesmo isso abalava sua aparência estoica semelhante a uma estátua. Pois, embora parecesse que ele queria ver seu pai, seu rosto não mostrava nenhuma das emoções de decepção ou ódio que se esperaria.
Ele era como uma tela em branco. E quando o comando do Rei Alfa foi lido para ele, um sorriso suspeito puxou seus lábios. Tão suspeito que qualquer estranho pensaria que ele estava feliz por ser banido.
"Eu, Rei Alfa NorthSteed, cometi um pecado. Vinte e dois anos atrás, quando Daemon NorthSteed nasceu, eu deveria tê-lo mandado matar pelo crime de desgraçar o corpo da ex-Rainha Luna e minha companheira. Mas devido ao meu amor paterno por ele, deixei meu filho traiçoeiro perambular.
"E agora, mesmo querendo matá-lo por tentar tomar minha vida e meu trono quando não é seu direito. Os Alfas das Seis Matilhas de Alto Escalão intercedem para proteger sua traição. Tudo que posso fazer é bani-lo para lutar na guerra na fronteira dos glaciares. Ele deve reprimir o levante dos Renegados Nascentes e expiar seus pecados. Este é o meu comando, e qualquer objeção enfrentará a ira do meu lobo!"
"Eu recebo o comando do Rei Alfa," foi a resposta desinteressada de Daemon acompanhada de um encolher de ombros que surpreendeu o Escrivão que lhe leu o comando. "Transmita minha despedida ao Rei Alfa."
E com isso, Daemon se afastou, nunca olhando para trás.
Logo após Daemon deixar a entrada da residência do Rei Alfa, Moorim e uma figura encapuzada e suspeita agraciaram a residência do Rei Alfa.
Pruritus Galan, o Gamma das Matilhas que estava guardando a entrada da residência do Rei Alfa recuou levemente ao ver o rosto da figura encapuzada.
O homem, que estava ao lado de si mesmo com pensamentos de como salvar sua cabeça miserável no evento do que parecia uma tomada de poder extremamente violenta, estava novamente em conflito.
Ele deveria ficar? Ou ele deveria fechar os olhos? Essas eram as perguntas que ele se fazia, mas a resposta estava mais longe dele do que antes.
Como o Gamma da matilha NorthSteed, era seu dever cuidar da segurança do Rei Alfa. Ele e sua casa, os Galan's, haviam prometido tanto... sua lealdade ao Rei Alfa.
Mas ultimamente, essa lealdade havia se despedaçado até que tudo o que restava dela eram destroços. Ele tentava dizer a si mesmo que não era sua culpa. Que era culpa do Alfa por permitir que a objeção traiçoeira consumisse seus pensamentos, mas Pruritus sabia melhor.
Ele, o Gamma da matilha, havia traído seu Alfa. E tal traição faria sua cabeça rolar quando ele fosse exposto... e isso certamente seria em breve.
E ainda assim, Pruritus tomou sua decisão. Ele fechou os olhos, permitindo que Moorim e a figura encapuzada traiçoeira entrassem na residência do Rei Alfa. Pois essa era a única aposta que ele podia pagar.
No interior, o Rei se animou ao ouvir o som da porta se abrindo. "Daemon?" Ele sussurrou, uma coisa crua e primal como esperança ferindo seu peito.
De fato, ele havia afastado seu quarto filho. Vez após vez, ele havia traçado uma linha que Daemon não deveria cruzar. Mas em sua tristeza e confusão habilidosa, ele não sabia se suas ações estavam certas ou não.
Naquele momento de dúvida sobre suas ações, a voz em sua cabeça sussurrou, 'Prata ardente? Você esqueceu que ela é minerada apenas no Deserto? Quem mais poderia ter colocado as mãos nela senão Daemon, seu filho nascido da verdadeira mulher de sangue das Terras Secas?'
Por mais que o Lobo Ártico do Rei Alfa lutasse contra a voz, seu corpo cansado era fraco e não conseguia totalmente repeli-la. Assim, atormentado, ele estava enterrado no sussurro áspero de sua própria mente.
Moorim e a figura encapuzada entraram na sala, fazendo o Rei Alfa squint. Com seus olhos superiores, ele discerniu quem era o companheiro de seu Beta. "Eldric?" Ele sussurrou mais para si mesmo, confusão colorindo suas feições.
Ele se perguntava o que seu quinto filho legítimo estava fazendo ali.
Moorim sorriu um sorriso sombrio, "Sua majestade, Eldric veio vê-lo."
Parados lado a lado na sala bem iluminada, a dupla compartilhava algumas semelhanças marcantes que o Rei atribuía ao seu olhar confuso. Pois como seu Beta e filho poderiam compartilhar uma semelhança?
Eldric baixou seu capuz e sentou-se na cama ao lado de seu pai enquanto Moorim servia álcool que ele ofereceu ao Rei, agora sentado na cama em posição ereta.
"Como você tem estado, pai?" Eldric perguntou em uma voz desprovida de seu habitual júbilo.
"Estou bem. O que você está fazendo aqui?" O Rei Alfa perguntou de maneira brusca enquanto engolia o líquido marrom que borbulhava no copo. Nos últimos dias, ele mal conseguia sobreviver sem injetar seu corpo com o líquido, era a única coisa que o mantinha são.
"Eu vim vê-lo, pai." Eldric respondeu, sua voz cheia de... anseio e algo mais. "Pai, Daemon cometeu um erro grave. Com sua permissão, enviarei nossos Epsilons de elite para ter sua cabeça..."
"Você não fará tal coisa!" O Rei Alfa rugiu, enviando o copo do qual bebia voando na parede. Seu conteúdo derramou, colorindo as paredes brancas e imaculadas de marrom.
Moorim observou o líquido pingando impassivelmente. Não seria a primeira coisa que mancharia as paredes da sala. Afinal, ela já tinha visto mais sangue do que deveria ser possível.
Eldric, que não havia esperado a reação aterrorizante de seu pai, levantou-se da cama e curvou seu corpo trêmulo para ele. "Perdoe-me por causar sua raiva, pai… quero dizer, sua majestade."
Um silêncio desconfortável se estabeleceu entre o trio. Pai, filho e observador.
Em uma voz mortalmente tranquila que soou clara na sala, Eldric falou, "Você não o odeia? Ou talvez você esteja feliz que os cinco Alfas tenham salvado seu pescoço que você hesita em reivindicar."
"Como você ousa!"
"Você me ama? Você já pretendeu passar seu Lobo Ártico para mim? Ou talvez você pretenda que o lobo termine com você?"
"E por que eu deveria passá-lo para você, filho de um verme?! Então você tem ambição, hein? É uma pena que comparado a Daemon, você ainda não é nada!"
"Claro que eu não sou nada! Como eu poderia comparar com seu filho dourado de sua companheira dourada. Quero dizer, até ele suporta o peso do seu ódio, quanto mais eu mesmo?"
Moorim, que observava a troca impassível, foi sacudido quando o Rei Alfa falou com ele em seguida, "Por que você o trouxe aqui?!" Ele gritou.
Moorim simplesmente buscou outra jarra de álcool, sua postura faltando a submissão normal que normalmente teria.
"Perdoe-me, sua majestade." Ele disse displicentemente, entregando ao Rei Alfa um copo de vidro. Moorim despejou-lhe álcool, mesmo quando o copo estava cheio, ele continuou derramando até que a roupa de cama e a pele do Alfa estivessem ensopadas.
"O que você está fazendo?!"
"Você deve me perdoar, sua excelência."
"O que você quer dizer?"
"Você ouviu a grande vidente, não ouviu? O tempo do Lobo Ártico está próximo."
Antes que o Rei Alfa pudesse dizer mais, ele começou a agarrar violentamente a sua garganta como se uma terrível coceira o tivesse dominado. O copo transbordante naturalmente caiu e se estilhaçou no chão.
"O qu... o que você fez?" Ele gaguejou, ofegante por ar.
A simples resposta de Moorim tinha sido, "Você não pode mais nos liderar."
"E qu... quem é voc... você para tomar tal decisão! Eu sou o seu Alfa e re... rei! Curve-se perante mim!"
E enquanto os olhos do Rei Alfa oscilavam entre dourado e preto como uma coisa moribunda, Moorim de fato se curvou para ele.
O Rei Alfa, ainda arranhando sua garganta, tentou se transformar com todas as suas forças... mas isso apenas aumentou a coceira em sua garganta, mergulhando-o em uma dor terrível. Era como se suas entranhas estivessem queimando, e seu lobo estava preso em um loop onde não conseguia se curar.
"Pai, a prata ardente vai reivindicar sua vida a essa taxa," Eldric disse com uma voz ameaçadora. Ele deu um passo mais perto dele, olhando para baixo para seu Alfa, Rei e Pai, "Eu aconselharia contra arranhar sua garganta antes de você encontrar sua morte por suas próprias garras."
O Rei Alfa caiu da cama para o chão endurecido. Ele estava estendido diante de Moorim, que ainda mantinha sua reverência, e de seu filho que o cercava como um abutre descendo sobre um cadáver.
"Como... ousa... você... filho... de... um... verme! Tentar... conquistar... MEU TRONO!"
"'Quem irá matá-lo? E quem irá tomar seu trono?' Sua grande vidente não apontou os dedos para Daemon como o culpado? Você não acredita nas palavras dela? Ou você não confia em seu Teta que supervisionou o processo?!" Eldric zombou, rindo loucamente.
"O qu... o que... vocês... dois... fizeram?!" O Rei Alfa ofegou, cuspindo sangue. Moorim, que ainda mantinha a reverência, não olhou para cima... nem respondeu.
"O que eu deveria ter feito há muito tempo!" Eldric gritou, lágrimas de frustração rolando por suas bochechas.
Em voz baixa, Moorim murmurou, "Eldric, faça isso."
Eldric desviou o olhar, ofegante.
"Faça isso." Moorim disse mais enfaticamente.
Mas Eldric não enfrentaria eles.
"Faça agora! Você deve reivindicar o lobo de seu pai antes que ele morra!"
O Rei Alfa, nos estertores de seu fim, já não podia mais formar palavras. Em vez disso, tudo o que ele podia fazer era assistir à cena horrível se desenrolando diante dele.
Eldric finalmente se virou, a cor furtiva colorindo sua postura. Ele avançou para o rei com olhos mortos.
"Apenas um golpe no pescoço dele seria suficiente." Moorim murmurou baixinho enquanto o Rei Alfa continuava arranhando seu pescoço.
"Mas todos saberão que eu sou um alfa de sangue," Eldric disse astutamente.
"Eu cuidarei disso."
O lobo de Eldric borbulhava na superfície, seus olhos castanhos brilhando e suas garras e presas aparecendo. Seus cabelos cresciam à medida que a meia-transformação se completava. Meio besta, meio homem, ele rosnou baixinho, avançando para o rei.
E sem olhar para trás, ele golpeou o pescoço do Rei Alfa com um único golpe limpo, reivindicando o lobo que ele acreditava ser seu por direito.
Ofegante por ar, e enquanto a vida deixava os olhos do Rei Alfa, ele só conseguiu balbuciar uma última palavra,
"Dae… monnnn."