ZINA
"Obrigada por concordar em me encontrar." Theta Amélia disse no momento em que Seraph as deixou sozinhas.
Zina ficou levemente surpresa com a suavidade de sua voz. Não era pra Theta estar irritada com ela por ter roubado sua posição com alegações desprezíveis?
Involuntariamente, a mente de Zina voltou às palavras anteriores de Modrich. No sexagésimo aniversário de Alfa Belmore WolfKnight, Zina tinha visto uma visão vaga da ascensão dos WolfKinght's, que era na verdade uma alcateia prestigiosa do passado.
Ela havia contado a visão entre aplausos e risadas, e todos olharam para aquele futuro com expectativa. Zina, por sua vez, imaginou que se tornaria a Theta dos WolfKnight's em seu eventual renascimento. Mal sabia Zina que ela seria o custo de tais visões. De fato, sua visão espiritual adorava jogar um jogo cruel consigo mesma.
"Você parece carregada de pensamentos. E vejo que você tirou a venda."
"Eu senti vontade de libertar meus olhos."
"Você realmente parece melhor sem a venda. Seus olhos, eles veem o mundo."
Zina ficou surpresa com o rumo da conversa. E, porque o suspense estava a matando, ela perguntou, "Por que você me convocou?"
"Impaciente, vejo."
"Alguém estaria de outra forma se estivesse na minha situação?"
"Há muito tempo espero por você."
A respiração de Zina parou na garganta com as palavras que soaram como uma confissão.
"Você estava esperando por mim?" Zina repetiu, pedindo esclarecimentos.
"Vou ser rápida," a mulher disse, ignorando sua pergunta, "vinte e dois anos atrás, meu predecessor contou ao agora Falecido Alfa Rei uma visão."
Zina tentou agir como se ouvir que um homem que tinha vivido e respirado naquela noite agora era falecido fosse uma coisa normal.
"Qual era essa visão?"
"Que a grandeza havia nascido em sua casa, e que essa grandeza precisaria pagar um preço para sobreviver."
"Quem é essa grandeza?"
"Quem ele é não importa tanto quanto contra o que ele tem que lutar."
"Contra o que essa grandeza tem que lutar?" Zina perguntou com uma voz tingida de medo.
"A própria coisa que Salin viu em suas visões esta noite."
Zina parou, Salin era a vidente de meia-idade daquela noite.
"O Deformado," Zina murmurou, sua voz possuindo uma distância sobrenatural, "ela também me chamou de portadora da ruína."
"Posso te contar uma história?" Theta Amélia disse com leveza nas palavras.
Zina, sem saber como responder, apenas acenou com a cabeça. Ela esperava que ela gritasse, a repreendesse, mas, em vez disso, tudo que Zina podia sentir era o quão calma ela estava.
Uma calma que a deixava levemente perturbada.
"Você já ouviu falar sobre como nosso continente Vraga veio a ser?"
"Há muitas histórias de criação, mas nós descendemos do Grande Lobo Fera, não?"
"De fato, existem muitas histórias de criação, mas a que vou te contar é certamente uma história que você não ouviu, pois ela não existe em uma aldeia pequena como a que você foi criada. Para dizer a verdade, é uma história de amor. Mas também é muito curta."
Zina não disse nada a isso, enquanto a palavra 'amor' pairava entre elas como um sussurro mortal.
"A lua uma vez caminhou por uma terra vazia, onde apenas coisas que rastejavam na sombra existiam. Ela era uma mulher, embora uma exquisita. Com beleza inigualável, as coisas que rastejavam na sombra não tinham chance de disputar por seu coração, ou sua mão.
"Mas o Grande Lobo Fera a cobiçava. Sabendo que ele não era páreo para conquistar sua mão, pois também lhe faltava beleza, ele percorreu todas as terras à procura de algo digno do deleite da lua. Um dia, nas extremidades do continente, o Grande Lobo Fera encontrou uma criatura com traços finos. Dois olhos, duas orelhas, um nariz e uma boca todos bem alinhados. A criatura andava sobre duas pernas e balançava dois braços. Tinha um corpo superior e um corpo inferior bem definidos, e para dizer o mínimo, ele era uma coisa muito fina.
"A criatura era chamada humano. E o Grande Lobo Fera o caçou e o possuiu. À vontade, ele poderia alternar entre lobo fera e humano. Na forma humana, ele seduziu a Lua e se deitou com ela. Antes que Lua descobrisse sua traição, ela já estava grávida de seu filho. Ela deu à luz gêmeos em um parto que foi o mais turbulento. Um de seus filhos era peculiar, e tinha a habilidade de alternar entre homem e lobo, mas o outro…."
"O que sobre o outro?" Zina perguntou no silêncio que se seguiu às suas palavras.
"O outro não possuía as qualidades refinadas da lua, nem a arcaicidade do lobo fera. Não, essa criança era uma culminação de todos os seus desejos distorcidos; a ganância do Grande Lobo Fera e a raiva titilante da Lua. O primeiro filho foi chamado Vraga e ele encontrou nosso continente, e o outro, ele não recebeu um nome, foi jogado nas montanhas para morrer. Diziam que ele amaldiçoou Vraga, que de seus descendentes, uma vez a cada década, ele certamente apareceria, e da montanha para onde foi jogado, ele certamente se multiplicaria."
"Essa história tem alguma verdade, nem que seja mínima?" Zina perguntou, perplexa.
"É o que é. Ouvi dizer que você previu a gravidez de Luna Selvagem de um Deformado?"
Zina ficou em silêncio diante disso.
"Eles estão chegando, Zina. Você lutará muitas lutas; contra o novo Alfa Rei, contra você mesma e contra as alcateias que mais tarde gritarão por sua morte. Mas nenhuma luta será mais feroz do que a que será lutada contra o Deformado."
Pela primeira vez naquela noite, arrepios percorreram a pele de Zina enquanto as palavras da mulher realmente afundavam.
"Quem é o novo Alfa Rei?" Zina perguntou em vez disso, com uma voz dolorida, sabendo muito bem que quem quer que fosse era a pessoa por trás de sua traição de uma forma ou de outra.
"Eldric NorthSteed, o quinto filho legítimo do falecido Alfa Rei," a mulher disse sombriamente. Como se para confirmar que ela também de fato, estava ciente da traição de Zina, ela acrescentou,
"Você está triste que acusou o homem errado? Ou talvez, você esteja triste que o preço de sua falsa acusação foi nada?"
A palavra 'nada' pairava entre elas. E Zina, a garota que dificilmente chorava, sentiu suas lágrimas surgirem pela enésima vez naquela noite.
Mas desta vez, elas derramaram.
Seu encontro com Theta Amélia poderia ser uma armadilha. Uma tentativa de expor seus crimes, e ainda assim, Zina não resistiu ao ímpeto de derramar seu coração.
"Então este Eldric é o que assassinou o Rei e reivindicou seu trono." Zina riu da ridicularidade da situação, suas lágrimas ainda descendo.
A mulher estava estranhamente silenciosa.
"Por quê?" Zina sussurrou, "por que os poderes desconhecidos que aparentemente controlam nosso poder de ver não o expuseram?"
Uma mão pousou em seu ombro como se para lhe dar conforto, "Eu também vi a morte do Alfa Rei. Que ele morreria nas mãos de um de seus filhos, mas sempre que tentava ver qual filho seria, uma jovem tão bela quanto a deusa, com cabelos tão brancos quanto a neve, e olhos tão brancos quanto a lua era quem aparecia nos meus sonhos."
A respiração de Zina engasgou na garganta.
"Fui eu quem vi." A mulher adicionou como se para confirmar o que Zina já suspeitava.