Na sala de aula da classe número 5, a professora Laila instruía os alunos sobre o Reino Secreto. A sala estava praticamente vazia, com menos da metade dos alunos presentes. Isso se devia ao fato de muitos não terem conseguido contratar sua primeira besta guardiã nos últimos três dias. Assim, desistiram de seguir o caminho do cultivo para levar uma vida como pessoas normais. Era algo muito comum; todos os anos isso acontecia. Afinal, criar uma besta guardiã era extremamente caro, e poucos alunos conseguiam comprar um filhote de besta. Menos ainda arriscariam tentar capturar uma na natureza, como Arthur planejava, pois essa escolha era praticamente suicida.
Laila, já acostumada com esse cenário, não demonstrou reação. Com uma postura firme, ela começou a explicar:
— Muito bem, o Reino Secreto que a escola está disponibilizando este ano é o Reino da Floresta Negra. Lembrem-se, apesar de ser um Reino Secreto de baixo nível, ainda é extremamente perigoso. Qualquer erro pode custar suas vidas.
Os alunos escutavam em silêncio, com expressões sérias. A professora continuou:
— O objetivo de vocês é sobreviver por três dias no Reino Secreto. Vocês precisarão se virar sozinhos ao entrar. Embora tenhamos alguns professores observando, eles só irão interferir se algo ultrapassar completamente o que vocês podem lidar.
Com olhos afiados, Laila varreu a sala com o olhar antes de finalizar:
— Vocês têm cinco minutos para se prepararem. Depois disso, irei levá-los até a entrada do Reino Secreto.
Ela então virou-se para Arthur e disse:
— Arthur, venha comigo.
Sem questionar, Arthur assentiu e seguiu a professora até outra sala.
Chegando à sala, Laila olhou para Arthur e perguntou:
— Então, qual é a sua resposta à minha proposta?
Arthur a encarou com um olhar firme e respondeu:
— Eu aceito, professora. Mas ainda quero participar do Reino Secreto.
Laila ficou perplexa por um momento, mas não disse nada. Apenas assentiu com a cabeça. Para ela, cada pessoa deveria escolher o próprio caminho. Ela só estava tentando ajudar porque Arthur sempre fora um excelente aluno. Mas, no final, a decisão era dele.
— Muito bem, fico feliz que tenha aceitado. Mas peço que tome cuidado no Reino Secreto. Não tente contratar uma besta guardiã sacrificando sua vida — disse a professora.
Arthur concordou com um leve aceno.
— Não se preocupe, professora. Não vou fazer nada além das minhas capacidades. Não planejo morrer tão cedo.
Laila deu um pequeno sorriso. Depois de algumas explicações adicionais sobre o Reino Secreto, ela reuniu todos os alunos para partir.
A entrada do Reino Secreto da escola ficava em algum lugar na floresta que cercava a cidade.
Laila guiou seus alunos até o grande pátio. Ao chegarem, perceberam que o lugar já estava lotado de estudantes de outras classes. O burburinho era alto, mas não demorou muito para que tudo começasse.
O diretor, um homem de presença imponente, foi o primeiro a falar:
— Já que estão todos prontos, vamos começar.
Assim que terminou de falar, uma poderosa energia espiritual começou a vazar de seu corpo como um rio caudaloso, fluindo para o chão do pátio. Aos poucos, o chão começou a brilhar intensamente, atraindo a atenção de todos.
Arthur, sempre atento, observava as mudanças e notou que marcas estranhas surgiam no chão, formando um intricado padrão que circundava todo o pátio.
— Uma matriz de teletransporte... — murmurou um aluno a poucos metros de Arthur, com os olhos arregalados de admiração.
Antes que os alunos pudessem fazer qualquer alvoroço, a luz no chão se intensificou drasticamente. Em um instante, um flash cegante tomou conta do lugar, e, quando a claridade dissipou, todos haviam desaparecido.
Poucos segundos depois, Arthur e os outros alunos reapareceram em um lugar completamente diferente. Era um pátio aberto, cercado por vegetação densa, com a entrada de uma vasta floresta visível ao longe. A brisa carregava o aroma fresco da natureza, enquanto os sons de pássaros e outros animais ecoavam pelo ar.
Os alunos ficaram um pouco espantados no início, mas, sob a orientação firme dos professores, logo se acalmaram. Sem perder muito tempo, o diretor assumiu a liderança e guiou o grupo até a entrada do Reino Secreto. O trajeto não era longo; em cerca de cinco minutos de caminhada, eles chegaram ao destino.
A primeira visão que tiveram foi de um portal gigantesco, envolto em uma escuridão densa. Parecia um buraco negro, mas, ao contrário de um verdadeiro, não possuía força gravitacional. No entanto, sua aparência era intimidadora, e ninguém conseguia enxergar o que havia além dele. A energia que emanava do portal era sufocante, carregada de uma tensão palpável.
Olhar fixamente para o portal dava a sensação de encarar o abismo. Muitos alunos sentiam um medo crescente no peito. Até mesmo Arthur, apesar de se esforçar para manter a compostura, não conseguiu evitar o calafrio que percorreu sua espinha.
Os professores não deram tempo para os alunos se acostumarem ao ambiente. Com passos firmes e uma postura séria, um dos professores tomou a frente e anunciou:
— Muito bem, não vamos perder tempo! Tirem logo suas bestas guardiãs do espaço de bestas e preparem-se para entrar pelo portal.
A voz firme e autoritária deixou claro que não havia espaço para hesitações. Os alunos começaram a agir rapidamente, liberando suas bestas guardiãs. O ambiente foi tomado por sons diversos: rugidos, grunhidos e outras manifestações das criaturas, que agora se materializavam ao lado de seus mestres.
A tensão aumentava à medida que cada aluno se preparava para cruzar o portal.
Arthur olhou para todas aquelas criaturas magníficas com um olhar de inveja, sentindo-se pequeno diante das esferas brilhantes e bestas guardiãs poderosas que os outros alunos possuíam. Contudo, ele logo retomou sua postura confiante, escondendo qualquer vestígio de insegurança. Os professores, conhecendo a situação de Arthur, não deram muita atenção. Afinal, como Laila havia mencionado, cada aluno tinha o direito de escolher seu próprio caminho, e eles não tinham o direito de impedir.
A entrada no portal começou. Um a um, os alunos eram enviados para o Reino Secreto. Arthur foi o último a passar, junto com os professores.
Quando atravessou o portal, a visão que o aguardava era tanto fascinante quanto assustadora. O ambiente era uma floresta densamente povoada por árvores gigantescas, tão altas que pareciam tocar o céu. No entanto, o céu era de um negro profundo, como se a noite reinasse eternamente naquele lugar. A escuridão emanava da própria floresta, envolvendo tudo em um ar de mistério e perigo iminente.
Os professores não perderam tempo e começaram a dar as instruções:
— Muito bem, alunos! A partir de agora, vocês estão por conta própria. Sua tarefa principal é simples: sobreviver por três dias. Como vocês ainda são iniciantes, não iremos atribuir missões como matar bestas ou algo do tipo. Apenas sobrevivam.
O professor fez uma pausa, olhando para cada aluno com seriedade, antes de concluir:
— Cada um de vocês deve passar três dias inteiros no Reino Secreto. Se não conseguirem, estarão automaticamente desclassificados e deverão deixar a escola. Não terão outra chance de ingressar em uma faculdade de Mestres de Bestas, pois terão provado que não são dignos.
O peso das palavras caiu sobre os alunos como uma tonelada. Para Arthur, o desafio era ainda mais significativo. Ele sabia que aquele era o primeiro grande teste de sua jornada, e fracassar não era uma opção.
Todos os alunos assentiram com a cabeça, cientes da gravidade do desafio, e logo partiram. Mesmo com os professores afirmando que matar bestas não era obrigatório, a maioria sabia que isso seria inevitável. Afinal, como sobreviver durante três dias sem comida ou água?
Grupos começaram a se formar rapidamente, enquanto alguns alunos mais corajosos ou confiantes optaram por seguir sozinhos pela floresta. A clareira, que inicialmente estava cheia de jovens, logo ficou quase vazia. Em poucos minutos, restavam apenas os professores e Arthur.
Diferente dos outros, Arthur avançou com extrema cautela. Seus passos eram calculados, e sua expressão, atenta. Ele sabia que, sem uma besta guardiã ao seu lado, qualquer erro poderia ser fatal.
Arthur escolheu seguir por um caminho onde menos alunos haviam ido. Ele avançava com cautela, atento ao menor sinal de perigo. Seus passos eram lentos e silenciosos, enquanto olhava constantemente ao redor, verificando se não havia professores por perto ou qualquer sinal de bestas perigosas ao alcance.
Após cerca de dez minutos de caminhada, encontrou uma árvore com um tronco
extremamente grosso e subiu nela com agilidade. Sentando-se em um dos galhos
mais altos e seguros, Arthur respirou fundo, buscando manter a calma Com movimentos calculados, ele retirou um colar que usava ao redor do pescoço. Em seguida, pegou um pequeno canivete de seu bolso e fez um corte preciso em seu dedo. Fechando os olhos, concentrou toda a sua energia espiritual na gota de sangue que escorria lentamente Ao abrir os olhos, sua expressão era de determinação. Ele murmurou, com firmeza.
- Vamos começar.
Assim que a gota de sangue de Arthur pingou no colar em formato de estrela, ele sentiu uma energia pura e elemental envolvê-lo completamente. Era como se o próprio ar ao seu redor pulsasse com vida. De repente, com um som abafado, puf, Arthur desapareceu de onde estava.
— Ai! Droga! — ele exclamou, ao cair com força no chão.
Aos poucos, Arthur tentou se levantar, ainda sentindo o impacto da queda. O ambiente ao seu redor era completamente escuro, quase opressor. Ele tateou o chão e percebeu que estava em uma superfície fria e irregular, como se estivesse em uma caverna. A sensação de confinamento era real, e a ausência de luz tornava difícil até mesmo localizar-se.
Enquanto se adaptava à escuridão, Arthur respirou fundo, tentando acalmar a mente e organizar os pensamentos.
Depois de alguns minutos, Arthur conseguiu se adaptar, mais ou menos, à escuridão. Ainda era incrivelmente difícil de enxergar, mas ele sabia que tinha que seguir em frente. Não fazia ideia de onde estava, mas provavelmente em uma caverna. O que mais o preocupava, porém, era o que poderia habitar aquele lugar. Com isso em mente, decidiu avançar.
Ele caminhou por mais 10 minutos, ainda com muita dificuldade de enxergar. Porém, aos poucos, percebeu que estava descendo. Era como se estivesse cada vez mais fundo em algum tipo de caverna. Não tinha muito o que fazer além de continuar, então prosseguiu.
Após 30 minutos de caminhada, Arthur finalmente avistou algum tipo de luz à frente. Aparentemente, era a saída da caverna. Com cautela, ele se aproximou. Mas quanto mais se aproximava, mais sentia uma energia densa e sombria envolvendo o ambiente. A caverna parecia escurecer ainda mais à medida que ele se aproximava da saída, mas, de alguma forma, havia uma luz estranha ali. Não era uma luz comum; era um brilho roxo que surgia entre as sombras.
Arthur se aproximava cada vez mais daquela luz com extrema cautela. Finalmente, ao passar pela passagem, se deparou com uma caverna de aproximadamente dez metros quadrados. Não era muito grande, mas também não muito pequena. No centro da caverna, havia um cristal flutuante. Um cristal de cerca de quarenta centímetros, que emanava uma grande quantidade de energia sombria e um brilho roxo. Obviamente, a luz vinha daquele cristal.
Arthur olhou ao redor da caverna, com atenção redobrada. Não havia qualquer outra abertura. A luz iluminava o ambiente inteiro, que estava pintado de roxo pela escuridão. Ele não conseguiu localizar nenhuma outra passagem além da que ele havia atravessado.
Vendo que não havia sinais de vida, Arthur decidiu se aproximar do cristal com cautela, sem desviar o olhar. Ao fazer isso, ele usou sua habilidade Olhos da Verdade e um painel surgiu à sua frente.
Nome: Cristal Elemental da Sombra
Descrição: Um cristal elemental formado após séculos de absorção da pura energia das sombras. Ele serve para condensar uma forma de vida elemental das sombras. O tempo necessário para condensar sua consciência é de 1 dia e 2 horas.
Arthur, vendo as informações que apareciam no painel à sua frente, ficou extremamente animado e caminhou em passos largos para se aproximar do cristal. Estava louco para testar se sua segunda habilidade funcionaria nesse cristal. Afinal de contas, um cristal elemental valia bilhões nos leilões da cidade. É claro, Arthur não planejava leiloá-lo facilmente, mas ainda queria saber se sua habilidade funcionava.
Ao se aproximar do cristal, Arthur o agarrou sem muita dificuldade e tentou usar sua habilidade nele. Para sua surpresa, uma luz dourada cercou o cristal. Depois de alguns segundos, uma bola de luz dourada, como da primeira vez, surgiu. Em um flash, outro cristal apareceu e caiu no chão.
Olhando para o cristal, Arthur ficou perplexo. Realmente funcionou, mas havia algo diferente.
Nome: Cristal Elemental da Sombra
Descrição: Um cristal elemental formado após séculos de absorção da pura energia das sombras. Ele serve para condensar uma forma de vida elemental das sombras. O tempo necessário para condensar sua consciência é de 5 dias.
Arthur decidiu ignorar essa mudança por enquanto, afinal, não havia como fazer nada a respeito disso ali, nem entender o motivo dessa alteração nos dias para a condensação da consciência. Ele já tinha algumas teorias em mente, mas nada conclusivo.
Assim, pegou o cristal negro caído no chão e o guardou no bolso. Em seguida, voltou sua atenção para o cristal que segurava em sua mão. Forçando novamente o ferimento em seu dedo para tirar outra gota de sangue, Arthur gritou de dor.
— Ai, que droga! Isso parecia tão fácil nos quadrinhos e nos novels... Parecia que nem sentiam dor! — reclamou, irritado.
Logo após a gota de seu sangue pingar no cristal, Arthur sentiu como se sua mente começasse a desacelerar. Uma conexão se formava entre ele e o cristal em sua mão, e, aos poucos, sua consciência começou a esvanecer. Quando percebeu, ele já estava em um lugar totalmente escuro, como a própria noite.
Apesar da escuridão total, Arthur conseguia enxergar à sua frente, diferentemente da caverna e do túnel por onde havia passado antes. Ele sabia que aquilo era apenas sua forma de consciência, iniciando o contrato. Segundos depois, uma esfera, uma massa de energia negra, surgiu diante dele. Instintivamente, Arthur soube que era a consciência que estava se formando no cristal.
Sem hesitar, sua consciência se fundiu àquela massa negra, e, naquele instante, o contrato foi concluído. Arthur havia conseguido sua primeira besta espiritual: um ser elemental.
Quando sua mente retornou ao corpo, ele abriu os olhos e viu o cristal em sua mão começar a flutuar no ar. Uma densa energia sombria emanava dele, enquanto sua forma começava a mudar. Aos poucos, o cristal assumia a forma do ser que seria sua primeira besta guardiã.