Arthur abriu os olhos lentamente, piscando algumas vezes até que sua visão se ajustasse. Acima dele, o teto branco refletia uma luz suave e artificial, diferente da luz do sol. Ele sentiu o cheiro de limpeza no ar e percebeu que estava deitado em uma cama confortável, envolto por lençóis brancos e macios.
O quarto em que ele estava era amplo e bem iluminado. As paredes, igualmente brancas, eram lisas e sem qualquer decoração desnecessária. À direita, uma grande janela de vidro permitia que a luz natural entrasse, e por ela podia-se ver o céu azul, contrastando com o ambiente minimalista. Cortinas cinzas, alinhadas e elegantes, estavam abertas, deixando o cenário visível.
Arthur, ainda se sentindo fraco, virou o rosto devagar e viu algo que o surpreendeu: uma televisão holográfica flutuava a alguns centímetros da parede oposta. As imagens em alta definição pareciam saltar do painel, mostrando notícias e gráficos interativos que ele não entendia direito. Ele ficou alguns segundos olhando aquilo com curiosidade. A tecnologia deste mundo era realmente algo impressionante — muito mais avançada do que a de sua vida passada. Apesar de todo o uso de mana e habilidades especiais, a ciência havia prosperado de forma surpreendente.
— Então é isso que só os nobres têm acesso… — murmurou Arthur, quase para si mesmo, admirado.
Quando voltou sua atenção ao lado da cama, viu um homem sentado em uma poltrona desgastada. Ele parecia ter dormido ali, apoiado com a cabeça caída e os braços cruzados. O homem aparentava estar na casa dos 35 anos, com cabelos dourados, parecidos com os dele. Seu rosto, apesar de marcado por olheiras profundas, ainda transmitia força e dignidade. Ele usava um terno cinza simples, com a calça igualmente desgastada e remendada em alguns pontos.
Era claro que aquele homem havia ficado ao seu lado durante todo o tempo, sem se importar com sua própria condição. Arthur o observou por um momento e sussurrou:
— Pai…
A voz fraca de Arthur fez com que o homem se mexesse, franzindo o cenho ao acordar lentamente. Ele olhou em volta, um pouco desorientado, até que seus olhos pousaram em Arthur. Uma expressão de alívio tomou conta de seu rosto cansado, e ele se endireitou na poltrona.
— Arthur! Você acordou…! — disse o homem, sua voz carregada de emoção e cansaço ao mesmo tempo.
Arthur tentou sorrir, mesmo sentindo dores pelo corpo.
— Onde… eu estou? — perguntou ele, com a voz rouca.
O homem respirou fundo e apoiou uma mão firme sobre o lençol, perto de Arthur.
— Está tudo bem agora, filho. Você está em um hospital do grupo Lancaster.
— Lancaster… — Arthur murmurou, espantado. Esse era o sobrenome da família mais rica da Cidade das Estrelas.
Arthur observou novamente a tecnologia ao seu redor, especialmente a TV holográfica. Era surreal ver algo tão avançado. Desde que veio para este mundo, ele já tinha visto muitas coisas impressionantes, mas a tecnologia que os civis tinham acesso era muito limitada. Arthur nem sequer possuía algo básico como um celular.
Arthur ficou um pouco nervoso com isso. Ele sabia que este mundo não tratava os fracos como importantes, mas limitar até mesmo o acesso à tecnologia parecia cruel demais. Seu pai notou o olhar curioso de Arthur e sorriu de leve.
— Nunca tinha visto uma dessas, não é? — perguntou o homem, com um tom de voz mais suave agora. — Também me impressiona todas as vezes.
Arthur assentiu levemente, ainda absorvendo tudo ao seu redor.
— Mas pai, como eu vim parar em um hospital do grupo Lancaster? — perguntou Arthur, intrigado. Sua família não tinha dinheiro para pagar um hospital desse calibre.
Antes que seu pai pudesse responder, uma voz familiar soou pela porta:
— Você não precisa se preocupar com isso. O grupo Lancaster vai cobrir todas as despesas.
Arthur virou o rosto lentamente em direção à porta, onde entrou uma mulher alta e elegante, com cabelos castanhos presos em um rabo de cavalo impecável. Seus olhos azuis exalavam confiança e determinação. Ela vestia um uniforme formal, decorado com um emblema dourado no peito, sinal claro de sua afiliação ao grupo Lancaster.
Ao lado dessa mulher estava uma figura muito familiar.
— Professora Laila…? — Arthur murmurou, surpreso.
Laila sorriu levemente ao ouvir seu nome. Ela se aproximou da cama com passos firmes e controlados, deixando sua presença imponente tomar conta do ambiente.
— Que bom que você está acordado, Arthur — disse ela, com um tom mais suave, embora ainda carregado de seriedade. — Quando soubemos o que estava acontecendo no reino secreto, eu e o diretor corremos para o local onde estava a energia da besta demoníaca.
Arthur franziu o cenho, tentando assimilar suas palavras.
— O que… aconteceu? — perguntou ele, ainda confuso.
Laila trocou um olhar rápido com o pai de Arthur antes de responder.
— Nós o encontramos desacordado na floresta, com ferimentos graves. Se não tivéssemos te achado a tempo, talvez você não tivesse sobrevivido.
Nesse momento, Arthur parecia notar a falta de alguém importante.
— Onde está a Nyx?
— Acalme-se. Se está falando da sua besta guardiã, ela não saiu do seu lado, não importa o que fizemos. — Laila olhou para Nyx, que dormia enrolada em uma sombra no canto do quarto.
Depois de seu olhar alcançar Nyx, Arthur voltou seu foco para sua professora. Ele a encarou por alguns instantes, sentindo um peso no peito. Ele sabia que sua situação financeira e a de sua família estavam longe de permitir um tratamento em um hospital desse nível.
— Mas… por quê? — insistiu Arthur, sem esconder sua incredulidade. — Por que o grupo Lancaster pagaria pelas minhas despesas? E quem é ela?
Laila suspirou e se aproximou da janela, observando o horizonte por alguns segundos antes de se virar novamente para ele.
— Essa é a pessoa da qual te falei que precisava de um avaliador, Arthur. O nome dela é Silvia Lancaster. E quanto ao resto, acho que a Silvia poderia te explicar melhor. Vamos deixá-los a sós para conversar enquanto eu levo seu pai para falar com o médico.
Enquanto via Laila sair junto de seu pai, Arthur não sabia o que dizer. Silvia se antecipou. Ela estendeu a mão para Arthur com um sorriso profissional no rosto.
— Muito prazer em finalmente conhecê-lo, Sr. Arthur. Laila me falou muito bem de você.
— Sim, é um prazer. Ah… mas por que está me ajudando? — Arthur perguntou, tentando esconder sua desconfiança.
— Direto ao ponto, tudo bem. — Silvia cruzou os braços e sorriu levemente. — Bem, a verdade é que eu e Laila somos amigas de infância, e ela me pediu para aceitá-lo como meu avaliador de artefatos. Além disso, esse tratamento é o que todos os funcionários dos Lancaster têm direito.
Arthur arqueou uma sobrancelha, mantendo um olhar neutro.
— Você não espera que eu acredite nisso, não é? — disse ele, a voz calma, mas carregada de ceticismo. Essa já era sua segunda vida, e ele sabia muito bem que não existia almoço grátis, especialmente em um mundo como Arcanis.
Silvia olhou para o garoto na cama por alguns segundos antes de um leve sorriso aparecer em seu rosto.
— Laila não mentiu quando disse que você era inteligente.
Depois de um leve suspiro, continuou.
— É verdade que Laila me pediu para contratá-lo, mas não é apenas pelo pedido dela que estou disposta a fazer isso. Sua habilidade, Olhos da Verdade, apesar de ser de suporte, é muito rara e útil em alguns campos. No entanto, é claro que somente isso não garantiria que você fosse aceito como funcionário da família Lancaster. Mas acho que você já sabia disso, não é?
Arthur manteve o olhar firme antes de responder.
— É porque minha habilidade foi classificada como Rank S.
— Exatamente. A habilidade Olhos da Verdade tem a capacidade de revelar informações sobre quase qualquer objeto ou besta que contenha energia espiritual, desvendando seus segredos. Contudo, ao longo dos anos, alguns outros usuários dessa habilidade descobriram sua limitação. Ela só consegue avaliar até uma certa quantidade de energia espiritual. Se ultrapassar esse limite, a habilidade se torna inútil. Após algumas pesquisas, foi provado que essa habilidade avalia com precisão objetos de até Rank D, mas não é tão confiável com itens de Rank C ou Ranks a cima disso.
Arthur inclinou levemente a cabeça.
— Mas, como a minha habilidade foi classificada como S, acham que posso avaliar artefatos de ranks mais altos?
— Exatamente.
— Já chegaram a pensar que a Pedra do Despertar pode ter errado no meu rank? — Arthur questionou, com um olhar desafiador.
Silvia o encarou novamente. Era difícil acreditar que estava falando com um garoto que tinha acabado de fazer 16 anos.
— Sim, eu já considerei essa possibilidade. Mas a Pedra do Despertar não erra há mais de 3 mil anos. É claro que existe uma chance, mas acredito que você vale o investimento. Além disso, queremos testar para verificar se essa teoria está certa. Se você concordar, podemos testar agora mesmo e tirar a dúvida.
Dessa vez, foi Arthur quem encarou Silvia por alguns segundos antes de perguntar.
— E se eu não passar no seu teste, o que acontece?
Silvia, cada vez mais certa de querer contratar o garoto à sua frente, respondeu com tranquilidade.
— Não precisa se preocupar. Não vamos cobrar pelas despesas do hospital, mas, infelizmente, não teremos motivos para contratá-lo.
Arthur deu um leve sorriso.
— Sendo assim, não vejo motivos para não tentar.
— Maravilha.
Silvia deu um estalar de dedos, e um homem entrou pela porta. Ele vestia um conjunto de terno preto e carregava três caixas. As caixas eram todas pretas, sem nenhum tipo de adorno ou desenho.
O homem colocou as caixas sobre uma mesa já preparada ao lado da cama. Ao abri-las, revelaram-se três artefatos:
O primeiro era um colar de ouro com um pingente em forma de gota, azul cristalino.
O segundo era uma flor roxa extremamente bonita, com leves pintas brancas.
O terceiro era uma esfera dourada, parecendo uma bola de beisebol de ouro maciço.
Silvia olhou para os artefatos sobre a mesa e começou a explicar o teste para Arthur.
— Dos três artefatos, já sabemos informações detalhadas sobre dois deles, mas não conseguimos identificar nada sobre o terceiro. Tudo o que você precisa fazer é nos dizer o que sua habilidade revela sobre eles — disse Silvia, com um tom sério e direto.
Arthur assentiu com a cabeça, indicando que entendia. Ele então direcionou sua atenção ao colar com pingente em forma de gota e ativou sua habilidade.
Relíquia Identificada: Pingente Gota do Mar Profundo
Rank: A
Descrição: Criado a partir das lágrimas cristalizadas de um ser ancestral marinho.
Permite respiração ilimitada debaixo d'água.
Torna o usuário invisível para criaturas marinhas hostis.
Amplifica drasticamente a absorção de energia espiritual da água e do gelo.
Após analisar todas as informações que sua habilidade revelou sobre o primeiro artefato, Arthur passou para o segundo, a rosa roxa com pintas brancas. Em seguida, voltou sua atenção para o orbe dourado.
Item Identificado: Flor de Veneno do Frio Extremo
Rank: S
Descrição:
Originalmente uma flor espiritual de gelo, nativa de ambientes de frio extremo.
Mutada após exposição a um veneno desconhecido de alta potência.
Cura doenças e venenos relacionados ao frio e ao gelo.
Concede afinidade com o elemento gelo.
Relíquia Identificada: Orbe do Legado de um Mago Elemental do Fogo
Rank: S
Descrição:
Contém o legado de um mago elemental do fogo de nível monarca.
Apenas aqueles com afinidade elemental com o fogo podem acessar o legado.
Requer uma gota de sangue de essência para ativar o orbe.
Depois que Arthur analisou todos os itens, ficou espantado, mas manteve uma expressão neutra, sem demonstrar nenhuma emoção. Apesar de ser a primeira vez que via itens tão milagrosos, ele se controlou habilmente.
Arthur então olhou para o homem de terno e perguntou.
— Poderia me arranjar papel e caneta?
O homem prontamente atendeu ao pedido, entregando os itens solicitados. Arthur escreveu detalhadamente todas as informações que sua habilidade havia fornecido sobre os itens e, em seguida, passou o papel para Silvia.
Silvia olhou para o papel com uma expressão de espanto, mas rapidamente voltou ao normal.
— Você está contratado. Procure-me no Pavilhão do Sol assim que se recuperar. Agora, se me desculpar, tenho muitos assuntos para resolver. Vou deixá-lo descansar.
Após dizer algumas palavras de despedida, Silvia saiu do quarto acompanhada pelo homem de terno. Ao passar pela porta, cumprimentaram Laila e Darius, pai de Arthur, antes de seguir caminho.
Enquanto caminhava pelos corredores do hospital, o homem de terno perguntou:
— Srta. Silvia, se me permite, por que está tão interessada neste garoto?
Silvia, sem parar de andar, lançou um breve olhar ao homem.
— Há quanto tempo trabalha para a família Lancaster, Sr. Ronan?
— Há cerca de... doze anos, acredito.
— Bem, então deve saber que a família Lancaster só se preocupa com seus lucros, e o garoto vai me garantir muito lucro — respondeu ela com um sorriso no rosto, entregando o papel com as informações das relíquias.
Ronan desdobrou o papel com curiosidade e, ao ler o conteúdo, ficou com uma expressão de espanto.
Enquanto isso, no quarto, Arthur conversava com Laila e seu pai, Darius.
— Parece que deu tudo certo com seus negócios com a senhorita da família Lancaster — disse Darius.
— Sim, pai. Fui contratado graças à professora Laila — respondeu Arthur, agradecendo com um olhar.
— Isso tudo se deve às suas próprias habilidades — disse Laila com um leve sorriso no rosto, que a fazia parecer incrivelmente bela.
— Bem, antes de me retirar, devo entregar isso — disse Laila enquanto tirava um colar em forma de estrelas e entregava a Arthur.
Arthur segurou o colar rapidamente, agradecendo:
— Muito obrigado, professora. Foi apenas isso que foi encontrado comigo? — perguntou ele, meio sem jeito.
Laila olhou para ele com uma expressão levemente desconfiada.
— Sim, isso era tudo que estava em sua posse quando o encontramos. Por quê? Algo está faltando?
— Não, não… nada. Apenas perdi meu canivete preferido — disse Arthur, tentando disfarçar.
Depois de olhar levemente desconfiada para Arthur, Laila deu um leve suspiro.
— Tudo bem. Conversamos com o médico, e aparentemente já está tudo bem com você. Terá alta pela manhã. Não se esqueça de comparecer aos últimos meses de aula. Mesmo que não vá fazer o vestibular, eu não tolerarei faltas. Bem, agora eu preciso ir. Te vejo amanhã na aula.
Após se despedir da professora, Arthur conversou com seu pai e descobriu que Darius não quis trazer sua mãe e irmã ao hospital porque estava preocupado com a segurança das duas, já que o hospital Lancaster ficava no distrito dos nobres. Arthur concordou com ele.
Depois de algumas perguntas sobre como Arthur estava, Darius também se retirou para casa, para ver sua mulher e filha e lhes dar a notícia de que Arthur já estava bem. Aparentemente, Arthur havia dormido por dois dias inteiros.
Alguns minutos após seu pai se retirar do quarto, Arthur, deitado em sua cama, pensava sobre o paradeiro do restante dos colares e da cópia do cristal espiritual. Ele virou a cabeça para o lado e viu Nyx ainda deitada no canto da sala, no escuro. Então, ele chamou:
— Nyx, venha aqui.
A pequena, ao ouvir a voz de seu mestre, voou animadamente até a cama, pousando no travesseiro ao lado de Arthur e aconchegando-se em seus braços. Arthur a observou com curiosidade e, brincando, disse:
— Você não saberia onde está, não é? O restante das coisas que estavam comigo.
Nyx inclinou a cabeça e o olhou fixamente com curiosidade, mexendo levemente a cabeça. Arthur sorriu e continuou:
— É claro que não saberia, não é?
De repente, uma pequena massa de sombra escura começou a se formar na cama, ao lado de Arthur. Ele observou com surpresa enquanto a sombra tomava forma. Para sua incredulidade, apareceram cinco colares em forma de estrelas e um cristal que emanava uma forte energia espiritual.
Arthur ficou espantado, olhando para os itens com uma mistura de surpresa e admiração.