Eu nunca imaginei que aquele seria o meu fim. Ou talvez o começo de algo muito, muito pior.
Estava jogando no celular, completamente viciada no mais novo otome game de fantasia: *Crimson Moonlight*. A história era viciante. Meu papel era simples: uma caçadora de criaturas da noite em um mundo de intrigas políticas entre vampiros, lobisomens e humanos. O objetivo? Sobreviver, fazer aliados e... quem sabe, terminar com o coração intacto (ou não).
Com apenas 5% de bateria, a lógica seria fechar o jogo e colocar o celular para carregar. Mas, quem disse que eu sou lógica? Pluguei o carregador, e a tempestade lá fora apenas tornou o clima mais intenso. Raios e trovões ecoavam, quase como uma trilha sonora perfeita.
E então aconteceu.
Um clarão invadiu meu quarto, tão forte que parecia me atravessar. Senti meu corpo ser tomado por uma eletricidade estranha e, no instante seguinte, tudo ficou escuro.
***
Quando abri os olhos, a primeira coisa que senti foi o cheiro metálico no ar. Sangue.
Eu estava em uma cama macia, mas algo estava errado. Muito errado. Minhas mãos tremiam, meu coração acelerava. Foi quando ouvi os sons.
Olhei ao redor e congelei. Três homens... vampiros... estavam sugando o sangue de dois humanos que pareciam estar à beira da morte. O som da carne sendo perfurada por dentes afiados e a visão dos corpos inertes era aterrorizante.
"Isso não pode ser real."
Tentei respirar fundo, mas o cheiro de sangue era tão forte que senti náuseas. Meu cérebro gritava para sair dali. Lentamente, movi meu corpo para fora da cama, rezando para que eles não notassem.
Desculpa, pensei ao olhar para os humanos. Mas antes vocês do que eu.
Cada passo era um desafio, e meu coração parecia um tambor prestes a explodir. Quando alcancei a porta e a abri, o ar frio do corredor me atingiu. Mas não tive tempo de saborear minha "liberdade".
Ali, de pé, estava um homem. Alto, de cabelos preto-azulados que caíam até os ombros, seus olhos brilhavam em um azul gélido que me arrepiou até a alma. Ele estava vestido com um traje que exalava riqueza e poder.
Antes que eu pudesse gritar ou correr, ele fez uma reverência e, com uma voz profunda e melódica, disse:
— Vossa Alteza, já está satisfeita? Deseja que eu prepare o seu banho?
Minha mente parou.
**Vossa Alteza?**
Algo estava muito, muito errado.
Minha mente estava uma confusão completa, mas por fora, eu me forcei a parecer calma. Se eles achavam que eu era "Vossa Alteza", talvez essa fosse minha única chance de sobreviver.
Engoli em seco, endireitei a postura e falei o mais firmemente possível:
— Sim, claro.
O homem fez uma leve reverência, como se minha resposta fosse natural, e começou a caminhar à frente. Eu o segui, tentando não olhar para trás, onde os vampiros continuavam se banqueteando nos pobres humanos.
Ele me guiou por um corredor adornado com tapeçarias de cenas que pareciam sair diretamente de um conto sombrio. Logo, paramos diante de uma porta branca com detalhes em ouro que reluziam sob a fraca luz dos candelabros.
Com um gesto elegante, ele abriu a porta e deu um passo para o lado, permitindo que eu entrasse.
O que vi me deixou sem palavras.
Era um quarto enorme, digno de realeza. Cortinas de veludo vermelho-escuro adornavam as janelas altas, e um lustre de cristal pendia do teto, lançando reflexos suaves pelas paredes. No centro, uma cama imensa, com lençóis de seda branca e travesseiros bordados com fios dourados, parecia mais uma obra de arte do que um lugar para dormir.
No canto, uma lareira estava acesa, lançando um calor suave que contrastava com o frio que senti antes. Estantes cheias de livros e móveis finamente entalhados completavam a cena.
Antes que eu pudesse absorver tudo, o homem elegante indicou outra porta dentro do quarto.
— O banho será preparado aqui, Vossa Alteza.
Abri a porta e dei um passo hesitante. Era um banheiro digno de um palácio. O chão era feito de mármore branco, com detalhes em dourado que pareciam refletir a luz das velas cuidadosamente espalhadas. No centro, uma enorme banheira oval repousava, cheia de água fumegante, cercada por pétalas de rosas vermelhas.
Eu fiquei ali, estática, tentando juntar as peças do quebra-cabeça que era minha vida agora.
"O que está acontecendo?" pensei, mas mantive a expressão neutra.
— Espero que esteja ao seu gosto, Alteza — disse o homem, com uma voz suave, quase hipnotizante.
Forçando-me a parecer natural, apenas assenti.
— Sim... está perfeito.
Agora eu só precisava descobrir onde exatamente eu tinha parado — e, mais importante, como sair dali viva.
Ele permaneceu ali, me observando em silêncio, seus olhos azuis cravados em mim de uma maneira que fez minha pele arrepiar. Por um instante, pensei que ele fosse uma estátua. Era impossível desviar o olhar, mas o desconforto começou a crescer.
"Será que ele se esqueceu de se retirar?", pensei, tentando parecer tranquila enquanto minha mente gritava.
Respirei fundo, reuni o pouco de coragem que me restava e falei, com uma voz que soou mais firme do que eu esperava:
— Você pretende ficar aí parado?
O canto de sua boca se ergueu ligeiramente, quase como se estivesse se divertindo, mas ele inclinou a cabeça em um gesto de desculpas.
— Perdoe-me, Alteza — disse, antes de caminhar em minha direção.
O alívio que senti durou apenas um segundo, porque, em um movimento tão rápido que mal pude acompanhar, suas mãos foram para os laços do vestido que eu usava. Antes que eu pudesse reagir, ele puxou o tecido, e o vestido deslizou pelo meu corpo, deixando-me completamente nua.
Meu cérebro travou.
Minha boca abriu, mas nenhuma palavra saiu. A única coisa que consegui fazer foi erguer os braços na tentativa patética de me cobrir. Meu rosto queimava de vergonha e fúria.
— O que você está fazendo?! — finalmente consegui dizer, minha voz saindo em um tom agudo, mas ele sequer pareceu se abalar.
— Preparando Vossa Alteza para o banho, como é meu dever — respondeu calmamente, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Minha mente estava em um turbilhão. Mas, como se meu corpo tivesse decidido agir por conta própria, senti minhas pernas se movendo em direção à banheira. Ele segurava meu braço de forma firme, mas não dolorosa, guiando-me até lá.
A água quente, cheia de pétalas de rosas, parecia quase convidativa, mas a situação era tudo menos confortável. Quando finalmente entrei na banheira, ele soltou meu braço e recuou um passo.
— Se precisar de mais alguma coisa, Alteza, estarei à disposição — disse ele, antes de se virar e caminhar em direção à porta.
Assim que ele saiu e a porta se fechou, toda a tensão acumulada em meu corpo explodiu.
Afundei na água, cobrindo meu rosto com as mãos.
— Que tipo de loucura é essa?!
Tudo ao meu redor era surreal, mas uma coisa estava clara: eu estava em um mundo que seguia regras completamente diferentes das que eu conhecia. E, se quisesse sobreviver, precisava me adaptar rápido.
Fiquei na banheira, imóvel, tentando organizar meus pensamentos. O calor da água era reconfortante, mas minha mente não me deixava relaxar. Tudo aquilo parecia um sonho – ou melhor, um pesadelo.
"Ok, pensa. Onde eu estou? Quem são essas pessoas? E, pelo amor de tudo, por que me chamam de 'Vossa Alteza'?"
A resposta estava ali, bem na minha cara, mas parecia absurda demais para aceitar. Será que... será que eu tinha sido transportada para *Crimson Moonlight*?
A ideia me fez tremer, e não era por causa da temperatura. Se fosse verdade, isso significava que eu estava no lugar da protagonista... ou, pior ainda, no lugar de uma vilã. O jogo tinha muitas dessas figuras da nobreza vampiresca, cheias de segredos, e eu definitivamente não queria estar na pele de uma delas.
Meu coração batia acelerado enquanto tentava lembrar dos detalhes do jogo. No começo, a história se passava em um mundo onde humanos, vampiros e outras criaturas conviviam em uma tensão constante. A protagonista, uma caçadora, tinha que navegar nesse cenário perigoso, muitas vezes enfrentando traições e alianças inesperadas.
Mas onde eu me encaixava nisso tudo?
***
Depois de um tempo que pareceu horas – embora provavelmente fossem apenas alguns minutos – resolvi sair da banheira. A água, antes quente, começava a esfriar, e eu não queria ficar ali vulnerável caso alguém decidisse entrar de novo sem aviso.
Olhei ao redor, procurando algo para me cobrir. Perto da banheira havia um roupão de seda preta, com detalhes bordados em ouro. Era luxuoso, provavelmente mais caro do que tudo o que eu possuía na minha vida antiga. Vesti o roupão e apertei o laço firmemente, tentando recuperar pelo menos um pouco de dignidade.
Respirei fundo e me dirigi até o enorme espelho no banheiro. A mulher que me encarava era... familiar, mas diferente. O rosto era o meu, mas havia algo nele – uma palidez etérea, quase sobrenatural. Meus olhos pareciam mais brilhantes, como se tivessem um brilho prateado que eu nunca tinha visto antes.
Era oficial. Eu não era apenas *eu* mais.
Uma batida suave na porta me arrancou dos meus pensamentos.
— Alteza? — a voz do homem de olhos azuis soou do outro lado. — Sua refeição está pronta.
"Refeição?" Meu estômago roncou, lembrando-me de que eu não comia desde... bem, desde antes de ser jogada nesse caos.
— Já vou — respondi, tentando manter o tom controlado.
Se eu quisesse sobreviver nesse mundo, precisava descobrir onde estava, quem eles achavam que eu era e, principalmente, quem eram os aliados e os inimigos.
Afinal, em um jogo como *Crimson Moonlight*, confiar na pessoa errada era uma sentença de morte. E eu não tinha a menor intenção de ser a próxima vítima.
Abracei o roupão ao redor do corpo, tentando manter o máximo de compostura possível, e abri a porta. O homem de olhos azuis estava lá, me esperando. Ele fez uma reverência curta, elegante, como se eu fosse a pessoa mais importante do mundo.
— A refeição foi servida em seus aposentos, Alteza. Permita-me guiá-la.
— Certo.
Minha voz soou firme, mas por dentro eu estava apavorada. Ele começou a caminhar, e eu o segui, tentando absorver mais detalhes do ambiente. Os corredores eram tão luxuosos quanto o quarto: tapeçarias intricadas cobriam as paredes, e candelabros de ouro iluminavam o caminho. Cada detalhe parecia gritar "realeza".
Quando voltamos ao quarto principal, percebi uma mesa elegantemente posta no canto. Sob um candelabro menor, uma bandeja de prata estava cheia de taças e pratos delicados. Mas o que mais chamou minha atenção foi o conteúdo de uma das taças.
Sangue.
Engoli em seco, sentindo um frio percorrer minha espinha.
— Esta é sua refeição, Alteza. Preparada especialmente com o sangue dos melhores servos humanos — disse o homem, com um tom casual que me fez gelar ainda mais.
"Servos humanos?" Minhas mãos começaram a suar sob as mangas do roupão. Era óbvio que eles esperavam que eu fosse... uma vampira.
— Obrigada — consegui dizer, me aproximando lentamente da mesa.
Olhei para os outros pratos na tentativa de encontrar algo que não fosse, bem, sangue. Para minha sorte, havia frutas frescas, que pareciam ter sido colhidas há pouco, e pães macios.
"Talvez eu consiga fingir que não estou com fome de sangue."
Me sentei à mesa, e o homem se afastou um pouco, mas não o suficiente para me deixar sozinha. Sua presença era constante, e seus olhos azuis me observavam com uma intensidade que me deixava desconfortável.
Peguei uma uva da bandeja e a coloquei na boca, mastigando devagar. Minha mente estava a mil, tentando encontrar uma maneira de sair daquela situação.
— Alteza, perdoe minha ousadia, mas está tudo ao seu gosto? — perguntou ele, depois de um longo silêncio.
Levantei os olhos para ele, forçando um sorriso.
— Sim, está ótimo. Pode se retirar agora.
Ele hesitou por um momento, como se não tivesse certeza se deveria me deixar sozinha, mas acabou se curvando novamente.
— Como desejar, Alteza. Estarei do lado de fora, caso precise de algo.
Quando ele finalmente saiu e a porta se fechou atrás dele, soltei o ar que estava prendendo.
"Ok, preciso descobrir o que está acontecendo. Agora."
Olhei para a mesa novamente. A taça de sangue parecia me encarar, como se soubesse que eu estava apavorada. Peguei uma maçã e a mordi, usando o gesto como uma desculpa para pensar.
Se esse era realmente o mundo de *Crimson Moonlight*, eu precisava saber quem eu era aqui. A protagonista no jogo nunca foi chamada de "Vossa Alteza", então, isso descartava a ideia de que eu estava no lugar dela.
"Eu sou alguém importante. Alguém que provavelmente tem... sangue nobre. Literalmente."
A ideia era horrível, mas fazia sentido. Eu precisava explorar o quarto, encontrar pistas sobre minha identidade e descobrir com quem eu estava lidando.
Com o coração ainda disparado, me levantei e comecei a vasculhar. Se eu quisesse sobreviver nesse mundo, precisava estar um passo à frente.
Comecei pelo óbvio: o guarda-roupa.
Ao abrir as enormes portas douradas, fui recebida por uma coleção de vestidos dignos de uma rainha. Havia trajes de todos os estilos, todos em tons escuros e ricos – vinho, preto, azul-marinho, e até mesmo dourado. As peças eram incrivelmente detalhadas, bordadas com pedras preciosas que cintilavam sob a luz.
"Definitivamente nobreza," pensei, sentindo o peso da situação aumentar.
Procurei algo que pudesse me dar pistas sobre quem eu era. Bolsos, um diário, qualquer coisa. Mas não encontrei nada. Suspirei frustrada e fechei o guarda-roupa, meus olhos vagando pelo quarto em busca de outra pista.
Foi então que notei a escrivaninha.
Era de madeira escura, entalhada com detalhes intricados, e sobre ela havia uma pilha de papéis. Meu coração acelerou. Fui até lá e comecei a vasculhar.
Os papéis pareciam correspondências, e a maioria era escrita em uma caligrafia elegante. Mas o que chamou minha atenção foi o cabeçalho em um dos documentos.
**"Grã-duquesa Elizabeth Valmont."**
Meus olhos se arregalaram.
"Grã-duquesa?"
Engoli em seco, tentando processar a informação. Elizabeth Valmont... era um nome que eu reconhecia do jogo. Mas não como protagonista.
Ela era uma das vilãs.
No jogo, Elizabeth era uma poderosa vampira da alta nobreza, conhecida por sua crueldade e sede de poder. Ela tinha uma posição política forte, mas também era temida por todos – incluindo os protagonistas. Sua queda era uma das partes mais emocionantes da trama, dependendo das escolhas do jogador.
"Não pode ser," pensei, minhas mãos tremendo enquanto segurava o papel.
Mas fazia sentido. Tudo fazia sentido agora. O título, o sangue, o comportamento dos servos. Eu estava no corpo de Elizabeth Valmont.
E, se o jogo seguia o enredo que eu conhecia, eu estava em perigo mortal.
***
Antes que eu pudesse processar completamente a situação, uma batida forte na porta me arrancou dos pensamentos.
— Alteza, o Conselho pede sua presença imediatamente — disse uma voz masculina, autoritária.
Meu coração disparou. Conselho? Que conselho? No jogo, o Conselho dos Vampiros era o órgão que governava as leis do mundo vampírico. Elizabeth tinha influência lá, mas também muitos inimigos.
Tentei manter a calma.
— Já estou a caminho — respondi, tentando soar confiante.
Ouvi passos se afastando, e me permiti um momento para respirar.
"Ok. Agora você sabe quem é. Grã-duquesa Elizabeth Valmont. Uma vilã. Uma mulher poderosa, mas cercada de inimigos. Se você quiser sobreviver, vai ter que jogar o jogo melhor do que eles."
Puxei um dos vestidos mais simples que encontrei – embora nada ali fosse realmente simples – e o vesti com rapidez. Ao me olhar no espelho, mal reconheci a figura refletida. A mulher que me encarava era imponente, com olhos frios e uma postura que exalava autoridade.
"Você não é Elizabeth," pensei, tentando me convencer. "Mas, por enquanto, vai ter que ser."
Ajustei o vestido, respirei fundo e abri a porta.
Era hora de enfrentar o Conselho.
Os corredores pareciam intermináveis enquanto eu seguia os guardas que haviam vindo me buscar. Cada passo ecoava, e o som amplificava a tensão que sentia no peito. Mas eu sabia que não podia demonstrar fraqueza.
Se havia algo que lembrava sobre Elizabeth Valmont no jogo, era que ela nunca, jamais, mostrava vulnerabilidade. Ela era uma força da natureza, a Rainha dos Vampiros – uma mulher que comandava respeito e medo em igual medida.
Assim que chegamos a uma imensa porta dupla de madeira escura, com detalhes entalhados em ouro, os guardas pararam e se voltaram para mim. Um deles fez uma reverência profunda antes de abrir as portas.
— Sua presença é aguardada, Grã-duquesa.
Ergui a cabeça, ajustei a postura e entrei na sala.
O Salão do Conselho era grandioso, exatamente como eu imaginava. Um grande círculo de cadeiras altas estava disposto ao redor de uma mesa central, com candelabros pendendo do teto alto. Vampiros de aparência nobre e intimidadora estavam sentados ali, mas todos os olhares se voltaram para mim assim que entrei.
Havia silêncio absoluto enquanto eu avançava em direção à cadeira mais alta e ornamentada, no centro. Estava claro que aquele era o meu lugar.
Elizabeth Valmont não era apenas uma grã-duquesa. Ela era a Rainha dos Vampiros – a figura mais poderosa e temida entre eles.
Sentei-me devagar, cada movimento calculado para exalar confiança. Cruzei as pernas e apoiei o braço no encosto da cadeira, olhando para os presentes com um olhar frio e avaliador.
Um dos conselheiros, um homem de aparência severa com cabelos grisalhos e olhos vermelhos, foi o primeiro a falar.
— Alteza, agradecemos por sua presença. Há questões urgentes que exigem sua atenção.
Fiz um gesto leve com a mão, indicando que ele podia continuar, mas minha mente estava correndo a mil. Eu precisava descobrir o que estava acontecendo sem revelar que não fazia ideia do que eles estavam falando.
— Há rumores de que os lobisomens estão se rebelando contra os termos do tratado. Estão invadindo nossas fronteiras e atacando humanos sob nossa proteção.
Minha mente começou a conectar os pontos. No jogo, os lobisomens eram inimigos constantes dos vampiros, mas havia um tratado que mantinha uma paz frágil entre eles. Se os lobisomens estavam rompendo esse tratado, significava que as coisas estavam prestes a se complicar.
— E por que isso deveria me preocupar? — perguntei, minha voz saindo fria e autoritária.
O salão ficou em silêncio por um momento. Alguns conselheiros trocaram olhares nervosos, mas o homem grisalho respondeu.
— Porque, Vossa Majestade, se não agirmos agora, podemos perder o controle sobre as regiões do Norte.
Inclinei-me para frente, deixando meu olhar fixo nele.
— Perder o controle? — minha voz baixou, quase um sussurro. — Você está me dizendo que nossa força é tão frágil que um punhado de lobos pode abalar nosso domínio?
O homem engoliu em seco, mas não respondeu.
Eu me recostei na cadeira, fazendo uma pausa dramática.
— Parece que alguns aqui se esqueceram do que significa ser um vampiro. Nós somos os predadores do topo da cadeia. Os lobisomens existem porque eu permito que existam.
Minha voz ecoou pela sala, e pude ver o impacto de cada palavra. Mesmo aqueles que pareciam mais confiantes agora evitavam meu olhar.
— Mande um mensageiro ao líder dos lobos — continuei, minha voz firme. — Diga a ele que, se não controlar sua matilha, eu mesma irei exterminá-los. Um por um.
Deixei o silêncio se prolongar, deixando minhas palavras afundarem na mente de cada um ali.
Finalmente, o homem grisalho falou, desta vez com uma reverência mais profunda.
— Sua Majestade tem razão. Suas ordens serão cumpridas imediatamente.
Assenti levemente, satisfeita em manter minha posição intacta.
A reunião continuou com outros assuntos, mas ficou claro que minha presença era suficiente para controlar qualquer desordem. Elizabeth Valmont era uma figura que não precisava de esforço para ser ouvida – ela era o poder personificado.
Quando a reunião chegou ao fim, eu me levantei e deixei o salão com a cabeça erguida.
Assim que as portas se fecharam atrás de mim, meu coração disparou.
"Ok, isso foi intenso," pensei, tentando recuperar o fôlego.
Mas uma coisa estava clara: se quisesse sobreviver neste mundo, precisaria continuar sendo Elizabeth Valmont – não importava o quanto isso custasse.
Os corredores do castelo pareciam mais sombrios depois da reunião. Talvez fosse o peso do que acabara de acontecer, ou talvez fosse apenas o mundo ao meu redor me lembrando de que não havia espaço para erros.
Elizabeth Valmont não era apenas poderosa; ela era temida, odiada e, acima de tudo, observada de perto. Cada passo que eu dava, cada palavra que eu dizia, estava sendo analisado por aqueles que esperavam pela menor fraqueza.
Assim que cheguei ao meu quarto, as portas se fecharam atrás de mim, e finalmente soltei o ar que vinha prendendo. Meu corpo inteiro tremia, mas eu precisava me recompor.
"Você conseguiu passar pelo Conselho sem ser descoberta," pensei, tentando me encorajar. "Mas isso é só o começo."
Eu precisava de mais informações sobre o que estava acontecendo, tanto no reino quanto na posição de Elizabeth no jogo. A situação com os lobisomens parecia importante, mas eu sabia que o verdadeiro problema sempre vinha de dentro – intrigas políticas, traições, alianças perigosas.
Sentei-me à mesa e comecei a olhar os papéis novamente. Um deles chamou minha atenção. Era um bilhete simples, escrito em uma caligrafia fina, mas o conteúdo me fez gelar:
**"Cuidado em quem confia. O sangue mais doce atrai os predadores mais vorazes."**
Não havia assinatura.
"Ótimo," pensei, passando a mão pelo rosto. "Mais enigmas para resolver."
***
Antes que eu pudesse refletir mais sobre o bilhete, ouvi uma batida suave na porta.
— Entre — disse, tentando soar tão imponente quanto na reunião.
A porta se abriu, e o homem de olhos azul-escuro – meu suposto servo – entrou com uma bandeja nas mãos. Ele tinha uma expressão neutra, mas algo nos olhos dele parecia... atento demais.
— Trouxe chá, Alteza. Achei que poderia precisar de algo para relaxar depois do Conselho.
Assenti, observando enquanto ele colocava a bandeja na mesa. Ele era eficiente, cuidadoso, mas ainda assim, algo nele me deixava inquieta.
— Qual é o seu nome? — perguntei de repente.
Ele ergueu os olhos para mim, surpreso pela pergunta.
— Alexander, Alteza. Sou seu mordomo-chefe.
"Alexander..." O nome não me era familiar no jogo, mas isso não significava muito. Ele podia ser uma figura menor, ou talvez alguém importante que eu simplesmente não tinha dado atenção enquanto jogava.
— Você está ao meu serviço há quanto tempo, Alexander?
— Há cinco anos, Alteza. Desde que foi coroada como Rainha dos Vampiros.
Cinco anos. Então ele sabia tudo sobre Elizabeth – ou pelo menos achava que sabia.
— Diga-me, Alexander, quem no Conselho você acha que está tramando contra mim?
A pergunta era direta, mas eu precisava medir sua reação. Se ele fosse leal, poderia me dar uma pista valiosa. Se não fosse... bem, eu precisaria estar preparada para lidar com isso.
Alexander hesitou por um momento, mas sua expressão permaneceu calma.
— Com todo respeito, Alteza, acredito que todos no Conselho tramam contra você, de uma forma ou de outra. É da natureza deles.
Seu tom era casual, mas suas palavras carregavam uma verdade que eu não podia ignorar.
— E você? — perguntei, inclinando-me levemente para frente. — Você trama contra mim também?
Seus olhos encontraram os meus, intensos e inabaláveis.
— Minha lealdade é sua, Alteza. Apenas sua.
Algo na forma como ele disse isso me fez acreditar nele... pelo menos por enquanto.
— Muito bem, Alexander. Pode se retirar.
Ele fez uma reverência profunda e saiu, deixando-me sozinha com meus pensamentos novamente.
Se eu quisesse sobreviver, precisaria descobrir em quem podia confiar – e rápido. O bilhete tinha razão: neste mundo, até o sangue mais doce podia se tornar veneno.
Assim que a porta se fechou atrás de Alexander, fiquei em silêncio, encarando o bilhete sobre a mesa.
**"Cuidado em quem confia. O sangue mais doce atrai os predadores mais vorazes."**
Era um aviso, mas de quem? E por quê?
Eu precisava ser mais astuta que Elizabeth era no jogo. Ela confiava demais na sua força e arrogância, o que a levava à queda. Mas eu não era Elizabeth, não de verdade. Eu era alguém que sabia como as coisas terminavam. E isso significava que eu tinha uma vantagem – se soubesse usá-la.
Decidi que era hora de agir. Se eu queria sobreviver neste mundo, precisava de aliados, mesmo que fossem poucos. Alexander parecia um bom começo. Ele era direto, mas cuidadoso, e, pelo que percebi, era leal – pelo menos por enquanto.
Mas não bastava confiar apenas nele. Eu precisava conhecer os meus inimigos também.
Caminhei até o espelho no quarto, observando a figura imponente refletida. A mulher que me olhava de volta parecia fria, poderosa, intocável. Mas, por dentro, meu coração ainda estava a mil.
"Você é Elizabeth Valmont agora," pensei, endireitando os ombros. "E Elizabeth Valmont não teme ninguém."
***
Na manhã seguinte, pedi que Alexander reunisse um relatório detalhado sobre cada membro do Conselho. Seus aliados, inimigos, quaisquer rumores que pudessem ser úteis. Ele pareceu hesitar por um momento, mas acabou assentindo.
— Como desejar, Alteza. Terei tudo pronto em algumas horas.
Enquanto isso, decidi explorar o castelo. Eu precisava me familiarizar com meu território, e talvez encontrar mais informações que pudessem ser úteis.
Os corredores eram longos e ornamentados, cada um mais grandioso que o outro. Era fácil se perder, mas a arquitetura parecia ter um padrão. Depois de um tempo, comecei a entender como tudo se conectava.
Eventualmente, cheguei a uma grande sala de treinamento. Espadas e armaduras estavam penduradas nas paredes, e o chão era marcado por anos de batalhas e treinos. Era um lugar onde guerreiros se preparavam, onde estratégias eram planejadas.
Meu olhar caiu sobre uma espada em particular, montada em um pedestal. A lâmina era negra como a noite, e o cabo estava adornado com rubis que brilhavam como sangue.
— Ah, vejo que encontrou *Ravenclaw*, Alteza.
A voz de Alexander ecoou atrás de mim, e eu me virei, tentando esconder o susto.
— *Ravenclaw?* — perguntei, olhando novamente para a espada.
— Sua arma pessoal. Forjada com sangue e aço encantado. Dizem que é capaz de cortar até mesmo um lobisomem ao meio com um único golpe.
Minha mente imediatamente voltou ao jogo. Essa espada era um dos itens mais poderosos, uma arma lendária que só Elizabeth podia usar. Era também um símbolo de seu poder absoluto.
Aproximando-me, segurei o cabo com cuidado. A espada parecia se ajustar perfeitamente à minha mão, como se tivesse sido feita para mim – ou, neste caso, para Elizabeth.
— Perfeita, não é? — disse Alexander, com um leve sorriso. — A própria Rainha dos Vampiros não aceitaria nada menos.
Eu apenas assenti, tentando absorver o peso daquele momento.
"Se isso é um jogo," pensei, apertando o cabo da espada, "então vou jogar para vencer."
— Alexander, reúna informações sobre os lobisomens. Quero saber o que estão planejando, quem são seus líderes e onde estão suas fraquezas.
Ele fez uma reverência.
— Sim, Alteza.
Com a espada em mãos e um plano começando a se formar, me preparei para o próximo movimento. Se os lobisomens estavam testando meu domínio, eu mostraria a eles – e a todos – por que Elizabeth Valmont era chamada de Rainha dos Vampiros.
Passei o resto do dia tentando organizar minha mente e traçar um plano. Cada passo precisava ser calculado, cada palavra medida. Não havia espaço para erros.
Na manhã seguinte, Alexander retornou ao meu quarto com um relatório detalhado, como eu havia solicitado. Ele o entregou em silêncio, mas havia algo nos olhos dele que me deixou alerta, como se ele estivesse avaliando minha reação.
Sentei-me à mesa e comecei a ler.
O relatório era mais abrangente do que eu esperava. Cada membro do Conselho estava descrito em detalhes: seus aliados, seus interesses pessoais, até mesmo seus potenciais segredos. Um nome, porém, destacou-se entre os outros: **Conde Malrik Vondel.**
Malrik era um dos membros mais antigos do Conselho e, segundo o relatório, tinha a ambição de tomar meu lugar. Ele era influente entre os vampiros mais tradicionais, aqueles que acreditavam que uma mulher, mesmo Elizabeth, não deveria ocupar o trono.
"Ótimo," pensei, suspirando. "Um inimigo óbvio. Isso facilita as coisas."
Mas não era só isso. Havia uma nota adicional sobre ele:
**"Há rumores de que Malrik está em contato com o líder dos lobisomens, Alaric. Possível conspiração para romper o tratado."**
Fechei os olhos por um momento, tentando conter o pânico.
"Se isso for verdade, ele não só está conspirando contra mim, como também colocando o reino em perigo. E, pior, se eu não agir rápido, vai parecer que não consigo controlar a situação."
Respirei fundo e me levantei, a espada *Ravenclaw* agora pendurada na minha cintura.
— Alexander, prepare meu cavalo. Vou fazer uma visita ao Conde Malrik.
Ele levantou uma sobrancelha, mas não questionou.
— Como desejar, Alteza.
***
O castelo do Conde Malrik ficava a uma distância razoável, mas a viagem foi silenciosa e tensa. Alexander insistiu em me acompanhar, trazendo alguns guardas para minha proteção.
Assim que chegamos, o cenário era exatamente como eu imaginava. O castelo era escuro e opressivo, suas torres se erguendo contra um céu cinzento. Havia algo de profundamente desconfortável naquele lugar, mas não me deixei abalar.
Malrik nos recebeu no grande salão, sua figura esguia e pálida destacando-se contra as sombras. Ele sorriu ao me ver, mas seus olhos estavam cheios de desdém mal disfarçado.
— Sua Majestade. Que honra inesperada.
— Conde Malrik, achei que seria educado tratar de assuntos importantes cara a cara — respondi, meu tom frio.
Ele gesticulou para que eu me sentasse, mas permaneci de pé. Meu olhar percorreu a sala, analisando cada detalhe. Havia algo fora do lugar, mas eu não conseguia identificar o quê.
— Então, Alteza, o que a traz aqui? — perguntou ele, inclinando-se casualmente na cadeira.
— Os lobisomens estão quebrando o tratado. Você sabe de algo sobre isso? — Minha pergunta foi direta, e os olhos dele estreitaram-se por um breve momento.
— Lobisomens são criaturas selvagens. Não é surpresa que estejam causando problemas.
Seu tom era casual, mas sua expressão entregava algo mais profundo. Ele sabia de alguma coisa.
— E quanto a você? — perguntei, inclinando-me levemente para frente. — Há rumores de que tem se encontrado com Alaric. Espero que não seja verdade.
Por um instante, o salão ficou em silêncio. Então, ele riu, um som baixo e desagradável.
— Rumores, Alteza, são como fumaça. Sem fogo, não há verdade.
— É mesmo? — retruquei, tirando *Ravenclaw* da cintura e apoiando-a levemente no chão. — Porque, se eu descobrir que há fogo por trás dessa fumaça, não hesitarei em apagá-lo... junto com aqueles que o alimentam.
O sorriso de Malrik desapareceu, mas ele manteve a compostura.
— Sua Majestade, me ofender com essas acusações é perigoso. Espero que tenha provas antes de agir tão impulsivamente.
— Eu sempre tenho provas. Não esqueça quem sou, Conde Malrik.
Deixei o salão antes que ele pudesse responder, sentindo seu olhar queimar em minhas costas. Ele não havia confessado nada, mas eu sabia que ele estava envolvido.
"Se você está jogando comigo, Malrik, é melhor estar preparado para perder," pensei, enquanto saía do castelo.
Era hora de preparar minha próxima jogada.
A viagem de volta ao castelo foi mais rápida, com o peso da revelação sobre Malrik pairando sobre mim. Ele não havia confessado nada, mas a maneira como reagiu confirmou minha suspeita: algo estava acontecendo nos bastidores. Eu precisaria aprofundar minha investigação, mas antes, precisava de tempo para analisar todas as informações.
Assim que cheguei ao castelo, encontrei Alexander aguardando-me na entrada. Seu olhar de expectativa não passou despercebido.
— O que descobriu, Alteza? — perguntou ele, seu tom respeitoso, mas com uma pitada de curiosidade.
— Malrik está envolvido de alguma forma com os lobisomens. Mas ele não vai confessar tão facilmente. — Olhei para ele com um sorriso sutil, quase imperceptível. — Prepare-se, Alexander. A partida está só começando.
Ele fez uma reverência silenciosa, mas eu percebi o brilho de aprovação em seus olhos. Eu ainda não sabia se podia confiar plenamente nele, mas ele estava demonstrando ser mais útil do que eu imaginava.
Entrei em meu quarto e comecei a me concentrar no próximo movimento. Se Malrik estava tentando romper o tratado com os lobisomens, isso significava que ele tinha algum tipo de aliança secreta. Mas, mais importante, significava que ele estava arriscando a estabilidade do reino, algo que eu não poderia permitir.
Eu precisava de mais informações sobre os lobisomens e, para isso, talvez fosse hora de fazer uma visita a Alaric, o líder deles. Mas como fazer isso sem revelar minhas intenções? Eu precisava de uma estratégia.
Alexander entrou novamente em meu quarto, interrompendo meus pensamentos. Ele estava com uma expressão séria.
— Alteza, há algo mais que você precisa saber. — Ele se aproximou e me entregou um envelope selado.
Eu o abri imediatamente, os olhos vasculhando as palavras escritas apressadamente no papel.
**"A Rainha dos Vampiros não é mais a única. Malrik busca mais poder, e os lobisomens farão parte de seus planos. Cuidado com quem você chama de aliado. Eles estão se preparando para a guerra. Prepare-se."**
A carta não trazia assinatura, mas a mensagem era clara. Alguém sabia o que estava acontecendo – ou, pelo menos, sabia o que estava prestes a acontecer.
— Quem enviou isso? — perguntei, olhando para Alexander.
— Não tenho certeza, Alteza. Mas, pelo tom, parece que alguém está tentando alertá-la.
A sensação de que a rede de intrigas estava se fechando ao meu redor só aumentava. Quem mais sabia dos planos de Malrik? Quem mais estava em jogo?
— Alexander, reúna todos os meus aliados mais confiáveis. Quero um plano para me aproximar dos lobisomens, mas com cautela. Se Malrik está tentando dividir o reino, eu vou usar isso a meu favor.
Ele assentiu, mas não disse mais nada.
Quando ele saiu, fechei os olhos e respirei fundo. Era hora de começar a preparar minhas peças no tabuleiro. O Conselho estava cheio de traições, e Malrik parecia ser o elo mais fraco. Mas eu também sabia que ele não seria facilmente derrotado.
"O sangue é doce, mas também é traiçoeiro," pensei, com um sorriso sombrio. "Eu sou a Rainha dos Vampiros. E quem duvidar disso vai se arrepender."
***
Naquela noite, uma reunião secreta foi convocada. Eu sabia que havia algo se movendo nas sombras e que, se não tomasse cuidado, estaria perdida. O que Malrik não sabia era que, por trás de sua tentativa de tomar o poder, ele havia criado uma oportunidade para mim.
Eu não era Elizabeth Valmont por acaso. Ela, na história do jogo, tinha falhado porque se deixou levar pela arrogância. Eu, por outro lado, não faria o mesmo erro. Eu jogaria com inteligência, com paciência. Porque, no final, aqueles que não viam minha verdadeira força seriam os primeiros a cair.
A guerra estava começando, e, quando chegasse a hora, eu estaria pronta para reivindicar meu trono – e fazer Malrik se arrepender de sua traição.
A reunião secreta foi marcada para o fim da noite, nas profundezas do castelo, onde poucos sabiam da sua existência. O salão onde nos encontrávamos estava em sombras, iluminado apenas por velas que lançavam uma luz tremulante, dando à sala um ar de mistério e tensão. O grupo estava composto por alguns dos meus mais confiáveis aliados: Alexander, que estava ao meu lado, e mais dois vampiros que tinham sido fiéis a Elizabeth por anos, mas que agora, com a mudança de liderança, estavam dispostos a me apoiar. Havia também um lorde lobisomem (um mestiço de vampiro e lobisomem, mas que possuía mais características de lobisomem do que vampiro), que, embora hesitante, parecia ter alinhado seus interesses com os meus – por enquanto.
Eu me sentei à mesa, minha postura firme e atenta. Não havia espaço para hesitação agora. Cada um de nós sabia o que estava em jogo.
— O Conde Malrik está movendo as peças dele — comecei, olhando para cada um de meus aliados. — Ele tenta enfraquecer o trono, e se os lobisomens estão envolvidos, então precisamos agir rápido. Eles não vão esperar, e eu não vou permitir que eles façam o que querem.
Alexander fez uma leve reverência, como sempre, mas seus olhos estavam cautelosos, observando todos na sala.
— E se ele realmente estiver tramando uma guerra? — perguntou o lorde lobisomem, com um olhar desconfiado. — Malrik não parece ser do tipo que se arriscaria sem garantir a vitória. Ele tem algo a mais.
— Eu sei. — Respondi de forma decidida, tentando passar confiança. — Ele está usando a aliança com os lobisomens para minar a nossa força. Mas, se ele pensa que vai derrubar a Rainha dos Vampiros tão facilmente, está muito enganado. Eu sou mais forte do que ele imagina.
Houve um breve silêncio. Eu podia ver os rostos dos meus aliados, alguns ainda incertos, outros mais determinados. Mas eu sabia que isso era só o começo. As sementes estavam sendo plantadas.
— O que propõe, Alteza? — perguntou o vampiro à minha esquerda, um dos mais velhos e respeitados entre os nobres. Ele parecia ter uma confiança irrestrita em mim, mas eu sabia que a maioria deles ainda tinha dúvidas.
— Vamos atacar onde ele menos espera. Não vamos atacar os lobisomens diretamente, isso seria um erro. Malrik está apostando em nossa falta de unidade. Vamos mostrar a ele que estamos mais fortes do que nunca. Quero que nos aproximemos de outros vampiros influentes que ainda não se decidiram. Muitos deles estão em dúvida entre apoiar o velho Conselho ou a nova ordem. Vamos trazê-los para o nosso lado, fazer com que Malrik se sinta isolado.
Alexander acenou com a cabeça em aprovação. Ele sabia que, se conseguíssemos conquistar esses vampiros neutros, a batalha política estaria a nosso favor. Mas ainda havia uma questão: **o líder dos lobisomens, Alaric**. Ele não poderia ser ignorado.
— E os lobisomens, Alteza? — perguntou o lorde lobisomem, com uma pontada de nervosismo. — Se Malrik está realmente tentando tomar o controle da aliança, vai ser difícil não ser visto como uma ameaça.
— Eles são uma faca de dois gumes. — Minha voz foi calma, mas firme. — Podemos usar os lobisomens a nosso favor. Alaric não é estúpido. Se ele achar que Malrik está tentando manipulá-lo, ele pode se virar contra ele. Preciso encontrar um modo de estabelecer uma aliança com ele... uma aliança que beneficie ambos, mas que mantenha Malrik fora da equação.
O lorde lobisomem franziu a testa, claramente preocupado, mas assentiu, compreendendo o risco.
— Você tem algum plano em mente para isso?
Eu pausei por um momento, ponderando as palavras.
— Vou me aproximar de Alaric. Vou enviar uma mensagem discreta, algo que só ele entenda. Se ele realmente é o líder dos lobisomens, posso usar isso a meu favor. Não precisamos mais ser inimigos, Alaric e eu, desde que ele veja que estou disposta a trabalhar com ele, e não contra ele.
A sala ficou silenciosa, todos absorvendo as implicações daquela decisão. Eu podia sentir a tensão no ar, mas também percebia a disposição de seguir em frente. O plano estava tomando forma, e agora eu precisava agir rápido.
***
Nos dias seguintes, eu comecei a movimentar minhas peças. Alexander estava a meu lado, auxiliando em tudo o que fosse necessário. Eu não podia mais me dar ao luxo de agir sozinha. Precisava de aliados fortes, tanto dentro do Conselho quanto fora dele. A primeira ação foi enviar um mensageiro secreto para Alaric. O conteúdo da carta foi cuidadosamente pensado, um equilíbrio perfeito entre a ameaça e a proposta de uma aliança. Eu precisava garantir que ele soubesse que, se Malrik fosse deixado à solta, ele seria o próximo alvo.
Enquanto aguardava uma resposta, a situação no castelo se agravava. O clima entre os vampiros estava tenso, e as conspirações estavam em pleno andamento. Eu sabia que não poderia confiar em todos ao meu redor, mas também sabia que, se jogasse bem minhas cartas, sairia vitoriosa.
Então, em uma noite silenciosa, uma carta chegou. Ela estava selada com o emblema dos lobisomens. Meu coração bateu mais forte ao abrir.
**"Estou ouvindo, Rainha dos Vampiros. Mas não se engane, nada é simples. Nos veremos em breve."**
Era Alaric. Ele estava me desafiando, e ao mesmo tempo, me dando uma chance de provar o meu valor.
Eu sorri, com uma confiança renovada. A guerra havia começado, mas eu não seria uma jogadora passiva. Eu era a Rainha dos Vampiros, e isso significava que eu jogaria para vencer.
— Prepare-se, Malrik, — murmurei para mim mesma, — pois o verdadeiro jogo está prestes a começar.