— Alexander, reúna os capitães da guarda e convoque uma reunião privada. Não quero que nenhuma informação sobre o que descobrimos vaze para o Conselho — ordenei, minha voz firme.
Alexander fez uma reverência curta e saiu sem questionar. Eu sabia que a carta era mais do que um simples aviso; era uma prova de que meus inimigos estavam se movendo rapidamente.
Enquanto esperava, voltei minha atenção para a carta. As palavras ecoavam em minha mente: **"Malrik busca mais poder, e os lobisomens farão parte de seus planos."**
Se Malrik estava realmente se aliando aos lobisomens, ele estaria violando todas as leis do reino vampírico. Mas, mais do que isso, ele estava subestimando a força de Elizabeth Valmont — algo que eu não podia tolerar.
Minha mente começou a traçar um plano.
1. **Primeiro passo**: Garantir a lealdade das tropas. Se houvesse uma guerra iminente, eu precisaria de um exército preparado e absolutamente leal.
2. **Segundo passo**: Investigar Alaric. Se o líder dos lobisomens estava envolvido, descobrir seus motivos e alianças seria essencial.
3. **Terceiro passo**: Isolar Malrik. Eu precisava desestabilizar sua posição no Conselho antes que ele tivesse a chance de reunir apoio suficiente para agir contra mim.
Quando Alexander voltou, acompanhado pelos capitães da guarda, minha determinação já estava renovada.
— Vossa Majestade — começou o capitão mais velho, fazendo uma reverência profunda —, estamos à sua disposição.
— Capitães, as próximas semanas serão críticas. Quero que reforcem as patrulhas nas fronteiras do Norte e preparem as tropas para uma possível mobilização. — Fiz uma pausa, olhando diretamente para eles. — Qualquer movimento suspeito dos lobisomens ou de aliados no Conselho deve ser relatado imediatamente.
Os capitães assentiram em uníssono, suas expressões sérias.
— Além disso — continuei, meu tom mais afiado —, preciso que investiguem qualquer conexão entre o Conde Malrik e os lobisomens. Façam isso com discrição absoluta.
O capitão mais jovem hesitou por um momento antes de responder.
— E se encontrarmos provas, Alteza?
Meu olhar gelou.
— Se encontrarem provas, tragam-nas diretamente a mim. E estejam prontos para agir sob minha ordem.
Eles se retiraram rapidamente, deixando-me sozinha com Alexander.
— Alteza, se me permite... — ele começou, hesitando.
— Fale, Alexander.
— Se for enfrentar Malrik, precisará de aliados no Conselho. Não pode lutar em duas frentes sozinha.
Eu sabia que ele estava certo.
— Então comece a reunir informações sobre aqueles que ainda hesitam em apoiá-lo. Quero saber quem pode ser convencido a ficar ao meu lado.
Ele assentiu.
Enquanto Alexander saía para cumprir minhas ordens, uma sensação pesada tomou conta de mim. A carta, os rumores, o silêncio traiçoeiro de Malrik... Tudo apontava para uma verdade inescapável: eu estava entrando em um jogo de vida ou morte.
E neste jogo, só havia uma regra: sobreviver.
Peguei *Ravenclaw* e passei os dedos pelo cabo, sentindo a energia pulsante da lâmina.
"Se Malrik quer testar minha força," pensei, meus olhos brilhando com determinação, "ele vai descobrir o que significa desafiar uma Rainha."
...envolvido nessa trama perigosa? E, mais importante, quem eu poderia usar a meu favor?
Segurei a carta com força, sentindo o peso das palavras. Guerra. Malrik não estava apenas tramando contra mim; ele estava arquitetando algo que poderia destruir o equilíbrio do reino inteiro.
— Alexander — chamei, a voz fria e firme. — Quero todos os espiões disponíveis monitorando os movimentos de Malrik e dos lobisomens. Quero saber onde ele está, com quem se encontra, e cada palavra que ele pronuncia.
— Sim, Alteza. — Ele fez uma reverência, já se movendo para cumprir minhas ordens.
Enquanto ele saía, voltei ao bilhete enigmático que havia encontrado antes: **"O sangue mais doce atrai os predadores mais vorazes."**
"Quem está me avisando?" pensei, o coração acelerando. Essa pessoa parecia estar a par de tudo. Talvez fosse um inimigo, talvez um aliado, mas, de qualquer forma, era alguém com informações valiosas.
Olhei para o mapa do reino espalhado sobre a mesa, meus olhos parando no território dos lobisomens. Alaric era uma figura poderosa e imprevisível no jogo, mas havia uma coisa que ele respeitava acima de tudo: força. Se eu quisesse negociar, teria que me mostrar digna de seu respeito, mas sem parecer desesperada.
Pensei em Elizabeth Valmont e no que ela faria em uma situação assim. Ela não hesitaria em confrontar Alaric diretamente, mas eu sabia que apenas força bruta não seria suficiente.
Eu precisava de um plano que não apenas garantisse minha posição, mas também deixasse claro para todos – aliados e inimigos – que eu era inabalável.
***
Na manhã seguinte, estava pronta. Vesti uma armadura leve, com detalhes negros e rubis que destacavam minha autoridade. *Ravenclaw* descansava na minha cintura, um lembrete silencioso de meu poder.
Alexander estava me esperando nos portões do castelo, cercado por um pequeno grupo de guardas leais.
— Preparada para enfrentar lobos, Alteza? — ele perguntou, um tom quase divertido em sua voz.
— Sempre. — Meu olhar encontrou o dele, firme. — Vamos dar a Alaric um motivo para lembrar por que Elizabeth Valmont é temida.
Montamos nossos cavalos e partimos em direção ao território dos lobisomens. Enquanto o vento cortava meu rosto, um pensamento persistia: *essa reunião poderia decidir o destino do reino inteiro*.
E eu estava pronta para fazer o que fosse necessário para vencer.
A jornada até o território dos lobisomens era traiçoeira, com ventos cortantes e o solo traiçoeiro da Floresta Negra. Mas, finalmente, o território deles apareceu, marcado pelas torres altas da fortaleza Lupina.
Os portões estavam abertos, mas o ambiente era tenso. Lobos enormes patrulhavam o perímetro, seus olhos brilhando em tons dourados e vermelhos.
Na entrada, Alaric esperava, alto e imponente. Seu cabelo escuro caía sobre os ombros, e seus olhos tinham um brilho astuto. Ele sorriu ao me ver, mas o sorriso não era de boas-vindas; era um desafio.
— Elizabeth Valmont — disse ele, sua voz grave. — Que honra ter a Rainha dos Vampiros em minha humilde morada.
— Alaric — respondi, descendo do cavalo. — Espero que sua hospitalidade seja tão afiada quanto sua língua.
Ele riu, mas o som era vazio.
— Vamos ao que interessa. O que traz a majestosa Elizabeth ao covil de lobos?
Olhei diretamente em seus olhos, deixando claro que não me intimidaria.
— Malrik. O que ele está tramando com você?
Seu sorriso desapareceu por um momento, substituído por uma expressão neutra.
— Malrik? — Ele deu de ombros. — Ele é só mais um vampiro que pensa que pode comprar o respeito dos lobisomens.
— E você aceitou?
Ele inclinou a cabeça, avaliando-me.
— Não gosto de trair alianças antigas, Elizabeth. Mas ele fez uma proposta... interessante.
— Então vamos negociar.
O sorriso retornou, mais perigoso do que nunca.
— Ah, Elizabeth. Gosto de como você pensa.
A reunião tinha começado. O destino do reino estava em jogo, e eu sabia que um passo em falso poderia significar a minha queda — ou a minha ascensão definitiva.
Alaric me conduziu para dentro de sua fortaleza, seus passos firmes ecoando pelas paredes de pedra. A sala para onde fomos levados era espaçosa, mas carregava uma aura de ameaça. O teto era alto, decorado com bandeiras desgastadas, provavelmente símbolos de clãs antigos. No centro, uma grande mesa de madeira com marcas de garras sugeria que as negociações anteriores nem sempre tinham terminado pacificamente.
— Sente-se, Elizabeth — disse Alaric, gesticulando para uma cadeira robusta de madeira escura.
Ignorei a oferta e permaneci de pé, cruzando os braços.
— Prefiro ficar assim. Não tenho tempo para jogos, Alaric.
Ele riu suavemente, inclinando-se contra a mesa.
— Tão séria... Isso é algo que sempre admirei em você.
— Admiração não me interessa — rebati, meu tom cortante. — O que me interessa é saber o que Malrik prometeu a você.
Seus olhos brilharam, e ele se aproximou alguns passos, a energia predatória quase palpável.
— Ele me prometeu algo que você nunca ofereceria: independência total para os lobisomens.
Meus punhos se cerraram instintivamente, mas mantive o rosto neutro.
— Independência? — repeti, com uma ponta de desdém. — Você é esperto o suficiente para saber que Malrik não cumpre promessas. Ele só está usando você para alcançar os próprios objetivos.
Alaric inclinou a cabeça, como se ponderasse minhas palavras.
— E você acha que eu não sei disso? — ele perguntou, com um sorriso perigoso. — Mas a questão, minha cara, é o que você pode oferecer em troca.
Agora era minha vez de sorrir.
— O que eu ofereço, Alaric, é estabilidade. Não apenas para os lobisomens, mas para todo o reino. Você sabe tão bem quanto eu que uma guerra só levará à destruição de ambos os lados.
Ele permaneceu em silêncio por alguns instantes, os olhos fixos nos meus. Então, deu um passo para trás, gesticulando para que eu continuasse.
— Estou ouvindo.
— Quero saber os detalhes do que Malrik prometeu — exigi. — E, em troca, posso garantir que os lobisomens mantenham seu território e suas tradições intactas. Nenhuma intervenção do Conselho.
Ele arqueou uma sobrancelha.
— Tão generosa... mas ainda não é o suficiente.
Alexander, que até então tinha permanecido em silêncio, deu um passo à frente.
— Alteza, talvez devêssemos considerar...
— Não, Alexander — cortei, meu tom afiado. — Isso é entre mim e Alaric.
Alaric sorriu, como se apreciasse minha determinação.
— Veja bem, Elizabeth, o problema é que você fala de estabilidade enquanto está em um castelo de cartas prestes a desabar. O Conselho está dividido, Malrik está tramando, e você quer que eu arrisque meus lobos para sustentar seu reino frágil?
— Não subestime minha posição, Alaric — avisei, minha voz baixa e letal. — Você sabe do que sou capaz.
Ele inclinou a cabeça, seus olhos brilhando com curiosidade.
— Mostre-me.
Minha paciência se esgotou. Antes que pudesse pensar duas vezes, puxei *Ravenclaw* da cintura, sua lâmina negra brilhando sob a luz das tochas.
— Se você quer uma demonstração, então venha.
O ambiente ficou tenso. Os lobisomens na sala se moveram levemente, posicionando-se como se esperassem um combate. Mas Alaric apenas sorriu, levantando as mãos em rendição.
— Calma, Elizabeth. Não é necessário derramar sangue... ainda.
Ele voltou para a mesa, pegando uma pequena bolsa de couro. Jogou-a para mim, e eu a agarrei no ar.
— Considere isso um gesto de boa vontade. — Seu tom era leve, mas seus olhos brilhavam com astúcia. — Dentro dessa bolsa, você encontrará provas de que Malrik está tramando algo maior do que imaginávamos.
Olhei para a bolsa e depois para ele, desconfiada.
— Por que você me daria isso?
— Porque, como você disse, não confio em Malrik. Mas isso não significa que confie em você. Ainda quero ver como pretende equilibrar as peças desse jogo.
Sem dizer mais nada, virei-me para sair.
— Elizabeth — chamou ele antes que eu passasse pelos portões.
Parei, mas não olhei para trás.
— Lembre-se de uma coisa: poder e lealdade são efêmeros. Escolha suas batalhas com cuidado.
Não respondi, apenas continuei meu caminho.
Montando novamente em meu cavalo, abri a bolsa e encontrei um pergaminho com o selo quebrado de Malrik. Enquanto lia, uma sensação de urgência tomou conta de mim.
— Alexander, voltamos para o castelo. Agora.
O jogo estava apenas começando, e eu sabia que, se quisesse sobreviver, teria que estar sempre dois passos à frente de todos — inclusive de Alaric.
Enquanto cavalgávamos de volta ao castelo, o peso da carta de Alaric queimava em minha mente. O conteúdo era alarmante, mas também esclarecedor: Malrik estava não apenas negociando com os lobisomens, mas também buscando apoio de magos renegados e criaturas das florestas proibidas.
Se ele estava disposto a romper as leis do reino para consolidar seu poder, então minhas suspeitas estavam corretas: não era apenas um golpe contra mim, mas um plano para destruir a ordem que mantinha o reino unido.
— Alteza? — Alexander chamou, interrompendo meus pensamentos.
— Fale.
— Se a informação de Alaric for verdadeira, isso não apenas compromete o Conselho, mas coloca todo o reino em risco. Precisamos agir rapidamente.
Eu assenti, apertando as rédeas do cavalo.
— Exatamente. Não podemos esperar que ele faça o primeiro movimento. Preciso reunir aliados antes que Malrik tenha tempo de fortalecer sua posição.
Quando chegamos ao castelo, a noite já havia caído, cobrindo o céu com estrelas ofuscadas por nuvens escuras. A atmosfera parecia densa, como se o próprio mundo estivesse se preparando para uma tempestade.
Assim que entrei em meus aposentos, convoquei Alexander e meu círculo mais próximo de conselheiros.
— Malrik está buscando alianças fora do Conselho — comecei, colocando o pergaminho sobre a mesa diante deles. — Ele não apenas violou nossas leis, mas também ameaça a estabilidade de todas as regiões do reino.
Os conselheiros trocaram olhares preocupados. O mais velho deles, Lorde Edric, inclinou-se para frente.
— Alteza, se isso for verdade, o Conselho jamais permitirá que ele continue. Podemos usar isso contra ele.
— Você acha que eles ouvirão razão? — questionei, meu tom carregado de ceticismo. — Metade do Conselho já foi comprada por Malrik. Precisamos de provas irrefutáveis e de aliados fortes para desmascará-lo.
Alexander interveio, sua voz firme.
— E se levarmos isso aos magos de Valdrin? Eles são neutros por princípio, mas têm influência suficiente para equilibrar a balança.
Valdrin. Apenas o nome daquela ordem isolada trazia lembranças sombrias. Eles não se envolviam nos assuntos do reino há décadas, mas talvez fossem a peça que faltava no meu jogo.
— Pode ser uma boa estratégia, mas há riscos — comentei. — Valdrin não faz nada sem um preço. Se eu pedir ajuda, terei que estar preparada para pagar.
O quarto ficou em silêncio por um momento enquanto eu analisava minhas opções.
— Lorde Edric, você ficará encarregado de reunir provas adicionais contra Malrik. Quero que nossos espiões descubram todos os detalhes sobre os aliados que ele está recrutando.
— Sim, Alteza.
— Alexander, reúna uma escolta de confiança. Amanhã ao amanhecer, partiremos para Valdrin.
Ele hesitou por um momento.
— Alteza, tem certeza de que deve ir pessoalmente?
— Sim. — Meu tom não deixava espaço para discussão. — Se Valdrin for aceitar nossa causa, eles precisam ouvir isso diretamente de mim.
Depois de dispensar todos, fiquei sozinha em meus aposentos. Peguei *Ravenclaw* e sentei-me diante da lareira, observando as chamas dançarem.
Eu sabia que cada decisão que tomava me aproximava de uma linha tênue. Alaric, Malrik, o Conselho... todos eram peças de um jogo perigoso, mas o verdadeiro desafio estava por vir.
"Se Malrik quer guerra," pensei, sentindo a lâmina de *Ravenclaw* em minha mão, "então darei a ele algo para temer."
Ao longe, o vento carregava o som dos lobos uivando, como se pressentissem que o equilíbrio estava prestes a ser quebrado.
Na manhã seguinte, o sol ainda não havia nascido quando Alexander chegou aos meus aposentos. Estava vestido com sua armadura de batalha, um lembrete silencioso de que nossa viagem não seria sem perigos.
— A escolta está pronta, Alteza — ele informou, seu olhar sério.
— Ótimo. — Levantei-me, ajustando minha capa e verificando *Ravenclaw*. — Partiremos imediatamente.
Enquanto descíamos os degraus do castelo, o som dos cascos dos cavalos já ecoava no pátio. Um grupo seleto de guerreiros aguardava, todos escolhidos por Alexander por sua lealdade inquestionável.
— Nossa rota será direta, mas passará por territórios próximos à Floresta Negra — explicou Alexander enquanto montávamos em nossos cavalos. — Há relatos de criaturas vagando por lá.
— Que venham. — Meu tom era frio, mas firme. — Não temos tempo para rodeios.
A jornada para Valdrin era longa e cheia de incertezas. A ordem dos magos, isolada no coração das montanhas, era conhecida por sua reclusão e mistério. Poucos ousavam se aproximar de seus domínios, e menos ainda saíam de lá sem pagar um preço.
***
Ao cair da noite, a Floresta Negra nos envolveu com sua presença opressora. Árvores antigas e retorcidas erguiam-se como sentinelas, e o silêncio era quebrado apenas pelo som dos cascos e o ocasional farfalhar entre as sombras.
— Alteza, algo está nos observando — sussurrou um dos guardas, sua mão já na espada.
Eu também sentia. A presença era palpável, quase sufocante. Meu instinto me dizia que não era humano.
— Permaneçam atentos, mas não ataquem sem meu comando — ordenei.
De repente, um uivo estridente cortou o ar, e figuras emergiram das sombras. Lobisomens. Seus olhos brilhavam como brasas enquanto avançavam, cercando-nos rapidamente.
— Protejam a Rainha! — gritou Alexander, puxando sua espada.
A batalha começou antes que eu pudesse dizer uma palavra. *Ravenclaw* brilhou quando a desembainhei, sua lâmina vibrando com uma energia que parecia ecoar meu próprio coração.
O primeiro lobisomem avançou, mas minha espada o cortou com precisão, sua pele espessa incapaz de resistir à lâmina encantada.
— Eles estão testando nossas defesas — disse Alexander, lutando ao meu lado.
— Então mostremos a eles que escolheram o inimigo errado! — retruquei, girando para derrubar outro adversário.
A batalha foi feroz, mas breve. Assim que os lobisomens perceberam que não éramos alvos fáceis, recuaram para as sombras, deixando apenas o som de seus passos desaparecendo na noite.
— Isso foi um aviso — disse Alexander, limpando a lâmina. — Eles não queriam nos matar, apenas nos atrasar.
— E falharam. — Olhei para o grupo, ainda em alerta, mas ileso. — Continuaremos.
***
Finalmente, ao amanhecer, alcançamos os portões de Valdrin. A visão era impressionante: uma fortaleza esculpida na própria montanha, com torres que pareciam tocar o céu.
Os magos já sabiam de nossa chegada. Antes mesmo de desmontarmos, um deles apareceu. Sua túnica negra flutuava ao vento, e seus olhos brilhavam com uma luz dourada, quase sobrenatural.
— Elizabeth Valmont — ele disse, sua voz ecoando como se falasse de dentro da própria montanha. — A Ordem de Valdrin estava esperando por você.
Eu desci do cavalo, encontrando seu olhar sem medo.
— Então sabe por que estou aqui.
Ele fez um gesto para que eu o seguisse.
— O que você busca em Valdrin tem um preço alto. Está preparada para pagá-lo?
— Eu pagarei o que for necessário para proteger meu reino.
Enquanto entrávamos na fortaleza, um frio percorreu minha espinha. Eu sabia que esta negociação não seria fácil.
E que o preço de sobreviver poderia ser maior do que eu estava disposta a aceitar.
Dentro da fortaleza, a atmosfera era densa e carregada com uma energia antiga. Os corredores eram iluminados por lanternas de fogo esverdeado, e o som de nossos passos ecoava nas paredes de pedra. À medida que avançávamos, os magos da Ordem nos observavam de longe, suas expressões imperturbáveis, como se estivessem cientes de tudo que acontecia no reino, mas se mantivessem distantes de qualquer envolvimento direto.
O mago que nos guiava parou diante de uma grande sala, cujas portas eram adornadas com runas e símbolos de poder. Ele fez um gesto, e as portas se abriram lentamente, revelando um círculo de magos reunidos em silêncio. No centro da sala, uma mesa de obsidiana, coberta com pergaminhos e cristais que emanavam uma luz suave, aguardava nossa chegada.
— Elizabeth Valmont — disse o mago, sua voz grave reverberando pelas paredes. — A Rainha que desafiou o destino. O que a traz até nós?
Eu tomei um momento para absorver a grandiosidade do ambiente. Não era apenas um lugar de poder, era um lugar onde o equilíbrio entre as forças antigas e os magos modernos se encontrava, um ponto de convergência de sabedoria e mistério.
— Venho em busca de poder e aliados, algo que meu reino precisa para sobreviver — respondi, minha voz firme, sem hesitação.
Os magos trocaram olhares rápidos, suas mentes já avaliando minha determinação. Um deles, uma mulher com cabelos prateados e olhos como fendas de gelo, foi a primeira a falar.
— O poder que você busca não é dado de ânimo leve. A Ordem de Valdrin não oferece favores, nem mesmo para aqueles que têm o sangue real.
— Não busco favores. — Olhei diretamente para ela, sem demonstrar receio. — Quero a força necessária para derrotar meus inimigos. O Conde Malrik e os lobisomens estão unidos em um plano que ameaça a estabilidade do reino. Eu não posso permitir que o caos se instale.
A mulher de cabelos prateados assentiu lentamente, como se estivesse ponderando minhas palavras.
— Então você está disposta a pagar o preço? — ela questionou. — O preço do poder verdadeiro sempre exige sacrifícios.
Eu não hesitei. Sabia que essa era a única chance de conseguir o que precisava para proteger meu reino.
— Diga-me qual é o preço. Eu o pagarei.
A sala ficou em silêncio por um momento, até que outro mago, mais jovem e com uma aura de curiosidade, falou.
— O preço do poder não é simples. Exige mais do que apenas sangue ou ouro. Exige sua alma, sua essência. Quando você busca forças tão antigas, deve estar disposta a se entregar a elas completamente.
Eu senti um arrepio percorrer minha espinha. Não era o tipo de poder que eu esperava, mas sabia que essa era a única chance de garantir a sobrevivência do meu reino. O que quer que fosse, eu o aceitaria.
— O que tenho que fazer? — perguntei, minha voz decidida.
A mulher de cabelos prateados fez um gesto para que eu me aproximasse da mesa. Sobre ela, havia um pequeno cristal negro, que pulsava com uma energia estranha, e um pergaminho antigo que parecia estar esperando para ser lido.
— Este é o contrato de poder — disse ela, sua voz mais baixa agora, carregada com um tom solene. — Ao assiná-lo, você se comprometerá a usar a força da Ordem para seus próprios fins, mas também estará atada à nossa causa. Não haverá mais retorno. A cada uso de nosso poder, mais de sua essência será drenada, até que você se torne parte da própria Ordem.
Eu sabia o que isso significava. A promessa de poder sempre vinha com um preço elevado, e eu já havia aceitado isso ao tomar a decisão de buscar a ajuda dos magos.
— Eu aceito — disse com firmeza, sem hesitar, estendendo minha mão em direção ao cristal. Quando toquei sua superfície fria, senti uma onda de energia percorrer meu corpo, como se estivesse sendo conectada a algo muito maior e mais antigo do que qualquer coisa que já tivesse experimentado. A sala parecia girar, e por um breve momento, minha visão ficou embaçada, mas então uma voz ecoou na minha mente.
**"O poder não vem sem consequências, Elizabeth Valmont. Mas a força que você deseja será sua."**
Retirei minha mão do cristal, e a sala voltou ao normal. O pergaminho estava agora vazio, como se aguardasse minha assinatura. Com um único movimento, assinei meu nome, e, ao fazê-lo, senti um peso aumentar sobre meus ombros, como se o fardo de um destino ainda maior tivesse sido colocado em minhas mãos.
— Está feito. — A mulher olhou para mim com uma expressão enigmática. — Agora, você possui o poder da Ordem. Lembre-se, no entanto, de que cada escolha tem um custo. Quando o poder que você recebeu for usado, ele pedirá mais de você. E nós, da Ordem, cobramos aquilo que nos é devido.
Eu não disse nada. O que importava agora era o que eu faria com o poder que acabara de obter. Sabia que a batalha com Malrik estava apenas começando, e que minha vitória dependeria de como eu usasse essa força recém-adquirida.
Enquanto saía da sala, o mago que me guiava olhou para mim com um sorriso sutil.
— Agora que você tem o poder, Alteza, não haverá mais volta. Você será testada em maneiras que não pode imaginar.
Eu olhei para ele com uma expressão imperturbável.
— Não há teste que eu não esteja disposta a enfrentar.
Quando saí da fortaleza, o peso da decisão ainda estava gravado em meu corpo. Eu tinha o poder, mas também sabia que ele me transformaria de maneiras que ainda não conseguia compreender. As palavras da mulher de cabelos prateados ecoavam em minha mente: **"O poder pedirá mais de você."**
Mas, por agora, não havia tempo para hesitar. O reino estava em perigo, e eu precisava agir. Eu me encontrei com Alexander assim que cheguei de volta ao castelo. Ele estava esperando por mim na entrada, seus olhos penetrantes notando a mudança em minha postura.
— Alteza, tem algo diferente em sua presença — ele disse, a voz carregada de uma curiosidade cautelosa.
Eu apenas o olhei, sem responder de imediato. Sabia que ele não entenderia imediatamente a magnitude do que havia acontecido, mas isso não importava. O que importava era o próximo passo.
— Reúna os capitães da guarda, Alexander. Quero que reforcem a vigilância no conselho. Malrik ainda não sabe o que está prestes a acontecer, mas logo saberá que não pode me desafiar impunemente.
Ele fez uma reverência, mas sua expressão permanecia uma mistura de respeito e preocupação. Ele sabia que algo estava prestes a mudar, e o instinto dele não estava errado.
— Como desejar, Alteza — ele disse, antes de se afastar para cumprir as ordens.
Aquela noite, o castelo estava mais silencioso do que o normal. As lâmpadas queimavam com uma luz fraca, e as sombras dançavam nas paredes de pedra, como se esperassem o que viria a seguir. Eu caminhei sozinha pelos corredores, sem saber exatamente o que procurar ou onde ir. Mas algo me dizia que, se eu queria manter o controle, precisaria agir rapidamente e com precisão.
Ao chegar ao meu escritório, encontrei a carta com a assinatura de Malrik em cima da mesa. Ele estava se movendo, e eu tinha certeza de que ele estava apenas esperando o momento certo para atacar. Mas, agora, ele não sabia que tinha despertado uma força dentro de mim que ele não poderia compreender nem controlar.
Pensei em Alaric, o líder dos lobisomens. Sabia que sua lealdade não poderia ser comprada facilmente. Ele era uma criatura instintiva, com poder selvagem que se estendia além do que a maioria dos vampiros poderia compreender. Mas, como todos os lobisomens, ele respeitava a força e o domínio. Se eu quisesse realmente desestabilizá-lo, precisaria enfrentá-lo no campo em que ele mais confiava: o poder físico e o instinto. Mas não era disso que eu precisava para vencer essa guerra. Eu precisava mais do que força bruta; eu precisava de estratégia.
Sentei-me à mesa, olhando para o mapa do reino, observando os territórios e as linhas que separavam meu domínio do território dos lobisomens. A cada movimento, a cada plano, eu sabia que estava brincando com o fogo. Mas o jogo já tinha começado, e agora, eu estava jogando para ganhar.
De repente, uma batida suave na porta interrompeu meus pensamentos. Era Alexander, que entrou com um semblante grave.
— Alteza, temos informações. — Ele me entregou um pergaminho com a marca de seal real. Eu rasguei o selo rapidamente, quebrando o silêncio que pairava na sala.
Era uma mensagem de um dos meus espiões, informando sobre a reunião secreta que Malrik havia agendado com alguns membros do Conselho. Eles estavam, aparentemente, formando uma aliança para desestabilizar minha posição. Os lobisomens seriam usados como uma força de distração, para enfraquecer minhas defesas antes do ataque direto.
— Malrik está jogando todas as cartas — murmurei para mim mesma, absorvendo as informações com uma calma fria.
— O que devemos fazer? — Alexander perguntou, aguardando minhas ordens.
Eu respirei fundo, meu corpo agora irradiando uma calma que contradizia o turbilhão dentro de mim. Malrik tinha cometido um erro grave ao subestimar o quanto eu poderia me tornar uma ameaça. Ele achava que poderia me pressionar, mas o que ele não sabia era que eu agora jogava um jogo de xadrez onde a única peça que importava era a rainha.
— Vamos reunir nossas forças, e no momento certo, vamos dar o golpe final. Quero que você reúna os capitães e prepare um ataque surpresa ao local da reunião do Conselho. Vamos mostrar a Malrik que ele não tem mais controle sobre o que acontece aqui.
Eu me levantei, a adrenalina começando a tomar conta do meu corpo. O poder da Ordem de Valdrin agora pulsava em minhas veias, e com isso, eu sabia que tinha as ferramentas para destruir todos os inimigos que se colocassem no meu caminho. Mas também sabia que o custo seria alto. Cada movimento teria uma consequência, mas eu estava disposta a pagar o preço.
Malrik e os lobisomens não sabiam, mas estavam prestes a enfrentar uma rainha mais poderosa do que qualquer um poderia imaginar. E eu, Elizabeth Valmont, faria o que fosse necessário para garantir que o reino fosse meu. Não havia mais espaço para dúvidas.
A batalha estava apenas começando.