A viagem até o templo foi mais longa do que imaginávamos. A paisagem ao redor se tornava cada vez mais selvagem, como se o mundo estivesse se fechando ao nosso redor. As árvores cresciam em uma espessura impenetrável, e o ar se tornava pesado, carregado com uma energia estranha que eu não conseguia identificar, mas sabia que não era natural. Algo estava ali, observando-nos, esperando o momento certo para agir.
Viktor não falava muito durante o caminho, mas sua presença, sempre em alerta, deixava claro que ele sentia o perigo tanto quanto nós. Quando chegamos aos limites do templo, o cenário mudou completamente. O terreno estava árido, as árvores desapareciam, e o que restava era uma planície desolada, onde uma antiga estrutura se erguia, marcada pelo tempo e pelo abandono. O templo parecia mais uma ruína do que um lugar de culto, mas a aura que emanava dele era inegável — poder antigo, talvez até mais antigo do que qualquer um ali.
— Estamos chegando — Viktor murmurou, sua voz grave. — O templo está à frente. Cuidado, Alteza. Há coisas aqui que podem ser… perigosas.
O aviso era claro. Este lugar estava impregnado de magia sombria, de uma energia que fazia a pele arrepiar. Não era apenas o templo, mas algo mais, algo profundo e perturbador. Eu podia sentir, quase como uma presença, algo aguardando, algo que havia sido deixado para trás, mas não esquecido.
Avançamos com cautela, as botas fazendo pouco barulho sobre o solo rochoso, até que chegamos à entrada. As portas do templo estavam entreabertas, enferrujadas e cobertas de musgo, mas havia uma força nelas, uma força que me desafiava. Eu dei um passo à frente, a mão no punho da espada que eu carregava, e empurrei a porta com facilidade, como se o próprio templo soubesse que eu estava vindo.
Dentro, o ambiente era sombrio, iluminado apenas por fracas chamas que ardiam em tochas nas paredes. As sombras dançavam de maneira inquietante, criando um cenário digno de pesadelos. O templo estava repleto de inscrições antigas, símbolos que eu não reconhecia, mas que sentia serem de grande poder. E no centro, uma grande pedra, esculpida em formas esotéricas, parecia pulsar com uma energia escura e poderosa.
— O artefato… — murmurei, já sabendo o que se encontrava ali.
Era óbvio agora. Alaric não estava apenas atrás do controle físico, mas da magia que esse lugar poderia oferecer. Este templo não era apenas um lugar de culto antigo, mas o lar de algo capaz de mudar o curso da história — ou talvez, dominar o próprio tecido da realidade.
— Onde ele está? — perguntei a Viktor, meu olhar se fixando na pedra, tentando discernir algum movimento, algum sinal de que Alaric estivesse por ali.
Viktor parecia nervoso, seus olhos se movendo de um lado para o outro enquanto ele se aproximava da pedra. Ele fez uma pausa, olhando para ela com uma expressão tensa.
— Ele não está aqui — disse finalmente, a voz carregada de preocupação. — Mas a magia, Alteza... ela ainda está aqui. Ele a usou. E não vai parar até obter o que deseja.
Foi quando eu percebi. Não era só a pedra que ele queria. Ele queria o poder dela, e ao usá-la, estava corrompendo tudo ao seu redor. Aquela magia não era algo que um simples lobisomem poderia controlar. Ele estava se afundando cada vez mais em algo que não conseguiria controlar, algo que poderia destruir tanto ele quanto todos ao seu redor.
— O que ele planeja fazer com esse poder? — perguntei, mais para mim mesma do que para Viktor.
A resposta veio em forma de um sussurro, como se o próprio templo estivesse respondendo à minha pergunta.
— Ele planeja reescrever o destino.
Eu congelei. Reescrever o destino? Alaric não estava apenas buscando mais poder ou controle. Ele queria alterar o próprio curso das coisas, moldar o futuro ao seu gosto. Isso não apenas ameaçaria o equilíbrio do reino, mas todo o mundo. Ninguém, nem mesmo um líder como eu, poderia se permitir ignorar esse tipo de poder.
Olhei para Alexander, que estava ao meu lado, atento e sério.
— Precisamos encontrar Alaric antes que ele complete o que começou — disse com firmeza.
Alexander acenou com a cabeça, e Viktor nos conduziu mais fundo no templo, até uma câmara subterrânea. À medida que descíamos, o ar ficava mais denso e a magia mais palpável. O som dos nossos passos ecoava pelas paredes de pedra, criando um clima quase surreal.
Quando chegamos à câmara, vimos o que restava de Alaric. Ele estava de pé, diante de um altar que brilhava com uma luz espectral, sua figura enevoada por uma aura de pura energia negra. Ele murmurava palavras em uma língua antiga, e a pedra no altar pulsava como se tivesse vida própria.
— Alaric! — gritei, minha voz ressoando pela câmara.
Ele parou e se virou lentamente. Seus olhos, agora dourados como a lua cheia, estavam cheios de um brilho selvagem. Ele sorriu, mas não era um sorriso de vitória — era um sorriso de loucura.
— Elizabeth Valmont... — ele sussurrou, como se meu nome fosse um desafio. — Você chegou tarde demais. O destino já está selado.
Eu não hesitei. Levantei minha espada, o metal brilhando com um brilho frio.
— O destino é meu para moldar. E você, Alaric, não é mais uma ameaça.
A batalha estava prestes a começar. E, como sempre, seria até o fim.
Alaric deu um passo à frente, sua aura de magia negra se expandindo como uma onda, preenchendo a câmara com uma energia opressiva. O som de suas palavras sussurradas reverberava nas pedras, como se as próprias paredes respondessem à sua invocação. A luz espectral do altar iluminava seu rosto, distorcendo-o, tornando-o quase irreconhecível, como se já não fosse mais o lobisomem que eu conhecia, mas algo muito mais perigoso e insano.
— Você não entende, Elizabeth. — A voz dele soou como um grito abafado, mas com uma calma inquietante. — Este poder não é para ser controlado. Ele é a verdade. O futuro. Eu não estou apenas criando um novo reino, estou recriando a realidade, moldando o que foi, o que é e o que será. Não há mais volta.
O ambiente ao nosso redor parecia tremer, como se o próprio tempo e espaço estivessem sendo rasgados e reescritos. Eu podia sentir o peso da magia, como um fardo que se assentava sobre meus ombros. Mas, ao mesmo tempo, uma chama de determinação queimava em meu interior. Ele poderia ter o poder, mas não controlaria o destino. Não enquanto eu estivesse de pé.
Eu dei um passo à frente, mantendo a espada firme em minhas mãos, minha postura resoluta.
— Você está errado, Alaric. O destino não é algo a ser reescrito, não é algo que uma única pessoa possa dominar. A liberdade de todos está no equilíbrio, não na tirania de um poder insano como o seu.
Ele riu, um som baixo e frio, como se minha declaração fosse uma piada sem graça.
— Tente me parar, então. — Ele levantou a mão, e o ar ao redor se distorceu, como se o próprio espaço estivesse sendo retorcido por sua vontade. — Você e seus idiotas não são páreo para isso. Não há mais nada que você possa fazer.
Foi então que Viktor, que estava quieto até aquele momento, avançou, tirando uma adaga da cintura. Ele olhou para mim com um semblante sério.
— Alteza, há um jeito. Eu… eu sabia que algo estava errado. A pedra, esse poder, ele não pode ser controlado, mas pode ser quebrado. Se destruirmos o altar, a magia será desfeita. Mas… precisamos agir rapidamente.
Minha mente processava a informação enquanto a tensão aumentava. Se Viktor estava certo, o altar era a chave para todo aquele caos. Mas chegar até ele não seria fácil. Alaric estava mais forte agora, mais do que qualquer um poderia imaginar. A batalha já havia começado.
Sem dar tempo para mais palavras, Alaric avançou em nossa direção, sua forma se distorcendo enquanto ele se transformava. Seus dentes afiados reluziam, e seus olhos brilhavam com a fúria da besta que ele agora havia se tornado. Ele saltou para cima de Viktor, mas eu fui mais rápida. Com um grito, corri na frente de Viktor e levantei a espada, bloqueando o golpe de Alaric com uma força que eu não sabia que tinha.
O impacto reverberou pelos meus braços, quase me fazendo perder o equilíbrio, mas a adrenalina me manteve focada. Alaric rosnou, recuando por um momento.
— Você está mais forte do que eu imaginava, Elizabeth. Mas isso não vai durar.
Eu não dei ouvidos às suas palavras. Eu tinha uma missão, e nada, nem mesmo ele, iria me parar.
— Viktor, vá! — gritei. — Destrua o altar, agora!
Viktor não hesitou. Ele correu em direção ao altar, mas Alaric, com sua agilidade sobrenatural, se lançou para impedi-lo. Eu estava em uma luta constante contra ele, cada movimento um jogo de vida ou morte. Meu corpo estava cansado, os golpes de Alaric eram implacáveis, mas minha mente estava clara. Não podia vacilar agora.
Com um movimento rápido, Alaric tentou me derrubar, mas eu me esquivei e, com uma agilidade que me surpreendeu, cruzei a lâmina da espada sobre a dele. O som do metal batendo contra metal ecoou pela câmara, e, em um instante, aproveitei a brecha para empurrá-lo para trás.
— Você não vai ganhar! — eu gritei, minha voz cheia de raiva e desafio.
Mas ele apenas sorriu, como se estivesse se divertindo.
— Vamos ver, Alteza. Vamos ver até onde você consegue aguentar.
No canto da minha visão, vi Viktor finalmente chegando perto do altar. Ele levantou a adaga, o brilho da lâmina refletindo a luz das chamas ao redor, e, com um movimento rápido, cravou a lâmina na base do altar. Uma explosão de energia negra e brilhante irrompeu do altar, e uma onda de força nos atingiu, derrubando-nos ao chão. O templo inteiro tremeu como se estivesse prestes a desmoronar.
Alaric soltou um grito de fúria e dor. A magia que antes fluía através dele agora estava se dissipando, deixando-o fraco, atordoado. Eu me levantei com dificuldade, minha espada ainda em mãos, e olhei para Viktor.
— Terminamos isso — disse com firmeza.
Alaric estava no chão, seus olhos lutando para manter o foco. Ele sabia que o poder havia escapado de suas mãos, e não havia mais nada que ele pudesse fazer. Viktor se aproximou de mim, sem dizer uma palavra, mas seu olhar era de aprovação. A batalha estava ganha, mas a guerra estava longe de terminar.
Olhei para Alaric uma última vez, sua expressão de derrota e ódio gravada na minha mente. Ele não venceria. Não enquanto eu estivesse lá para impedir. O destino, como sempre, estava em minhas mãos. E agora, mais do que nunca, eu sabia que nada me impediria de alcançar o que era meu por direito.
O templo estava em ruínas, as pedras e as colunas tremendo enquanto o poder de Alaric se dissipava. O som das pedras caindo e a vibração da magia quebrada preenchiam o ambiente, criando uma sensação de desolação e vitória ao mesmo tempo. Eu olhei para o chão, onde Alaric estava caído, seu corpo ainda tremendo com os últimos vestígios da energia que o possuía.
Viktor se aproximou de mim, respirando pesadamente, mas com um olhar determinado. A batalha havia sido árdua, mas o altar estava destruído, e a fonte de poder de Alaric estava se desfazendo. Eu sabia que o lobisomem, embora derrotado por ora, não desistiria tão facilmente. Ele tinha a ambição de governar, de controlar, e isso era algo que nenhum poder poderia apagar de sua alma. Mas, por enquanto, ele estava vulnerável.
— Alteza, devemos ir agora. Não podemos ficar aqui mais tempo. Alaric ainda pode ter aliados que virão atrás de nós. — Viktor falou com urgência, seus olhos analisando rapidamente a situação ao nosso redor.
Eu olhei para ele e assenti. Não havia mais tempo a perder. A vitória era temporária, e o perigo ainda estava à espreita. Precisávamos sair daquele templo antes que Alaric conseguisse se recuperar e se reagrupasse. O caminho à frente não seria fácil, mas já não havia mais volta. O destino do reino estava irrevogavelmente entrelaçado com nossas ações.
— Prepare-se, Viktor. — Eu disse, minha voz fria e calculista. — O reinado de Alaric terminou, mas a guerra não acabou. Precisamos garantir que o poder que ele tentou tomar para si não caia nas mãos erradas. E há muito mais a fazer, muito mais a conquistar.
Enquanto nos preparávamos para sair, uma figura emergiu das sombras, suas botas soando pesadamente nas pedras quebradas. Era Alexander, que havia seguido discretamente, mas sua presença já fazia-se conhecida.
— Alteza, o que faremos agora? — Ele perguntou, seu olhar firme, mas cheio de questionamentos.
Eu olhei para ele, avaliando a situação. O que viria a seguir não seria mais um simples jogo de poder. Era uma batalha pela sobrevivência. E, como sempre, eu estava disposta a lutar até o fim.
— Agora, vamos garantir que o reino esteja seguro. Vamos impedir que qualquer sombra de Alaric se levante novamente. — Minha voz não tremia. Eu sabia o que tinha que fazer. — Preparem os homens. Vamos voltar para a capital. Há um novo inimigo à vista, e não podemos permitir que ele ganhe força.
Com um gesto firme, dei as ordens. Sabia que o tempo de reclusão e espera havia chegado ao fim. A guerra estava longe de ser vencida, mas um novo capítulo estava prestes a começar. Alaric, por mais que fosse um obstáculo, era apenas o início de uma jornada ainda mais perigosa e incerta.
Ao olhar para o horizonte distante, vi as primeiras luzes da manhã começando a despontar, e um pensamento fixou-se em minha mente: *Essa luta apenas começara, e eu não deixaria que ninguém ditasse o meu destino.*
O reinado era meu. E ninguém, nem mesmo um lobisomem de poder incontrolável, poderia mudar isso.
— Vamos. O futuro nos espera. — Eu disse com confiança, liderando o caminho de volta à nossa luta.
E com isso, o caminho estava claro.
A cavalgada de volta à capital foi silenciosa, cada um de nós imerso em seus próprios pensamentos. O som das cascos contra o solo ecoava pela noite, mas para mim, o mundo parecia um tanto distante, como se tudo ao redor estivesse em pausa. A vitória sobre Alaric ainda pesava sobre mim, não pela sensação de conquista, mas pela certeza de que a batalha que havíamos travado era apenas uma fração do que ainda estava por vir.
À medida que nos aproximávamos dos portões da capital, a cidade começava a acordar. As primeiras luzes das lâmpadas de rua refletiam na poeira da estrada, como se o dia estivesse tentando limpar a escuridão da noite anterior. Mas dentro de mim, a escuridão parecia mais profunda, mais difícil de dissipar. O poder de Alaric poderia estar enfraquecido, mas as cicatrizes que ele havia deixado no reino e no coração das pessoas não se apagariam com facilidade.
Ao chegarmos ao castelo, fui imediatamente escoltada para o salão principal, onde o Conselho aguardava. Todos estavam reunidos, suas expressões curiosas, algumas preocupadas, outras ansiosas por informações. Eu poderia sentir a tensão no ar, como se estivessem esperando por algum sinal de que a guerra que todos temiam havia finalmente começado.
Fui direto ao ponto, minha voz cortando o silêncio com autoridade.
— Alaric foi derrotado, mas ele não está morto. Apenas enfraquecido. Ele vai buscar retaliação, e sabemos que ele ainda possui aliados. A guerra está longe de terminar. — Pausei para observar as reações, sentindo o peso das palavras que acabara de dizer. — Mas agora precisamos agir. Não podemos esperar que ele se reagrupem e volte para a luta. Devemos antecipar seus movimentos e enfraquecer suas forças antes que ele tenha a chance de se reerguer.
Viktor, sempre vigilante, deu um passo à frente.
— Alteza, sabemos que ele tem uma rede de aliados poderosos, mas também sabemos que, enquanto ele estiver se recuperando, sua liderança estará em risco. — Ele fez uma pausa, olhando ao redor, como se tivesse que pesar suas palavras. — O que sugerimos é uma ação rápida. Atacar suas linhas de abastecimento, enfraquecer suas alianças e, acima de tudo, destruir qualquer base de poder que ele ainda tenha fora dos territórios que já controlamos.
Olhei para ele, e um sorriso sutil se formou em meus lábios. Viktor sempre teve uma mente estratégica, e suas palavras faziam sentido. Porém, o plano exigiria mais do que apenas ataques rápidos.
— Concordo, Viktor. Mas não podemos nos dar ao luxo de fazer algo sem uma estratégia mais ampla. Vamos usar isso a nosso favor. A resistência de Alaric é uma oportunidade para dividir suas forças. Vamos incitar desconfiança entre seus aliados. A dúvida será a nossa melhor arma. — Olhei para o Conselho, agora mais focado. — Quero que todos estejam preparados. Isso será uma guerra de desgaste, e não podemos permitir que o medo e a incerteza tomem conta.
Eu sabia que a guerra seria suja, cheia de mentiras, traições e sangue. Mas isso não me incomodava. Eu estava preparada para lutar com as armas que o destino me dera. Quando o reino for conquistado, quando o poder finalmente estiver nas minhas mãos, não será por uma batalha vencida com honra. Será porque eu soube jogar o jogo de acordo com minhas próprias regras.
O silêncio se arrastou enquanto todos assimilavam as instruções. Eu sabia que ainda havia muitos obstáculos à frente, mas a vitória sobre Alaric já tinha me dado um gosto do que poderia vir. E eu estava longe de estar satisfeita. A verdadeira guerra ainda estava por vir, e eu não recuaria.
Com um movimento imperativo, levantei-me do trono e olhei para os rostos dos que estavam à minha volta, agora com uma determinação inabalável.
— Preparem-se. A verdadeira luta está apenas começando. E quando chegarmos ao final, será o meu nome que será lembrado. Ninguém poderá parar o que está por vir.
A sala ficou em silêncio, mas o peso de minhas palavras se espalhou pelo ar. A guerra por poder e sobrevivência estava em andamento, e a era de Alaric estava chegando ao fim. O meu reinado estava prestes a começar.