O barulho agudo de vidros quebrados estilhaçou a atmosfera serena do salão do banquete, fazendo Serafina estremecer e fechar os olhos com força. Em um instante, ela podia imaginar os olhares de reprovação dos convidados e ouvir as inevitáveis repreensões do Conde.
"Você deve estar exausta."
A voz do Duque cortou seus pensamentos, substituindo as zombarias imaginadas. Quando Serafina abriu os olhos, viu-o colocar o copo agora vazio em uma mesa próxima.
"Caso contrário, você não teria cometido tal descuido."
Ele limpou as mãos molhadas com um guardanapo, sua expressão de leve irritação enquanto tentava se livrar da sensação pegajosa deixada pelo champanhe.
"Você está cansada, não está?"
"Ah, sim."
Serafina respondeu mais rápido do que pretendia, sua voz a surpreendendo com sua urgência. Ela olhou para ele, sem considerar se ele percebeu a energia avassaladora da multidão ao redor deles.
"Como eu pensei."
Sua expressão se suavizou, aparentemente satisfeito com sua resposta.
"Acho que devemos fazer uma pausa."
"Sim."
Serafina sabia que o Conde Alaric a repreenderia por sair antes que a recepção terminasse, mas sobreviver ao escrutínio do Duque de Everwyn era mais importante.
"Minha esposa parece estar fatigada. Posso acompanhá-la para fora?"
"Claro, Duque."
As senhoras que conversavam com Serafina a desculparam com acenos educados. Ao sair do salão de recepção, graças à escolta eficiente do Duque, o ar frio beliscou suas bochechas.
"Há um quarto aqui."
As palavras do Duque a deixaram confusa, e sua leve carranca indicou que ele notou sua confusão.
"Podemos descansar lá por um momento."
"Oh, sim."
Enquanto Serafina se movia para segui-lo, uma dor acendeu em seus pés, lembrando-a do desconforto anterior. Ela deu alguns passos, tentando parecer composta, mas finalmente teve que parar.
O Duque, percebendo sua ausência atrás dele, voltou-se.
"O que houve?"
"Isso..."
Serafina hesitou. Ele a havia ameaçado apenas algumas horas antes, e era difícil admitir que seus pés doíam.
À medida que seu silêncio se prolongava, o Duque suspirou e se aproximou dela.
"O que é?"
"Lembrei-me de algo que preciso fazer. Você vai na frente, e eu vou seguir."
"Você sabe onde é o quarto?"
Serafina silenciou novamente, e o Duque suspirou mais profundamente.
"O que você precisa fazer?"
"Isso..."
Ela hesitou, depois levantou a barra da saia para revelar seus pés inchados. Os olhos do Duque se arregalaram ao ver.
"Quem fez isso com você?"
"Ninguém. São os sapatos novos."
Sapatos novos causaram isso? A testa do Duque se franziu. Ele havia usado sapatos novos muitas vezes e nunca experimentou algo assim. Ele se agachou para examinar seus pés, movendo-a um passo para trás.
Sua pele branca fazia as feridas se destacarem nitidamente, especialmente o calcanhar bolhoso e descascado.
"Você estava andando com esses pés?"
Uma pequena ruga apareceu na testa do Duque. Como pés tão delicados poderiam sustentá-la era algo que ele não compreendia.
Percebendo que levariam uma eternidade nesse ritmo, ele tomou uma decisão e se levantou.
"Ah, espere!"
Ao se levantar, ele agarrou Serafina em seus braços. Ela fez um pequeno protesto, mas ele a silenciou.
"Acho que não. Apenas segure-se."
Seu tom firme encerrou qualquer discussão. Ela não encontrou palavras para contestar a resolução do Duque.
Ele a carregou rapidamente até o lounge, uma jornada que teria levado uma eternidade para ela. Ele abriu a porta, encontrou um sofá de aparência confortável e a colocou gentilmente lá.
"Obrigado..."
"Deve haver alguns suprimentos de emergência aqui."
Ignorando seu agradecimento, ele se virou e começou a procurar pelo lounge. Logo, encontrou uma caixa de medicamentos e a trouxe até ela.