"Lucille." Zoey mordeu o lábio e implorou de maneira lastimável, "Você ainda está me culpando pelo que aconteceu ontem? Eu expliquei para o Pai e nossos irmãos, mas eles não acreditam em mim..."
Lucille deu um sorriso de desprezo, revelando um lampejo de desafio em seus olhos. "Se você realmente quer me ajudar a limpar meu nome, por que não mostra a eles as filmagens de vigilância?"
Ela se apoiou na cama, seu rosto delicado um pouco pálido. Era claro que ela estava frágil naquele momento.
Mas o frio em seus olhos era arrepiante.
Ela costumava ser uma pessoa silenciosa e introvertida, mas todo o seu comportamento havia mudado. Seria essa ainda a ingênua Lucille de antes?
De repente Zoey sentiu um sentimento de pânico, seus dedos no apoio do braço da cadeira de rodas ficando levemente brancos.
Ela se recompos, virou a cabeça para os dois homens atrás dela e falou com uma voz chorosa, "Samuel, Charles, eu sabia que Lucille ainda estava brava comigo. Vocês poderiam me ajudar a persuadi-la, por favor?"
Lucille sentiu náuseas com o tom meloso de Zoey, mas infelizmente, esses dois homens claramente estavam gostando.
Charles Jules deu um passo à frente com confiança. "Lucille, se não fosse pelo apelo da Zoey, eu nunca me desculparia com você. Você tem que saber que Zoey é a verdadeira vítima..."
"Charles," Lucille falou de repente, interrompendo-o.
Sua voz era como um cristal fino, soando clara e pura.
Charles ficou surpreso.
Já fazia tempo que Lucille não o chamava pelo nome, e ele estava um pouco desacostumado a isso.
Lucille levantou os olhos, olhando calmamente para Charles, sua voz rouca. "Ontem à noite, vocês levaram Zoey ao hospital, e eu fui empurrada para a água pelas pessoas no banquete. Eu quase me afoguei..."
"E daí?"
Charles respondeu de maneira nada amigável, "Você não morreu, morreu? Além disso, se você não tivesse empurrado Zoey escada abaixo primeiro, eles teriam te empurrado na água?"
Lucille sentiu o peito apertar diante da resposta desalmada dele. A dor que ela havia sentido antes, uma dor familiar e opressiva, voltou com tudo, dificultando a respiração.
As injustiças e dores que a verdadeira dona desse corpo sofreu agora se abatiam sobre Lucille.
Suas palavras eram carregadas de tristeza quando disse, "Então só porque eu não morri, você acha que está tudo bem em me acusar de maneira tão cruel? E se eu tivesse morrido?"
Charles sabia que sua própria irmã nunca voltaria viva?
Ele estava disposto a sacrificar sua própria carne e sangue para proteger uma garota que não era nada para ele. A pura insensibilidade disso tudo deixou Lucille atordoada.
Se a verdadeira dona desse corpo ainda estivesse viva, quão desolada e triste ela estaria neste momento?
Charles olhou para Lucille atordoado. Sua última frase de alguma forma fez seu coração perder uma batida. E se ela tivesse morrido...?
E sim, todos sabiam que Lucille não sabia nadar...
Se não fosse pela sorte, ela poderia realmente ter morrido.
Zoey notou a distração de Charles e logo falou, "Desculpa, Lucille. É toda minha culpa. Se eu não tivesse perdido tanto sangue e desmaiado, nossos irmãos não teriam me apressado para o hospital e negligenciado você. Você pode me culpar se quiser..."
As palavras de Zoey eram um lembrete claro para Charles de que Lucille havia empurrado Zoey escada abaixo na noite anterior, fazendo-a perder muito sangue e entrar em coma.
Como esperado, qualquer sentimento leve de culpa que Charles tinha desapareceu imediatamente ao ouvir as palavras de Zoey.
"Você disse 'se', não disse?" ele retrucou. "De qualquer maneira, você não está morta ou faltando membros. Mas olhe para Zoey agora, você fez com que ela acabasse em uma cadeira de rodas."
Não morta?
Os lábios de Lucille se curvaram em raiva.
Ela não pôde deixar de se lembrar do momento em que a verdadeira dona desse corpo se afogou, sentindo-se sufocada e angustiada.
Ela tinha apenas dezenove anos, com toda a vida pela frente, e ainda assim, um grupo de pessoas a forçou impiedosamente para dentro da água. Antes de morrer, ela tentou abrir os olhos e dar uma última olhada no mundo.
Mas tudo que viu foi um grupo de perpetradores cruéis e demoníacos.
Naquele momento, ela não tinha mais esperanças neste mundo.
A família Jules nunca saberia o que ela viu em seus últimos momentos. Ela viu os dias em que seu pai e três irmãos a mimavam quando ela era criança.
Apesar de todas as injustiças e sofrimentos que ela suportou, ela ainda não queria odiar essas pessoas que a machucaram.
Mas o que eles fizeram em troca?
Eles a ignoraram, zombaram dela, e fizeram piada sobre ela...
A família Jules havia esquecido quem ela era?
Como eles poderiam agir com tanta insensibilidade?!
Suprimindo sua raiva crescente, Lucille disse com voz baixa, "Embora eu não tenha morrido, o fato é que eles tentaram me matar!"
Ela nunca deixaria essas pessoas diabólicas em paz.
Eles eram responsáveis pela morte da verdadeira dona deste corpo, e eles teriam que pagar um preço alto por isso!
Zoey notou a expressão séria de Lucille e percebeu que ela não estava brincando. "Lucille, meus amigos ficaram apenas bravos quando souberam que você me empurrou escada abaixo. Eles perderam a cabeça por um momento, e eu peço desculpas pelo comportamento deles. Por favor, não os responsabilize."
Ela então segurou a mão de Lucille com força e continuou, "Se você ainda está chateada, você pode me bater ou me xingar. Eles não tinham intenção."
Lucille olhou para Zoey friamente, sentindo a dor das unhas dela pressionando em sua mão.
Ela sabia que esse era o truque usual de Zoey.
Na noite anterior, Zoey havia usado esse método também. Embora agora ela parecesse estar implorando por seus amigos, ela estava secretamente beliscando Lucille.
Quando a verdadeira dona estava com dor e a afastou na noite anterior, Zoey fingiu cair da escada...
Hmph!
Se ela fosse a verdadeira dona, teria caído direto na armadilha de Zoey. Uma pena que quem estava sentada na frente dela agora era Lucille Jules, a Deus da Guerra da família Jules.
Tais pequenos truques não poderiam aprisioná-la.
Com um movimento ágil, Lucille agarrou a mão de Zoey e aplicou pressão em um ponto sensível no pulso dela.
"Ah!!"
Um grito ecoou pelo quarto do hospital.
Zoey deu um tapa na mão de Lucille e falou com uma voz irritada, mas ainda gentil, "Lucille, eu sei que você ainda está brava comigo. Essa dor não é nada. Eu posso suportar."
Samuel Gilbert, que havia permanecido em silêncio até então, não aguentou mais e repreendeu raivosamente, "Lucille Jules! Você passou dos limites! Zoey estava apenas sendo gentil. Por que você teve que machucá-la de novo e de novo?"
Charles também olhou com raiva, "Lucille Jules, você não tem vergonha!"
Charles era o irmão da verdadeira dona, enquanto Samuel era seu noivo, mas ambos eram tão parciais que estavam como cegos para a verdade.
Lucille abaixou o olhar, olhando para sua mão vermelha, seus olhos gelados.
De repente, ela levantou a mão e deu um tapa feroz no rosto de Zoey.
Ela havia colocado toda a sua força.
Slap!
O rosto de Zoey imediatamente ficou vermelho e inchado.
Ela não podia acreditar. "Você me bateu?" ela exclamou, segurando sua bochecha latejante.
Lucille zombou, "Não foi você quem disse que eu posso bater ou xingar você? O que há de errado? Mudou de ideia?"
Charles foi o primeiro a reagir, sua raiva transbordando. "Lucille, como--"
"Cala a boca!" Lucille disparou.
"Eu sou seu irmão. Como você se atreve a falar comigo assim?!" ele gritou.
"Você mostra favoritismo a uma estranha como ela, me maltrata, ignora a verdade e faz acusações infundadas. Você não merece ser meu irmão!"