O envelope misterioso na mão de Johan parecia pulsar com uma energia própria, uma presença que ele não conseguia ignorar. No fundo, ele sentia que aquilo era apenas o começo de algo muito maior. Com o endereço gravado na carta em mãos, ele decidiu seguir o chamado, determinado a entender o que estava acontecendo e por que, de repente, o impossível havia se tornado sua nova realidade.
O destino o levou até uma área abandonada nos arredores de Nova Paris. A paisagem era desolada, marcada por ruínas de antigas construções, as últimas memórias da guerra que quase extinguiu a humanidade. Johan se movia em silêncio, atento a cada som, e finalmente parou em frente a uma construção coberta por heras e desgastada pelo tempo. A entrada era uma porta de ferro com uma figura estranha gravada em sua superfície: o símbolo de um olho entrelaçado por linhas ondulantes, como se estivesse observando-o.
Antes que pudesse bater, a porta rangeu e se abriu, revelando um corredor escuro iluminado por tochas, uma luz sobrenatural que parecia flutuar sem consumir o ar ao redor. Ele hesitou, mas a curiosidade e a determinação em encontrar respostas o empurraram para dentro. O som da porta se fechando atrás dele ecoou no corredor, e Johan avançou, sentindo-se vigiado.
No final do corredor, ele entrou em uma sala ampla, onde várias figuras encapuzadas estavam dispostas em um semicírculo, todas voltadas para ele. O silêncio era absoluto. Uma dessas figuras, de aparência mais imponente e com um capuz levemente inclinado, deu um passo à frente e baixou o capuz, revelando um rosto marcado pelo tempo, com olhos que exalavam conhecimento e mistério.
— Johan, você chegou. — Sua voz era grave, mas havia uma serenidade na entonação que o fez relaxar, mesmo que por um instante. — Somos a Ordem dos Vigias, guardiões do legado deixado pelos primeiros heróis.
Johan estreitou os olhos, analisando aquele homem. Ele sentia a verdade nas palavras, mas algo ainda o mantinha em alerta.
— E o que vocês querem comigo? — perguntou, tentando esconder o desconforto que sentia.
O homem sorriu, como se já esperasse aquela resposta.
— Você possui o sangue de um dos primeiros heróis. Daniel, o pioneiro, o homem que liderou a resistência contra as criaturas que emergiram dos portais, era seu ancestral. Esse dom que você carrega é um legado que, até agora, havia se mantido adormecido. Mas com o recente desequilíbrio na ordem dos portais, ele foi despertado. E é por isso que estamos aqui.
Johan sentiu uma onda de choque ao ouvir o nome de Daniel. Aquela era uma das figuras principais nas lendas sobre os primeiros heróis. Ele tinha lido sobre Daniel, mas nunca havia imaginado que, de alguma forma, poderia estar ligado a ele. Contudo, algo dentro dele parecia fazer sentido ao ouvir aquelas palavras.
— Mas os portais foram fechados... essa ameaça terminou há quase um século — respondeu Johan, tentando se agarrar à lógica. — Por que o despertar agora?
O homem assentiu lentamente, como se estivesse escolhendo as palavras com cuidado.
— Nem tudo o que foi feito permanece eterno, Johan. Embora os portais tenham sido selados, há forças que tentam romper o véu entre nosso mundo e o deles. Acreditamos que alguém está buscando reabrir esses portais, utilizando magia antiga e proibida. Sua presença aqui é a prova de que o ciclo está prestes a se repetir. Os poderes que você carrega são a resposta natural a esse desequilíbrio. Agora, você é parte de uma nova linhagem de heróis.
Johan sentiu um frio percorrer sua espinha. A ideia de que as mesmas criaturas horrendas poderiam voltar a invadir a Terra era assustadora, mas ele ainda tinha perguntas.
— E o que eu tenho que fazer? — murmurou, um misto de medo e determinação em sua voz. — Não sei nem como usar esse poder direito.
O homem sorriu, seus olhos brilhando com algo parecido com orgulho.
— Por isso você está aqui, Johan. Vamos treiná-lo, ensiná-lo a controlar a força que carrega. O que você tem dentro de si é um fragmento do poder que uma vez salvou a humanidade. E agora, mais do que nunca, precisamos de alguém com sua força e com sua mente afiada. Mas saiba que aceitar isso significa deixar sua antiga vida para trás. O caminho de um herói é solitário e cheio de sacrifícios.
Johan hesitou, pensando nas implicações. Ele nunca havia imaginado ser parte de algo tão grandioso. Mas, ao mesmo tempo, sentia-se como se, pela primeira vez, encontrasse um propósito verdadeiro, algo que explicava a inquietação constante que sempre o acompanhara.
Depois de alguns segundos, ele assentiu.
— Eu aceito. Vou fazer o que for necessário.
Os Vigias ao seu redor pareciam relaxar, quase imperceptivelmente, mas era claro que ele tinha dado a resposta que esperavam. O homem à sua frente ergueu uma mão e Johan sentiu um calor familiar percorrer seu corpo. Com um toque leve, o Vigia transferiu para ele o primeiro segredo da Ordem: a capacidade de invocar e moldar sua energia.
— Então, começamos agora, Johan. Esse é apenas o início da sua jornada.
Com aquele simples toque, o ambiente ao redor de Johan começou a mudar. A sala se transformou, e ele se viu em um campo amplo, coberto por uma grama alta e verde que balançava ao vento. Ali, ele começaria o treinamento que definiria sua vida e, quem sabe, o futuro da humanidade.
Ele era Johan, herdeiro dos heróis do passado, e agora carregava em si o peso do legado.