O vento frio cortava o campo verdejante, e Johan se sentia perdido na imensidão daquele lugar, como se tivesse sido transportado para uma outra realidade. Ao seu redor, as figuras encapuzadas o observavam, seus rostos escondidos nas sombras, como vigias silenciosos de seu destino. No entanto, ao lado de Johan, permanecia o líder dos Vigias – o homem que o acolhera e o guiara até ali.
— Seu treinamento começa agora — anunciou o Vigia, sua voz soando firme. — O poder que carrega é imenso, mas sem controle, ele pode ser mais perigoso para você do que para os inimigos que enfrentará.
Johan assentiu, sentindo o peso da responsabilidade sobre seus ombros. Ele ainda tentava absorver tudo o que havia acontecido desde que recebera a carta misteriosa. Mas, ao mesmo tempo, sabia que agora não havia como voltar atrás. Ele fora escolhido, e uma estranha aceitação crescia dentro dele, uma coragem que ele não sabia que possuía.
— Você já experimentou o primeiro despertar do seu poder, mas esse foi apenas o começo — continuou o Vigia. — Agora, vamos ensinar-lhe a dominar sua energia, a utilizá-la conforme sua vontade e a aprimorar seu controle.
O Vigia estendeu a mão, e Johan sentiu uma força invisível começar a envolvê-lo, puxando-o suavemente para o centro do campo. A figura apontou para suas próprias mãos, indicando que ele as erguesse. Johan obedeceu, ainda incerto, e, ao fazer isso, sentiu uma faísca de energia percorrer seus dedos, como uma corrente elétrica leve, mas viva.
— Feche os olhos, Johan. Sinta o fluxo dentro de você — orientou o Vigia. — Visualize a energia, como se fosse uma corrente de água. Ela começa em seu coração, circula pelos seus braços, e flui até suas mãos.
Johan respirou fundo, tentando concentrar-se. Com os olhos fechados, ele mergulhou em si mesmo, buscando aquela força misteriosa que havia despertado dentro dele. A sensação era ao mesmo tempo fascinante e assustadora – uma energia pura e latente, que parecia ansiosa para ser libertada.
Conforme focava sua mente, Johan começou a perceber pequenas centelhas de luz surgindo em sua visão interna. A energia vibrava ao redor de seu corpo, fluindo em um ritmo próprio, até que ele finalmente conseguiu tocá-la, conectando-se a ela de uma maneira que jamais imaginara ser possível. Abriu os olhos lentamente, e viu suas mãos emitindo um brilho suave, dourado e quente, semelhante ao que ele testemunhara na noite em que enfrentara a criatura.
O Vigia assentiu, satisfeito.
— Muito bem. Esse é o primeiro passo: despertar a energia de forma consciente. No entanto, apenas invocá-la não é suficiente. Você deve aprender a moldá-la, a transformá-la em armas e defesas, conforme a necessidade. Lembre-se: o poder que você possui não é apenas para destruir. Ele é um reflexo do que você é por dentro.
Sem aviso, o Vigia ergueu uma mão, e uma lâmina de energia se formou, brilhante e afiada, e ele a arremessou em direção a Johan. Instintivamente, Johan tentou se defender. Seus braços moveram-se, e uma barreira luminosa se materializou em sua frente, bloqueando o ataque do Vigia.
— Excelente reflexo — disse o Vigia, com um leve sorriso. — Mas você ainda está reagindo sem controle total. Tente de novo, desta vez com consciência.
O Vigia lançou outro ataque, e Johan, determinado a manter a concentração, fechou os olhos por um instante, visualizando a barreira de energia ao seu redor. Quando abriu os olhos novamente, a proteção brilhava com mais intensidade, sólida e firme. O ataque ricocheteou contra a barreira, dissipando-se no ar.
Johan respirou aliviado, mas seu corpo estava tenso e exausto com o esforço. O treinamento continuou por horas, enquanto ele praticava a criação de escudos, a formação de lâminas de energia e o controle preciso de suas habilidades. Cada tentativa parecia desgastá-lo ainda mais, mas a cada novo exercício ele sentia o poder crescendo, se fundindo à sua própria vontade.
---
Ao entardecer, após várias horas de prática, o Vigia finalmente indicou uma pausa, deixando Johan recuperar o fôlego. Ele estava exausto, mas sentia algo novo: um senso de propósito e pertencimento que nunca experimentara antes. Mesmo sem entender completamente o que se passava, Johan sabia que sua vida jamais voltaria a ser a mesma.
O Vigia aproximou-se, seus olhos refletindo um misto de orgulho e gravidade.
— Amanhã, começaremos a ensiná-lo sobre as criaturas que enfrentará e sobre os segredos dos portais. E você conhecerá aqueles que o acompanharão nessa jornada.
Johan ergueu as sobrancelhas, surpreso.
— Eu pensei que estaria sozinho.
O Vigia sorriu.
— Heróis nunca estão realmente sozinhos, Johan. Existem outros, espalhados pelo mundo, que também despertaram. Eles têm suas próprias habilidades e legados, e cada um deles terá um papel essencial nesta luta.
Uma onda de alívio passou por Johan. Saber que não enfrentaria essa batalha sozinho renovou sua força e determinação. Ele respirou fundo, ciente de que, embora o treinamento estivesse apenas começando, ele finalmente estava trilhando o caminho para o qual fora destinado.
Enquanto o sol se punha no horizonte, Johan encarou o campo vazio à sua frente, sentindo que, pela primeira vez, estava preparado para enfrentar o que quer que viesse do outro lado dos portais.