O ar estava saturado de silêncio. Elizabeth sentia o toque da água quente envolvendo sua pele, mas não havia conforto naquilo. O calor do tanque parecia uma ironia cruel, quase como se quisesse oferecer um alívio que jamais alcançaria. Suas mãos permaneciam algemadas, e a venda sobre seus olhos a mantinha prisioneira em uma escuridão que parecia tão interna quanto externa.
O sequestrador autonomeado de Mestre, trabalhava em silêncio, cada gesto controlado e meticuloso. A esponja deslizava pelo corpo de Elizabeth como um fantasma, tocando-a em lugares que ela queria esquecer. Suas lágrimas escorriam sem trégua, misturando-se à água do tanque, invisíveis, mas inconfundíveis. Ela não podia falar, como se as palavras estivessem trancadas em sua garganta, e o único som que se permitia emitir era o de sua respiração entrecortada.
Elizabeth estava ali, mas não estava. Sua mente flutuava para longe, buscando refúgio em lembranças antigas, em qualquer pedaço de esperança que pudesse afastá-la do presente. Entretanto, a realidade era implacável, trazendo-a de volta ao toque invasivo, à respiração pesada que agora enchia o espaço ao seu redor. Ela ouvia os movimentos dele, os gestos ritmados de algo que não queria imaginar.
De repente, sentiu algo em sua pele. Gotas que não eram de água. O horror a invadiu, e um nó apertado se formou em seu estômago. Não havia necessidade de ver para entender o que havia acontecido. A vergonha, o medo e a impotência a envolveram como um manto sufocante.
Ele a enxugou com o mesmo cuidado desconcertante, como se fosse um ritual calculado. Levou-a de volta para a cama, deixando-a tremendo, mais pelo desespero do que pelo frio. O ambiente era estranho, quase clínico, mas havia algo de profundamente perturbador na precisão com que tudo parecia ter sido planejado.
Elizabeth sentiu o calor aumentar gradualmente ao seu redor, como se o espaço fosse moldado para manipulá-la até nos detalhes mais sutis. Então ele voltou, retirando a venda de seus olhos.
A luz do ambiente era fria, destacando o brilho polido das paredes brancas e do chão perfeitamente trabalhado. Tudo parecia meticulosamente limpo, organizado, como se a desordem de sua mente fosse uma afronta ao lugar. Ela piscou várias vezes, tentando ajustar os olhos à claridade e ao terror.
O Mestre estava ali, parado à sua frente. Sua figura era envolta em um manto de mistério: uma jaqueta escura com capuz escondia sua silhueta, enquanto uma máscara negra cobria seu rosto quase por completo. Apenas pequenas aberturas deixavam escapar indícios de olhos que a observavam, frios e insondáveis.
Ao olhar ao redor, Elizabeth percebeu os detalhes do lugar. Ao lado esquerdo, uma enorme piscina que agora sabia ser onde ele a banhara. De frente para o tanque, um espelho imenso refletia cada canto do local, como se capturar a vulnerabilidade dela fosse parte do plano.
Atrás dele, uma parede se erguia como um santuário profano, adornada com algemas, chicotes e correntes. Cada objeto parecia contar uma história que ela nunca quis ouvir. Estruturas de madeira, metais e cordas estavam dispostas pelo espaço como peças de um quebra-cabeça que Elizabeth não queria decifrar.
O homem finalmente quebrou o silêncio:
— Não vai adiantar gritar, Elizabeth.
Sua voz era baixa, mas carregava uma firmeza assustadora, cada palavra marcando o ar como um golpe. Ele retirou as mãos dos bolsos, revelando luvas de couro que brilhavam sob a luz artificial.
Elizabeth reuniu o pouco de coragem que lhe restava e sussurrou, com a voz trêmula:
— Vai me matar, não é?
Por um momento, o silêncio foi sua resposta. Então, ele respondeu, com uma calma perturbadora:
— Não. Você é preciosa. Foi difícil conseguir você. Minha intenção nunca foi matá-la.
— Então o que você quer? — Sua voz quase falhou, embargada pelo medo.
Ele inclinou a cabeça ligeiramente, como se estivesse ponderando sua resposta. E então, com uma suavidade que fez sua pele se arrepiar, ele disse:
— Quero que me ame, Elizabeth. Quero que me ame.
O coração dela disparou. Sua mente gritava em negação, mas a frase ecoava no espaço, carregada de uma insanidade que a sufocava.
— Isso não é amor! — ela gritou, seu desespero explodindo em palavras pela primeira vez. — Não tem como amar alguém assim!
Mas ele apenas a olhou, imóvel, como se tivesse toda a paciência do mundo para esperar que ela entendesse sua lógica distorcida.