Quando a fumaça da pólvora se dissipou, Desai pôde ver a devastação causada pelos projéteis. O estrago que presenciara, algo quase mítico, era mencionado apenas nos antigos tomos de magia. No entanto, ali estava, não um feitiço, mas o resultado de uma arma criada por um homem comum.
O silêncio de Desai era a prova de seu choque. Ele escolhera o alvo, acendera o pavio do canhão com suas próprias mãos, e o que acabara de presenciar era inquestionável. Este canhão, projetado e construído por um mortal, tinha o poder de transformar muralhas e fortalezas em pó.
'Com essas armas em grande escala, as fortificações serão inúteis... E se essas máquinas entrarem em campo, não haverá inimigo capaz de se defender', pensou Desai, assimilando a ideia.
Chris, o lorde da cidade de Serris, poderia dominar todas as direções e vencer todas as batalhas.
Ele se lembrou das palavras de Chris: "Quantas vezes o lucro pode ser obtido investindo no monarca de um país?" Agora, aquela promessa soava muito mais sedutora. O que faltava a Chris era capital, tempo para consolidar sua base, e quando ele conseguisse, as recompensas seriam incalculáveis.
"Se... você realmente pode fazer isso..." Desai começou, caminhando até Chris. "Então a família Longtaite estará ao seu lado. Fiel para sempre."
Chris sorriu. "Agora, quanto você está disposto a investir para garantir que sua família se torne a mais rica do mundo?"
Desai olhou para os canhões à distância e respondeu com seriedade: "Um milhão e meio de moedas de ouro."
Chris assentiu lentamente, mas seu sorriso aumentou. "Se quer mesmo garantir essa posição, vai precisar investir mais."
Houve um silêncio entre os dois enquanto Desai ponderava o valor real dessa parceria. Ele sabia que estava diante de uma jogada arriscada, mas também que os ganhos seriam maiores do que qualquer outro investimento que fizera antes.
"Dois milhões de moedas de ouro," disse Desai por fim. "E farei com que minha família garanta todos os recursos necessários para seu plano. Em dez dias, trarei grãos, aço, tudo o que precisar."
Chris estreitou os olhos, satisfeito. "Isso é mais do que eu esperava ouvir. Um grande investimento... para um império ainda maior."
De volta ao castelo de Serris, Chris, Desai e seus comandantes estavam reunidos ao redor de uma grande mesa com um mapa detalhado da região. O futuro de Serris, agora uma posição vital nas rotas comerciais, estava por um fio.
"Precisamos nos livrar dessa vulnerabilidade de sermos atacados por todos os lados." Chris franziu a testa. "Batalhas em múltiplas frentes são fatais. Já vimos impérios caírem assim."
Ele relembrou os exemplos da Terra: Napoleão, lutando em duas frentes, caíra. A Alemanha, igualmente poderosa, fora destruída ao se ver envolvida em guerras múltiplas. Não cometeria os mesmos erros.
Wagron apontou para o norte no mapa. "Há sete senhores poderosos ao norte. A maioria da nossa defesa está focada nessa direção, onde há uma grande pressão."
"A oeste, o Reino de Higgs, que faz fronteira com o Império do Demônio Sagrado," acrescentou Gregory. "Eles são uma força imprevisível e uma constante preocupação para o Império Arante."
Chris ponderou por um momento. "O norte e o oeste são complicados. No sul, temos uma relativa segurança, já que pagamos impostos ao Império Arante. Isso nos dá alguma garantia de proteção, por enquanto."
Ele olhou para Wagron, que indicava duas cidades a leste. "O leste é mais simples. Temos um território agrícola e uma cidade portuária. Não há grandes ameaças dessa direção."
Chris respirou fundo e finalmente falou: "O que precisamos agora é crescer, expandir nossas forças."
Wagron assentiu. "Aumentar nosso exército para dois mil soldados vai custar caro."
"Sim, mas é necessário. Precisamos de mais cavalaria e mais infantaria. Além disso, teremos que investir em melhorias para os nossos soldados. Armas melhores, mais treinamento, melhores condições. Precisamos estar prontos para o que vier," Chris respondeu com convicção.
Gregory interveio, preocupado. "Meu senhor, se gastarmos tanto agora, sem a certeza de uma guerra, o desenvolvimento de Serris vai parar. Não podemos arriscar tudo assim..."
Chris o interrompeu. "Já estamos em perigo, Gregory. Não temos tempo para esperar."
A urgência na voz de Chris foi suficiente para convencer seus subordinados. "Precisamos estar preparados para qualquer eventualidade. Não há tempo para dúvidas."
Strider concordou, finalmente percebendo o que Chris já sabia. "Sim, estamos prestes a nos tornar um alvo. Não podemos ser pegos desprevenidos."
Chris colocou a mão no ombro de Gregory e o tranquilizou. "Não se preocupe. Já tenho um plano para ganhar mais ouro. As máquinas que desenvolvi logo entrarão em produção. Em breve, o dinheiro vai fluir para Serris de uma maneira que você jamais imaginou."
No mesmo dia, 30 mulheres recrutadas passaram no treinamento e começaram a operar os novos teares que Chris havia projetado. O custo de produção de tecidos caiu drasticamente. E, graças ao processo de estampagem e tingimento que ele desenvolveu, as cores dos tecidos eram mais vibrantes, o que aumentou o valor de venda.
Serris começou a ganhar ouro todos os dias, e o dinheiro que Chris investira voltou para ele quase que instantaneamente.
Enquanto isso, os ferreiros de Serris estavam boquiabertos com os avanços tecnológicos. Com o novo forno, as temperaturas subiram para níveis antes impossíveis, e o forjamento de metais tornou-se mais rápido e eficiente.
Serris prosperava, mas Chris sabia que isso era apenas o começo. Ele tinha apostado tudo nessa jogada, e o sucesso ou fracasso definiria o destino de toda a sua cidade. Ele não podia se dar ao luxo de falhar.