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Chapter 3 - Queda e Renascimento

Aric mal teve tempo de respirar quando as criaturas apareceram novamente, saindo das sombras da floresta. Ele lutou com todas as suas forças, as suas pedras mágicas a brilhar enquanto invocava a energia da terra para repelir os monstros. Mas eram muitos, e a sua força estava a esgotar-se. Ferimentos profundos cobriam os seus braços e pernas, e a exaustão pesava nos seus músculos.

Cada golpe, cada explosão de magia, parecia menos eficaz que o anterior. Ele sentiu o pânico crescer no seu peito. Olhando à volta, percebeu que não havia saída – exceto pela cascata que rugia à sua direita. A água descia com uma força inabalável, espirrando sobre as rochas abaixo. Um salto dali seria quase suicida... mas ficar seria a morte certa.

Respirando com dificuldade, Aric deu um último golpe nas criaturas, lançando uma rajada de raízes em direção ao grupo mais próximo, e correu em direção à borda da cascata. As criaturas vinham atrás, as suas garras estendidas para agarrá-lo. Sem olhar para trás, Aric saltou, o rugido da água a engolir o seu grito.

Tudo se apagou numa mistura de dor e escuridão.

Quando Aric abriu os olhos, estava deitado numa cama simples. As paredes à sua volta eram de madeira rústica, e o cheiro de ervas secas e fogo a arder permeava o ar. Ele tentou mover-se, mas o seu corpo estava dolorido demais. Então ouviu uma voz rouca e firme.

— Não te movas muito, jovem. Ainda não estás pronto para te levantares.

Aric virou a cabeça e viu um homem idoso, de barba grisalha e olhos profundos, sentado ao lado da lareira. O homem parecia calmo, quase impassível, enquanto mexia numa panela sobre o fogo.

— Onde estou? — Aric conseguiu perguntar, a sua voz fraca.

O velho levantou-se lentamente e caminhou até à cama.

— Meu nome é Varek — disse ele, colocando uma tigela de sopa ao lado da cama. — Encontrei-te a flutuar na água, perto da cascata. Pensei que estavas morto. Não foi fácil trazer-te até aqui.

Aric tentou lembrar-se de como tinha sobrevivido à queda, mas tudo era um borrão de dor e caos. Olhou para o homem, grato, mas desconfiado.

— Por que me ajudaste? — perguntou ele.

Varek deu de ombros, como se a resposta fosse óbvia.

— Não costumo deixar jovens morrerem quando posso evitar. Acontece que a água te trouxe até mim, e eu não sou de ignorar o destino.

Aric acomodou-se na cama, o corpo ainda doendo, mas a sua mente começava a clarear. Ele sentiu que havia mais em Varek do que o velho estava a revelar.

— Eu vou curar-me rápido e partirei — disse Aric, tentando parecer firme. — Tenho um caminho a seguir.

Varek observou-o por um momento, como se pudesse ver além das palavras do jovem.

— Sim, eu sei que tens um caminho — respondeu Varek. — Mas o que não sabes é que esse caminho é mais sombrio do que imaginas.

Depois de dias imerso na dor e no silêncio da cabana de Varek, Aric finalmente se levantou. As suas pernas ainda estavam fracas, mas a força havia retornado ao seu corpo. Ele olhou para a cama onde passara tantos dias e soube que era hora de sair. De alguma forma, ele sentia-se mais leve, como se aquele lugar tivesse começado a curar não apenas as suas feridas físicas, mas também a sua alma marcada pelo luto.

Ele caminhou até à porta da cabana e, ao abri-la, foi recebido por uma brisa suave e fresca que o envolveu. Do lado de fora, a floresta estendia-se até onde os seus olhos podiam ver, mas desta vez, parecia diferente. Aric deu um passo à frente, os pés tocando a relva macia, e parou, olhando a paisagem.

A luz do sol filtrava-se entre as folhas das árvores, criando padrões de luz e sombra no chão. O som suave de um riacho próximo e o canto distante dos pássaros preenchiam o ar. A beleza da floresta surpreendeu-o — um contraste absoluto com a violência e a destruição que presenciara na sua aldeia.

Aric respirou fundo, sentindo o ar puro encher os seus pulmões, e pela primeira vez em muito tempo, o seu peito relaxou. Ele deu-se conta de que, naquele breve momento, a dor que o consumia parecia distante, quase esquecida. A floresta, que um dia fora palco das suas maiores tristezas, agora oferecia um tipo de serenidade que não experimentava há tempos.

Caminhando lentamente até o topo de uma pequena elevação, Aric parou para observar a vastidão verde à sua frente. Ali, encontrou Varek, sentado numa rocha próxima, observando a paisagem com um olhar contemplativo. O velho parecia em paz, como se fosse parte daquela floresta, um guardião silencioso.

Aric aproximou-se, sem pressa. Ele não disse nada de imediato, apenas sentou-se ao lado de Varek, permitindo que o silêncio entre eles falasse por si. O vento sussurrava entre as árvores e, por um momento, tudo parecia certo no mundo.

— É bonito, não é? — disse Varek, a sua voz grave cortando o silêncio. — Há algo de especial nesta floresta. Mesmo nos dias mais sombrios, ela sempre encontra uma maneira de trazer a paz.

Aric assentiu, olhando a vasta extensão de árvores.

— Eu não sabia se algum dia sentiria isso de novo — murmurou ele. — Essa paz.

Varek deu um pequeno sorriso, ainda olhando para a floresta.

— A paz não está perdida, Aric. Só escondida. Às vezes, é preciso mais do que força para encontrá-la novamente.

Nos dias que se seguiram, Varek observou Aric de perto. O jovem estava inquieto, cheio de perguntas, mas também carregava uma ansiedade que o impedia de ver com clareza. Ele ainda lutava contra a dor e o peso das suas perdas, mas havia algo mais, uma incerteza sobre o próprio poder que habitava dentro dele.

Uma manhã, enquanto Aric descansava perto da lareira, Varek aproximou-se com um olhar sério, mas gentil.

— Está na hora de começarmos — disse o velho, com a voz calma e firme.

Aric franziu o cenho, confuso.

— Começar o quê?

Varek pegou uma pedra lisa e pequena do chão e girou-a entre os dedos antes de a atirar para Aric.

— A tua magia, rapaz. Estás a tentar controlá-la da maneira errada.

Aric apanhou a pedra no ar, olhando-a por um momento antes de responder.

— Eu sei como usá-la. Sempre soube. Consigo manipular a terra, as raízes... mas é como se, agora, algo estivesse errado. A magia parece... distorcida.

Varek aproximou-se e sentou-se à sua frente, os olhos fixos nos de Aric.

— Porque estás a tentar impor a tua vontade à magia, como se ela fosse apenas uma ferramenta. Mas a tua magia não funciona assim, Aric. Ela não cria coisas do nada, como tantas outras. Ela flui pelo mundo à tua volta, e tu a comandas da maneira que um pescador guia o seu barco no rio — com suavidade e compreensão, não com força bruta.

Aric olhou para a pedra na sua mão, lembrando-se de todas as vezes que tentou usar o seu poder com desespero, tentando dominar as forças da natureza.

— Então, o que devo fazer?

Varek levantou-se, estendendo a mão para Aric. Quando o jovem agarrou a mão do velho, caminharam para fora da cabana, em direção à clareira. Lá fora, o sol começava a esconder-se entre as árvores, lançando um brilho dourado sobre a paisagem.

— A magia que tens, Aric, é mais profunda do que imaginas. Ela não é uma força que crias, mas uma que canalizas. Ela está nas pedras, nas árvores, na água. Podes dobrá-la à tua vontade, mas somente se compreenderes que não está separada de ti, assim como não está separada da própria natureza.

Varek parou ao lado de uma árvore alta e colocou a mão sobre o tronco. As raízes à volta dela começaram a mover-se lentamente, como se respondessem ao toque do velho. A terra mexeu-se suavemente, e Aric sentiu a energia fluir.

— Sente a conexão — disse Varek. — Não forces, não lutes. Apenas entende o fluxo e deixa-o responder a ti.

Aric fechou os olhos e respirou fundo. Estendeu a mão e tocou o chão. A princípio, sentiu apenas a textura fria da terra, mas, lentamente, algo mais começou a revelar-se — um leve pulso, quase imperceptível, como se o chão sob os seus pés estivesse vivo. Ele tentou não comandar, mas ouvir, e, aos poucos, sentiu as raízes à sua volta a mexerem-se.

— Isso... — murmurou Aric, surpreso.

Varek sorriu de leve.

— A natureza está sempre disposta a ouvir, Aric. Só precisas saber como falar com ela.

Aric abriu os olhos e observou, maravilhado, enquanto as raízes se entrelaçavam suavemente à volta dos seus pés, como se fossem extensões dele próprio. Pela primeira vez, ele sentiu a verdadeira essência do seu poder. Não era algo a ser forçado ou controlado, mas uma parceria com as forças que sempre estiveram à sua volta.

— Isso é só o começo — disse Varek, afastando-se. — Mas agora sabes onde procurar o verdadeiro poder.