Isabella Petrov
—Vamos até o escritório, lá teremos mais privacidade — eu não quero ser fria com ela.
Minha mãe se levanta trémula e vem até a minha atrás, ela me segue de forma vacilante, como se não quisesse ficar no mesmo ambiente que eu, não vejo motivos para isso. Entro no escritório nas calmas, abro a porta e dou espaço para que ela também entre. Minha mãe entra vacilante e sorri nervosa.
— Pode se sentar onde quiser senhora Isabella — estou tão nervosa em estar diante da minha mãe que não sei o que falar, estou falando coisas sem noção.
Minha mãe se senta e aperta as mãos para tentar controlar suas emoções. Ela ainda não pode me encarar, ela ainda está de cabeça baixa, não me encara.
— Obrigada minha querida, você é muito bonita — ela sussura finalmente.
Sua voz sai trémula e rouca, parece até que ela esperou por essa conversa por muito tempo, mas agora que estamos de frente uma para outra, as palavras sumiram completamente. Ela morde os lábios e Porra! O que eu devo falar para ela? O que falar para uma pessoa que você não conhece mas que compartilha o mesmo sangue.
— Obrigada, a senhora não precisa sentir medo de mim, eu não guardo rancor, eu sei que tudo foi culpa daquela bruxa — assim que as minhas palavras chegam aos ouvidos dela, minha mãe finalmente se atreve a me encarar, ela levanta a cabeça e finalmente olha nos meus olhos.
Ela é tão linda e parecida comigo que parece que estou vendo a mim mesma no espelho. Ela tem o cabelo preto igual ao meu, o corpo curvilíneo e os olhos negros igual a noite, ela é a minha mãe, ela é Isabella Cassano. A mulher que foi vendida como prostituta e foi separada de sua filha recém nascida. Ela sofreu tanto que posso ver a dor estampada em seu olhar, mesmo que ela seja uma mulher linda e forte, ela sofreu muito.
— Isabella, eu não sei o que dizer, você é minha filha e esteve afastada de mim por vinte e quatro anos, eu nem sequer sei como você era ainda recém nascida, não sei o que falar para explicar o que aconteceu — minha mãe treme dos pés a cabeça, seu tom de voz é de puro medo, ela se sente culpada por não ter lutado por mim e principalmente por ter me deixado mas mãos de Giana, mas eu não acredito que ela tenha feito isso por livre e espontânea vontade, ela não fez porque quis, eu creio que existe uma explicação por trás do abandono dela.
Em passos vacilantes, vou me aproximando dela, até que fico diante dela, ergo seu rosto para que ela me encare de frente, não quero que ela fique aos meus pés igual ao meu marido, quero que ela me encare de frente, somos mãe e filha e não duas rivais, não existe necessidade de ela estar aos meus pés.
— Eu entendo a senhora, Giana Constantine é um monstro, você não teve culpa de nada, ela roubou sua filha, provavelmente, deve ter usado da chantagem para me manter do lado dela e longe de você — falo com calma, implorando para que ela não fique se culpando.
Nós duas fomos vítimas da maldade sem fim de Giana Constantine, se ela teve coragem de trocar a própria filha por dinheiro, quem dirá sobre a filha da suposta inimiga? Ela nunca me tratou como filha e sinceramente, eu sempre senti que ela não era a minha mãe, eu só não sabia como perguntar ao meu pai o que estava acontecendo na nossa casa.
— Eu sei que a culpa foi toda daquele monstro, mas eu devia ter lutado por você filha, eu fui muito covarde em continuar na Camorra — ela está certa nesse ponto, quando ela foi vendida como prostituta eu até entendi por quê ela não veio atrás de mim, mas depois disso, quando ela se casou com um dos capos mais poderosos do mundo, por quê ela não veio a minha trás.
— Realmente, eu não entendi essa parte, você não era mais uma Jovem indefesa, quando eu me casei com Aleksander, a senhora podia muito bem ter vindo a minha trás — não quero que a minha frase seja mal interpretada, mas eu preciso entender porquê ela não me procurou quando me casei com Aleksander.
Eu não estava mais na Itália nem sob os domínios de Giana Constantine, eu já era uma mulher adulta e casada, na minha própria casa, não tinha como Giana me fazer mal aqui, eu já estava no meu próprio território.
— Eu sei que você tem essa dúvida, mas em todas as vezes que tentei me aproximar de você antes de se casar, a desgraçada da Janete, que diz ser Giana, ameaçou matar você — ela fala com tanto medo que porra! Eu posso entender ela, não posso me imaginar sem o meu filho, só de pensar em perder ele, o meu coração já aperta.
Mas as palavras dela não são a única coisa que me surpreende, como assim Giana Constantine, não é Giana Constantine e sim Janete! Quantos mais segredos ela esconde?
— Ela ameaçou em todos esses anos? Desgraçada — me sobressalto com vontade de arremessar uma cadeira, mas não posso, sou uma mulher grávida agora, tenho que controlar o meu temperamento.
— Sim ela me ameaçou, sempre enviando fotos sua brincando só para me mostrar que ela tinha poder sobre você — a maldade de Giana Constantine não tem limites mesmo, eu não entendo como é que o meu pai conseguiu dormir no mesmo quarto que aquele demónio, dormir na mesma cama que ela, ter duas filhas e Porra! Beijar a boca que era usada para ameaçar a vida da filha dele, realmente o amor cega algumas pessoas porque não é possível que alguém em sã consciência, possa amar um demónio sem coração igual a Giana.
— Que mulher horrível, eu não posso imaginar o que você passou — dou um abraço nela.
Assim que as nossas peles entram em contato uma com a outra parece até que estou tomando um choque elétrico, eu não sei o é isso, mas parece que nossas células conhecem uma da outra, parece até que elas estão entrando em harmonia. O corpo da minha mãe gela, no mesmo instante lágrimas quentes e grossas, atravessam a minha pele. Acho que ela esperou muito por isso, o momento em que finalmente teria a filha dela nos braços, e porra! Ela esperou por longos e intermináveis vinte e quatro anos, nenhuma mulher merece passar por uma coisa dessas.
— Obrigada por não me rejeitar filha, obrigada por me aceitar, eu não sei o que faria se as coisas que aquele mostro falou fossem verdade — ele sussura ainda se apertando ao meu abraço.
Acho que a desgraçada da Giana inventou mais uma de suas loucuras, ela pode ter dito para a minha mãe que eu talvez não fosse aceitar ela e pela reação dela, é isso mesmo, aquele monstro além de roubar a filha da melhor amiga, ainda teve a audácia de inventar coisas para ela..
— Eu nunca odiaria você, Giana Constantine, nunca foi uma mãe para mim, na verdade, eu sempre suspeitei que ela não era a minha mãe, eu só não sabia como provar isso — me aconchego ainda mais em seu abraço.
Minha mãe chora copiosamente em meus braços, se ela está assim só por um abraço, não quero nem quero imaginar o que ela vai fazer, quando eu chamar ela de mãe, acho que ela vai desmaiar, vai cair dura no chão.
— Muito obrigada filha, você é um anjo — ela chora muito, acho que não crê ainda que sou mesmo eu diante dela, sou mesmo eu quem ela está abraçando ela.
Eu e minha mãe ficamos muito tempo conversando dentro do meu escritório, ela contou tudo o que aquele satanás de Giana Constantine fez, ela teve coragem de inventar que eu não queria conhecer a minha própria mãe e que eu queria que ela morresse. Quando eu colocar as mãos nela, vou fazer ela implorar pela morte, tanto que ela vai gritar por ela.
— No que está pensando? — meu marido está no escritório totalmente concentrado, pensando em sei lá o quê, só porque os japoneses recuaram, isso não implica que as coisas estão bem entre nós.
Eles podem muito bem terem parado com tudo para que no final eles revidem com carga máxima, por isso o meu marido não tem dormindo direito, sem contar que ele é obrigado a dormir no sofá, pelo que fez com a minha pobre irmã.
— Em nada Meu amor — sussura com calma, ele está mentindo para que eu não me preocupe — Venha cá minha coelhinha indisciplinada — ele puxa o meu corpo para que eu me sente em sua pernas.
— Uhm! Sophie e Mikhail têm brigado muito, acha que eles vão se acertar algum dia? — comento a minha preocupação, a verdade é que o relacionamento conturbado deles tem me tirado o sono.
Sophie tem andado muito triste, ela está grávida e precisa de paz, mas o cabeça dura do meu cunhado não colabora, as vezes eu sinto vontade de dar uma de Aleksander e trancar eles num quarto escuro.
— Eu sei Milaya¹, eu me sinto culpado por isso, mas não se preocupe, eu vou resolver isso —Aleksander murmura com calma, desde que descobri o que ele fez com a minha irmã, ele tem tomado cuidado com suas palavras.
Além de dormir no sofá e sozinho, ele é o meu escravo particular, ele faz todas as minhas vontades, sem contar que sempre provoco ele quase sempre.
— Acho bom mesmo ou vai continuar no sofá por tempo indeterminado — parece que as minhas palavras são como bombas para o meu marido, ele se encolhe no sofá e quase implora pelo meu perdão, mas ainda é pouco pelo que ele fez com Sophie.
— Não faça isso comigo minha amada diabinha, eu não aguento mais, as minhas bolas vão explodir se eu não comer a sua boceta, por favor — ele está tão engraçado, implorando pelo meu perdão, nem sequer parece o dono e senhor da Bratva.
Para provocar e torturar ele ainda mais, rebolo algumas vezes em seu colo só para deixar ele a beira da loucura. Assim que seu pau acordar, me levanto de seu colo.
— Não me interessa Aleksander, a culpa é toda sua e você vai resolver isso! — saio do escritório dele, desfilando a minha bunda para que ele veja.
Ele olha para mim com incredulidade, como se não crê-se que sua esposa grávida de nove meses, fez realmente isso com ele.
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1. Milaya - милая (querido, amado) é usado como um carinho em vez de
"querida ou doçura"