Aleksander Petrov
Meus sapatos ecoam no salão vazio do Paris Opera Theatre, misturando-se com as notas de abertura fracas do Lago dos Cisnes que vêm do corredor à esquerda. Com o balé já começando, a entrada está desocupada. Eu aceno para o segurança, então me viro e sigo o longo corredor em direção às portas duplas de madeira na
extremidade, onde um pôster pendurado na parede atrai minha
atenção. Mudaram a foto. A anterior mostrava toda a trupe no meio do
salto do grupo, tirada de longe para que todo o palco ficasse visível, mas a nova mostra apenas uma bailarina, a cena ampliada antes da imagem. Sem pensar em nada, minha mão sobe e traça o
contorno de seu rosto, suas maçãs do rosto afiadas, sua boca de flor de cerejeira, seu pescoço esguio, então de volta sob o contorno de seus olhos, que parecem estar olhando diretamente para mim. Seus olhos brilham que nem dois cristais celestiais, é ela, sem sombra de dúvidas.
Depois da emboscada feita pelos italianos, metade do meu rosto ficou dilacerado, fiz incontáveis cirurgias plásticas para tentar recuperar o meu rosto, mas ele foi destruído demais e as cicatrizes me assombram por todas as noites. Depois que recuperei a consciência, a primeira coisa que fiz, foi procurar pelo anjo que salvou a minha vida. Foram longos os meses procurando por um rosto compatível, ao rosto do anjo, até que encontrei alguém compatível. Por ironia do destino, ela é segunda filha do rato desgraçado de Roberto Constantine, o capo da máfia italiana. Por alguma brincadeira do destino, ela teve que ser filha do homem que tentou me matar e destruiu o meu rosto e a minha vida.
— Pakhan¹! Precisamos ir, os italianos estão chegando — um dos soldados informa. Dou-lhe um olhar assassino, por me interromper num momento tão mágico, como esse — Perdão, não quis te interromper — se desculpou tremendo.
— Deixe que cheguem até mim, não tenho mais medo da morte, eu derrotei ela — retruco sem tirar os olhos da palco. O anjo desliza na pista de dança, como se flutuasse no ar, como se tivesse asas, como um verdadeiro anjo.
O soldado sai de perto de mim e continuo assistindo ao show do meu anjo, ela chama a atenção de todos para si, para cada um de seus movimentos, ela dança com tanta leveza que é praticamente impossível não imaginar, fodendo ela com as roupas de bailarina, como será o gemido dela, será que ela canta no lugar de gemer?
— Petrov, o que faz aqui? Perdeu o caminho de casa? — Roberto Constantine, meu maior inimigo, o homem que quase me matou está diante de mim, com um sorriso zombeteiro nos lábios.
— Constantine — murmuro seu nome com toda a minha raiva contida, se ao menos pudesse mata-lo — Muito pelo contrário, em breve está será minha casa — termino com um sorriso mais diabólico que o dele.
Roberto Constantine, armou uma emboscada para me matar, mas não conseguiu. Eu subestimei ele no passado, acreditando que era fraco e um fantoche da mulher dele, mas fui enganado, ele é um homem inteligente, muito inteligente, só não foi tão inteligente assim quando tentou me matar pelo fogo. Eu fui forjado pelo fogo, uma Fênix nunca morre pelo fogo, ela renasce das cinzas. Ele cometeu um grande erro ao tentar me matar com o carro bomba naquele dia, mas por outro lado, eu agradeço a ele porque se não fosse pelo acidente, eu não teria encontrado o meu anjo.
— Esta nunca será sua casa, russo de merda — berra tentando se aproximar de mim, mas meus soldados são mais rápidos que ele e o impedem de sequer se aproximar de mim.
— Aí é que você se engana Constantine — levanto me do meu assento e vou até próximo dele, quero ver ele tentar me matar — Toda esta área, está cercada de soldados russos, é só eu estalar uma vez que, toda sua família será morta, aqui e agora — completo sorrindo diabolicamente.
O homem parece que foi possuído por algum espírito demoníaco, pula em meu pescoço mas um dos meu soldados é mais rápido e o imobiliza. Seus soldados são poucos na sala, meus soldados imobilizaram todos eles, se eu quiser, posso matar ele aqui e agora e pegar o meu anjo para mim, mas isso criaria um grande constrangimento no nosso relacionamento e eu não quero que a futura mãe dos meus filhos, me odei para todo o sempre.
— Calma sogrinho, eu não vou matar ninguém hoje, até porque, tenho uma proposta por te fazer — comunico ainda sorrindo debochada mente. Com um aceno de cabeça, o soldado solta o velho italiano que espuma feito um verdadeiro Bulldog.
— O que você quer? — faz a questão que eu tanto esperei, é isso que eu queria ouvir. O que eu quero.
— Agora estamos falando a mesma língua, vamos nos sentar e tomar um bom whisky — o velho me segue sem muita vontade, se pudesse ele me mataria agora mesmo, mas assim como eu, ele é um homem de negócios e sabe que não tem muita escolha.
— Bom, eu quero selar um acordo de paz entre a Bratva e a Cossa Nostra, o que me diz — falo sem rodeios, nunca fui uma pessoa de dar muitas voltas e não gosto disso, sou directo e curto.
— Um acordo de paz? Entre nós? Por quê? O que quer em troca da paz? — esse velho faz muitas perguntas, é tão lerdo que não consegue perceber que eu quero a filha dele.
— Não quero muito, só quero sua filha Fiorella — informou sem delongas. O semblante do velho transparece alívio, como se ele estivesse feliz por eu ter escolhido a mais nova e não a mais velha.
— É só isso que quer? — indaga incerto da minha calma, o negócio flui com tanta facilidade que o velho suspeita. No lugar dele, eu ficaria do mesmo jeito, ninguém em sã consciência, faz um negócio com tanta facilidade junto do diabo.
— Sim, eu só quero sua filha Fiorella, ela é muito bonita, inteligente, encantadora, muito bem educada, ela é um verdadeiro diamante da temporada — explico o que ganharei nessa barganha. Para além da paz que nós dois teremos e precisamos, eu terei uma mulher linda, que todos querem e desejam, não existe coisa melhor que essa.
— Tudo bem, eu concordo com você, precisamos dessa paz e eu concedo a mão da minha filha— o filho fala com calma e solta o ar aliviado.
A família Constantine é uma verdadeira farsa, o casamento de Roberto e Giana Constantine foi um fracasso, fadado a tantas traições que até surgiram alguns bastardos no caminho.
— Minha gente entrará em contacto, farei o contrato e entregarei a vocês amanhã mesmo — informo satisfeito e me retiro do salão sorrindo, com o contrato assinado amanhã, eu terei o meu anjo para mim e em uma semana, eu me casarei com ela.
(...)
Quando dei a notícia de um possível casamento, com a segunda filha da família Constantine, minha mãe achou um verdadeiro absurdo, afinal não existe uma possibilidade de essas duas máfias se unirem, mas assim que expliquei as vantagens de um possível casamento entre russos e italianos, minha mãe amoleceu um pouco o coração.
— Eu fiz um contrato que vai favorecer as duas máfias, tome cuidado — minha mãe informa me entregando os papéis. Para além de serminha mãe, ela é a advogada da máfia, ela trata todos os assuntos burocrático da mesma.
Conhecendo bem minha mãe, eu sei que ela colocou várias cláusula no contrato, só para proteger os nossos interesses, não preciso ler o contrato para saber que posso confiar nela.
— Eu sei disso, eu confio em você, tudo está perfeito com certeza — completo com um beijo em sua testa e me retiro da sala.
Combinei de me encontrar com o Constantine num ponto neutro para os dois, que neste caso é a França, ela é um território não tomado por nenhum máfia europeia, por conta disso, ela é muito usada para negócios. Encontrarei o Constantine no Paris Opera Theatre, o mesmo salão onde meu anjo costuma se apresentar.
— Petrov, vejo que é um homem de palavra — Roberto Constantine cumprimenta com seu melhor sorriso, mas ao lado dele está sua esposa com cara de poucos amigos, ela não está nem um pouco contente com esse enlace.
Minha máscara de ferro, esconde metade do meu rosto e a outra metade, eu escondo com o cabelo, que ficou comprido, nos meses em que fiquei em coma.
— Senhora Constantine, é um prazer finalmente conhecê-la — cumprimento a mulher por trás de todos os planos da Cosa Nostra, com certeza, a mesma que planejou a minha morte. Beijo o dorço de sua mão e falta só a mulher vomitar de nojo.
Não me espanta que Fiorella seja tão magnífica, a mãe dela é simplesmente estonteante, mesmo com a idade, a senhora Constantine continua sendo bela. Corpo curvilíneo, seios fartos mas não muito cheios, cabelo loiro natural e olhos verdes cristalinos, me espanta que com uma mulher dessas, o Roberto tenha pensado em procurar outras.
— Ah! Obrigada senhor Petrov, eu vim acompanhar o meu marido, espero que não se importe com a minha presença aqui — a mulher retruca sem medo e afasta sua mão da minha. Como pensei, é ela quem toma as decisões na Cosa Nostra, Roberto Constantine é só um pau mandado.
— Não, claro que não, será muito bom ter uma figura feminina nas negociações — informo com um sorriso galante nos lábios e parece que o velho Constantine vai me matar, ele espuma como búfalo mas tenta disfarçar.
— Vamos logo com isso Petrov, não temos o dia todo — o velho Constantine entra no recinto do Paris Opera Theatre, sem esperar por nós e a esposa dele o acompanha.
Está mais do que claro que quem fará as negociações será a esposa dele e não ele, ele só ficará pianinho num canto e só vai se pronunciar no momento das assinaturas. Acompanho meus futuros sogros até o interior do teatro, e me sento de frente para ela.
— Eu tenho o contrato comigo, eu já assinei, podem ler e assinar, qualquer coisa que queiram alterar me informem — informo entregando os papéis a mulher e não ao marido, não vai mudar absolutamente nada, se eu entregar para ele, ele passará para a mulher na mesma.
— Vamos ler primeiro — a mulher informa já com os papéis na mão.
A mulher levou cerca de dez minutos lendo os documentos, nesse meio tempo tive que me distrair com qualquer coisa, a única coisa que encontrei foi observar a fisionomia da minha sogra. Fiorella é a cara da minha sogra, se envelhecer da mesma forma que ela, serei o homem mais sortudo na face da terra. Assim que a mulher concluiu a leitura, ela deu o marido para assinar os mesmos.
— Bom, negócio feito, fico feliz em informar que o casamento será em uma semana — informo feliz da vida, mas o sorriso de pura chacota da velha Constantine me deixa em alerta.
— Com certeza senhor Petrov, Bella será preparada para o senhor — a velha informa satisfeita e isso me desperta e desperta o velho Constantine.
— Como assim Bella, eu fui claro ao informar que quero a Fiorella — me sobressalto e a velha na se abala nem por um segundo. Roberto Constantine olha para sua esposa como se ela tivesse duas cabeças.
— Sim, o senhor foi claro e nós entendemos, mas no contrato existente uma cláusula que informa que se a Constantine mais nova não for fértil, ela pode ser substituída pelas outras irmãs — Giana Constantine fala satisfeita e aponta a para a cláusula.
Eu cometi um erro por não ler o contato, mas como é que, eu podia imaginar que a minha mãe Faria tal coisa, eu confio cegamente nela.
— Tudo bem, eu compreendo, mas onde Isabella entra nisso — murmuro derrotado, não posso transparecer a minha fúria, se não farei figura de palhaço por assinar um contrato sem ler , uma página sequer.
— Acontece que senhor Petrov, minha filha Fiorella é infértil — a velha solta a bomba e eu e o marido dela a olhamos espantados.
— Bom, eu quero os testes de fertilidade dela, para ontem — murmura fazendo todo o possível para controlar minhas emoções. Deixo os dois na sala e volto para casa, como pude deixar isso acontecer? Se eu tivesse lido o contrato antes de assinar, talvez tivesse como evitar isso, se os resultados derem positivo e atestarem que Fiorella é realmente infértil, terei que me casar com a mais velha da casa Constantine e perderei meu anjo para sempre.
(...)
— O teste deu positivo para infertilidade, Fiorella não pode te dar filhos — minha mãe lê os documentos com pena — Sinto muito meu filho, não quis te meter nisso, se tivesse me explicado que queria Fiorella somente, eu não teria colocado a cláusula — minha mãe me abraça por trás.
Mas a verdade é que ela não tem culpa de nada, eu é que fui burro, por não ter sido cuidadoso ao ponto de ler os documentos antes de assinar eles, agora eu estou preso a uma mulher que não conheço, desejando a irmã dela. Para Fiorella, eu dei o meu coração, ela é o meu anjo na terra, seria tratada como tal, mas a Isabella, ela receberá o pior de mim, ela casará com o diabo e não com Aleksander Petrov.