Angel? Será que ele acabou de chamá-la de Angel?
'Agora me diga, Angel', ela de repente ouviu sua voz em sua cabeça. Parecia ser uma memória, mas apenas de sua voz e nada mais. Ele já a tinha chamado de Angel antes, mas quando?
Ela encontrou seu olhar e, estando tão perto dele, isso também lhe pareceu familiar, mesmo sem se recordar de ter estado tão próxima ao rosto dele.
Ele soltou as mãos dela e ela deu um passo para trás, mas não por medo. "Você tem péssimos modos, Meu Senhor." Ela disse, esfregando os pulsos. "Você pode pensar que não posso fazer nada, mas se continuar maltratando meu irmão porque gosta disso, então terei que parar de mandá-lo aqui se for necessário. Ele te admira e se é assim que você se comporta, então não quero que meu irmão aspire ser alguém como você."
O sorriso no rosto dele desapareceu, e seu olhar endureceu.
Angélica olhou nos olhos dele enquanto fazia uma reverência. "Tenha uma boa noite, Meu Senhor."
Virando as costas para ele, ela se afastou.
Grosseiro e mal-educado, ela murmurou para si mesma. Ele realmente parecia se divertir maltratando-a. Ela viu aquele brilho em seus olhos e isso era perturbador. Ela tinha visto homens suficientes que se deleitavam vendo uma mulher indefesa. Não era algo que queria ver mais.
Quando ela voltou para casa, o pai dela ainda estava ausente. Talvez ela estivesse preocupada à toa, já que o Rei parecia bem apesar da ausência do pai dela. Ele poderia estar ocupado fazendo outras coisas e não planejando o assassinato do Rei. Isso era o que ela queria acreditar, pelo menos. Mas se ele não voltasse para casa essa noite, ela teria que decidir o que fazer para proteger William e a si mesma. Ela rezava para não ter que tomar tal decisão. O pai dela ainda era seu pai e, por pior que fosse como pai, ela não desejava sua morte.
Com sorte, ele se importava mais com sua vida do que em matar o "assassino".
Durante o jantar, Angélica notou que o irmão dela nem conseguia segurar a colher por causa das mãos machucadas.
"Como você conseguiu isso?"
"Quando a espada escapa das minhas mãos, dói."
Angélica assentiu. "Podemos encontrar outro treinador para você, se quiser?"
William balançou a cabeça. "Não. Quero que Lorde Rayven me treine."
"E quanto ao Lorde Quintus? Eu ouvi que ele também é um espadachim habilidoso."
"Lorde Quintus me ensina as leis e a política. Ele é o mais próximo do Rei e o Rei leva seus conselhos a sério. Ele é um Senhor respeitado e fez muitas mudanças boas em sua cidade." Seu irmão explicou. "Estou aprendendo com cada um o que eles têm de melhor."
"É uma coisa esperta a se fazer," ela disse.
Lorde Quintus melhorou sua cidade, enquanto Lorde Rayven não fez nada quando pessoas estavam morrendo em sua cidade. Ela esperava que o rei interviesse e fizesse algo. Seu coração doía toda vez que ouvia sobre outra morte de uma jovem mulher. Ela deveria ter dado uma lição de decência humana ao Lorde Rayven.
"Qual é a especialidade do Rei?" Ela perguntou.
"Charme." Seu irmão respondeu simplesmente.
Charme? Sim, ele era charmoso, mas isso não podia ser só isso.
"Ele sabe que seu charme funciona em todos, e ter as pessoas ao seu lado o torna mais poderoso. É uma boa característica como rei. Faz as pessoas cegas para seus erros porque querem acreditar que ele é bom."
Angélica duvidou do Rei novamente. Isso significava que ele era tão bom em encantar as pessoas que ela não queria acreditar que ele era o assassino? O charme dele funcionava nela? Ela não sabia mais o que pensar ou acreditar.
A noite estava fria e a lua espiava por trás das nuvens escuras. Angélica observava o céu noturno sombrio pela janela enquanto se aconchegava na cama. O assassino poderia estar lá fora procurando sua próxima vítima nesse horário enquanto ela repousava confortavelmente em sua cama.
Por que mulheres jovens, ela se perguntava. Seria porque elas eram um alvo fácil? Ou será que o assassino fazia algo com elas antes do assassinato?
Ela balançou a cabeça para afastar os pensamentos perturbadores que lhe vinham à mente. Então, o que dizer das pessoas que pensavam que foi um animal que matou a mulher? Thomas tinha contado a ela que tinham encontrado marcas de mordidas de dentes de um animal selvagem. Também tinham encontrado marcas de garras nos corpos delas. Isso certamente não soava como se um humano estivesse matando essas mulheres.
Talvez fosse um animal, mas Angélica sentia que havia mais nisso. Algo que não era humano nem animal. Parecia absurdo, mas ela não conseguia encontrar outra explicação.
"Você acredita que existem seres além daqueles que conhecemos neste mundo?" Ela perguntou a William, após sentir que ele estava acordado.
"Não sei, mas não ficaria surpreso se houvesse."
Angélica viu um pássaro preto voando pela sua janela e depois voltar. Era um corvo e pousou na árvore do lado de fora da janela dela. Um corvo também era um símbolo de morte.
A morte do Rei anterior ainda era suspeita e a chegada do novo Rei e de seus homens tinha melhorado muita coisa em seu reino, exceto pela sua cidade. Isso a fez questionar se Lorde Rayven era o problema, como todos diziam. O símbolo da má sorte e da morte.
Ela não podia negar que havia algo obscuro e perturbador nele.
'Me diga Angel', ela ouviu a voz dele em sua cabeça de novo. Ela não sabia o que a perturbava mais. O fato de ela não conseguir lembrar quando ele a chamou de 'Angel' pela primeira vez, ou o fato de ele ter se atrevido a dar-lhe um apelido.
Ela tocou os pulsos, lembrando-se de suas mãos ao redor deles. Sua força ainda a surpreendia e amedrontava. Ela se questionava como tinha ousado confrontá-lo.
Olhando pela janela de novo, ela assistiu ao corvo sentado no galho da grande árvore. Ela costumava olhar pela janela e nunca tinha visto o corvo antes. Por que na janela dela esta noite? Seria ela a próxima vítima? Era isso um sinal?