Angélica ficou surpresa ao encontrá-lo numa livraria.
Ele olhou para a mão dela em cima da dele e Angélica rapidamente retirou a mão. Ele pegou o livro da prateleira antes de olhar para ela.
"Vou levar," ele disse.
Bem, não é como se ela pudesse lutar contra ele para pegá-lo.
Ela assentiu. "Você gosta de ler?"
"Não. Estou comprando para colocar na minha estante."
Angélica sorriu, percebendo que ele estava sendo sarcástico. Ele sempre parecia irritado.
Eva os observava à distância, parecendo preocupada.
"Então talvez você possa me emprestar. Lerei rápido e devolverei para você colocar na sua estante."
Ele estreitou os olhos. "Você gosta de ler sobre monstros?"
Ela assentiu, "Sim. Parece que temos o mesmo gosto."
Angélica se perguntava por que ele escolheu esse livro em particular. Ela podia ouví-lo dizer o título 'o monstro sou eu' com sua voz grave e rouca. Ela teria acreditado nele se tivesse dito isso.
Lorde Rayven a ignorou e foi pagar pelo livro. Os olhos do vendedor se arregalaram e suas mãos tremiam levemente ao receber o dinheiro. Um suspiro escapou de seus lábios quando Lorde Rayven saiu da loja.
Angélica o seguiu, e Eva correu atrás dela em pânico.
"Minha Senhora, o que você está fazendo?" ela perguntou.
"Preciso falar com ele."
Eva mordeu o lábio e esfregou as mãos juntas, ansiosamente. "Não sei se é uma boa ideia."
Angélica não estava mais ouvindo Eva. Pela primeira vez, ela via como as pessoas da sua cidade reagiam ao ver Lorde Rayven. Assim que o notavam, elas mudavam de calçada, para o mais longe possível dele.
Alguns franziam o nariz como se ele cheirasse mal e outros cochichavam atrás dele. Lorde Rayven continuou andando sem se virar uma vez sequer para olhar para aqueles que falavam sobre ele.
Angélica o seguiu em silêncio, observando curiosamente as reações das pessoas. Quando deixaram o mercado e chegaram a uma pequena vila, as crianças brincando do lado de fora de suas casas começaram a chamá-lo de 'cara de monstro'.
Cara de monstro?
Isso era rude.
Angélica se perguntava por que ele estava andando e não montando para se poupar de sua miséria.
"Minha Senhora, devemos voltar agora," Eva implorou.
Lorde Rayven fez uma curva e, na esquina, havia outro grupo de crianças. Garotos jogando pedras em um cachorro. O cachorro era pequeno e branco e uma de suas pernas parecia ferida.
Angélica ficou irritada e estava prestes a gritar com eles e afugentá-los quando Lorde Rayven parou. Ele vinha ignorando tudo e todos, mas isso ele não iria ignorar, pelo jeito.
Ela ficou curiosa sobre o que ele faria em seguida, mas Lorde Rayven ficou imóvel. Ele encarou os meninos, mas algo em sua aura mudou, despertando medo nela. Os meninos pareceram sentir o mesmo, pois largaram suas pedras e recuaram antes de correr o mais rápido que puderam. Até o cachorro latiu.
O que foi isso?
Era assustador presenciar, como se ele tivesse se transformado em um monstro diante dela, apesar de permanecer com a mesma aparência. Mas aquele medo desapareceu quando ele se aproximou cuidadosamente do cachorro assustado e lentamente estendeu a mão para ele. Acariciou-o gentilmente e o cachorro entendeu que aquele homem grande não queria fazer mal a ele.
Lorde Rayven colocou seu livro no chão, tirou do bolso o mesmo tecido branco que o Rei tinha enrolado na mão do irmão dela. Lorde Rayven envolveu em torno da perna ferida do cachorro.
Angélica ficou surpresa ao ver esse lado dele. Ela nunca o tinha visto ser gentil antes.
Quando o cachorro mancou para longe, Lorde Rayven pegou seu livro e se levantou novamente. Ele se virou para Angélica. "Há algo que você quer me dizer, Lady Davis?"
Angélica se aproximou dele. "Queria agradecer por me alertar."
"Que alerta?"
Ah, ele não deveria admitir isso.
Ela balançou a cabeça, "nada." Ela sorriu.
Ela queria perguntar por que ele a ajudou, especialmente já que parecia protetor do Rei, mas como ele não podia falar sobre isso, ela não perguntou.
"Os assassinatos parecem ter começado de novo. Algo me diz que você poderia pegar o assassino facilmente se quisesse." Ela começou. "Você não quer se livrar das acusações?"
"Me livrar?" Ele zombou. "As acusações são o menor dos meus problemas."
"Então o que te preocupa, Lorde Rayven?"
Ele pareceu surpreso com a pergunta dela.
"Você realmente não se importa com as mulheres que estão morrendo?" Ela perguntou.
"Parece que eu não fui claro na última vez. Não me importo."
"Não acredito em você. Você não parece alguém que ignora quando outra pessoa está se machucando. Você parou para salvar o cachorro."
Ele riu obscuramente. "Sim, o cachorro. Não me importo com as pessoas."
"Você se importou em me ajudar," ela disse.
Ele pressionou os lábios juntos, "Nunca te ajudei." Ele insistiu.
Ela olhou nos olhos dele, não sabendo o que estava procurando. "Eu acho que você ajudou."
Um canto de seus lábios lentamente se levantou. "Parece que você esqueceu que sou rude e mal-educado. Devo te lembrar, Minha Senhora?" Ele disse, dando um passo em direção a ela.
"Não tenho medo de você," ela disse, firmando posição.
"Esse é o seu primeiro erro." Ele tentou intimidá-la com seus olhos escuros.
"Minha Senhora. Estamos atrasadas. Devemos voltar para casa." Eva veio ao lado dela e agarrou seu braço para puxá-la para longe.
Angélica sabia que Eva estava desconfortável e com medo de estar perto dele em um canto vazio.
"Você é rude e mal-educado, Meu Senhor. Mas espero que não seja insensível." Ela disse a ele antes de deixar Eva arrastá-la para longe.