Skender chegou a tempo e juntou-se a eles no quintal junto com Blayze, Mazzon e Vitale antes de o Arco chegar.
Rayven podia sentir a tensão no ar quando todos se reuniram. Ninguém estava contente que o Arco viria e eles não teriam visitado se Skender tivesse feito seu trabalho. Blayze já demonstrava sua amargura em relação a Skender. Mazzon mantinha-se por si mesmo, e Acheron e Lázaro permaneceram silenciosos. Vitale estava sentado no chão, parecendo exausto. Ele não sabia se era só o pensamento do Arco chegando que o exauria ou se havia algo mais.
"Bem, bem, já se encontraram, meus Senhores." Lucrezia apareceu do nada com seus dois asas a cada lado, assustando alguns deles. Sua aura sugava todo o ar existente sempre que ela chegava.
Hoje ela vestia um longo vestido verde de mangas compridas que realçava seus olhos verdes e uma coroa de espinhos negros repousava sobre sua cabeça. Seus cabelos escuros caíam em ondas elegantes até a cintura e sua pele beijada pelo sol brilhava na luz vespertina.
Ela era fascinante e cruel, e Rayven a odiava com paixão. Ele esperava nunca mais ver o rosto dela, mas lá estava ela. Obrigado, Skender, ele pensou.
"Você não parece contente em me ver, mas eu também não estou contente em estar aqui." Ela começou.
Até a voz dela o irritava.
Skender deu um passo à frente. "A culpa é minha. Eu assumo total responsabilidade." Ele apressou-se em dizer.
Lucrezia balançou a cabeça e clicou a língua em desaprovação. "Eu não estaria aqui se você tivesse assumido a responsabilidade, Skender. Não podemos nos dar ao luxo de ter alguém que saiba de nossa identidade vagando livremente. Por que você não cuidou disso?"
"Eu tenho que matá-lo?" Skender perguntou.
"Você tem alguma outra solução?" ela perguntou curiosa.
"Eu vou encontrar uma, mas eu não quero matá-lo."
"Mesmo que eu te mande fazer isso?" Ela perguntou.
"Eu aceitarei qualquer punição que você me der." Ele disse a ela.
Ele realmente se importava com a mulher, ou talvez ele não soubesse o que significava ser punido pelo Arco.
"Muito bem então. Você receberá sua punição." Ela disse, antes de virar-se para olhar cada um deles. Seus olhos os estudavam como se procurassem algo, mas sua busca parou quando seu olhar encontrou o de Rayven.
Um sorriso maldoso curvou seus lábios. "Você será a punição." Ela disse apontando para ele.
Todos franziram a testa, confusos com o que estava acontecendo, mas Rayven sabia exatamente o que ela ia fazer. Ela pretendia puni-lo em vez de Skender. Sem surpresa. A mulher o odiava mais do que todos.
Seus asas vieram e agarraram cada um dos seus braços para levá-lo, mas ele os empurrou para longe. "Eu não preciso de ajuda para andar."
"O que você está fazendo?" Skender perguntou a ela.
"Eu vou punir Rayven em vez de você. Você tem que aprender que suas decisões como líder afetarão os outros." Ela disse a ele, dando-lhe algo em que pensar. Depois, com um estalar de dedos, ela teleportou Rayven para onde ele receberia sua punição.
Era a mesma caverna onde ela tinha tirado um pedaço dele e, até hoje, seu peito estava vazio.
"Você está assustado, Rayven?" Ela perguntou, inclinando a cabeça para um lado.
Ela já sabia o que ele estava pensando e sentindo.
Caminhando até ele, ela parou a poucos centímetros de seu rosto. Rayven olhou dentro dos olhos dela, sem medo.
"Seus olhos são tão frios e mortos. Ainda há alguma esperança em você?" Ela perguntou, passando um dedo por suas cicatrizes. "Você deve ter se acostumado com a dor. Hoje, vou fazer você sentir um tipo diferente de dor."
Ele nem queria pensar que tipo de punição ela tinha reservado para ele. Ela era muito criativa com suas punições.
"Venha," ela mostrou-lhe o caminho pelos cantos da caverna e depois levou-o até uma sala escura. Havia uma grande rocha plana no meio. "Eu quero que você se desfaça das roupas e deite-se e não me desobedeça, Rayven. Estou com vontade de punir."
Rayven se despiu e foi deitar-se sobre a grande rocha plana. Ele sabia que ela gostava de resistência, então ele não pretendia satisfazê-la. Ao longo dos anos, ele aprendeu suas maneiras torcidas.
Quando ele se deitou na pedra fria, uma força invisível envolveu seus pulsos e tornozelos para prendê-lo. O que ela ia fazer?
"Você está curioso." Ela disse, andando ao redor dele. "Isso é um bom sinal. Agora, vamos ver se esta dor vai despertá-lo."
De repente, o teto da caverna se abriu e a luz entrou como se fosse meio-dia, mesmo sendo noite. Antes que ele pudesse olhar mais de perto de onde vinha a luz, seus olhos queimaram como se alguém tivesse jogado pedras de fogo neles. Ele fechou-os rapidamente, mas depois sentiu calor na pele, aumentando lentamente até sentir sua pele queimar.
Rayven cerrou o maxilar, suprimindo a vontade de gemer de dor, mas o calor continuava aumentando. Queimava as cicatrizes em seu rosto, pescoço, peito e estômago. Esses lugares doíam mais. Ele cerrou os punhos e instintivamente tentou se libertar, mas as cadeias invisíveis em volta dos seus braços e pernas apertaram, cortando o fluxo de sangue para suas mãos e pés.
Como se estivesse sendo punido por resistir ao calor, a dor se tornou insuportável. Ele podia cheirar sua pele queimando e jogou a cabeça para trás e rosnou. Sua pele derretia e o calor escaldante queimava sua carne. Rayven gritava de agonia, tentando se libertar, mas sem sucesso.
"Pare com isso!" Ele gritou e abruptamente o calor parou.
Ele respirou fundo, completamente chocado com a dor.
"Veja Rayven, você sente dor." Ela lhe disse, "e não gosta disso."
Ele estava ofegante. "Você está satisfeita agora?" Ele perguntou a ela.
"Não. Eu quero que você mude. Quero lhe devolver a vida, mas você não está me ajudando. Você pensa que eu sou sua inimiga, mas eu não sou."
Rayven riu de forma sombria através de toda a dor. "Eu não quero minha vida de volta. Eu só quero que você termine com ela." Ele retrucou.
Ela franziu a testa. "Você quer fugir de sua punição em vez de tentar mudar."
"Como você espera que eu mude?" Ele perguntou entre dentes cerrados e sua face queimada doía cada vez que ele falava.
"Eu quero que você se importe. Que ame. Que pense nos outros antes de si mesmo. Veja Skender. Ele estava disposto a tomar uma punição para salvar alguém."
Rayven debochou. "Você quer que eu ame e me importe com os outros quando você tirou meu coração. Eu quero ele de volta!"
"Você se importava com os outros quando você tinha um coração? Estava morto quando eu o tirei, Rayven." Ela falou mais alto desta vez. "Eu não posso lhe devolver. Você se mataria."
Ele lutou para se libertar novamente antes de encará-la furioso. "Olhe para mim! Eu estou tão bom quanto morto."
Ela franziu a testa. "Às vezes eu acredito em você quando olho nos seus olhos mesmo sabendo que não é verdade."
"Você só quer continuar me punindo." Ele cuspiu.
"Não, eu quero que você sinta Rayven."
Ele deixou sua cabeça cair para trás, sentindo-se cansado. Ele desistiu. "Não há nada que possa me salvar. Apenas deixe-me ir." Ele implorou.
Ela o soltou das cadeias invisíveis, mas ele continuou deitado. Ele não tinha forças para levantar. Ele não queria mais se levantar. Desejava apenas morrer ali. Por fim à sua miséria.
"Você está errado. Você pode ser salvo. Hoje eu vi um ponto vermelho no seu coração. Você sabe o que isso significa?"
Rayven permaneceu em silêncio, mas no fundo de sua mente, ele ficou um pouco curioso. "Significa sangue. Seu coração sangrou um pouco hoje." Ela colocou um dedo em seu peito. "Você sentiu isso também. Bem aqui."
Rayven estava perdido, sem entender o que ela estava falando.
"Para ser salvo, você tem que encontrar a coisa ou a pessoa que fez você se sentir assim."
"Você disse que uma mulher especial nos salvaria."
"Não. Quando eu disse 'você', eu estava falando apenas de você." Ela disse. "Minhas previsões podem estar erradas, mas foi isso que eu vi. Uma coisa é certa. Se seu coração não bater e continuar batendo, então você não será salvo e eu acredito, apesar das minhas previsões, que o seu destino está em suas mãos."
"Eu já te disse, eu não quero ser salvo." Ele disse.
"Certo então. Que tal isso? Se você fizer seu coração bater, eu lhe devolverei."
Rayven sentou-se, agora ouvindo atentamente. Ele tinha uma chance de finalmente ser livre? "Como eu faço isso bater?" Ele perguntou.
Um sorriso curvou os lábios dela. "Ah, meu caro. Você parece não entender. Amor, medo, paixão fazem nosso coração bater. Ódio, inveja, ganância e egoísmo escurecem nossos corações."
Então ela estava errada. Ele não poderia ser salvo. Ele apenas esperaria por sua morte.
Ignorando a dor que suas feridas causavam, ele desceu da rocha. Vestiu suas roupas sobre a pele queimada, deleitando-se em como isso arrancava o resto de sua pele e puxava sua carne queimada. E então ele estava de volta no quintal do castelo.
Era noite ou era apenas escuridão cobrindo seus olhos? Ele não tinha certeza do porquê ele não podia ver claramente, mas sabia que todos esperavam por ele para voltar, especialmente Skender, que o pegou quando ele caiu. "Me desculpe, Rayven." Ele sussurrou, soando arrependido.
Rayven sentiu outros braços ao seu redor, e então ele estava sendo carregado. Deitaram-no em uma cama.
Sim, era a sua visão que escurecia porque mesmo dentro do quarto, ele não conseguia ver nada. Apenas ouvir suas vozes. Blayze estava amaldiçoando como sempre, culpando Skender pelo que tinha acontecido com ele. Acheron tentava parar a briga.
Rayven não conseguia mais acompanhar. Ele gradualmente caiu na escuridão até que não sentiu mais nada.