Após a morte de Maria, senti uma irritação extrema queimando dentro de mim. Meus olhos, que nunca estiveram preparados para ver uma cena tão brutal, agora encaravam a realidade com uma frieza que eu nunca soube que possuía. Mas, mesmo diante de tanto horror, eu sabia que não podia me deixar abalar. Precisava manter minha essência, seguir em frente.Enquanto lutava para processar tudo o que havia acontecido, ouvi Gabriel me chamando. "Ei, onde você vai?", ele perguntou, abrindo uma lata de cerveja como se fosse a única coisa normal em todo aquele caos."Vou procurar um terno nessas lojas," respondi, com a voz firme, mas carregada de uma tristeza latente.Gabriel franziu a testa, confuso. "Pra quê?""Para o enterro de Maria," eu disse, enquanto começava a vasculhar o que restava da loja. As prateleiras estavam destruídas, roupas espalhadas pelo chão, mas finalmente encontrei um terno que parecia estar em bom estado.Enquanto me preparava, Gabriel estava ocupado reunindo flores do que restava do entorno, e eu, com as ferramentas que tinha à disposição, comecei a construir um pequeno barco. Sabia exatamente como queria que o funeral de Maria fosse: algo digno, algo que honrasse a pessoa que ela era.Quando o barco estava pronto, Gabriel e eu estávamos prontos para dar a ela um adeus digno de um guerreiro viking. Montamos um pequeno memorial com uma das fotos mais bonitas que consegui encontrar. Com os olhos carregados de tristeza e dor, carreguei Maria em meus braços até o barco."Chegamos," sussurrei, mais para mim mesmo do que para Gabriel. Era difícil acreditar que, em tão pouco tempo, nos apegamos tanto a alguém, e agora ela se fora. Respirando fundo, olhei para o céu e disse em voz alta: "Vamos te vingar daquele maldito."Colocamos o corpo de Maria no barco, decorado com as flores que Gabriel havia recolhido. Quando estava tudo pronto, acendi uma tocha e joguei no barco, vendo as chamas subirem lentamente. "Pode queimar," disse, enquanto observava o fogo consumir o barco, transformando o corpo de Maria em cinzas que seriam levadas pelo vento. Era um enterro digno de um Oscar, pensei comigo mesmo, mas a dor no meu peito era real demais para qualquer reconhecimento fictício.Após o funeral, Gabriel e eu voltamos ao carro. Ligamos o motor, e saímos em alta velocidade, como se estivéssemos em um filme de ação. O silêncio entre nós era pesado, mas carregava uma determinação nova, uma promessa de vingança."Vamos nessa," Gabriel murmurou, com a voz baixa mas resoluta, enquanto o carro acelerava pela estrada deserta.O que quer que o futuro nos reservasse, sabíamos que não estávamos mais apenas sobrevivendo. Estávamos em busca de justiça, e não descansaríamos até encontrá-la.Depois do funeral de Maria, Gabriel e eu partimos em direção ao abrigo com uma nova determinação. Mas a minha mente estava inquieta. Eu não conseguia tirar da cabeça a ideia de que Maria estava se escondendo de alguém quando a encontramos. E esse alguém poderia estar mais perto do abrigo do que gostaríamos de acreditar.Conforme nos aproximávamos, começamos a fabricar armas improvisadas, utilizando o que tínhamos à mão. Espadas, facas e outros armamentos rudimentares foram feitos a partir dos materiais que encontramos na casa onde pegamos aquelas roupas de couro. Gabriel e eu notamos que esse material, chamado de netrito, parecia afetar os zumbis de alguma forma. Levamos essas roupas conosco, cientes de que poderiam nos dar uma vantagem contra as criaturas que infestavam a região.Enquanto dirigíamos em direção ao abrigo, conversamos sobre a situação. "Gabriel, você acha que o abrigo é seguro? Ou pode haver alguém lá que represente uma ameaça?", perguntei, preocupado.Gabriel, com os olhos fixos na estrada, respondeu com seriedade. "O abrigo tem um líder, um capitão chamado Tec Force. Ele lidera uma organização de soldados que defendem os sobreviventes dos ataques dos 'Tec Humans'. Esses 'Tec Humans' são zumbis com consciência, mais fortes e mais inteligentes que os zumbis comuns."Minha preocupação só aumentou. "E esses Tec Humans têm líderes?""Sim," Gabriel confirmou, com uma expressão sombria. "Os líderes deles são chamados de 'Anti-Tec'. São mutantes extremamente poderosos, seres que, de alguma forma, o vírus transformou em algo além de humanos. Eles têm poderes especiais e são dez vezes mais perigosos que qualquer outro zumbi."Eu respirei fundo, tentando absorver toda aquela informação. "Então é isso. Vamos nos encontrar com esses monstros no abrigo?"Gabriel assentiu. "Estamos chegando lá. E sim, essa pode ser a hora de confrontar aquele que tirou Maria de nós."O carro continuava avançando pela estrada deserta, e a tensão no ar era palpável. Cada quilômetro que nos aproximava do abrigo trazia uma sensação crescente de que algo grande estava prestes a acontecer. Eu ajustei minha espada improvisada ao lado, sentindo o peso dela como um lembrete da nossa missão.Finalmente, o abrigo apareceu à vista. Era um complexo cercado por muros altos e barricadas, com soldados fortemente armados patrulhando a entrada. Gabriel diminuiu a velocidade do carro, estacionando a uma distância segura."Estamos aqui," ele disse, com uma mistura de alívio e determinação na voz."Vamos entrar e acabar com isso," respondi, sentindo o sangue ferver em minhas veias.Descemos do carro, prontos para o que quer que estivesse nos esperando dentro do abrigo. O que encontrássemos ali poderia muito bem ser a chave para entender os mistérios que cercavam Maria, o vírus Tecbot, e os líderes Anti-Tec. E, mais importante, para vingar a morte de Maria.Enquanto nos aproximávamos da entrada, eu sabia que não havia mais volta. O confronto estava próximo, e precisávamos estar prontos para lutar por nossas vidas — e pelo que restava da humanidade.