Kieran, Gylf e Yto caminhavam lentamente para fora da caverna. O ar pesado do combate recém-finalizado ainda pairava sobre eles, mas o silêncio era quebrado pela expressão inquisitiva de Yto. Ele olhava para o Bestiário nas mãos de Kieran com um misto de fascínio e inquietação. Finalmente, Yto quebrou o silêncio.
"Então... parece que tu és capaz de absorver monstros neste livro que sempre carregas. Por acaso isso te afeta de alguma forma?"
Kieran trocou olhares rápidos com ele antes de direcionar sua atenção ao Bestiário. Seus dedos tocaram levemente a capa áspera e sobrenatural enquanto pensava na melhor forma de responder.
"Não sei ao certo... Por enquanto, está tudo bem comigo. Mas tenho tido sonhos estranhos e uma energia negativa me rodeia cada vez que absorvo algo. Parece que, a cada vez... me sinto mais negativo," ele disse, a voz sombria, hesitante. "Gylf me aconselhou a evitar o Bestiário a todo custo."
Yto assentiu, mas seus olhos se estreitaram em preocupação. Ele parecia imerso em pensamentos, ponderando sobre o que aquilo poderia significar. "E se tu também te tornares um monstro depois de um tempo?" ele murmurou, quase para si mesmo.
Antes que o peso da conversa pudesse se aprofundar ainda mais, Gylf interrompeu com uma risada curta. "Vamos deixar as teorias filosóficas para mais tarde, garotos. Temos um vilarejo para salvar."
Eles começaram a descer a trilha montanhosa que levava de volta à floresta. A tensão no grupo era palpável, mas Yto parecia mais inquieto do que o normal. Ele permanecia calado, um contraste com sua personalidade habitual.
Kieran notou o comportamento retraído de Yto e decidiu perguntar. "Algo errado?"
Yto deu uma risada amarga, balançando a cabeça. "Nada que tu deves te preocupar. É só que... bom, o que tu tens é um poder terrível, Kieran. Algo que consome tua alma aos poucos. Eu sei como é isso."
Gylf ergueu uma sobrancelha. "Ah, então finalmente vais nos contar o que te trouxe até aqui, Yto?"
Yto suspirou, seus olhos fixos no chão enquanto caminhavam. "Acho que vocês merecem saber."
Ele olhou para frente enquanto continuavam caminhando, como se tentasse organizar os fragmentos de sua memória. "Eu não era pra ser assim, sabiam? Esta coisa que sou agora... não foi sempre minha realidade."
Yto começou a narrar sua história, sua voz preenchendo o silêncio da floresta. "Eu era... humano, como qualquer um de vocês. Vivi em um pequeno vilarejo no leste, onde monstros eram uma raridade. Minha vida era pacata, sem grandes emoções. Mas tudo mudou no dia em que um grupo de caçadores apareceu. Eles diziam estar atrás de um monstro que havia se escondido na vila."
Kieran e Gylf escutavam atentamente enquanto ele continuava. "Eles nunca disseram qual era o monstro. Apenas falaram que era uma missão pega na associação Ordo, aí começaram a atacar qualquer um que consideravam suspeito. Pessoas inocentes foram massacradas... inclusive minha família, aconteceu tudo tão rápido..."
Os olhos de Yto se encheram de uma raiva contida. "Quando tentei lutar contra eles, fui gravemente ferido. Deixado para morrer, acabei sendo encontrado por tal monstro que eles procuravam, uma criatura antiga. Ele me ofereceu um pacto: minha sobrevivência em troca de minha humanidade."
Ele fez uma pausa, como se hesitasse em continuar. "Aceitei. E naquele momento, perdi quem eu era. Tornei-me uma fusão do humano que fui e do monstro que agora carrego dentro de mim."
"Por que estás nos contando isso agora?" perguntou Kieran, sua voz baixa, quase um sussurro.
Yto olhou para ele, seus olhos queimando com uma intensidade sombria. "Porque quero que tu saibas no que podes te tornar, Kieran. Este poder que carregas... ele tem um preço. Se não for cuidadoso, pode acabar como eu — um homem sem lugar no mundo, carregando uma maldição que nunca poderá ser desfeita."
Gylf, que normalmente teria feito um comentário sarcástico, permaneceu em silêncio. As palavras de Yto eram um lembrete sombrio dos perigos que os aguardavam.
"Mas era a minha única chance de me vingar daqueles desgraçados, tiraram tantas vidas de forma precoce só pra darem uma desculpa esfarrapada que tinha um monstro ao redor, isso é desumano, sabe? nunca pensei que nosso mundo pode ter ficado tão ruim e currupta."
Ambos Kieran e Gylf permaneciam em silêncio, Kieran se envergonhava por saber que ele não só participou, como fez atrocidades no inicío.
"Sinto muito que sua vida foi completamente destruída dessa forma, Yto." Yto olhava para Kieran ao falar aquilo.
"Sentir mal não mudará nada Kieran, então por isso... temos que fazer a diferença diretamente, cortar o mal pela a raiz, como destruindo a Ordo Umbreath."
O silêncio recaiu sobre os três enquanto caminhavam pela trilha que os levava à floresta. As palavras de Yto ainda pairavam no ar, carregadas de dor e amargura. O vento soprou entre as árvores, como se a própria natureza lamentasse a história que acabara de ser contada.
Gylf quebrou o silêncio, sua voz baixa, mas firme. "Yto, sei como é ser consumido pela vingança. Eu também já trilhei esse caminho. Por anos, tudo que fazia era buscar retribuição contra aqueles que destruíram minha família e meu lar. Mas a vingança... é uma faca de dois gumes."
Yto lançou um olhar de ceticismo para Gylf. "E o que mais eu deveria fazer? Aceitar? Continuar vivendo como se nada tivesse acontecido? Eles precisam pagar."
"Eu também achava isso," Gylf respondeu calmamente, "mas a vingança, por mais satisfatória que pareça no início, nunca preenche o vazio que foi deixado. Ela apenas aumenta. Durante anos, persegui aqueles que me feriram, mas no final... o que me restou? Apenas o eco de minha raiva. Nada trouxe de volta o que perdi. E foi só quando encontrei Kieran que entendi algo crucial."
Os olhos de Yto brilharam com uma mistura de curiosidade e resistência. "E o que tu entendeste, Gylf?"
"Que o recomeço é possível," Gylf respondeu, encarando Yto com seriedade. "Mesmo quando tudo parece perdido. Mesmo quando achamos que estamos irreparavelmente quebrados. Sempre há uma chance de recomeçar. Mas só se deixarmos de lado a vingança. A pergunta que realmente deves fazer não é por que eles te machucaram, mas sim por que aquele monstro te salvou."
As palavras de Gylf fizeram Yto parar de andar. Ele ficou imóvel, seus punhos cerrados, como se lutasse contra algo dentro de si. "Por que ele me salvou? Talvez tenha me usado, me transformado em uma arma. Não há outra explicação."
Gylf balançou a cabeça lentamente. "Estás errado. Aquele monstro viu algo em ti. Não foi por maldade, nem por manipulação. Ele viu alguém que estava à beira da morte e ofereceu uma nova chance. Um recomeço, mesmo que em circunstâncias terríveis. O que fizeste com isso, Yto, foi escolha tua. Não te permitas ser definido pelo que aconteceu contigo. Usa isso para construir algo novo."
Yto rangeu os dentes, a raiva lutando contra as palavras de Gylf. "E se não restar nada? E se tudo que sou é essa fusão deturpada de humano e monstro? Como posso recomeçar quando nem sei quem sou mais?"
A resposta de Gylf veio rápida e cheia de convicção. "Se não restar nada, começa de novo. Cria quem tu queres ser, nunca desistas de quem tu foste apenas por causa de desastres causados pela maldade dos outros. Eu te digo, Yto: não és apenas dor e vingança. És mais do que isso. E se permitires, talvez descubras que ainda há algo pelo qual vale a pena lutar."
Kieran, que havia permanecido em silêncio durante toda a troca, finalmente falou. Sua voz era hesitante, mas sincera. "Eu sei como é sentir que não há mais volta. Eu... já fiz coisas imperdoáveis. E ainda assim, estou aqui, tentando seguir em frente. Porque se eu desistir agora, todas aquelas vidas que tomei não significarão nada. Se eu puder fazer algo de bom, talvez... talvez eu consiga dar um pouco de sentido ao que aconteceu."
Yto olhou para os dois, sua expressão oscilando entre raiva e tristeza. Finalmente, ele soltou um suspiro pesado, como se o peso de suas emoções estivesse esmagando-o. "Não é tão simples como vocês dizem. Mas talvez... talvez eu pense sobre isso. Só não esperem que eu mude da noite para o dia."
"Não esperamos," Gylf respondeu com um pequeno sorriso. "Mas cada passo na direção certa já é um começo."
O grupo continuou caminhando, a atmosfera mais leve, embora o peso das palavras trocadas ainda pairasse no ar. O vilarejo estava à vista agora, as luzes de suas casas piscando como pequenas estrelas entre as árvores.
Yto olhou para as luzes e murmurou, quase para si mesmo. "Talvez ainda haja algo pelo qual lutar."
Yto respirou fundo, agora com uma determinação evidente. "Chegou a hora. Vamos resolver isso de uma vez por todas."
Kieran olhou para os dois, seu punho apertando o Bestiário. Ele sabia que o que estava por vir seria decisivo, não apenas para o vilarejo, mas também para ele mesmo.
O som das espadas sendo desembainhadas e os gritos de guerra ecoaram pela vila. A vila estava escura e as únicas luzes eram das magias sendo feitas dos velhos arcanos, as casas ao redor parecia desmoronar a qualquer momento, como se o local hostil enfraquecia a estrutura remendada. Kieran, Gylf e Yto estavam posicionados na entrada, observando a multidão de moradores avançar. Homens robustos, mulheres ágeis, idosos experientes em magia e até mesmo crianças determinadas; o grupo sabia que essa batalha seria complicada, não pelo nível de força, mas pela necessidade de poupar vidas enquanto resistiam,.
"Não podemos machucar eles de verdade," Kieran murmurou, segurando sua arma firmemente. "Eles só estão defendendo o que acreditam ser certo."
"Fácil falar," Yto respondeu, já assumindo sua postura de batalha. "Eles vão tentar nos matar, e eu não sou exatamente bom em segurar golpes."
"Fiquem atrás de mim," Gylf ordenou, sua Essentia Eletrium começando a brilhar em seus olhos. "Vou criar espaço para podermos avançar. Mas lembrem-se, sem mortes."
Os primeiros a avançar foram os homens do vilarejo. Seus corpos musculosos, marcados por anos de trabalho árduo e combate, avançavam como uma muralha de pura força bruta. Eles usavam ferramentas como marretas, machados e pás como armas improvisadas, cada golpe carregando força suficiente para esmagar pedras.
Gylf assumiu a liderança, suas mãos brilhando com eletricidade enquanto invocava sua Essentia. Com um movimento rápido, ele disparou uma descarga elétrica pelo chão, paralisando momentaneamente os homens da linha de frente. "Rápido, derrubem eles enquanto estão imóveis!" ele gritou.
Kieran hesitou por um segundo, mas logo avançou. Usando a parte plana de sua lâmina, ele acertou golpes precisos nas pernas dos oponentes, derrubando-os sem causar danos graves. Yto, apesar de sua relutância, usou sua força monstruosa para desarmar os homens, arremessando suas ferramentas para longe e forçando-os a recuar.
"Esses caras são duros," Yto comentou, desviando de um golpe de marreta. "Eles treinam mais pesado do que eu!"
"Continue focado!" Gylf respondeu, disparando mais relâmpagos para neutralizar a próxima leva.
Antes que pudessem respirar, as mulheres do vilarejo avançaram. Eram ágeis, rápidas como o vento, utilizando espadas leves, adagas e até mesmo cordas para desestabilizar o trio. Sua velocidade era um desafio para Kieran e Yto, que lutavam de forma mais direta.
"Elas são rápidas demais," Kieran ofegou, tentando acompanhar os movimentos de uma oponente que quase o desarmou. "Gylf, precisamos de suporte aqui!"
Gylf fechou os olhos por um instante, sentindo a energia ao seu redor. Ele liberou uma descarga elétrica em forma de rede, desacelerando as mulheres o suficiente para que Kieran e Yto conseguissem derrubá-las. "Agora é com vocês!"
Kieran utilizou o cabo de sua espada para nocautear as oponentes com golpes na nuca, enquanto Yto usava seu corpo como barreira, absorvendo os ataques rápidos antes de desferir empurrões precisos que as faziam perder o equilíbrio.
De repente, o ar ficou pesado com o cheiro de magia. Os idosos do vilarejo entraram na batalha, suas Essentias brilhando em várias cores. Alguns conjuravam escudos mágicos para proteger os caídos, enquanto outros lançavam feitiços ofensivos, como bolas de fogo e rajadas de vento.
"Isso vai ser complicado," Gylf murmurou. "Eles têm experiência."
"Então vamos usar a cabeça, não os punhos," Yto sugeriu, surpreendendo os outros. Ele pegou uma pedra e lançou na direção de um mago que conjurava um feitiço, distraindo-o o suficiente para que Kieran pudesse avançar e derrubá-lo.
Gylf usou sua Essentia para criar um pulso eletromagnético que desestabilizou temporariamente as magias no campo, dando ao grupo a chance de avançar. "Vamos neutralizar o suporte primeiro," ele comandou.
Com golpes cuidadosos e movimentos estratégicos, eles desarmaram os magos sem feri-los, apenas os deixando incapacitados para continuar conjurando.
Antes que pudessem se recuperar, um grupo de crianças surgiu, armadas com pedras, lanças improvisadas e até mesmo pequenos arcos. Seus rostos eram determinados, mas a inexperiência era evidente.
"Não acredito nisso," Kieran murmurou, baixando sua espada. "Não podemos lutar contra elas."
"Então usem a cabeça, não os braços," Gylf repetiu as palavras de Yto. Ele deu um passo à frente e lançou uma pequena faísca no ar, criando um clarão que assustou as crianças momentaneamente. "Fiquem atrás de mim," ele disse em voz alta, adotando um tom de autoridade.
As crianças hesitaram, recuando gradualmente enquanto o grupo passava. Nenhum golpe foi necessário, apenas a presença intimidadora de Gylf foi suficiente.
Com todos neutralizados, o grupo seguiu para a taverna, onde o lenhador os aguardava. Ele estava sentado à mesa, com um copo de cerveja na mão, mas seu rosto se contorceu em choque ao vê-los entrar.
"Impossível... como vocês conseguiram passar por todos?" ele gaguejou, derrubando o copo.
Kieran avançou, sua expressão sombria. "Estamos aqui para conversar. Chega de violência."
O lenhador balançou a cabeça, rindo amargamente. "Vocês não entendem. Tudo isso é culpa da Ordo Umbreath. Eles nos transformaram nisso. Nos usaram, nos testaram, e agora... não somos nada além de ferramentas quebradas."
"Então por que continuar seguindo ordens de um sistema corrupto?" Gylf perguntou, cruzando os braços. "Vocês têm a força para resistir. Podem lutar por algo maior, algo que realmente importe."
"Fácil falar para quem não vive isso," o lenhador respondeu, levantando-se lentamente. "Nosso vilarejo não sobrevive sem o apoio deles. Se nos rebelarmos, eles nos destroem."
Yto deu um passo à frente, sua voz grave. "E viver como ferramentas é melhor? Vocês merecem mais. Podemos ajudar, mas vocês precisam querer mudar."
O lenhador ficou em silêncio, encarando os três. Finalmente, ele suspirou. "Talvez vocês estejam certos. Talvez seja hora de fazer algo diferente. Mas isso não vai ser fácil."
"Nada que valha a pena é fácil," Kieran disse, estendendo a mão. "mas juntos, podemos começar algo novo."
O silêncio na taverna era quase palpável. O lenhador, ainda chocado pela derrota de toda a vila, fixou seu olhar em Kieran, Gylf e Yto, seus olhos ardendo de frustração e vergonha. Ele quebrou o silêncio com uma voz amarga:
"Vocês vão mesmo ignorar tudo? O que fizemos com vocês? Me diga, como podem simplesmente entrar aqui e falar de 'mudança' como se nada tivesse acontecido? Vocês foram deixados para morrer. Nós trancamos ele," ele apontou para Yto, "como um animal, por dias. Torturamos vocês de corpo e alma. Ninguém esquece o mal assim tão fácil."
Kieran abriu a boca para responder, mas foi Gylf quem deu um passo à frente, suas palavras firmes e carregadas de emoção.
"Você está certo," ele começou. "Nós sofremos. Todos nós. Ficamos confusos, perdidos, sem saber que caminho seguir. É difícil acreditar que ainda existe bondade no mundo, difícil até continuar tentando ser ético, ser humano... Mas é aí que está a diferença." Ele fez uma pausa, seu olhar firme. "Mesmo na escuridão mais profunda, sempre haverá alguém que carrega esperança. Não porque é fácil, mas porque é isso que nos faz humanos."
O lenhador rangeu os dentes, desviando o olhar, como se não quisesse encarar as palavras de Gylf. Mas o jovem continuou.
"Você acha que Yto virou uma besta? Que ele é menos humano por causa disso?" Gylf apontou para Yto, que estava calado, observando a cena com um misto de tristeza e aceitação. "Deixe-me te dizer uma coisa: ele não é menos humano. Ele é uma vítima. Uma vítima da mesma crueldade que vocês enfrentaram. A verdadeira monstruosidade aqui não está nele... está na Ordo Umbreath."
O lenhador deu um passo para trás, suas mãos tremendo. "Mas nós—nós fizemos o que tínhamos que fazer. Para sobreviver."
"Eu sei," Gylf respondeu, sua voz agora mais suave. "vocês fizeram o que acharam necessário para proteger o que amam. Mas olha onde isso levou vocês. Vocês viveram na maldade e, como resultado, fizeram coisas terríveis. Eu não os culpo. Porque, no fundo, tudo o que vocês queriam era sobreviver e proteger sua vila, sua família. E sabe do que mais?" Gylf sorriu de leve, seu tom ganhando uma ponta de admiração. "Eu sinto até uma certa admiração por vocês. Mesmo com tudo o que passaram, vocês ainda acreditam uns nos outros. Ainda acreditam na sua vila. Isso... isso é algo que vale a pena preservar."
O lenhador perdeu a compostura. Seu corpo começou a tremer, e lágrimas desceram por seu rosto marcado pelo tempo. Ele caiu de joelhos, sua voz quebrada por soluços. "Eu... Eu sinto muito... Por tudo. Por tudo que fizemos."
O som de sua confissão ecoou pela sala, carregado de arrependimento. Yto desviou o olhar, ainda visivelmente afetado pelo que tinha vivido, mas não disse nada. Foi Kieran quem deu o próximo passo. Ele se aproximou do lenhador, estendendo a mão com um sorriso genuíno.
"Vamos ser humanos juntos." Kieran disse, sua voz baixa, mas cheia de sinceridade, enquanto as crianças vendo aquilo de fora, entrariam e logo abraçavam o lenhador que estava no chão.
O lenhador ergueu os olhos, encarando Kieran e para as crianças ao redor, finalmente ressurgindo as luzes de seus olhos com uma mistura de espanto e gratidão. Ele agarrou a mão estendida, segurando-a firmemente como se fosse uma âncora em um mar de caos enquanto ainda era abraçado pelas as crianças.
"Obrigado... a todos vocês."
O Lenhador se levanta e limpa suas lagrimas na manga da sua blusa, desta vez sorrindo, com suas bochechas rosadas pela a bebida e sua barba tampando seu sorriso, facilmente notaria que ele realmente estava feliz e naquele momento, enquanto colocava a mão na cabeça das crianças, reconfortando elas.
"Vamos trabalhar para sermos humanos juntos e dar a esta vila a luz que ela realmente merece. Juntos, faremos dela a melhor vila de Luminaria!"
O vilarejo, que era marcado pela dor, pela luta e pela opressão, teve sua primeira fagulha de esperança em anos. Não seria fácil reconstruir. Não seria fácil confiar novamente. Mas, como Gylf disse, a humanidade sobrevive mesmo nas piores trevas — e eles decidiram lutar por ela, juntos, e agora eles finalmente encontram esperança, algo para continuarem sendo firmes.