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Chapter 18 - Esperança

Após os eventos passados, aquela noite passava tão rápido quanto o fluxo do mar, eles passariam a noite festejando e se lamentando de todas de suas atrocidades. A aldeia pela a primeira vez em muito tempo se sentiam felizes o suficiente para serem motivados e ver pelos os seus erros à mais uma vez se erguerem e continuarem suas humanidades, já de manhã, estava Yto ajudando os vilarejos a carregar as diversas tábuas e ferramentas para desta vez, reconstruir de forma definitiva o vilarejo, e não só reforços para as estruturas se manterem em pé, Kieran estava já acordado, sentado na calçada do lado da entrada da taverna do lenhador, Gylf sairia do mesmo e veria o ambiente daquela vila e quase nem reconhecer, o que antes era uma vila depressiva e sem vida, agora esforçada a mudarem, sentindo a vontade de viver de todos os moradores, as crianças já bem mais felizes e os idosos mais energéticos do que nunca, depois de apreciar a vista por um certo momento, ele ficava do lado de Kieran que parecia um pouco distraído com os moradores trabalhando.

"Por quê está aí olhando pro povo com essa cara de bunda? a gente teve que se esforçar a re-ganhar a motivação deles, mas se olhassem pra ti, ia sumir rapidinho." Gylf riria um pouco enquanto dava um tapinha no ombro de Kieran, que ficava logo irritado com aquelas palavras.

"Não tou fazendo nenhuma cara de bunda, só tava pensando em como o povo vai conseguir se sustentar agora que falamos aquelas palavras ontem... não adianta nada falarmos algo que não podemos sair do nosso caminho para cumprir ela, como defender essa vila, os moradores daqui apesar de serem fortes, não nasceram pra lutar, e sim viver pacificamente como qualquer outra vila, a diferença é que eles foram obrigados a lutar." Gylf ficava quieto, absorvendo os pontos de seu neto, e de fato, era algo de se pensar, mas a mente dele logo se redireciona para Yto, que estava lá ajudando os homens.

"Acho que não precisa se preocupar enquanto à isso, na verdade, acho que temos o voluntário perfeito para isso." Kieran veria a expressão de Gylf, seguindo o olhar dele até ver o Yto. "Ele? olha, eu sei que ele está esforçando e tals, mas não acho que ele vá querer ficar nesta vila." Gylf olharria para ele novamente, desta vez abrindo um sorriso.

"Talvez seja verdade, mas tem que lembrar que ele pode recomeçar a sua vida em algum lugar, e ele também não queria lutar... agora que ele é um meio-monstro, ele pode se tornar algo amais para essa vila, veja... como os moradores não sentem medo dele, é estranho, não é? Por quê eles não tem medo do Yto sendo que eles enfrentam monstros constantemente?" Kieran pensava um pouco antes de responder.

"Não sei, por que ele não parece tão assustador quanto realmente aparenta?" Gylf rira um pouco daquilo, logo abrindo sua boca para responder. "Talvez seja, quem sabe? eles só querem serem felizes, e talvez, só talvez... eles vejam ele como uma forma de esperança, e por eles tratarem tão mal o Yto, se sentem culpados e até mesmo mais monstros que ele, então eles também querem aprender com ele, e Yto aprender com os moradores, pelo menos, é isso que eu penso." Kieran fazia beicinho, olhando para Yto, pensando mais um pouco. "Odeio como as vezes você parece um velho chato que sabe de tudo."

Gylf soltava uma risada. "Desculpa lhe desapontar, deve ser por que eu sou mesmo, além de quase ter o dobro da tua idade, o nível de sabedoria não pode ser desperdiçada se eu apenas não disser nada, não teria sentido, eu acho.

Kieran se levantava, revirando os olhos enquanto limpava suas calças. "Tá bom Sr. sabe de tudo, vou perguntar pra alguém que compartilha o mesmo nível intelectual que eu." Ajeitando sua postura antes de caminhar até Yto, que naquele momento estava ajustando uma parede recém-erguida com outros dois aldeões. Quando o viu se aproximar, Yto parou o que estava fazendo e se virou, seu sorriso cansado mas sincero iluminando o rosto.

"Precisa de algo?" Yto perguntou, enxugando o suor da testa.

Kieran cruzou os braços, direto como sempre. "Tenho uma pergunta. Por que está se esforçando tanto aqui? Quer dizer... poderia simplesmente ir embora, começar de novo em outro lugar."

Yto abaixou o olhar por um momento, pensando. Quando respondeu, sua voz era baixa, mas cheia de convicção.

"Porque não sei se quero ir a outro lugar. Essas pessoas... Parece que me aceitaram. Mesmo sabendo o que sou agora, talvez sabe o quanto eles erraram comigo, e é por isso eles estão tão confortáveis ao meu lado. Eles sabem que eu também já fui um humano como qualquer outro, e eles precisam de mim para começar do zero e depois de tudo o que aconteceu, eu... acho que isso é o mais próximo de 'lar' que já tive."

Kieran ficou em silêncio, absorvendo aquelas palavras. Por um instante, sentiu algo que não sabia descrever—talvez inveja, talvez admiração. Ele nunca teve um lugar onde se sentisse verdadeiramente aceito.

"Então você pretende ficar?"

"Sim," Yto respondeu, com firmeza. "se eles quiserem minha ajuda, vou ficar. Não sou mais humano, mas também não sou um monstro. Talvez... aqui, eu possa ser algo no meio disso. Um protetor deles? Isso parece meio brega falando"

Kieran soltou um pequeno suspiro com uma leve risada, balançando a cabeça. "Bem, de fato parece algo clichê a se dizer, mas ao que tudo indica, é que a sua decisão já foi tomada. Espero que saiba no que está se metendo."

Yto riu. "Eu sei. Não será fácil. Mas... depois de tudo, acho que quero tentar, afinal, foram vocês que me disseram que a vingança não ia trazer a nada além de mais violência."

De volta à entrada da taverna, Gylf observava a cena com um sorriso satisfeito, enquanto os aldeões começavam a se reunir em volta de Yto, claramente gratos pela ajuda e pela sua presença.

Com Yto assumindo o papel de protetor, a vila começou a se transformar. Aquela pequena comunidade devastada pelo medo e pela violência encontrava, finalmente, um motivo para olhar para frente com esperança.

E embora Kieran tivesse dúvidas sobre seu próprio caminho, ele não podia deixar de se sentir um pouco mais leve ao ver aquele pedaço de humanidade se reerguer. Talvez, pensou ele, houvesse algo a aprender com Yto, Kieran voltaria e ficava do lado de Gylf, ambos de braços cruzados.

"Quem diria que um meio-monstro seria o coração de uma vila?" Gylf comentou, cruzando os braços e sorrindo.

"Talvez seja isso que torna tudo possível," Kieran respondeu, desviando o olhar. "Às vezes, não importa o que somos, mas o que escolhemos fazer." Gylf soltava uma risada alta após ouvir aquilo.

"Quem é o velho sábio agora? Haha!" Kieran riria de relance. "Cala a boca."

Kieran aproveitava pra arrumar suas coisas para ir embora daquela vila, mas Gylf rapidamente entrava da taverna e saía onde o mesmo dava um toque no ombro de Kieran, permanecendo um sorriso.

"O que foi?" Kieran perguntava.

"Na verdade, antes de partirmos, que tal nos divertimos um pouco? Sempre é bom criar memórias boas no meio desse tsunami." Gylf falava aquilo com uma vara de pescar nas mãos, ele parecia bem ansioso apesar da idade dele.

"Vai enfiar essa vara em um monstro por acaso? Seria divertido eu diria." Kieran retrucava, zombando dele.

"Óbvio que não! Iremos pescar peixes com isso, toma o seu!" Gylf estendia a outra vara de pescar para Kieran, confuso, ele pegaria.

"É... A gente pega peixe com isso? Eu pensei que a gente só pegasse na mão ou usando uma magia de levitação." Gylf já ficava empurrando-o para o rio, onde tinha um suporte de madeira para pescaria, e já teria um balde de iscas disponível ao lado.

"Bem, eu também achava, mas parece que eles ainda mantém os costumes!"

O sol da tarde refletia no rio calmo, criando um brilho dourado na superfície da água. Gylf parecia empolgado como uma criança ao subir no suporte de madeira improvisado para pescaria, segurando sua vara com confiança... apesar de não ter ideia do que estava fazendo. Kieran, por outro lado, estava cético, segurando a vara de pesca como se fosse uma arma.

"Então, você enfia essa coisa na água ou o quê?" Kieran perguntou, analisando a vara como se fosse um mistério arcano.

"Você é mesmo um ignorante," Gylf respondeu, pegando o balde de iscas e tirando um verme gosmento. "Primeiro, coloca isso no anzol. É simples."

Kieran inclinou a cabeça, olhando para o verme com nojo. "Isso aí é nojento. Por que não usamos, sei lá, um pedaço de carne? Ou uma magia que já atrai os peixes direto?"

"Porque a graça está no processo, garoto, e não existe uma 'magia de atrair peixes'. Vamos garoto, enfia o verme no anzol."

Kieran suspirou, pegando um verme do balde. Ele tentou colocar a isca no anzol, mas o verme escorregou da mão e caiu em sua calça. Ele soltou um grito de surpresa, sacudindo a perna enquanto Gylf ria alto.

"Você luta contra monstros e tem medo de um verme? Francamente, Kieran, você me decepciona," zombou Gylf, segurando o riso.

Depois de algumas tentativas desajeitadas (e muita reclamação), ambos conseguiram preparar as varas e lançar as linhas na água. Ou pelo menos tentaram. Kieran, ao lançar a linha, acabou arremessando o anzol com força demais, que foi parar pendurado em um galho de árvore do outro lado do rio.

"Ótimo trabalho, gênio," Gylf comentou enquanto Kieran puxava a linha de volta, bufando de frustração.

"Isso aqui é mais complicado do que parece! Quem inventou essa porcaria devia ser um sádico."

Enquanto Gylf tentava lançar sua própria linha, ele tropeçou no balde de iscas, quase caindo na água. Kieran segurou o velho pelo braço, mas acabou escorregando também. Os dois ficaram se equilibrando como bêbados até finalmente conseguirem se firmar no suporte de madeira.

"Isso foi por pouco," Gylf disse, ofegante.

"Se pescaria for sempre assim, acho que prefiro enfrentar dragões," Kieran retrucou, mas havia um leve sorriso em seu rosto.

Depois de finalmente conseguirem deixar as linhas na água, o silêncio caiu sobre eles. Era um momento raro de calmaria, interrompido apenas pelo som da água e pelo canto distante de pássaros.

"Até que é meio... relaxante," Kieran admitiu.

"Viu? Eu disse que seria divertido," Gylf respondeu, abrindo um sorriso satisfeito.

Mas a paz durou pouco. A vara de Gylf começou a se mexer violentamente.

"Peguei um! Peguei um!" ele gritou, puxando a linha com toda a força.

"Vai com calma, velho, ou vai acabar arrancando o braço!" Kieran correu para ajudá-lo, segurando a vara enquanto os dois tentavam puxar o que quer que estivesse preso no anzol.

Depois de muita luta, eles finalmente tiraram algo da água... mas não era um peixe. Era uma bota velha e cheia de lama.

Os dois ficaram olhando para o "troféu" por um momento antes de explodirem em risadas.

"Parabéns, pescador lendário. Conseguiu capturar... uma bota." Kieran disse, secando as lágrimas de tanto rir.

"Ei, é melhor do que nada!" Gylf retrucou, ainda rindo.

Eles voltaram a lançar as linhas, agora com menos seriedade e mais piadas. Em um momento, Kieran acabou caindo de joelhos tentando puxar sua vara, e Gylf quase caiu na água novamente enquanto ria.

Finalmente, depois de muito esforço e mais algumas "capturas" inusitadas (incluindo um galho e uma pedra que Gylf insistiu que era "um peixe disfarçado"), Kieran conseguiu pegar um peixe de verdade.

Ele segurou o animal, que se debatia em suas mãos, e olhou para Gylf com um sorriso raro, quase genuíno.

"Consegui! Tá vendo isso? Eu sou um pescador natural!"

"Ah, sim, claro. Depois de apenas umas dez tentativas e três anzóis perdidos, você finalmente conseguiu," Gylf brincou, mas havia um brilho orgulhoso em seus olhos.

Enquanto o sol começava a se pôr, os dois sentaram na margem do rio, olhando para o peixe em um balde ao lado das "capturas alternativas".

"Admito," Kieran disse, olhando para o céu alaranjado, "isso foi divertido. Mesmo que tenhamos feito tudo errado."

"Às vezes, garoto, não importa o resultado. O que importa é aproveitar o momento." Gylf deu um leve tapa no ombro de Kieran, que revirou os olhos mas não pôde deixar de sorrir.

"Talvez..." O rio refletia o pôr do sol em tons dourados, e Gylf e Kieran ainda riam de suas desventuras de pescadores. Era um momento de rara leveza na vida de ambos, até que Yto apareceu, encostando no suporte de madeira com os braços cruzados e uma expressão debochada no rosto.

"Eu juro que, de longe, parecia que tinham duas crianças brincando de pegar peixe. A bota foi a melhor parte, sem dúvida."

Kieran revirou os olhos. "Quer tentar a sorte? Talvez você consiga pegar outra bota pra fazer um par."

Yto riu, mas seu olhar suavizou. "Falando sério... obrigado. Por tudo. Vocês salvaram não só a minha vida, mas também deram esperança para este lugar. O mundo precisa de mais pessoas como vocês."

Gylf olhou para ele, surpreso com o tom sincero, mas logo abriu um sorriso travesso. "Mais de mim? Não, obrigado. Seria um desastre! Já basto eu nesse mundo."

Kieran acompanhou o tom. "E definitivamente não precisa de mais de mim. Um já é trabalho demais pra todo mundo."

Os três riram juntos, e pela primeira vez, parecia que o peso do mundo havia aliviado um pouco em seus ombros.

Já na entrada da vila, Gylf e Kieran estavam prontos para partir. O lenhador, com sua habitual presença imponente, surgiu por detrás deles, trazendo um sorriso genuíno no rosto.

"Vocês dois cuidem-se, hein? E quando puderem, nos visitem. Prometo que, da próxima vez, não vamos tentar prender vocês e muito menos tentar te comer."

Kieran abriu um sorriso torto. "Boa promessa. Certo, vou cobrar. Tenham uma ótima vida daqui pra frente."

Enquanto eles começavam a caminhar, Kieran virou-se para Yto, levantando a voz. "E vê se não morre! Ainda quero te ver quando eu voltar."

Yto ergueu a mão, acenando enquanto observava os dois partirem. "Podem deixar. E boa sorte, vocês dois."

Com o sol se pondo e a vila começando a recuperar sua vida, Gylf e Kieran seguiram pela estrada de terra, o peso de seus passos menos opressivo do que antes.

"Onde vamos agora?" Gylf perguntou casualmente, ajustando sua mochila.

"E eu tenho cara de geólogo? Que tal uma outra corrida? Da outra vez não terminamos por causa daquela mulher" Kieran respondeu com um sorriso leve.

"Ah é?! Tu realmente quer ser humilhado por mim? Tudo bem então, quem ganhar fica com o peixe!" Gylf saía correndo após pegar o peixe da mão de Kieran.

"Ei! Seu velho de merda, devolve a minha janta!!" Kieran ficava irritado, perseguindo o velho.

E assim, com o vento soprando gentilmente ao redor deles, o capítulo terminava, deixando uma sensação de renovação e otimismo no ar, e a areia que Kieran comia.